O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 54
OS PROBLEMAS DA REBELIÃO DE LÚCIFER
O homem evolucionário acha difícil compreender plenamente o significado e captar o sentido do que é o mal, o erro, o pecado e a iniqüidade. O homem é lento para perceber que o contraste entre a perfeição e a imperfeição gera o mal potencial; que o conflito entre a verdade e a falsidade produz o erro da confusão; que o dom divino da escolha, do livre-arbítrio, desemboca nos domínios divergentes do pecado e da retidão; que a busca persistente da divindade conduz ao Reino de Deus e que, por contraste, a contínua rejeição desse Reino leva ao domínio da iniqüidade.
Os Deuses não criam o mal, nem permitem o pecado e a rebelião. O mal potencial existe no tempo, dentro de um universo que abrange níveis distintos de significados e de valores de perfeição. O pecado é potencial em todos os reinos nos quais os seres imperfeitos são dotados com a capacidade de escolher entre o bem e o mal. A presença, em si mesma conflitante, da verdade e da inverdade, do factual e do aparente, constitui uma potencialidade para o erro. A escolha deliberada do mal constitui o pecado; a rejeição voluntária da verdade é o erro; a adoção persistente do pecado e do erro é a iniqüidade.
1. A LIBERDADE VERDADEIRA E A FALSA LIBERDADE
Entre todos os problemas de grande perplexidade, advindos da rebelião de Lúcifer, nenhum tem causado mais dificuldades do que a inaptidão que os mortais evolucionários imaturos têm para distinguir entre a verdadeira e a falsa liberdade.
A liberdade verdadeira é a busca das idades e a recompensa do progresso evolucionário. A falsa liberdade é o engano sutil do erro, no tempo, e do mal, no espaço. A liberdade que perdura, funda-se na realidade da justiça – da inteligência, da maturidade, da fraternidade e da eqüidade.
A liberdade torna-se uma técnica de autodestruição da existência cósmica quando a sua motivação é pouco inteligente, incondicionada e incontrolada. A verdadeira liberdade está progressivamente relacionada à realidade e considera sempre a eqüidade social, a justiça cósmica, a fraternidade universal e as obrigações divinas.
A liberdade torna-se suicida quando divorciada da justiça material, da honestidade intelectual, da paciência social, do dever moral e dos valores espirituais. A liberdade não existe fora da realidade cósmica; e toda a realidade da personalidade é proporcional às suas relações com a divindade.
A vontade própria incontida e a auto-expressão não regrada igualam-se ao egoísmo não mitigado: o ponto mais distante da divindade. A liberdade que não está associada à conquista e à mestria do ego, a qual deve ser sempre crescente, é uma invenção da imaginação mortal egoísta. A liberdade motivada apenas pelo ego é uma ilusão conceitual, um engano cruel. A licenciosidade mascarada pela veste da liberdade é precursora de uma escravidão abjeta. A verdadeira liberdade é uma derivada do auto-respeito genuíno; a falsa liberdade é companheira da auto-admiração. A verdadeira liberdade é fruto do controle de si próprio; a liberdade falsa é fruto da pretensão da afirmação do ego. O autocontrole conduz ao serviço altruísta. A admiração de si próprio tende a conduzir à exploração dos outros, visando o engrandecimento egoísta do indivíduo, no erro. Tal indivíduo, no egoísmo, dispõe-se a sacrificar a realização, na retidão, pela posse de um poder injusto sobre os seus semelhantes.
Mesmo a sabedoria, apenas é divina e segura quando é cósmica, no seu alcance e, espiritual, na sua motivação.
Não há erro maior do que a prática de enganar a si próprio que leva os seres inteligentes a aspirarem ao exercício do poder sobre outros seres, com o propósito de privá-los das suas liberdades naturais. A regra de ouro da justiça humana põe-se contra todas essas fraudes, injustiças, egoísmos e falta de retidão. Só a liberdade genuína e verdadeira é compatível com o Reino do amor e o ministério da misericórdia.
Como se atreve, a criatura movida pela vontade do ego, a intrometer-se nos direitos dos seus semelhantes, em nome da liberdade pessoal, quando os Governantes Supremos do universo abstêm-se, em respeito misericordioso, diante dessas prerrogativas da vontade e dos potenciais da personalidade! Nenhum ser, no exercício da sua suposta liberdade pessoal, tem o direito de privar qualquer outro ser dos privilégios da existência, conferidos pelos Criadores e devidamente respeitados por todos os seus leais companheiros, subordinados e súditos.
O homem evolucionário pode ter de lutar pelas suas liberdades materiais contra os tiranos e os opressores, num mundo de pecado e iniqüidade, ou durante os tempos iniciais de uma esfera primitiva, em evolução, mas não é assim nos mundos moronciais, nem nas esferas do espírito. A guerra é a herança do homem evolucionário primitivo, mas, nos mundos em que a civilização tem um avanço normal, o combate físico, como uma técnica de ajustamento de mal-entendidos raciais, há muito tempo caiu em descrédito.
Com o Filho e no Espírito, Deus projetou a eterna Havona e, desde então, prevaleceu ali o arquétipo eterno da participação coordenada na criação – o compartilhamento. Esse modelo de compartilhamento é o projeto mestre para cada um dos Filhos e Filhas de Deus que saem para o espaço com o fito de engajar-se na tentativa de duplicar, no tempo, o Universo Central da perfeição eterna.
Todas as criaturas que aspiram a cumprir a vontade do Pai, em todos os universos em evolução, estão destinadas a tornar-se as parceiras dos Criadores tempo-espaciais, nessa magnífica aventura de tentar alcançar a perfeição experiencial. Se isso não fosse verdade, o Pai não teria dotado essas criaturas com um livre-arbítrio criativo e também Ele não residiria nelas, formando junto com elas, na verdade, uma sociedade na qual Ele se faz presente por intermédio do Seu próprio espírito.
A loucura de Lúcifer foi tentar fazer o que não é factível: abreviar o tempo, por um atalho, num universo experiencial. O crime de Lúcifer foi a tentativa de privar todas as personalidades de Satânia da sua liberdade criativa, de reduzir indevidamente a participação pessoal da criatura – o livre-arbítrio de poder participar – na longa luta evolucionária para alcançar o status de luz e vida, tanto individual quanto coletivamente. Ao fazer isso, aquele que, certa vez, foi o Soberano do vosso sistema, colocou o propósito temporal da sua própria vontade em oposição direta ao propósito eterno da vontade de Deus,tal como é revelada na outorga do livre-arbítrio a todas as criaturas pessoais. A rebelião de Lúcifer, assim, ameaçou violar, ao máximo possível, a faculdade da escolha livre dos ascendentes e servidores do sistema de Satânia – uma ameaça de privar para sempre, cada um desses seres da experiência apaixonante de contribuir com algo de pessoal e único para o soerguimento vagaroso do monumento da sabedoria experiencial, que existirá, algum dia, como sendo o sistema de Satânia perfeccionado. Assim, pois, o manifesto de Lúcifer, disfarçado nos trajes da liberdade, destaca-se, à luz clara da razão, como uma ameaça monumental a consumar o roubo da liberdade pessoal e a fazê-lo numa escala só por duas vezes alcançada, em toda a história de Nebadon.
Em resumo, o que Deus tinha dado aos homens e anjos, Lúcifer lhes teria tirado; isto é, o privilégio divino de participar na criação dos seus próprios destinos e do destino desse sistema local de mundos habitados.
Nenhum ser, em todo o universo, tem a liberdade, por direito, de privar qualquer outro ser da verdadeira liberdade, do direito de amar e de ser amado, do privilégio de adorar a Deus e de servir aos seus semelhantes.
3. A DEMORA TEMPORAL DA JUSTIÇA
As criaturas de vontade moral dos mundos evolucionários estão sempre preocupadas em fazer uma pergunta impensada: por que os Criadores oniscientes permitem o mal e o pecado? Elas não compreendem que ambos são inevitáveis, se a criatura deve ser verdadeiramente livre. O livre-arbítrio do homem que evolui, bem como o do extraordinário anjo, não é um mero conceito filosófico, um ideal simbólico. A capacidade do homem de escolher entre o bem e o mal é uma realidade do universo. Essa liberdade, de escolher por si próprio, é um dom dos Governantes Supremos, e eles não permitirão a qualquer ser, ou grupo de seres, privar uma personalidade sequer, no amplo universo, dessa liberdade divinamente outorgada – e, menos ainda, para satisfazer aos seres transviados e ignorantes no desfrute de algo erroneamente concebido como liberdade pessoal.
Se bem que a identificação consciente e deliberada com o mal (o pecado) seja o equivalente à não-existência (o aniquilamento), deve haver sempre um intervalo de tempo entre o momento dessa identificação pessoal com o pecado e a execução da pena – o resultado automático do abraçar voluntário do mal –, um intervalo de tempo tal que seja suficiente para permitir que o juízo do status do indivíduo, no universo, demonstre ser inteiramente satisfatório para todas as personalidades a ele relacionadas, no universo, e que seja tão equânime e justo a ponto de ganhar a aprovação do próprio pecador.
Mas se esse ser que se rebelou, no universo, contra a realidade da verdade e da bondade, recusar-se a aprovar o veredicto, e se o culpado conhecer, no seu coração, a justiça da sua condenação, mas se recusar a confessar esse fato, então a execução da sentença deverá ser retardada de acordo com a decisão conveniente dos Anciães dos Dias. E os Anciães dos Dias negam-se a aniquilar qualquer ser até que todos os valores morais e todas as realidades espirituais sejam extintas, tanto no pecador, quanto em todos os que o apóiam e nos possíveis simpatizantes.
4. A DEMORA TEMPORAL DA MISERICÓRDIA
Um outro problema, um tanto difícil de se explicar, na constelação de Norlatiadeque, diz respeito às razões de se ter permitido que Lúcifer, Satã e os príncipes caídos tivessem semeado a discórdia, durante tanto tempo, antes de serem apreendidos, confinados e julgados.
Os pais, aqueles que geraram e criaram filhos, estão mais aptos para compreender por que Michael, um Criador-pai, possa ser lento em condenar e destruir os seus próprios Filhos. A história do filho pródigo, que Jesus narrava, ilustra muito bem o quanto um pai amoroso pode esperar, por um longo tempo, pelo arrependimento de um filho que erra.
O fato em si de que uma criatura que pratica o mal possa verdadeiramente escolher cometer o erro – cometer o pecado – estabelece a realidade do livre-arbítrio e justifica plenamente os atrasos, de qualquer duração, na execução da justiça, posto que a extensão da misericórdia pode conduzir ao arrependimento e à reabilitação.
A maior parte das liberdades buscadas por Lúcifer, ele já as tinha; outras ele estava para recebê-las no futuro. Todos esses dons preciosos foram perdidos quando ele cedeu à impaciência, e quando se rendeu ao desejo de possuir, imediatamente, o que desejava possuir já, e possuir desafiando toda a obrigação de respeitar os direitos e as liberdades de todos os outros seres que compõem o universo dos universos. As obrigações éticas são inatas, divinas e universais.
Há muitas razões, conhecidas por nós, pelas quais os Governantes Supremos não destruíram nem confinaram imediatamente os líderes da rebelião de Lúcifer. E, sem dúvida, há ainda outras razões, possivelmente mais fortes, desconhecidas por nós. As características da misericórdia contidas nessa demora da execução da justiça foram oferecidas pessoalmente por Michael de Nebadon. Não fora o afeto desse Criador-pai pelos seus filhos pecadores, a justiça suprema do superuniverso teria agido já. Se um episódio, como a rebelião de Lúcifer, tivesse ocorrido em Nebadon, enquanto Michael estava encarnado em Urântia, os instigatores do mal poderiam ter sido instantânea e absolutamente aniquilados.
A justiça suprema pode agir instantaneamente quando não restringida pela misericórdia divina. Mas a ministração da misericórdia aos filhos do tempo e do espaço vem sempre provida desse retardamento temporal, desse intervalo salvador, entre a época de semear e a hora de colher. Se a semente plantada é boa, esse intervalo provê a prova e a edificação do caráter; se o plantio é mau, esse retardamento misericordioso provê tempo para o arrependimento e a retificação. A demora no julgamento e na execução dos que cometeram o mal é inerente à ministração da misericórdia aos sete superuniversos. O refreamento da justiça, pela misericórdia, prova que Deus é amor, que este Deus do amor domina os universos e, pela misericórdia, controla o destino e o julgamento de todas as suas criaturas.
As demoras temporais da misericórdia existem por mandato do livre-arbítrio dos Criadores. Há um bem no universo que se deriva dessa técnica de paciência para lidar com rebeldes pecadores. Ainda que seja mais que verdadeiro que o bem não pode vir do mal, para aquele que admira e comete o mal, é igualmente verdadeiro que todas as coisas (inclusive o mal potencial, e o mal manifesto) trabalhem juntas para o bem de todos os seres que conhecem Deus, que amam fazer a sua vontade e que estão ascendendo na direção do Paraíso, de acordo com o seu plano eterno e o seu propósito divino.
Mas essas demoras, por misericórdia, não são intermináveis. Não obstante a longa demora (como o tempo é considerado em Urântia) para julgar a rebelião de Lúcifer, podemos registrar que, durante o tempo de efetuar essa revelação, a primeira audiência, do caso pendente de Gabriel versus Lúcifer, aconteceu em Uversa e, logo depois, foi emitido o mandato dos Anciães dos Dias instruindo que Satã fosse então confinado ao mundo-prisão, com Lúcifer. Isso põe fim à capacidade de Satã de fazer novas visitas a qualquer dos mundos caídos de Satânia. A justiça, num universo dominado pela misericórdia, pode ser lenta, mas é certa.
5. A SABEDORIA DO ADIAMENTO
Das muitas razões conhecidas por mim, pelas quais Lúcifer e os seus confederados não foram confinados, nem julgados mais cedo, me é permitido mencionar as seguintes:
1. A misericórdia requer que todos os malfeitores tenham tempo suficiente para formular uma atitude deliberada e plenamente determinada a respeito dos seus maus pensamentos e dos seus atos transgressores.
2. A justiça suprema é dominada pelo amor do Pai; portanto a justiça nunca irá destruir aquilo que a misericórdia pode salvar. O tempo para aceitar a salvação é garantido a todo malfeitor.
3. Nenhum pai afeiçoado precipita-se em responder com uma punição a um membro da sua família que comete um erroa. A paciência não pode funcionar independentemente do tempo.
4. Embora o erro seja sempre deletério para uma família, a sabedoria e o amor exortam os filhos justos a terem paciência com um irmão que erra durante o tempo concedido pelo pai afeiçoado, dentro do qual o pecador pode ver o erro do seu caminho e abraçar a salvação.
5. Independentemente da atitude de Michael para com Lúcifer, não obstante ser ele o Criador-pai de Lúcifer, não era da alçada do Filho Criador exercer a jurisdição sumária, sobre o Soberano apóstata do Sistema, porque Michael não tinha, até então, completado a sua carreira de auto-outorgas, por intermédio da qual alcançaria a soberania incondicional de Nebadon.
6. Os Anciães dos Dias poderiam ter aniquilado imediatamente esses rebeldes, mas eles raramente executam malfeitores sem terem ouvido tudo sobre o seu caso. Nessa instância eles recusaram-se a passar por cima das decisões de Michael.
7. É evidente que Emanuel aconselhou Michael a permanecer distante dos rebeldes e a permitir que a rebelião chegasse, por seu curso natural, à auto-obliteração. E a sabedoria dos Uniões dos Dias é o reflexo, no tempo, da sabedoria unificada da Trindade do Paraíso.
8. Os Fiéis dos Dias, em Edêntia, aconselharam os Pais da Constelação a permitirem o livre trânsito aos rebeldes, com o fito de que toda a compaixão por esses malfeitores fosse extirpada, o mais cedo possível, dos corações de cada cidadão presente e futuro de Norlatiadeque – de todas as criaturas mortais, moronciais ou espirituais.
9. Em Jerusém, o representante pessoal do Executivo Supremo de Orvonton aconselhou Gabriel a prover todas as oportunidades para que cada criatura viva fizesse uma escolha, deliberadamente amadurecida, sobre todas as questões envolvendo a Declaração de Liberdade de Lúcifer. Tendo sido levantadas as questões da rebelião, o conselheiro de Gabriel, vindo do Paraíso para essas emergências, declarou que se uma oportunidade plena e livre como aquela não fosse dada a todas as criaturas de Norlatiadeque, então, a quarentena do Paraíso contra todas essas criaturas, possivelmente indecisas ou tomadas pela dúvida, seria estendida, em nome da autoproteção, a toda a constelação. Para manter as portas do Paraíso abertas para a ascensão, aos seres de Norlatiadeque, seria necessário dar chances de pleno desenvolvimento à rebelião e assegurar a completa determinação de atitude da parte de todos os seres relacionados, de algum modo, com ela.
10. A Ministra Divina de Salvington emitiu, como a sua terceira proclamação independente, um mandato ordenando que nada fosse feito para curar, pela metade, para suprimir covardemente ou, de qualquer outro modo, para ocultar o rosto horrível dos rebeldes e da rebelião.
Foi instruído às hostes angélicas para que trabalhassem por uma plena divulgação e para que fosse dada oportunidade ilimitada à expressão do pecado, afirmando ser essa a técnica mais rápida para realizar a cura perfeita, e final, da praga do mal e do pecado.
11. Foi organizado em Jerusém um conselho de emergência de ex-mortais, constituído de Mensageiros Poderosos, mortais glorificados que tinham tido experiência pessoal em situações semelhantes, juntamente com os seus colegas. Eles advertiram Gabriel de que seria, pelo menos, três vezes maior o número de seres a se perderem, caso fossem tentados métodos arbitrários ou sumários de supressão. Todo o corpo de conselheiros de Uversa se pôs de acordo para aconselhar Gabriel a permitir que a rebelião tomasse o seu curso pleno e natural, ainda que fosse necessário um milhão de anos para eliminar as conseqüências.
12. O tempo é relativo, até mesmo num universo temporal: se um mortal de Urântia, com um período mediano de vida, cometesse um crime que precipitasse um pandemônio mundial e, caso ele fosse apreendido, julgado e executado, dois ou três dias depois de cometido o crime, pareceria muito tempo para vós? E ainda, essa seria uma comparação aproximadamente válida, considerando a duração da vida de Lúcifer, ainda que o seu julgamento, agora iniciado, não terminasse nem dentro de cem mil anos do tempo de Urântia. O lapso relativo de tempo, do ponto de vista de Uversa, onde o litígio está pendente, poderia ser indicado, se disséssemos que o crime de Lúcifer foi levado a julgamento dois segundos e meio depois de cometido. Do ponto de vista do Paraíso o julgamento é simultâneo ao ato.
Existe um número igual de motivos para que não se tivesse terminado arbitrariamente a rebelião de Lúcifer, os quais seriam parcialmente compreensíveis para vós, mas não me é permitido descrevê-los. Posso informar-vos que, em Uversa, nós ensinamos sobre quarenta e oito motivos para possibilitar que o mal tome o curso pleno da sua própria bancarrota moral e da sua extinção espiritual. Não duvido que haja pelo menos um número igual de razões, além dessas, que eu não conheça.
Quaisquer sejam as dificuldades que os mortais evolucionários possam encontrar, nos seus esforços para compreender a rebelião de Lúcifer, deveria parecer claro, a todos os pensadores que meditam, que a técnica de lidar com os rebeldes é uma demonstração do amor divino. A misericórdia amorosa estendida aos rebeldes parece ter envolvido muitos seres inocentes em provações e atribulações, mas todas essas personalidades afligidas podem, com segurança, confiar nos Juízes, infinitamente sábios, para julgar os seus destinos, tanto em misericórdia, quanto em justiça.
Sempre que lidam com seres inteligentes, tanto o Filho Criador, quanto o seu Pai do Paraíso, são conduzidos pelo amor. É impossível compreender muitas fases da atitude dos governantes do universo para com os rebeldes e a rebelião – o pecado e os pecadores –, a menos que seja lembrado que Deus, como Pai, tem precedência sobre todas as outras fases da manifestação da sua Deidade, em toda a tratativa que a divindade tenha com a humanidade. Deveria também ser lembrado que todos os Filhos Criadores do Paraíso são motivados pela misericórdia.
Se um pai afeiçoado de uma grande família, escolhe demonstrar misericórdia a um dos seus filhos, culpado por graves erros, pode muito bem acontecer que essa extensão da misericórdia, a este filho mal-comportado, resulte em provações temporárias para todos os outros filhos bem-comportados. Essas eventualidades são inevitáveis; esse risco é inseparável da situação da realidade de ter um pai cheio de amor e de ser um membro de um grupo familiar. Cada membro de uma família beneficia-se da conduta justa de todos os outros membros; do mesmo modo, cada membro deve sofrer a conseqüência, imediata no tempo, da má conduta de todos os outros membros. Famílias, grupos, nações, raças, mundos, sistemas, constelações e universos são relacionamentos de associação que possuem individualidade; portanto, cada membro de todo o grupo, grande ou pequeno, colhe os benefícios e sofre as conseqüências das boas ações e dos malfeitos de todos os outros membros do grupo envolvido.
Entretanto, uma coisa deve ficar clara: caso sejais levados a sofrer as conseqüências más por causa do pecado de algum membro da vossa família, de algum compatriota ou de um companheiro mortal, ou mesmo por causa da rebelião no sistema, ou noutra parte – não importa o que vós possais ter de suportar, por causa do erro de conduta dos vossos parceiros, companheiros ou superiores –, podeis ficar seguros na certeza eterna de que tais atribulações serão aflições passageiras. Nenhuma dessas conseqüências fraternais, do mau comportamento, no grupo, pode jamais colocar em perigo as vossas perspectivas eternas, nem vos privar, no mínimo grau que seja, do vosso direito divino de ascensão ao Paraíso e de alcançar a Deus.
E há uma compensação para essas provações, para esses adiamentos e desapontamentos, que invariavelmente acompanham o pecado da rebelião. Entre as muitas repercussões consideráveis da rebelião de Lúcifer que podem ser nomeadas, apenas chamarei a atenção para as carreiras enaltecidas dos mortais ascendentes, os cidadãos de Jerusém que, por resistirem aos sofismas do pecado, se colocaram na posição de tornarem-se futuros Mensageiros Poderosos, companheiros da minha própria ordem. Cada ser que tenha resistido ao teste daquele episódio do mal, por esse motivo avançou imediatamente no seu status administrativo e elevou o seu valor espiritual.
A princípio, o levante de Lúcifer pareceu ser uma calamidade sem atenuantes para o sistema e mesmo para o universo. Gradualmente os benefícios começaram a acumular-se. Com o decorrer de vinte e cinco mil anos do tempo do sistema (vinte mil anos do tempo de Urântia), os Melquisedeques começaram a ensinar que o bem resultante da loucura de Lúcifer chegava a igualar o mal incorrido. A soma do mal, àquela altura, tinha-se tornado quase estacionária, continuando a crescer apenas em alguns mundos isolados, enquanto as repercussões benéficas multiplicavam-se e estendiam-se pelo universo e pelo superuniverso, chegando mesmo até Havona. Os Melquisedeques ensinam agora que o bem que resulta da rebelião de Satânia é mais do que mil vezes a soma de todo o mal.
Mas uma colheita tão extraordinária e benéfica, extraída de malfeitos, apenas poderia advir por intermédio da atitude sábia, divina e misericordiosa de todos os superiores de Lúcifer, desde os Pais das Constelações, em Edêntia, até o Pai Universal, no Paraíso. O passar do tempo elevou o bem conseqüente derivado da loucura de Lúcifer; e desde que o mal, a ser penalizado, desenvolveu-se totalmente, num período de tempo relativamente curto, torna-se evidente que os governantes do universo, infinitamente sábios e de ampla visão, prolongariam com certeza o tempo no qual iriam colher resultados cada vez mais benéficos. A despeito das muitas outras razões para retardar a apreensão e o julgamento dos rebeldes de Satânia, esse ganho, em si, já seria suficiente para justificar o porquê de não terem sido, esses pecadores, confinados há mais tempo, e o porquê de não terem sido julgados nem destruídos.
As mentes mortais de pouca visão, e tolhidas pelo tempo, deveriam ser menos apressadas ao criticar as demoras no tempo, geradas pela amplidão de visão e pela sabedoria dos administradores dos assuntos do universo.
Um erro do pensamento humano, a respeito desses problemas, consiste na idéia de que todos os mortais evolucionários, num planeta em evolução, escolheriam aderir à carreira do Paraíso, caso o pecado não houvesse amaldiçoado o seu mundo. A aptidão para recusar a sobrevivência não data dos tempos da rebelião de Lúcifer. O homem mortal sempre possuiu o dom da escolha de livre-arbítrio, com respeito à carreira do Paraíso.
À medida que vós ascenderdes na experiência da sobrevivência, vós ireis ampliar os vossos conceitos do universo e ampliar os vossos horizontes de significados e valores; e, assim, tornar-vos-eis mais capazes de entender melhor por que é permitido a seres tais como Lúcifer e Satã continuarem em rebelião. Vós ireis também compreender melhor como o bem último (se não o bem imediato) pode derivar-se do mal, limitado pelo tempo. Após alcançardes o Paraíso, vós sereis realmente esclarecidos e confortados ao escutardes os filósofos superseráficos discutindo e explicando esses problemas profundos de ajustamentos no universo. Mas, mesmo então, duvido que vós estejais plenamente satisfeitos, nas vossas próprias mentes. Ao menos eu não fiquei, nem mesmo quando eu tinha alcançado a cúspide da filosofia do universo. Eu não atingi uma compreensão plena dessas complexidades, a não ser depois de ter sido designado para os deveres administrativos no superuniverso, onde, por meio da experiência real e prática, eu adquiri a capacidade conceitual adequada à compreensão desses problemas multifacetados, da eqüidade cósmica e da filosofia espiritual. À medida que ascenderdes na direção do Paraíso, vós ireis aprender, mais e mais, que muitos aspectos problemáticos da administração do universo só poderão ser compreendidos depois da aquisição de uma capacidade experiencial maior e de um discernimento espiritual mais elevado. A sabedoria cósmica é essencial ao entendimento das situações cósmicas.
[Apresentado por um Mensageiro Poderoso que sobreviveu experiencialmente à primeira rebelião sistêmica nos universos do tempo. Vinculado, atualmente, ao governo do superuniverso de Orvonton, ele atuou nesta tarefa a pedido de Gabriel de Salvington.]
domingo, 25 de maio de 2008
sexta-feira, 23 de maio de 2008
AS RAÇAS NA AURORA DO HOMEM PRIMITIVO
O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 62
AS RAÇAS NA AURORA DO HOMEM PRIMITIVO
Cerca de um milhão de anos atrás os ancestrais imediatos da humanidade fizeram o seu aparecimento por intermédio de três mutações sucessivas e súbitas, descendendo da raça primitiva do tipo lemuriano de mamíferos placentários. Os fatores predominantes nesses lêmures primitivos derivavam do grupo ocidental, ou americano tardio, do plasma da vida evolutiva. Antes, porém, de estabelecer a linha direta de ancestralidade humana, essa descendência foi reforçada por contribuições da implantação central de vida evoluída na África. O grupo de vida oriental, de fato, contribuiu pouco ou nada para a produção da espécie humana.
1. OS TIPOS PRIMITIVOS DE LÊMURES
Os lêmures primitivos vinculados à ancestralidade da espécie humana não eram diretamente relacionados às tribos preexistentes de gibãos e de macacos que então viviam na Eurásia e no norte da África, cuja progênie sobreviveu até a época presente. Nem eram uma progênie do tipo moderno de lêmures, embora vindos de um ancestral comum a ambos, mas há muito extinto.
Enquanto esses lêmures primitivos evoluíam no hemisfério ocidental, o estabelecimento da ancestralidade mamífera direta da humanidade teve lugar no sudoeste da Ásia, na área original da implantação central de vida, mas mais para o lado das fronteiras das regiões a leste. Vários milhões de anos antes dessa época, o tipo norte-americano de lêmures havia imigrado para o oeste, atravessando a ponte de terra sobre o estreito de Behring e havia tomado lentamente o caminho do sul ao longo da costa asiática. Essas tribos migrantes finalmente alcançaram a região salubre que fica entre o então expandido Mediterrâneo e as regiões de montanhas elevadas da península da Índia. Nessas terras, a oeste da Índia, eles uniram-se a outras linhagens favoráveis, estabelecendo assim a ancestralidade da raça humana.
Com o passar do tempo a costa marinha da Índia, a sudoeste das montanhas, gradualmente submergiu, isolando completamente a vida dessa região. Não havia nenhum caminho para se chegar nem para se escapar dessa península da Mesopotâmia ou da Pérsia, a não ser ao norte, e esse lado era repetidamente cortado pelas invasões das geleiras, vindas do norte. E foi, então, nessa área quase paradisíaca, e vindos dos descendentes superiores desse tipo lêmure de mamífero, que surgiram dois grandes grupos, as tribos símias dos tempos modernos e a espécie humana dos dias atuais.
2. OS MAMÍFEROS PRECURSORES DO HOMEM
Há pouco mais de um milhão de anos, os mamíferos pré-humanos da Mesopotâmia, os descendentes diretos dos tipos lemurianos de mamíferos placentários norte-americanos,subitamente apareceram. Eles eram pequenas criaturas bastante ativas, de quase um metro de altura; e, se bem que não andassem habitualmente com as suas duas pernas traseiras, eles podiam facilmente permanecer eretos. Eram peludos e ágeis, e chilreavam à moda dos macacos, mas, diferentemente das tribos símias, eles eram carnívoros. Tinham um polegar primitivo opositivo, bem como um grande dedo do pé altamente útil para agarrar. Desse ponto em diante, as espécies pré-humanas desenvolveram sucessivamente o polegar opositivo, na medida em que perderam progressivamente o poder de agarrar do grande dedo do pé. As tribos posteriores de macacos mantiveram a capacidade preênsil do dedo grande do pé, mas nunca desenvolveram o tipo humano de polegar.
Esses mamíferos precursores atingiam o crescimento pleno aos três ou quatro anos de idade, tendo uma longevidade potencial média de cerca de vinte anos. Em geral a sua progênie era composta de um único filho, embora gêmeos também nascessem ocasionalmente.
Os membros dessa nova espécie tinham os maiores cérebros, em relação ao seu tamanho, entre todos os animais que haviam até então existido na Terra. Eles experimentaram muitas emoções e compartilhavam numerosos instintos, que, mais tarde, caracterizaram os homens primitivos, sendo altamente curiosos e demonstrando uma alegria considerável quando tinham êxito em qualquer ação. O apetite pelos alimentos e o desejo sexual eram bem desenvolvidos, e uma seleção sexual bem definida era manifestada em uma forma tosca de cortejo e de escolha dos companheiros. Eles lutariam ferozmente em defesa dos seus companheiros e eram bastante ternos nas associações de família, possuindo um senso de abnegação e de humildade que beirava a vergonha e o remorso. Eles eram muito afetivos e leais em relação aos seus parceiros, e de um modo tocante, mas, caso as circunstâncias os separassem, eles escolheriam novos parceiros.
Tendo uma estatura pequena e mentes aguçadas para avaliar os perigos do seu habitat na floresta, eles desenvolveram um medo extraordinário que os levou àquelas sábias medidas de precaução que contribuíram tão enormemente para a sua sobrevivência, tais como a construção de toscos abrigos que faziam nos topos altos das árvores, o que eliminava muitos dos perigos da vida no nível do chão. O começo das tendências ao medo que a humanidade possui, data bem especificamente desses dias.
Esses mamíferos precursores desenvolveram um espírito tribal como nunca antes existira. Eles eram, de fato, altamente gregários, sendo, no entanto, excessivamente agressivos, quando de algum modo perturbados nas buscas comuns da sua vida rotineira, e demonstravam temperamentos furiosos se a sua raiva fosse totalmente despertada. As suas naturezas belicosas, contudo, serviram a um bom propósito; grupos superiores não hesitavam em fazer guerra aos seus vizinhos inferiores e, assim, por meio da sobrevivência seletiva, a espécie foi melhorada progressivamente. Muito cedo esses lêmures dominaram a vida das criaturas menores dessa região, e pouquíssimas das tribos mais antigas de símios não carnívoros sobreviveram.
Esses agressivos pequenos animais multiplicaram-se e espalharam-se pela península da Mesopotâmia durante mais de mil anos, aperfeiçoando-se constantemente em tipo físico e inteligência em geral. Exatamente setenta gerações depois que essa nova tribo havia sido originada do mais elevado tipo de ancestral lemuriano, chegou a próxima época de desenvolvimento – a súbita diferenciação dos ancestrais nesse novo passo vital de evolução dos seres humanos de Urântia.
3. OS MAMÍFEROS INTERMEDIÁRIOS
Foi muito cedo, na carreira dos mamíferos precursores dos humanos, na habitação, no topo de uma árvore, de um casal superior dessas criaturas ágeis, que nasceram dois gêmeos, um masculino e um feminino. Comparados aos seus ancestrais, eles eram realmente duas belas pequenas criaturas. Tinham pouco pêlo nos seus corpos, mas isto não era de inconveniente maior, pois eles viviam em um clima quente e uniforme.
Esses filhos cresceram até a altura de um pouco mais de um metro e vinte. Eles eram, sob todos os pontos de vista, maiores do que os seus pais, tendo pernas mais longas e braços mais curtos. Possuíam polegares quase perfeitamente opositivos, quase tão bem adaptados aos trabalhos diversificados quanto o polegar humano atual. Caminhavam eretos, tendo pés quase tão bem adaptados para andar quanto os das raças humanas posteriores.
Os seus cérebros eram inferiores e menores do que os dos seres humanos, mas eram bastante superiores, e relativamente bem maiores do que os dos seus ancestrais. Os gêmeos, muito cedo, demonstraram ter uma inteligência superior e foram também logo reconhecidos como os chefes de toda a tribo de mamíferos precursores do homem, realmente instituindo uma forma primitiva de organização social e uma divisão econômica, ainda que primária, do trabalho. Esses irmãos acasalaram-se e, em breve, desfrutaram da sociedade de vinte e um filhos, muito semelhantes a eles próprios, todos de mais de um metro e vinte de altura e, sob todos os pontos de vista, superiores à espécie ancestral deles. Esse novo grupo formou o núcleo dos mamíferos intermediários.
Quando os números desse grupo novo e superior ficaram bem grandes, a guerra, uma guerra implacável, irrompeu; e então, quando a luta terrível estava terminada, nenhum único indivíduo da raça preexistente e ancestral dos mamíferos precursores havia permanecido vivo. A ramificação menos numerosa, porém mais poderosa e inteligente da espécie, sobrevivera às custas dos seus ancestrais.
E então, por quase quinze mil anos (seiscentas gerações), tal criatura tornou-se o terror dessa parte do mundo. Todos os animais grandes e ferozes, dos tempos anteriores, haviam perecido. Os grandes animais nativos dessas regiões não eram carnívoros, e as espécies maiores da família dos felinos, os leões e os tigres, ainda não haviam invadido esse lugar recôndito particularmente abrigado da superfície da Terra. E, por isso, esses mamíferos intermediários fizeram-se valentes e subjugaram tudo o que estava no seu setor da criação.
Comparados à sua espécie ancestral, os mamíferos intermediários eram mais aperfeiçoados, em todos os sentidos. Até mesmo a duração do seu potencial de vida tornou-se mais longa, sendo de aproximadamente vinte e cinco anos. Inúmeros traços humanos rudimentares surgiram nessa nova espécie. Além das propensões inatas demonstradas pelos seus ancestrais, esses mamíferos intermediários eram capazes de demonstrar o desgosto, em algumas situações repulsivas. Eles possuíam também um instinto bem definido para criar reservas; eles escondiam a comida para o uso posterior e eram muito dados a colecionar seixos redondos e lisos e certos tipos de pedras arredondadas, que se adequavam bem para servir de munições defensivas e ofensivas.
Esses mamíferos intermediários foram os primeiros a demonstrar uma propensão definida para a construção, como fica evidenciado pela rivalidade que tinham quanto a construir tanto as suas casas nos topos das árvores, quanto abrigos subterrâneos de muitos túneis; eles foram a primeira espécie de mamíferos a buscar a segurança em abrigos nas árvores, e nos subterrâneos. Eles renunciaram grandemente às árvores como locais únicos de abrigos, vivendo no chão durante o dia e dormindo no topo das árvores à noite.
Com o passar do tempo, o aumento natural do número deles finalmente resultou em uma competição séria pela comida e em uma rivalidade por causa do sexo, e tudo isso culminou em uma série de batalhas destrutivas, que quase aniquilou toda a espécie. Essas lutas continuaram até que apenas um grupo de menos de cem indivíduos permaneceu vivo. Uma vez mais, porém, a paz prevalecia, e essa única tribo sobrevivente construiu de novo os seus lugares de dormir nos topos das árvores e uma vez mais retomou uma existência normal e semipacífica.
Dificilmente podeis imaginar a margem pequena pela qual os vossos ancestrais pré-humanos, de tempos em tempos, escaparam da extinção. Tivesse a rã, ancestral de toda a humanidade, pulado cinco centímetros a menos em certa ocasião, e todo o curso da evolução teria sido profundamente alterado. A mãe lemuriana imediata da espécie dos mamíferos precursores escapou da morte, por um fio, não menos do que cinco vezes antes de dar nascimento ao pai da nova e mais elevada ordem de mamíferos. Contudo o que aconteceu, de mais próximo do fim, foi quando um relâmpago atingiu a árvore na qual a futura mãe dos gêmeos primatas estava dormindo. Ambos os mamíferos intermediários progenitores ficaram severamente abalados e seriamente queimados; três dos seus sete filhos foram mortos por esse golpe vindo dos céus. Esses animais em evolução eram quase que supersticiosos. O casal, cujo lar no topo de uma árvore tinha sido golpeado, era realmente de líderes do grupo mais adiantado da espécie de mamíferos intermediários; e, seguindo o exemplo deles, mais da metade da tribo, abrangendo as famílias mais inteligentes, mudou-se para um local afastado cerca de três quilômetros dessa localidade e começou a construção de novas moradas nos topos das árvores e de novos abrigos terrestres – os seus abrigos transitórios no caso de perigo súbito.
Logo depois de terminar a sua casa, essa dupla veterana, de tantas lutas, viu-se como progenitora orgulhosa de gêmeos, os mais interessantes e importantes animais que jamais nasceram no mundo até àquela época, pois foram eles os primeiros da nova espécie de primatas que constituiu o próximo passo vital da evolução pré-humana.
Ao mesmo tempo em que esses primatas gêmeos nasciam, uma outra dupla – um macho e uma fêmea, especialmente retardados, da tribo de mamíferos intermediários, uma dupla que era inferior tanto mental quanto fisicamente – também deu nascimento a gêmeos. Esses gêmeos, um macho e uma fêmea, eram indiferentes às conquistas; estavam eles preocupados apenas em obter comida e, já que não comiam carne, logo perderam todo o interesse em procurar as presas. Esses gêmeos retardados tornaram-se os fundadores das tribos modernas de símios. Os seus descendentes buscaram as regiões sulinas mais quentes, com os seus climas suaves e abundância de frutas tropicais, onde eles recomeçaram e, de um modo muito semelhante ao daqueles dias, com exceção daquelas ramificações que se acasalaram com os tipos mais primitivos de gibões e de macacos e que se deterioraram bastante em conseqüência disso.
E, assim, pode ser prontamente percebido que o homem e o macaco estão vinvulados apenas pelo fato de provirem dos mamíferos intermediários, de uma tribo na qual aconteceu o nascimento concomitante de dois pares de gêmeos com a sua subseqüente separação: o par inferior destinou-se a produzir os tipos modernos de macacos, babuínos, chipanzés e gorilas, enquanto o par superior ficou destinado a continuar a linha de ascensão, que evoluiu até o próprio homem.
O homem moderno e os símios vieram da mesma tribo e espécie, mas não dos mesmos pais. Os ancestrais do homem descenderam da linhagem superior dos remanescentes selecionados dessa tribo de mamíferos intermediários, enquanto os símios modernos (excetuando certos tipos preexistentes de lêmures, gibões, macacos e outras criaturas do mesmo gênero) são descendentes do casal inferior desse grupo de mamíferos intermediários; uma dupla que sobreviveu apenas porque se escondeu, em um abrigo subterrâneo com estoque de alimentos, por mais de duas semanas, durante o último combate ferrenho da sua tribo, saindo apenas depois que as hostilidades haviam chegado completamente ao fim.
4. OS PRIMATAS
Remontando agora ao nascimento dos gêmeos superiores, um macho e uma fêmea, aos dois membros líderes da tribo de mamíferos intermediários: esses dois bebês animais eram de uma ordem inusitada; tinham ainda menos pêlos nos seus corpos do que os seus pais e,ainda muito jovens, insistiram em andar eretos. Os seus ancestrais já haviam aprendido a andar com as pernas traseiras, mas esses primatas gêmeos permaneceram eretos desde o princípio. Eles atingiram uma altura de mais de um metro e meio e as suas cabeças resultaram maiores em comparação à de outros na mesma tribo. Se bem que houvessem aprendido desde muito cedo a se comunicar um com o outro, por meio de sinais e de sons, eles nunca foram capazes de fazer o seu povo compreender esses novos símbolos.
Quando tinham cerca de quatorze anos de idade, eles fugiram da tribo, indo para o oeste, para criar a sua própria família e estabelecer a nova espécie de primatas. E essas novas criaturas são, muito apropriadamente, denominadas primatas, já que elas foram os ancestrais animais diretos e imediatos da própria família humana.
Assim foi que os primatas vieram a ocupar uma região a oeste da costa da península da Mesopotâmia, quando então ela se projetava até o mar ao sul, enquanto as tribos menos inteligentes, mas intimamente relacionadas, viviam na ponta da península e até a linha das margens a leste.
Os primatas eram mais humanos e menos animais do que os seus predecessores mamíferos intermediários. As proporções do esqueleto dessa nova espécie eram muito semelhantes às das raças humanas primitivas. Os tipos de mão e de pé humanos haviam-se desenvolvido plenamente, e essas criaturas podiam andar e mesmo correr tão bem quanto qualquer dos seus descendentes humanos posteriores. Eles abandonaram quase completamente a vida nas árvores, embora continuassem a recorrer aos topos das árvores por medida de segurança à noite, pois, como os seus ancestrais primitivos, estavam bastante sujeitos ao medo. O uso crescente das suas mãos muito fez para desenvolver a capacidade cerebral inerente, mas eles ainda não possuíam mentes que podiam ser realmente chamadas de humanas.
Embora pela sua natureza emocional os primatas diferissem pouco dos seus antepassados, eles demonstravam algo como tendências mais humanas em todas as suas propensões. Eram, de fato, animais esplêndidos e superiores, alcançando a maturidade aos dez anos de idade aproximadamente e tendo uma expectativa de vida natural média de cerca de quarenta anos. Isto é, eles podiam ter essa longevidade se tivessem mortes naturais, mas, naqueles dias primitivos, poucos animais tinham uma morte natural; a luta pela existência era de todo muito intensa.
E então, depois de quase novecentas gerações de desenvolvimento, cobrindo cerca de vinte e um mil anos desde a origem dos mamíferos precursores, os primatas subitamente geraram duas criaturas notáveis, os primeiros seres humanos verdadeiros.
Assim foi que os mamíferos precursores, vindos do tipo norte-americano de lêmures, deram origem aos mamíferos intermediários, e esses mamíferos intermediários, por sua vez, produziram os primatas superiores, que se tornaram os ancestrais imediatos da raça humana primitiva. As tribos de primatas eram o último vínculo vital na evolução do homem, mas, em menos de cinco mil anos, nem um único indivíduo dessas tribos extraordinárias sobreviveu.
5. OS PRIMEIROS SERES HUMANOS
Do ano 1934 d.C. até o nascimento dos dois primeiros seres humanos, contam-se exatamente 993 419 anos.
Esses dois seres notáveis eram verdadeiros seres humanos. Possuíam polegares humanos perfeitos, como os tiveram muitos dos seus ancestrais, e tinham pés tão perfeitos quanto as raças humanas atuais. Eles andavam e corriam na vertical, não eram trepadores; a função de agarrar como dedo grande do pé tinha desaparecido completamente.
Quando o perigo os levava aos topos das árvores, eles subiam exatamente como os humanos de hoje o fariam. Eles escalariam um tronco de uma árvore como um urso, não como o chipanzé ou o gorila o fariam, pendurando-se e pulando nos galhos.
Esses primeiros seres humanos (e os descendentes deles) alcançavam plena maturidade aos doze anos de idade e possuíam um potencial de longevidade de cerca de setenta e cinco anos.
Muitas emoções novas logo surgiram nesses humanos gêmeos. Eles experimentaram a admiração por objetos, tanto quanto por outros seres, e demonstrariam ter uma vaidade considerável. Mas o avanço mais notável no desenvolvimento emocional foi o aparecimento súbito de um grupo novo de sentimentos realmente humanos, do grupo da adoração, abrangendo o respeito, a reverência, a humildade e até mesmo uma forma primitiva de gratidão. O medo, somado à ignorância quanto aos fenômenos naturais, estava para dar nascimento à religião primitiva.
Não apenas tais sentimentos humanos manifestaram-se nesses humanos primitivos, mas muitos sentimentos mais altamente evoluídos estiveram também presentes, nas suas formas rudimentares. Eles eram levemente conhecedores da piedade, da vergonha e da reprovação, bem como conscientes de um modo mais acentuado do amor, do ódio e da vingança, estando também acentuadamente susceptíveis ao sentimento do ciúme.
Esses primeiros seres humanos – os gêmeos – foram uma grande provação para os seus progenitores primatas. Eles eram tão curiosos e aventureiros que quase perderam as suas vidas, em inúmeras ocasiões, antes dos seus oito anos de idade. E, como não podia deixar de ser, eles estavam já bastante marcados com cicatrizes, na época em que tinham doze anos.
Muito cedo eles aprenderam a fazer a comunicação verbal; na idade de dez anos eles já haviam aperfeiçoado uma linguagem de sinais e de palavras de quase cinqüenta idéias e haviam aperfeiçoado, em muito, e expandido a técnica de comunicação primitiva dos seus ancestrais. Todavia, por mais que tentassem, eles não foram capazes de ensinar senão umas poucas palavras, dos seus novos signos e símbolos, aos seus progenitores.
Quando tinham cerca de nove anos de idade, e passeavam rio abaixo, em um dia luminoso, eles tiveram um relacionamento memorável. Todas as inteligências celestes estacionadas em Urântia, incluindo eu próprio, estavam presentes como observadores das transações desse encontro amoroso ao meio-dia. Nesse dia memorável, eles chegaram ao entendimento de viverem juntos, um para o outro, e essa foi a primeira de uma série desses acordos, que finalmente culminou na decisão de partir, abandonando os seus semelhantes animais inferiores, indo na direção norte, mal sabendo que estavam assim fundando a raça humana.
Embora estivéssemos todos grandemente preocupados com o que aqueles dois pequenos selvagens estavam planejando, nós éramos impotentes para controlar o trabalho das suas mentes; nós não influenciamos – nem poderíamos influenciar – arbitrariamente as suas decisões; todavia, dentro dos limites permissíveis da função planetária, nós, os Portadores da Vida, junto com os nossos colaboradores, todos conspiramos para conduzir os gêmeos humanos para o norte e para muito distante do seu povo peludo e ainda parcialmente habitante das árvores. E assim, em razão da escolha da própria inteligência deles, os gêmeos migraram e, devido à nossa supervisão, eles migraram em direção ao norte, para uma região apartada, onde escaparam da possibilidade da degradação biológica, que viria, caso se miscigenassem com os seus parentes inferiores das tribos primatas.
Pouco antes da partida do seu lar na floresta, eles perderam a sua mãe em um ataque dos gibãos. Ainda que não possuísse a inteligência deles, ela tinha um afeto mamífero condigno e de uma ordem elevada pelos seus filhos e, destemidamente, deu a sua vida na tentativa de salvar o maravilhoso par. E o seu sacrifício não foi em vão, pois ela segurou os inimigos até que o pai chegasse com reforços para pôr a correr os invasores.
Logo depois, esse jovem casal abandonou os seus companheiros para fundar a raça humana; e o seu pai primata ficou desconsolado – e com o coração despedaçado. Recusava-se a comer, mesmo quando a comida era trazida a ele pelos seus outros filhos. Tendo perdidod a sua brilhante progênie, a vida já não parecia digna de ser vivida entre os seus semelhantes comuns; assim, ele vagou pela floresta e foi atacado por gibões hostis, sendo golpeado até a morte.
6. A EVOLUÇÃO DA MENTE HUMANA
Nós, os Portadores da Vida em Urântia passamos por uma longa vigília e uma espera cuidadosa, desde o dia em que primeiro plantamos o plasma da vida nas águas planetárias e assim, naturalmente, até que o aparecimento dos primeiros seres realmente inteligentes e volitivos trouxesse-nos uma grande alegria e uma satisfação suprema.
Acompanhamos o desenvolvimento mental dos gêmeos, por meio da observação do funcionamento dos sete espíritos ajudantes da mente, destinados a Urântia, na época da nossa chegada ao planeta. Durante o longo desenvolvimento evolucionário da vida planetária, esses incansáveis ministradores da mente têm sempre registrado as suas habilidades crescentes de contatar as capacidades dos cérebros, em expansão sucessiva, das criaturas animais progressivamente superiores.
A princípio, apenas o espírito da intuição podia funcionar no comportamento, como instintos e reflexos, da vida animal primordial. Com a diferenciação dos tipos mais elevados, o espírito da compreensão tornou-se capaz de dotar tais criaturas com a dádiva da associação espontânea de idéias. Mais tarde observamos o espírito da coragem entrar em ação; os animais em evolução realmente desenvolviam uma forma incipiente na autoconsciência de proteção. Depois do aparecimento dos grupos de mamíferos, nós observamos o espírito do conhecimento manifestando-se em uma medida crescente. E a evolução dos mamíferos mais elevados trouxe à função o espírito do conselho, com o crescimento resultante do instinto de grupo e com os começos do desenvolvimento social primitivo.
Progressivamente, com o desenvolvimento dos mamíferos precursores e, em seguida, com o dos mamíferos intermediários e dos primatas, tínhamos observado o serviço implementado dos primeiros cinco ajudantes. Mas nunca os dois espíritos ajudantes restantes, os mais elevados ministradores da mente, haviam sido capazes de entrar em função no tipo de mente evolucionária de Urântia.
Imaginai o nosso júbilo, um dia – os dois gêmeos estavam com cerca de dez anos de idade – quando o espírito da adoração fez o seu primeiro contato com a mente da gêmea fêmea e pouco depois com a do macho. Sabíamos que algo muito próximo da mente humana aproximava-se da culminância; e quando, cerca de um ano depois, eles finalmente resolveram, como resultado do pensamento meditativo e de decisão propositada, partir de casa e viajar para o norte, então o espírito da sabedoria começou a atuar em Urântia, nessas duas que são reconhecidas, agora, como mentes humanas.
Houve uma nova e imediata ordem de mobilização dos sete espíritos ajudantes da mente. Estávamos cheios de expectativa; compreendíamos que se aproximava a hora longamente aguardada; sabíamos que estávamos no umbral da realização do nosso esforço prolongado para fazer as criaturas de vontade desenvolverem-se e evoluírem em Urântia.
7. O RECONHECIMENTO DO MUNDO COMO SENDO HABITADO
Nós não tivemos que esperar muito. Ao meio-dia, no dia seguinte ao da fuga dos gêmeos, aconteceu o teste inicial da transmissão dos sinais do circuito universal no foco da recepção planetária de Urântia. Estávamos todos, evidentemente, agitados com a compreensão da iminência de um grande acontecimento; mas, já que este mundo era uma estação de experimento de vida, não tínhamos a menor idéia de como exatamente seríamos informados sobre o reconhecimento de haver vida inteligente no planeta. Mas não permanecemos na expectativa por muito tempo. Ao terceiro dia, depois da fuga dos gêmeos, e antes que o corpo dos Portadores da Vida partisse, chegou o arcanjo de Nebadon para o estabelecimento inicial do circuito planetário.
Foi um dia memorável em Urântia, quando o nosso pequeno grupo reuniu-se perto do pólo planetário de comunicação espacial e recebeu a primeira mensagem de Salvington, sobre o circuito de mente recentemente estabelecido no planeta. E essa primeira mensagem, ditada pelo comandante do corpo dos arcanjos, dizia:
“Aos Portadores da Vida em Urântia – Saudações! Transmitimos a certeza do grande júbilo em Salvington, em Edêntia e em Jerusém, em honra ao registro, nas sedes centrais de Nebadon, do sinal da existência, em Urântia, de mente com a dignidade da vontade. A decisão propositada dos gêmeos, de partir na direção norte e de isolar-se da sua progênie, dos seus ancestrais inferiores, ficou registrada. Essa é a primeira decisão da mente – do tipo humano de mente – em Urântia, e automaticamente se estabelece o circuito de comunicação por meio do qual essa mensagem inicial de reconhecimento está sendo transmitida”.
Em seguida, por esse novo circuito, vieram os cumprimentos dos Altíssimos de Edêntia, contendo instruções para os Portadores da Vida residentes, proibindo-nos de interferir no modelo de vida que tínhamos estabelecido. Fomos instruídos a não intervir nos assuntos do progresso humano. Não deve ser inferido que os Portadores da Vida tenham alguma vez interferido arbitrariamente e mecanicamente na realização natural dos planos evolucionários planetários, pois nós não o fazemos. Contudo, até essa época nos tinha sido permitido manipular o meio ambiente para proteger o plasma vital de um modo especial, e era essa supervisão extraordinária, mas totalmente natural, que devia sofrer descontinuidade.
E tão logo os Altíssimos tinham terminado de falar, a bela mensagem de Lúcifer, então soberano do sistema de Satânia, começou a entrar no planeta. Agora, os Portadores da Vida ouviam as palavras de boas-vindas do seu próprio chefe e recebiam a sua permissão para retornar a Jerusém. Essa mensagem de Lúcifer manifestava a aceitação oficial do trabalho dos Portadores da Vida em Urântia e absolvia-nos de qualquer crítica futura sobre qualquer dos nossos esforços para aperfeiçoar os modelos de vida de Nebadon, do modo como estavam estabelecidos no sistema de Satânia.
Essas mensagens de Salvington, de Edêntia e de Jerusém, marcavam formalmente o término da supervisão dos Portadores da Vida no Planeta, que havia durado toda uma longa época. Durante idades estivéramos a trabalhar, assistidos apenas pelos sete espíritos ajudantes da mente e pelos Mestres Controladores Físicos. E agora, tendo surgido nas criaturas evolucionárias do planeta, a vontade, a capacidade de escolher o poder de adorar e ascender, compreendíamos que o nosso trabalho havia acabado e que o nosso grupo se preparava para partir. Sendo Urântia um mundo de modificação da vida, era dada a permissão para que deixássemos aqui dois Portadores da Vida seniores com doze assistentes, e fui eu um dos escolhidos desse grupo e, desde então, tenho sempre estado em Urântia.
Apenas a partir de 993 408 anos atrás (do ano 1934 d.C.) Urântia foi formalmente reconhecida como um planeta de residência humana no universo de Nebadon. A evolução biológica, mais uma vez, tinha alcançado os níveis humanos de dignidade de vontade; pois o homem havia chegado ao planeta 606 de Satânia.
[Auspiciado por um Portador de Vida de Nebadon, residente em Urântia.]
DOCUMENTO 62
AS RAÇAS NA AURORA DO HOMEM PRIMITIVO
Cerca de um milhão de anos atrás os ancestrais imediatos da humanidade fizeram o seu aparecimento por intermédio de três mutações sucessivas e súbitas, descendendo da raça primitiva do tipo lemuriano de mamíferos placentários. Os fatores predominantes nesses lêmures primitivos derivavam do grupo ocidental, ou americano tardio, do plasma da vida evolutiva. Antes, porém, de estabelecer a linha direta de ancestralidade humana, essa descendência foi reforçada por contribuições da implantação central de vida evoluída na África. O grupo de vida oriental, de fato, contribuiu pouco ou nada para a produção da espécie humana.
1. OS TIPOS PRIMITIVOS DE LÊMURES
Os lêmures primitivos vinculados à ancestralidade da espécie humana não eram diretamente relacionados às tribos preexistentes de gibãos e de macacos que então viviam na Eurásia e no norte da África, cuja progênie sobreviveu até a época presente. Nem eram uma progênie do tipo moderno de lêmures, embora vindos de um ancestral comum a ambos, mas há muito extinto.
Enquanto esses lêmures primitivos evoluíam no hemisfério ocidental, o estabelecimento da ancestralidade mamífera direta da humanidade teve lugar no sudoeste da Ásia, na área original da implantação central de vida, mas mais para o lado das fronteiras das regiões a leste. Vários milhões de anos antes dessa época, o tipo norte-americano de lêmures havia imigrado para o oeste, atravessando a ponte de terra sobre o estreito de Behring e havia tomado lentamente o caminho do sul ao longo da costa asiática. Essas tribos migrantes finalmente alcançaram a região salubre que fica entre o então expandido Mediterrâneo e as regiões de montanhas elevadas da península da Índia. Nessas terras, a oeste da Índia, eles uniram-se a outras linhagens favoráveis, estabelecendo assim a ancestralidade da raça humana.
Com o passar do tempo a costa marinha da Índia, a sudoeste das montanhas, gradualmente submergiu, isolando completamente a vida dessa região. Não havia nenhum caminho para se chegar nem para se escapar dessa península da Mesopotâmia ou da Pérsia, a não ser ao norte, e esse lado era repetidamente cortado pelas invasões das geleiras, vindas do norte. E foi, então, nessa área quase paradisíaca, e vindos dos descendentes superiores desse tipo lêmure de mamífero, que surgiram dois grandes grupos, as tribos símias dos tempos modernos e a espécie humana dos dias atuais.
2. OS MAMÍFEROS PRECURSORES DO HOMEM
Há pouco mais de um milhão de anos, os mamíferos pré-humanos da Mesopotâmia, os descendentes diretos dos tipos lemurianos de mamíferos placentários norte-americanos,subitamente apareceram. Eles eram pequenas criaturas bastante ativas, de quase um metro de altura; e, se bem que não andassem habitualmente com as suas duas pernas traseiras, eles podiam facilmente permanecer eretos. Eram peludos e ágeis, e chilreavam à moda dos macacos, mas, diferentemente das tribos símias, eles eram carnívoros. Tinham um polegar primitivo opositivo, bem como um grande dedo do pé altamente útil para agarrar. Desse ponto em diante, as espécies pré-humanas desenvolveram sucessivamente o polegar opositivo, na medida em que perderam progressivamente o poder de agarrar do grande dedo do pé. As tribos posteriores de macacos mantiveram a capacidade preênsil do dedo grande do pé, mas nunca desenvolveram o tipo humano de polegar.
Esses mamíferos precursores atingiam o crescimento pleno aos três ou quatro anos de idade, tendo uma longevidade potencial média de cerca de vinte anos. Em geral a sua progênie era composta de um único filho, embora gêmeos também nascessem ocasionalmente.
Os membros dessa nova espécie tinham os maiores cérebros, em relação ao seu tamanho, entre todos os animais que haviam até então existido na Terra. Eles experimentaram muitas emoções e compartilhavam numerosos instintos, que, mais tarde, caracterizaram os homens primitivos, sendo altamente curiosos e demonstrando uma alegria considerável quando tinham êxito em qualquer ação. O apetite pelos alimentos e o desejo sexual eram bem desenvolvidos, e uma seleção sexual bem definida era manifestada em uma forma tosca de cortejo e de escolha dos companheiros. Eles lutariam ferozmente em defesa dos seus companheiros e eram bastante ternos nas associações de família, possuindo um senso de abnegação e de humildade que beirava a vergonha e o remorso. Eles eram muito afetivos e leais em relação aos seus parceiros, e de um modo tocante, mas, caso as circunstâncias os separassem, eles escolheriam novos parceiros.
Tendo uma estatura pequena e mentes aguçadas para avaliar os perigos do seu habitat na floresta, eles desenvolveram um medo extraordinário que os levou àquelas sábias medidas de precaução que contribuíram tão enormemente para a sua sobrevivência, tais como a construção de toscos abrigos que faziam nos topos altos das árvores, o que eliminava muitos dos perigos da vida no nível do chão. O começo das tendências ao medo que a humanidade possui, data bem especificamente desses dias.
Esses mamíferos precursores desenvolveram um espírito tribal como nunca antes existira. Eles eram, de fato, altamente gregários, sendo, no entanto, excessivamente agressivos, quando de algum modo perturbados nas buscas comuns da sua vida rotineira, e demonstravam temperamentos furiosos se a sua raiva fosse totalmente despertada. As suas naturezas belicosas, contudo, serviram a um bom propósito; grupos superiores não hesitavam em fazer guerra aos seus vizinhos inferiores e, assim, por meio da sobrevivência seletiva, a espécie foi melhorada progressivamente. Muito cedo esses lêmures dominaram a vida das criaturas menores dessa região, e pouquíssimas das tribos mais antigas de símios não carnívoros sobreviveram.
Esses agressivos pequenos animais multiplicaram-se e espalharam-se pela península da Mesopotâmia durante mais de mil anos, aperfeiçoando-se constantemente em tipo físico e inteligência em geral. Exatamente setenta gerações depois que essa nova tribo havia sido originada do mais elevado tipo de ancestral lemuriano, chegou a próxima época de desenvolvimento – a súbita diferenciação dos ancestrais nesse novo passo vital de evolução dos seres humanos de Urântia.
3. OS MAMÍFEROS INTERMEDIÁRIOS
Foi muito cedo, na carreira dos mamíferos precursores dos humanos, na habitação, no topo de uma árvore, de um casal superior dessas criaturas ágeis, que nasceram dois gêmeos, um masculino e um feminino. Comparados aos seus ancestrais, eles eram realmente duas belas pequenas criaturas. Tinham pouco pêlo nos seus corpos, mas isto não era de inconveniente maior, pois eles viviam em um clima quente e uniforme.
Esses filhos cresceram até a altura de um pouco mais de um metro e vinte. Eles eram, sob todos os pontos de vista, maiores do que os seus pais, tendo pernas mais longas e braços mais curtos. Possuíam polegares quase perfeitamente opositivos, quase tão bem adaptados aos trabalhos diversificados quanto o polegar humano atual. Caminhavam eretos, tendo pés quase tão bem adaptados para andar quanto os das raças humanas posteriores.
Os seus cérebros eram inferiores e menores do que os dos seres humanos, mas eram bastante superiores, e relativamente bem maiores do que os dos seus ancestrais. Os gêmeos, muito cedo, demonstraram ter uma inteligência superior e foram também logo reconhecidos como os chefes de toda a tribo de mamíferos precursores do homem, realmente instituindo uma forma primitiva de organização social e uma divisão econômica, ainda que primária, do trabalho. Esses irmãos acasalaram-se e, em breve, desfrutaram da sociedade de vinte e um filhos, muito semelhantes a eles próprios, todos de mais de um metro e vinte de altura e, sob todos os pontos de vista, superiores à espécie ancestral deles. Esse novo grupo formou o núcleo dos mamíferos intermediários.
Quando os números desse grupo novo e superior ficaram bem grandes, a guerra, uma guerra implacável, irrompeu; e então, quando a luta terrível estava terminada, nenhum único indivíduo da raça preexistente e ancestral dos mamíferos precursores havia permanecido vivo. A ramificação menos numerosa, porém mais poderosa e inteligente da espécie, sobrevivera às custas dos seus ancestrais.
E então, por quase quinze mil anos (seiscentas gerações), tal criatura tornou-se o terror dessa parte do mundo. Todos os animais grandes e ferozes, dos tempos anteriores, haviam perecido. Os grandes animais nativos dessas regiões não eram carnívoros, e as espécies maiores da família dos felinos, os leões e os tigres, ainda não haviam invadido esse lugar recôndito particularmente abrigado da superfície da Terra. E, por isso, esses mamíferos intermediários fizeram-se valentes e subjugaram tudo o que estava no seu setor da criação.
Comparados à sua espécie ancestral, os mamíferos intermediários eram mais aperfeiçoados, em todos os sentidos. Até mesmo a duração do seu potencial de vida tornou-se mais longa, sendo de aproximadamente vinte e cinco anos. Inúmeros traços humanos rudimentares surgiram nessa nova espécie. Além das propensões inatas demonstradas pelos seus ancestrais, esses mamíferos intermediários eram capazes de demonstrar o desgosto, em algumas situações repulsivas. Eles possuíam também um instinto bem definido para criar reservas; eles escondiam a comida para o uso posterior e eram muito dados a colecionar seixos redondos e lisos e certos tipos de pedras arredondadas, que se adequavam bem para servir de munições defensivas e ofensivas.
Esses mamíferos intermediários foram os primeiros a demonstrar uma propensão definida para a construção, como fica evidenciado pela rivalidade que tinham quanto a construir tanto as suas casas nos topos das árvores, quanto abrigos subterrâneos de muitos túneis; eles foram a primeira espécie de mamíferos a buscar a segurança em abrigos nas árvores, e nos subterrâneos. Eles renunciaram grandemente às árvores como locais únicos de abrigos, vivendo no chão durante o dia e dormindo no topo das árvores à noite.
Com o passar do tempo, o aumento natural do número deles finalmente resultou em uma competição séria pela comida e em uma rivalidade por causa do sexo, e tudo isso culminou em uma série de batalhas destrutivas, que quase aniquilou toda a espécie. Essas lutas continuaram até que apenas um grupo de menos de cem indivíduos permaneceu vivo. Uma vez mais, porém, a paz prevalecia, e essa única tribo sobrevivente construiu de novo os seus lugares de dormir nos topos das árvores e uma vez mais retomou uma existência normal e semipacífica.
Dificilmente podeis imaginar a margem pequena pela qual os vossos ancestrais pré-humanos, de tempos em tempos, escaparam da extinção. Tivesse a rã, ancestral de toda a humanidade, pulado cinco centímetros a menos em certa ocasião, e todo o curso da evolução teria sido profundamente alterado. A mãe lemuriana imediata da espécie dos mamíferos precursores escapou da morte, por um fio, não menos do que cinco vezes antes de dar nascimento ao pai da nova e mais elevada ordem de mamíferos. Contudo o que aconteceu, de mais próximo do fim, foi quando um relâmpago atingiu a árvore na qual a futura mãe dos gêmeos primatas estava dormindo. Ambos os mamíferos intermediários progenitores ficaram severamente abalados e seriamente queimados; três dos seus sete filhos foram mortos por esse golpe vindo dos céus. Esses animais em evolução eram quase que supersticiosos. O casal, cujo lar no topo de uma árvore tinha sido golpeado, era realmente de líderes do grupo mais adiantado da espécie de mamíferos intermediários; e, seguindo o exemplo deles, mais da metade da tribo, abrangendo as famílias mais inteligentes, mudou-se para um local afastado cerca de três quilômetros dessa localidade e começou a construção de novas moradas nos topos das árvores e de novos abrigos terrestres – os seus abrigos transitórios no caso de perigo súbito.
Logo depois de terminar a sua casa, essa dupla veterana, de tantas lutas, viu-se como progenitora orgulhosa de gêmeos, os mais interessantes e importantes animais que jamais nasceram no mundo até àquela época, pois foram eles os primeiros da nova espécie de primatas que constituiu o próximo passo vital da evolução pré-humana.
Ao mesmo tempo em que esses primatas gêmeos nasciam, uma outra dupla – um macho e uma fêmea, especialmente retardados, da tribo de mamíferos intermediários, uma dupla que era inferior tanto mental quanto fisicamente – também deu nascimento a gêmeos. Esses gêmeos, um macho e uma fêmea, eram indiferentes às conquistas; estavam eles preocupados apenas em obter comida e, já que não comiam carne, logo perderam todo o interesse em procurar as presas. Esses gêmeos retardados tornaram-se os fundadores das tribos modernas de símios. Os seus descendentes buscaram as regiões sulinas mais quentes, com os seus climas suaves e abundância de frutas tropicais, onde eles recomeçaram e, de um modo muito semelhante ao daqueles dias, com exceção daquelas ramificações que se acasalaram com os tipos mais primitivos de gibões e de macacos e que se deterioraram bastante em conseqüência disso.
E, assim, pode ser prontamente percebido que o homem e o macaco estão vinvulados apenas pelo fato de provirem dos mamíferos intermediários, de uma tribo na qual aconteceu o nascimento concomitante de dois pares de gêmeos com a sua subseqüente separação: o par inferior destinou-se a produzir os tipos modernos de macacos, babuínos, chipanzés e gorilas, enquanto o par superior ficou destinado a continuar a linha de ascensão, que evoluiu até o próprio homem.
O homem moderno e os símios vieram da mesma tribo e espécie, mas não dos mesmos pais. Os ancestrais do homem descenderam da linhagem superior dos remanescentes selecionados dessa tribo de mamíferos intermediários, enquanto os símios modernos (excetuando certos tipos preexistentes de lêmures, gibões, macacos e outras criaturas do mesmo gênero) são descendentes do casal inferior desse grupo de mamíferos intermediários; uma dupla que sobreviveu apenas porque se escondeu, em um abrigo subterrâneo com estoque de alimentos, por mais de duas semanas, durante o último combate ferrenho da sua tribo, saindo apenas depois que as hostilidades haviam chegado completamente ao fim.
4. OS PRIMATAS
Remontando agora ao nascimento dos gêmeos superiores, um macho e uma fêmea, aos dois membros líderes da tribo de mamíferos intermediários: esses dois bebês animais eram de uma ordem inusitada; tinham ainda menos pêlos nos seus corpos do que os seus pais e,ainda muito jovens, insistiram em andar eretos. Os seus ancestrais já haviam aprendido a andar com as pernas traseiras, mas esses primatas gêmeos permaneceram eretos desde o princípio. Eles atingiram uma altura de mais de um metro e meio e as suas cabeças resultaram maiores em comparação à de outros na mesma tribo. Se bem que houvessem aprendido desde muito cedo a se comunicar um com o outro, por meio de sinais e de sons, eles nunca foram capazes de fazer o seu povo compreender esses novos símbolos.
Quando tinham cerca de quatorze anos de idade, eles fugiram da tribo, indo para o oeste, para criar a sua própria família e estabelecer a nova espécie de primatas. E essas novas criaturas são, muito apropriadamente, denominadas primatas, já que elas foram os ancestrais animais diretos e imediatos da própria família humana.
Assim foi que os primatas vieram a ocupar uma região a oeste da costa da península da Mesopotâmia, quando então ela se projetava até o mar ao sul, enquanto as tribos menos inteligentes, mas intimamente relacionadas, viviam na ponta da península e até a linha das margens a leste.
Os primatas eram mais humanos e menos animais do que os seus predecessores mamíferos intermediários. As proporções do esqueleto dessa nova espécie eram muito semelhantes às das raças humanas primitivas. Os tipos de mão e de pé humanos haviam-se desenvolvido plenamente, e essas criaturas podiam andar e mesmo correr tão bem quanto qualquer dos seus descendentes humanos posteriores. Eles abandonaram quase completamente a vida nas árvores, embora continuassem a recorrer aos topos das árvores por medida de segurança à noite, pois, como os seus ancestrais primitivos, estavam bastante sujeitos ao medo. O uso crescente das suas mãos muito fez para desenvolver a capacidade cerebral inerente, mas eles ainda não possuíam mentes que podiam ser realmente chamadas de humanas.
Embora pela sua natureza emocional os primatas diferissem pouco dos seus antepassados, eles demonstravam algo como tendências mais humanas em todas as suas propensões. Eram, de fato, animais esplêndidos e superiores, alcançando a maturidade aos dez anos de idade aproximadamente e tendo uma expectativa de vida natural média de cerca de quarenta anos. Isto é, eles podiam ter essa longevidade se tivessem mortes naturais, mas, naqueles dias primitivos, poucos animais tinham uma morte natural; a luta pela existência era de todo muito intensa.
E então, depois de quase novecentas gerações de desenvolvimento, cobrindo cerca de vinte e um mil anos desde a origem dos mamíferos precursores, os primatas subitamente geraram duas criaturas notáveis, os primeiros seres humanos verdadeiros.
Assim foi que os mamíferos precursores, vindos do tipo norte-americano de lêmures, deram origem aos mamíferos intermediários, e esses mamíferos intermediários, por sua vez, produziram os primatas superiores, que se tornaram os ancestrais imediatos da raça humana primitiva. As tribos de primatas eram o último vínculo vital na evolução do homem, mas, em menos de cinco mil anos, nem um único indivíduo dessas tribos extraordinárias sobreviveu.
5. OS PRIMEIROS SERES HUMANOS
Do ano 1934 d.C. até o nascimento dos dois primeiros seres humanos, contam-se exatamente 993 419 anos.
Esses dois seres notáveis eram verdadeiros seres humanos. Possuíam polegares humanos perfeitos, como os tiveram muitos dos seus ancestrais, e tinham pés tão perfeitos quanto as raças humanas atuais. Eles andavam e corriam na vertical, não eram trepadores; a função de agarrar como dedo grande do pé tinha desaparecido completamente.
Quando o perigo os levava aos topos das árvores, eles subiam exatamente como os humanos de hoje o fariam. Eles escalariam um tronco de uma árvore como um urso, não como o chipanzé ou o gorila o fariam, pendurando-se e pulando nos galhos.
Esses primeiros seres humanos (e os descendentes deles) alcançavam plena maturidade aos doze anos de idade e possuíam um potencial de longevidade de cerca de setenta e cinco anos.
Muitas emoções novas logo surgiram nesses humanos gêmeos. Eles experimentaram a admiração por objetos, tanto quanto por outros seres, e demonstrariam ter uma vaidade considerável. Mas o avanço mais notável no desenvolvimento emocional foi o aparecimento súbito de um grupo novo de sentimentos realmente humanos, do grupo da adoração, abrangendo o respeito, a reverência, a humildade e até mesmo uma forma primitiva de gratidão. O medo, somado à ignorância quanto aos fenômenos naturais, estava para dar nascimento à religião primitiva.
Não apenas tais sentimentos humanos manifestaram-se nesses humanos primitivos, mas muitos sentimentos mais altamente evoluídos estiveram também presentes, nas suas formas rudimentares. Eles eram levemente conhecedores da piedade, da vergonha e da reprovação, bem como conscientes de um modo mais acentuado do amor, do ódio e da vingança, estando também acentuadamente susceptíveis ao sentimento do ciúme.
Esses primeiros seres humanos – os gêmeos – foram uma grande provação para os seus progenitores primatas. Eles eram tão curiosos e aventureiros que quase perderam as suas vidas, em inúmeras ocasiões, antes dos seus oito anos de idade. E, como não podia deixar de ser, eles estavam já bastante marcados com cicatrizes, na época em que tinham doze anos.
Muito cedo eles aprenderam a fazer a comunicação verbal; na idade de dez anos eles já haviam aperfeiçoado uma linguagem de sinais e de palavras de quase cinqüenta idéias e haviam aperfeiçoado, em muito, e expandido a técnica de comunicação primitiva dos seus ancestrais. Todavia, por mais que tentassem, eles não foram capazes de ensinar senão umas poucas palavras, dos seus novos signos e símbolos, aos seus progenitores.
Quando tinham cerca de nove anos de idade, e passeavam rio abaixo, em um dia luminoso, eles tiveram um relacionamento memorável. Todas as inteligências celestes estacionadas em Urântia, incluindo eu próprio, estavam presentes como observadores das transações desse encontro amoroso ao meio-dia. Nesse dia memorável, eles chegaram ao entendimento de viverem juntos, um para o outro, e essa foi a primeira de uma série desses acordos, que finalmente culminou na decisão de partir, abandonando os seus semelhantes animais inferiores, indo na direção norte, mal sabendo que estavam assim fundando a raça humana.
Embora estivéssemos todos grandemente preocupados com o que aqueles dois pequenos selvagens estavam planejando, nós éramos impotentes para controlar o trabalho das suas mentes; nós não influenciamos – nem poderíamos influenciar – arbitrariamente as suas decisões; todavia, dentro dos limites permissíveis da função planetária, nós, os Portadores da Vida, junto com os nossos colaboradores, todos conspiramos para conduzir os gêmeos humanos para o norte e para muito distante do seu povo peludo e ainda parcialmente habitante das árvores. E assim, em razão da escolha da própria inteligência deles, os gêmeos migraram e, devido à nossa supervisão, eles migraram em direção ao norte, para uma região apartada, onde escaparam da possibilidade da degradação biológica, que viria, caso se miscigenassem com os seus parentes inferiores das tribos primatas.
Pouco antes da partida do seu lar na floresta, eles perderam a sua mãe em um ataque dos gibãos. Ainda que não possuísse a inteligência deles, ela tinha um afeto mamífero condigno e de uma ordem elevada pelos seus filhos e, destemidamente, deu a sua vida na tentativa de salvar o maravilhoso par. E o seu sacrifício não foi em vão, pois ela segurou os inimigos até que o pai chegasse com reforços para pôr a correr os invasores.
Logo depois, esse jovem casal abandonou os seus companheiros para fundar a raça humana; e o seu pai primata ficou desconsolado – e com o coração despedaçado. Recusava-se a comer, mesmo quando a comida era trazida a ele pelos seus outros filhos. Tendo perdidod a sua brilhante progênie, a vida já não parecia digna de ser vivida entre os seus semelhantes comuns; assim, ele vagou pela floresta e foi atacado por gibões hostis, sendo golpeado até a morte.
6. A EVOLUÇÃO DA MENTE HUMANA
Nós, os Portadores da Vida em Urântia passamos por uma longa vigília e uma espera cuidadosa, desde o dia em que primeiro plantamos o plasma da vida nas águas planetárias e assim, naturalmente, até que o aparecimento dos primeiros seres realmente inteligentes e volitivos trouxesse-nos uma grande alegria e uma satisfação suprema.
Acompanhamos o desenvolvimento mental dos gêmeos, por meio da observação do funcionamento dos sete espíritos ajudantes da mente, destinados a Urântia, na época da nossa chegada ao planeta. Durante o longo desenvolvimento evolucionário da vida planetária, esses incansáveis ministradores da mente têm sempre registrado as suas habilidades crescentes de contatar as capacidades dos cérebros, em expansão sucessiva, das criaturas animais progressivamente superiores.
A princípio, apenas o espírito da intuição podia funcionar no comportamento, como instintos e reflexos, da vida animal primordial. Com a diferenciação dos tipos mais elevados, o espírito da compreensão tornou-se capaz de dotar tais criaturas com a dádiva da associação espontânea de idéias. Mais tarde observamos o espírito da coragem entrar em ação; os animais em evolução realmente desenvolviam uma forma incipiente na autoconsciência de proteção. Depois do aparecimento dos grupos de mamíferos, nós observamos o espírito do conhecimento manifestando-se em uma medida crescente. E a evolução dos mamíferos mais elevados trouxe à função o espírito do conselho, com o crescimento resultante do instinto de grupo e com os começos do desenvolvimento social primitivo.
Progressivamente, com o desenvolvimento dos mamíferos precursores e, em seguida, com o dos mamíferos intermediários e dos primatas, tínhamos observado o serviço implementado dos primeiros cinco ajudantes. Mas nunca os dois espíritos ajudantes restantes, os mais elevados ministradores da mente, haviam sido capazes de entrar em função no tipo de mente evolucionária de Urântia.
Imaginai o nosso júbilo, um dia – os dois gêmeos estavam com cerca de dez anos de idade – quando o espírito da adoração fez o seu primeiro contato com a mente da gêmea fêmea e pouco depois com a do macho. Sabíamos que algo muito próximo da mente humana aproximava-se da culminância; e quando, cerca de um ano depois, eles finalmente resolveram, como resultado do pensamento meditativo e de decisão propositada, partir de casa e viajar para o norte, então o espírito da sabedoria começou a atuar em Urântia, nessas duas que são reconhecidas, agora, como mentes humanas.
Houve uma nova e imediata ordem de mobilização dos sete espíritos ajudantes da mente. Estávamos cheios de expectativa; compreendíamos que se aproximava a hora longamente aguardada; sabíamos que estávamos no umbral da realização do nosso esforço prolongado para fazer as criaturas de vontade desenvolverem-se e evoluírem em Urântia.
7. O RECONHECIMENTO DO MUNDO COMO SENDO HABITADO
Nós não tivemos que esperar muito. Ao meio-dia, no dia seguinte ao da fuga dos gêmeos, aconteceu o teste inicial da transmissão dos sinais do circuito universal no foco da recepção planetária de Urântia. Estávamos todos, evidentemente, agitados com a compreensão da iminência de um grande acontecimento; mas, já que este mundo era uma estação de experimento de vida, não tínhamos a menor idéia de como exatamente seríamos informados sobre o reconhecimento de haver vida inteligente no planeta. Mas não permanecemos na expectativa por muito tempo. Ao terceiro dia, depois da fuga dos gêmeos, e antes que o corpo dos Portadores da Vida partisse, chegou o arcanjo de Nebadon para o estabelecimento inicial do circuito planetário.
Foi um dia memorável em Urântia, quando o nosso pequeno grupo reuniu-se perto do pólo planetário de comunicação espacial e recebeu a primeira mensagem de Salvington, sobre o circuito de mente recentemente estabelecido no planeta. E essa primeira mensagem, ditada pelo comandante do corpo dos arcanjos, dizia:
“Aos Portadores da Vida em Urântia – Saudações! Transmitimos a certeza do grande júbilo em Salvington, em Edêntia e em Jerusém, em honra ao registro, nas sedes centrais de Nebadon, do sinal da existência, em Urântia, de mente com a dignidade da vontade. A decisão propositada dos gêmeos, de partir na direção norte e de isolar-se da sua progênie, dos seus ancestrais inferiores, ficou registrada. Essa é a primeira decisão da mente – do tipo humano de mente – em Urântia, e automaticamente se estabelece o circuito de comunicação por meio do qual essa mensagem inicial de reconhecimento está sendo transmitida”.
Em seguida, por esse novo circuito, vieram os cumprimentos dos Altíssimos de Edêntia, contendo instruções para os Portadores da Vida residentes, proibindo-nos de interferir no modelo de vida que tínhamos estabelecido. Fomos instruídos a não intervir nos assuntos do progresso humano. Não deve ser inferido que os Portadores da Vida tenham alguma vez interferido arbitrariamente e mecanicamente na realização natural dos planos evolucionários planetários, pois nós não o fazemos. Contudo, até essa época nos tinha sido permitido manipular o meio ambiente para proteger o plasma vital de um modo especial, e era essa supervisão extraordinária, mas totalmente natural, que devia sofrer descontinuidade.
E tão logo os Altíssimos tinham terminado de falar, a bela mensagem de Lúcifer, então soberano do sistema de Satânia, começou a entrar no planeta. Agora, os Portadores da Vida ouviam as palavras de boas-vindas do seu próprio chefe e recebiam a sua permissão para retornar a Jerusém. Essa mensagem de Lúcifer manifestava a aceitação oficial do trabalho dos Portadores da Vida em Urântia e absolvia-nos de qualquer crítica futura sobre qualquer dos nossos esforços para aperfeiçoar os modelos de vida de Nebadon, do modo como estavam estabelecidos no sistema de Satânia.
Essas mensagens de Salvington, de Edêntia e de Jerusém, marcavam formalmente o término da supervisão dos Portadores da Vida no Planeta, que havia durado toda uma longa época. Durante idades estivéramos a trabalhar, assistidos apenas pelos sete espíritos ajudantes da mente e pelos Mestres Controladores Físicos. E agora, tendo surgido nas criaturas evolucionárias do planeta, a vontade, a capacidade de escolher o poder de adorar e ascender, compreendíamos que o nosso trabalho havia acabado e que o nosso grupo se preparava para partir. Sendo Urântia um mundo de modificação da vida, era dada a permissão para que deixássemos aqui dois Portadores da Vida seniores com doze assistentes, e fui eu um dos escolhidos desse grupo e, desde então, tenho sempre estado em Urântia.
Apenas a partir de 993 408 anos atrás (do ano 1934 d.C.) Urântia foi formalmente reconhecida como um planeta de residência humana no universo de Nebadon. A evolução biológica, mais uma vez, tinha alcançado os níveis humanos de dignidade de vontade; pois o homem havia chegado ao planeta 606 de Satânia.
[Auspiciado por um Portador de Vida de Nebadon, residente em Urântia.]
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