O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 4
A RELAÇÃO DE DEUS COM O UNIVERSO
O Pai Universal tem um propósito eterno em relação aos fenômenos materiais, intelectuais e
espirituais do universo dos universos, propósito este que Ele está cumprindo ao longo de
todo o tempo. Deus criou os universos pela Sua própria vontade, livre e soberana, e criou-os
de acordo com o Seu propósito onisciente e eterno. É questionável que alguém, exceto as
Deidades do Paraíso e os Seus coligados mais elevados, realmente saiba muita coisa sobre o
propósito eterno de Deus. Até mesmo os cidadãos excelsos do Paraíso têm opiniões bastante
diversas sobre a natureza do propósito eterno das Deidades.
É fácil deduzir que o propósito de criar o universo central perfeito de Havona foi puramente
uma satisfação de natureza divina. Havona pode servir como modelo original de criação para
todos os outros universos e como aprendizado final para os peregrinos do tempo, no seu
caminho para o Paraíso; contudo, essa criação tão superna deve existir fundamentalmente para
o prazer e a satisfação dos Criadores perfeitos e infinitos.
O plano assombroso de aperfeiçoamento dos mortais evolucionários e, uma vez que hajam
alcançado o Paraíso e os Corpos da Finalidade, a fim de prover-lhes o preparo posterior para
alguma tarefa futura não revelada, com efeito, parece ser, no presente, uma das principais
preocupações dos sete superuniversos e das suas numerosas subdivisões; entretanto, esse
esquema de ascensão para espiritualizar e aperfeiçoar os mortais do tempo e do espaço não é,
de forma alguma, a ocupação exclusiva das inteligências do universo. Há, de fato, muitas
outras metas fascinantes que ocupam o tempo e canalizam as energias das hostes celestes.
1. A ATITUDE DO PAI PARA COM O UNIVERSO
Durante muitas épocas, os habitantes de Urântia têm interpretado erroneamente a providência
de Deus. Há uma providência divina operando no vosso mundo, mas ela não é o ministério
material, pueril e arbitrário que muitos mortais conceberam que fosse. A providência de Deus
consiste nas atividades entrelaçadas dos seres celestes e dos espíritos divinos, os quais,
de acordo com as leis cósmicas, trabalham incessantemente para a honra de Deus e para o
avanço espiritual dos Seus filhos no universo.
Acaso não podeis avançar no vosso conceito do trato de Deus com o homem, até aquele nível no
qual reconhecereis que a palavra de ordem do universo deve ser progresso? Durante longas
idades, a raça humana tem lutado para chegar ao seu estado atual. Ao longo de todos esses
milênios, a Providência tem colocado em prática o plano de evolução progressiva. Esses dois
pensamentos não são opostos na prática, apenas na concepção errônea dos homens. A
Providência divina não se alinha em oposição ao verdadeiro progresso humano, seja ele
temporal, seja espiritual. A Providência é sempre coerente com a natureza imutável e
perfeita do Legislador supremo. “Deus é fiel” e “todos os Seus mandamentos são justos”. “A Sua constância está estabelecida
nos próprios céus.” “Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra estabeleceu-se nos céus. A Tua
fidelidade é para todas as gerações; Tu estabeleceste a Terra e ela permanece.” “Ele é um
Criador merecedor de fé.”
Não há limites para as forças e personalidades que o Pai pode usar para manter o Seu
propósito e sustentar as Suas criaturas. “O Deus eterno é O nosso refúgio, e por debaixo Ele
mantém os Seus braços perpétuos.” “Ele, que mora no lugar secreto do Altíssimo, habitará sob
a sombra do Todo-Poderoso.” “Olhai, Aquele que nos guarda não cochilará nem adormecerá.”
“Sabemos que todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles que amam a Deus”, “pois os
olhos do Senhor estão sobre os justos e os Seus ouvidos abertos às preces deles”.
Deus sustenta “todas as coisas pela palavra do Seu poder”. E mundos novos nascem, quando Ele
“envia espaço afora os Seus Filhos, e os mundos são criados”. Deus não apenas os cria, mas
“preserva-os todos”. Deus sustenta constantemente todas as coisas materiais e todos os seres
espirituais. Os universos são eternamente estáveis. A estabilidade se sustenta em meio à
instabilidade aparente. Existem uma ordem e uma segurança subjacentes, em meio às
perturbações da energia e aos cataclismos físicos nos domínios estelares.
O Pai Universal não Se retirou da administração dos universos; Ele não é uma Deidade
inativa. Se Deus deixasse de ser o sustentador sempre presente de toda a criação, um colapso
universal ocorreria imediatamente. Fora de Deus, não haveria uma coisa tal como a realidade.
Neste momento mesmo, bem como durante eras remotas no passado e no futuro eterno, Deus
continua como o sustentador. O alcance divino estende-se ao redor do círculo da eternidade.
Não se dá corda ao universo como a um relógio, para que funcione por um tempo até cessar de
funcionar; todas as coisas estão sendo constantemente renovadas. O Pai distribui
incessantemente a energia, a luz e a vida. O trabalho de Deus é tão real e prático quanto
espiritual. “Ele estende o norte sobre o espaço vazio e suspende a Terra sobre o nada.”
Um ser da minha ordem pode descobrir a harmonia última e detectar uma coordenação profunda e
ampla nos assuntos rotineiros da administração do universo. Muito do que parece ser
desconectado e fortuito, para a mente mortal, mostra-se ordenado e construtivo à minha
compreensão. No universo, entretanto, ocorrem muitas coisas que eu não compreendo
plenamente. Por muito tempo tenho estudado as forças, as energias, as mentes, as morôncias,
os espíritos e as personalidades reconhecidas dos universos locais e superuniversos, e por
isso tenho uma certa familiaridade com eles. Possuo uma compreensão geral de como essas
agências e personalidades operam; e estou intimamente familiarizado com os trabalhos das
inteligências espirituais dignas de crédito no grande universo. Apesar do conhecimento que
tenho dos fenômenos dos universos, vejo-me constantemente confrontado por reações cósmicas
que não posso penetrar inteiramente. Eu deparo continuamente com conspirações aparentemente
fortuitas, tecidas por uma interação de forças, energias, intelectos e espíritos, que não
consigo explicar de maneira satisfatória.
Considero-me inteiramente competente para descrever e analisar como operam todos os
fenômenos resultantes diretamente das ações do Pai Universal, do Filho Eterno, do Espírito
Infinito e, em grande parte, da Ilha do Paraíso. O que causa a minha perplexidade é deparar
com o que parece ser o desempenho dos Seus coordenados misteriosos, os três Absolutos de
potencialidade. Esses Absolutos parecem suplantar a matéria, transcender a mente e
sobrepujar-se ao espírito. Fico constantemente confuso, e muitas vezes perplexo, com a minha
incapacidade de compreender essas transações complexas que atribuo às presenças e à atuação
do Absoluto Inqualificável, do Absoluto da Deidade e do Absoluto Universal.
Esses Absolutos devem ser as presenças não totalmente reveladas no amplo universo que, nos
fenômenos de potência do espaço e na função de outros superúltimos, tornam impossível aos
físicos, filósofos ou mesmo aos religiosos predizer, com certeza, como as fontes primordiais
de força, conceito e espírito responderão às exigências feitas em uma situação complexa de
realidade, envolvendo ajustes supremos e valores últimos.
Há também uma unidade orgânica, nos universos do tempo e do espaço, que parece respaldar
toda a tessitura dos eventos cósmicos. Essa presença viva do Ser Supremo em evolução, essa
Imanência do Incompleto Projetado, é inexplicavelmente manifestada de quando em quando por
meio daquilo que parece ser uma coordenação assombrosamente fortuita de acontecimentos
cósmicos aparentemente desconectados. Essa deve ser a função da Providência – o âmbito do
Ser Supremo e do Agente Conjunto.
Estou inclinado a acreditar que é esse controle vasto e geralmente irreconhecível, de
coordenação e de interassociação, de todas as fases e formas da atividade universal, que
causa uma mescla tão variada, tão aparente e incorrigivelmente confusa, de fenômenos
físicos, mentais, morais e espirituais que, de um modo tão inequívoco, trabalham para a
glória de Deus e para o bem de homens e anjos.
Mas, em um sentido mais amplo, os “acidentes” aparentes do cosmo são indubitavelmente uma
parte do drama finito da aventura tempo-espacial do Infinito, na sua eterna manipulação dos
Absolutos.
2. DEUS E A NATUREZA
A natureza é, em um sentido limitado, a vestimenta física de Deus. A conduta, ou a ação de
Deus qualifica-se e modifica-se provisionalmente pelos planos experimentais, pelos modelos
evolucionários de um universo local, constelação, sistema ou planeta. Deus atua de acordo
com uma lei bem definida, invariável e imutável, em todo o amplo e vasto universo-mestre;
mas Ele modifica os modelos da Sua ação, de modo a contribuir para a conduta coordenada e
equilibrada de cada universo, constelação, sistema, planeta e personalidade, de acordo com
os objetivos, metas e planos locais dos projetos finitos para o desdobramento evolucionário.
Por conseguinte, a natureza, como o homem mortal a compreende, representa o fundamento de
respaldo e o suporte fundamental para uma Deidade imutável e para as suas leis invariáveis,
que se modificam, que flutuam e que passam por transtornos devido ao funcionamento local dos
planos, propósitos, modelos e condições inauguradas e levadas adiante pelas forças e
personalidades do universo local, da constelação, do sistema e dos planetas. Por exemplo: as
leis de Deus, tais como ordenadas em Nebadon, foram modificadas pelos planos estabelecidos
pelo Filho Criador e pelo Espírito Criativo desse universo local; e, além de tudo isso, a
operação dessas leis foi ainda ulteriormente influenciada pelos erros, falhas e insurreições
de alguns seres residentes no vosso planeta e pertencentes diretamente ao vosso sistema
planetário de Satânia.
A natureza é uma resultante, no tempo-espaço, de dois fatores cósmicos: primeiro, a
imutabilidade, a perfeição e a retidão da Deidade do Paraíso; e, segundo, os planos
experimentais, os tropeços nas execuções, os erros de insurreições, a incompletude no
desenvolvimento e a imperfeição de sabedoria das criaturas exteriores ao Paraíso, das mais
altas às mais baixas. A natureza, portanto, traz um vínculo de perfeição, uniforme,
imutável, majestoso e maravilhoso, que vem do círculo da eternidade; mas, em cada universo,
planeta e vida individual, essa natureza é modificada, qualificada e desfigurada casualmente
pelos atos, erros e deslealdades das criaturas dos sistemas e dos universos evolucionários;
e é por isso que a natureza tem sempre o ânimo mutável e caprichoso, se bem que estável, no
fundo, e que varia de acordo com os procedimentos vigentes em cada universo local.
A natureza é a perfeição do Paraíso dividida pela incompletude, pelo mal e o pecado dos
universos inacabados. Esse quociente expressa, assim, tanto do perfeito quanto do parcial,
tanto do eterno quanto do temporal. A evolução contínua modifica a natureza fazendo aumentar
o seu conteúdo de perfeição do Paraíso e reduzindo o conteúdo de mal, de erro e de
desarmonia da realidade relativa.
Deus não está pessoalmente presente na natureza, nem em nenhuma das forças da natureza, pois
o fenômeno da natureza é uma superimposição das imperfeições da evolução progressiva e,
algumas vezes, das conseqüências da rebelião insurrecionária, sobre os fundamentos
provenientes do Paraíso, da lei universal de Deus. Do modo como se apresenta em um mundo,
tal como o de Urântia, a natureza jamais pode ser a expressão adequada, a verdadeira
representação, o retrato fiel de um Deus infinito e onisciente.
A natureza, no vosso mundo, é uma requalificação estipulada das leis da perfeição, feita
pelos planos evolucionários do universo local. Que farsa é adorar a natureza porque esteja
penetrada por Deus, pois ela o está de um modo limitado e restritivo, porque é apenas uma
fase do poder universal e, portanto, do poder divino! A natureza também é uma manifestação
do inacabado, do incompleto, das elaborações imperfeitas do desenvolvimento, do crescimento
e do progresso de um universo experimental, em evolução cósmica.
Os defeitos aparentes do mundo natural não indicam quaisquer defeitos correspondentes no
caráter de Deus. As imperfeições observadas são meramente as interrupções momentâneas
inevitáveis na projeção de um filme sempre em movimento, que é a infinitude. E são essas
mesmas interrupções defeituosas, da perfeição em continuidade, que possibilitam à mente
finita do homem material captar uma visão fugaz da realidade divina no tempo e no espaço. As
manifestações materiais da divindade parecem defeituosas à mente evolucionária do homem,
apenas porque o homem mortal insiste em uma visão dos fenômenos da natureza por meio dos
seus olhos naturais; pela visão humana não ajudada pela mota moroncial; nem por meio da
revelação, que é a substituta compensatória da mota nos mundos do tempo.
E a natureza está desfigurada: a sua face de beleza tem cicatrizes, as suas feições ficaram
murchas com a rebelião, pela conduta errônea, pelo pensamento desviado das miríades de
criaturas que são uma parte da natureza, mas que têm contribuído para a sua desfiguração no
tempo. Não, a natureza não é Deus. A natureza não é um objeto de adoração.
3. O CARÁTER IMUTÁVEL DE DEUS
Por um tempo grande demais o homem pensou em Deus como um ser semelhante a si próprio. Deus
não tem, nunca teve e nunca terá rivalidade ou ciúme do homem, nem de qualquer outro ser no
universo dos universos. Sabendo que o Filho Criador pretendia que o homem fosse a obra-prima
da criação planetária, que fosse o soberano da Terra inteira, quando Deus teve a visão do
homem sendo dominado pelas suas próprias paixões mais baixas, e viu o espetáculo da Sua
criatura prostrada diante de ídolos de madeira, de pedra, de ouro, e diante da própria
ambição egoísta – essas cenas sórdidas levaram Deus e os Seus Filhos a tomar-Se de zelo e de
cuidado pelo homem, mas nunca por rivalidade nem por ciúme do homem.
O Deus eterno é incapaz de ira ou de raiva, no sentido que essas emoções humanas têm e como
o homem entende tais reações. Esses sentimentos são mesquinhos e desprezíveis; são indignos
de serem chamados até de humanos e mais ainda de divinos; e tais atitudes são totalmente
alheias à natureza perfeita e ao caráter pleno de graça do Pai Universal.
Uma parte muito grande da dificuldade que os mortais de Urântia têm de compreender Deus
deve-se às conseqüências, de longo alcance, da rebelião de Lúcifer e da traição de
Caligástia. Em mundos não segregados pelo pecado, as raças evolucionárias são capazes de
formular idéias muito melhores do Pai Universal, pois os seus conceitos sofrem menos
distorções, confusões e deturpações.
Deus não se arrepende de nada que haja feito, que agora faça ou que venha um dia a fazer.
Ele é onisciente, bem como onipotente. A sabedoria do homem vem das provações e dos erros da
experiência humana; a sabedoria de Deus consiste na perfeição inqualificável, ou ilimitada,
do Seu discernimento universal infinito e irrestrito; e esse pré-conhecimento efetivamente
dirige o Seu livre-arbítrio criador.
O Pai Universal nunca faz nada que cause dor ou arrependimento subseqüentes. Mas as
criaturas volitivas, planejadas e feitas pelas Suas personalidades Criadoras, nos universos
remotos, pela própria escolha desafortunada dessas criaturas, algumas vezes, causam emoções
de pesar divino nas personalidades dos seus pais Criadores. Todavia, embora o Pai não cometa
erros, nem abrigue arrependimentos, ou experimente o pesar, Ele é um Ser que tem uma afeição
de Pai, e o Seu coração fica pesaroso, sem dúvida, quando os Seus filhos falham em atingir
os níveis espirituais que seriam capazes de alcançar, com a assistência que foi tão
livremente provida pelos planos da realização espiritual e pelas políticas de ascensão dos
mortais nos universos.
A infinita bondade do Pai está além da compreensão da mente finita do tempo; por isso é que
deve haver sempre uma forma de contraste com o mal comparativo (não o pecado) para a
exibição efetiva de todas as fases da bondade relativa. A perfeição da bondade divina pode
ser discernida pela intuição mortal imperfeita apenas porque ela se destaca, por contraste,
da imperfeição relativa das relações entre o tempo e a matéria, nos movimentos do espaço.
O caráter de Deus é infinitamente supra-humano; e é por isso que essa natureza da divindade
deve ser personalizada, como o é, nos Filhos divinos, antes que possa ser captada com a fé,
pela mente finita do homem.
4. COMO COMPREENDER DEUS
Deus é o único ser estacionário, autocontido e imutável em todo o universo dos universos e
para quem não há um lado exterior além, nem passado, nem futuro. Deus é energia com um
propósito (o espírito criador) e vontade absoluta, atributos que são auto-existentes e
universais.
Posto que Deus existe por si próprio, Ele é absolutamente independente. A própria identidade
de Deus é inimiga da mudança. “Eu, o Senhor, não mudo.” Deus é imutável; mas, até que vós
tenhais alcançado o status do Paraíso, não podeis nem mesmo começar a entender como Deus
pode passar da simplicidade à complexidade, da identidade à variação, da quiescência ao
movimento, da infinitude à finitude, do divino ao humano e da unidade à dualidade, e, desta,
à trindade. E Deus pode, assim, modificar as manifestações da sua absolutez, pois a
imutabilidade divina não implica a imobilidade; Deus tem vontade – Ele é a vontade.
Deus é o Ser da autodeterminação absoluta, não há limites para as Suas reações no universo,
exceto aqueles que são auto-impostos, e os Seus atos de livre-arbítrio são condicionados
apenas por aquelas qualidades divinas e atributos perfeitos que caracterizam inerentemente a
Sua natureza eterna. Portanto, Deus está relacionado ao universo como o Ser de bondade final
e, ainda, de vontade livre de infinitude criadora.
O Pai-absoluto é o criador do universo central e perfeito e o Pai de todos os outros
Criadores. Deus compartilha a personalidade, a bondade e inúmeras outras características,
com o homem e outros seres; a infinitude da vontade, entretanto, é apenas Dele. Deus é
limitado, nos Seus atos criadores, apenas pelos sentimentos da Sua natureza eterna e pelos
ditames da Sua sabedoria infinita. Deus pessoalmente escolhe apenas aquilo que é
infinitamente perfeito, daí a perfeição superna do universo central; e, embora os Filhos
Criadores compartilhem plenamente a Sua divindade e até mesmo algumas fases da Sua
absolutez, eles não estão completamente orientados por aquela finalidade de sabedoria que
dirige a infinitude da vontade do Pai. E por isso, na ordem de filiação dos Michaéis, o
livre-arbítrio criador torna-se mais ativo, mais plenamente divino, e quase último, se não
absoluto mesmo. O Pai é infinito e eterno, mas negar a possibilidade da Sua autolimitação
volitiva equivaleria a negar o próprio conceito de absolutez da Sua vontade.
A absolutez de Deus permeia todos os sete níveis da realidade universal. E a totalidade da
Sua natureza absoluta está sujeita à relação do Criador com a Sua família de criaturas no
universo. A precisão pode caracterizar a justiça trinitária no universo dos universos, mas
em todo o Seu vasto relacionamento familiar, com as criaturas do tempo, o Deus dos universos
Se pauta pelo sentimento divino. Em primeiro e último lugares – eternamente –, o Deus
infinito é um Pai. Entre todos os títulos possíveis pelos quais Ele poderia ser conhecido
apropriadamente, fui instruído a retratar o Deus de toda criação como o Pai Universal.
Em Deus, o Pai, os atos do livre-arbítrio não são regidos pelo poder, nem guiados apenas
pelo intelecto; a personalidade divina é definida como consistindo no espírito e
manifestando a Si próprio aos universos como amor. Portanto, em todas as Suas relações
pessoais, com as personalidades criaturas dos universos, a Primeira Fonte e Centro é sempre
e de forma coerente um Pai amoroso. Deus é um Pai, no sentido mais elevado do termo. Ele
está eternamente motivado pelo idealismo perfeito do amor divino; e essa natureza terna
encontra a Sua mais forte expressão e a maior satisfação em amar e ser amada.
Para a ciência, Deus é a Primeira Causa; para a religião, o Pai universal pleno de amor;
para a filosofia, o único Ser que existe por Si próprio, não dependendo de nenhum outro ser
para existir; e, magnanimamente, Ele confere realidade de existência a todas as coisas e a
todos os outros seres. Contudo, torna-se necessária a revelação, para mostrar que a Primeira
Causa da ciência e a Unidade auto-existente da filosofia são o mesmo Deus da religião, pleno
de misericórdia e bondade, e comprometido em efetivar a sobrevivência eterna dos Seus filhos
da Terra.
Nós almejamos o conceito do infinito, mas adoramos a idéia-experiência de Deus, a nossa
capacidade de captar, em qualquer tempo e qualquer lugar, os fatores da personalidade e da
divindade dentro do nosso mais elevado conceito de Deidade.
A consciência de uma vida humana vitoriosa, na Terra, nasce daquela fé do ser criado a qual
se atreve a desafiar cada episódio recorrente da existência, quando se defronta com o
espetáculo pavoroso das limitações humanas, por meio da afirmação infalível: ainda que eu
não possa fazer isso, em mim vive alguém que pode e que irá fazê-lo, uma parte do
Pai-Absoluto do universo dos universos. E essa é “a vitória que conquista o mundo, é a vossa
própria fé”.
5. IDÉIAS ERRÔNEAS SOBRE DEUS
A tradição religiosa é o registro, imperfeitamente preservado, das experiências dos homens
sabedores de Deus das eras passadas; contudo, tais registros não são confiáveis como guias
para a vida religiosa, nem como fonte de informação verdadeira sobre o Pai Universal. Tais
crenças antigas têm sido invariavelmente alteradas pelo fato de o homem primitivo haver sido
um elaborador de mitos.
Em Urântia, uma das fontes principais de confusão, a respeito da natureza de Deus, provém do
fato de que os vossos livros sagrados não foram capazes de distinguir claramente as
personalidades da Trindade do Paraíso, entre elas próprias; nem entre a Deidade do Paraíso e
os criadores e administradores do universo local. Durante as dispensações passadas, de
entendimento parcial, os vossos sacerdotes e profetas não conseguiram estabelecer com
clareza as diferenças entre os Príncipes Planetários, os Soberanos dos Sistemas, os Pais da
Constelação, os Filhos Criadores, os Governantes dos Superuniversos, o Ser Supremo e o Pai
Universal. Muitas das mensagens de personalidades subordinadas, tais como os Portadores da
Vida e várias ordens de anjos, têm sido apresentadas, nos vossos registros, como sendo
provenientes do próprio Deus. O pensamento religioso de Urântia ainda confunde as
personalidades coligadas da Deidade com o próprio Pai Universal, de maneira a dar a todos um
mesmo nome.
O povo de Urântia continua a sofrer a influência de conceitos primitivos de Deus. Os deuses
desencadeados na tormenta, que sacodem a Terra na sua cólera e que derrubam os homens na sua
ira, os que infligem o seu julgamento descontente na forma de penúria e de enchentes – estes
são os deuses da religião primitiva, não são os Deuses que vivem nos universos e que os
governam.Tais conceitos são uma relíquia dos tempos em que os homens supunham que o universo
estivesse sob o domínio e o controle dos caprichos de tais deuses imaginários. O homem
mortal, entretanto, está começando a dar-se conta de que vive em um reino de relativa lei e
ordem, no que diz respeito às políticas administrativas e à conduta dos Criadores Supremos e
dos Controladores Supremos.
A idéia bárbara de apaziguar a um Deus irado, fazendo propiciações para um Senhor ofendido,
tentando ganhar os favores da Deidade; e tudo isso por meio de sacrifícios e de penitências,
ou mesmo pelo derramamento de sangue, é sinal de uma religião totalmente pueril e primitiva,
de uma filosofia indigna de uma era esclarecida pela ciência e pela verdade. Tais crenças
são extremamente repulsivas aos seres celestes e aos governantes divinos que servem e reinam
nos universos. É uma afronta a Deus acreditar, sustentar ou ensinar que o sangue inocente
deve ser derramado com a finalidade de conquistar os Seus favores ou de conjurar uma ira
divina fictícia.
Os hebreus acreditavam que “sem derramamento de sangue não haveria remissão do pecado”. Eles
não se haviam libertado da velha idéia pagã de que os Deuses não poderiam ser apaziguados a
não ser pela visão do sangue, embora Moisés tenha trazido um claro avanço quando proibiu os
sacrifícios humanos e os substituiu, na mente primitiva dos beduínos infantis que o seguiam,
pelo sacrifício cerimonial de animais.
A outorga de si próprio, feita por um Filho do Paraíso, no vosso mundo, foi inerente à
situação de fechamento de uma era planetária. Não que tenha sido necessária ao propósito de
ganhar os favores de Deus, e sim porque era inevitável. Essa doação de si próprio também
aconteceu como ato pessoal final de um Filho Criador, na longa aventura de alcançar a
soberania experiencial do seu universo. Que distorção do caráter infinito de Deus não é o
ensinamento de que o Seu coração paternal, em Sua suposta frieza e dureza austeras, não era
tocado pelos sofrimentos e infortúnios das Suas criaturas, de que a Sua misericórdia terna
não seria distribuída senão quando Ele visse o Seu Filho inocente sangrando e morrendo na
cruz no Calvário!
Mas os habitantes de Urântia hão de libertar-se dos erros antigos e das superstições pagãs,
a respeito da natureza do Pai Universal. A revelação da verdade sobre Deus está surgindo, e
a raça humana está destinada a conhecer o Pai Universal, em toda a beleza de caráter e graça
de atributos que o Filho Criador tão magnificamente descreveu, ao residir em Urântia, como o
Filho do Homem e o Filho de Deus.
[Apresentado por um Conselheiro Divino de Uversa.]
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