O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 170
O REINO DO CÉU
Sábado à tarde, 11 de março, em Pela, Jesus pregou o seu último sermão, o qual está entre os mais notáveis do seu ministério público, que contém uma discussão plena e completa sobre o Reino do céu. Ele sabia da confusão que existia nas mentes dos seus apóstolos e discípulos a respeito do sentido e do significado dos termos “Reino do céu” e “Reino de Deus”, que ele usou indistintamente para designar a sua missão de auto-outorga. Ainda que o próprio termo Reino do céu pudesse ter sido suficiente para diferençar o que o próprio termo representava, separando-o de quaisquers ligações a reinos terrenos e governos temporais, não o foi de fato. A idéia de um rei temporal estava muito profundamente enraizada na mente judaica, para ser assim desfeita em uma única geração. Por isso Jesus, a princípio, não se opôs abertamente a esse conceito há tanto tempo alimentado de um reino.
Nessa tarde de sábado, o Mestre procurou esclarecer o ensinamento sobre o Reino do céu; discutiu a questão sob todos os pontos de vista e tentou tornar claros os sentidos muito diferentes com os quais o termo tinha sido empregado. Nesta narrativa iremos amplificar a sua palestra, acrescentando numerosas afirmações feitas por Jesus em ocasiões anteriores e incluindo algumas observações feitas apenas aos apóstolos, durante as conversas vespertinas naquele mesmo dia. Iremos também expor alguns comentários que tratam de uma elaboração subseqüente, sobre a idéia de um reino, como está relacionada posteriormente à igreja cristã.
1. OS CONCEITOS DE REINO DO CÉU
É preciso que se faça notar, em qualquer ligação a ser estabelecida com a exposição do sermão de Jesus, que, nas escrituras hebraicas, havia um conceito duplo sobre o Reino do céu. Os profetas apresentaram o Reino de Deus como:
1. Uma realidade presente.
2. Uma esperança futura – quando então o Reino se apresentaria realizado na plenitude, quando do aparecimento do Messias. Esse é o conceito do Reino como João Batista ensinou.
Desde o princípio, Jesus e os apóstolos ensinaram ambos os conceitos. Havia duas outras idéias sobre o Reino que deveriam ser mantidas sempre em mente:
3. O conceito judeu posterior de um reino mundial e transcendental, de origem sobrenatural e cuja inauguração seria miraculosa.
4. Os ensinamentos persas retratando o estabelecimento de um reino divino, com a realização do triunfo do bem sobre o mal, no final do mundo.
Pouco antes da vinda de Jesus à Terra, os judeus combinaram e confundiram todas essas idéias sobre o Reino, com o seu conceito apocalíptico da vinda do Messias,para estabelecer a idade de triunfo dos judeus, a idade eterna do reinado supremo de Deus na Terra, o novo mundo, a era na qual toda humanidade iria adorar a Yavé. Ao escolher utilizar esse conceito para o Reino do céu, Jesus elegeu apropriar-se da herança mais vital e culminante tanto da religião judaica quanto da persa.
O Reino do céu, como tem sido entendido, e mal entendido, durante os séculos da era cristã, abrange quatro grupos distintos de idéias:
1. O conceito dos judeus.
2. O conceito dos persas.
3. O conceito da experiência pessoal de Jesus – “o Reino do céu dentro de vós”.
4. Os conceitos compostos e confundidos, que os fundadores e promulgadores da cristandade têm buscado inculcar ao mundo.
Em épocas diferentes e em circunstâncias variadas, parece que Jesus apresentou conceitos inúmeros do “Reino” nos seus ensinamentos públicos, mas para os seus apóstolos ele tratou o Reino como abrangendo a experiência pessoal do homem na relação com os seus semelhantes na Terra e com o Pai nos céus. A respeito do Reino, a sua última palavra foi: “o Reino está dentro de vós”.
Três fatores têm sido as causas dos séculos de confusão a respeito do significado do termo “Reino do céu”:
1. A confusão ocasionada pela observância da idéia do “Reino” da forma que foi passada, nas várias fases progressivas do remanejamento dela, feito por Jesus e pelos seus apóstolos.
2. A confusão que veio inevitavelmente associada ao transplante do cristianismo primitivo, do solo judeu para o solo gentio.
3. A confusão inerente ao fato de que o cristianismo tornou-se uma religião organizada em torno da idéia central da pessoa de Jesus; o evangelho sobre o Reino converteu-se cada vez mais numa religião sobre Jesus.
2. O CONCEITO DE JESUS SOBRE O REINO
O Mestre deixou bastante claro que o Reino do céu deve começar com o conceito dual da verdade da paternidade de Deus e do fato correlato da irmandade dos homens, e deve centralizar-se nesses conceitos. Jesus declarou que a aceitação desse ensinamento libertaria o homem da sua longa escravidão ao medo animal e a um tempo enriqueceria o viver humano com os seguintes dons da nova vida de liberdade espiritual:
1. A posse de uma nova coragem e de um poder espiritual ampliado. A boa-nova do evangelho sobre o Reino devia liberar o homem e inspirá-lo a ter coragem de ansiar pela vida eterna.
2. Essa boa-nova carregava a mensagem de uma confiança nova e de uma consolação verdadeira para todos os homens, mesmo para os pobres.
3. Era, em si mesma, um novo padrão de valores morais, uma nova medida de ética com a qual avaliar a conduta humana. Ela ilustrava o ideal resultante de uma nova ordem na sociedade humana.
4. Ela ensinava a primazia do espiritual sobre o material; ela glorificava as realidades espirituais e exaltava os ideais supra-humanos.
5. Esse novo evangelho ressaltava a realização espiritual como a verdadeira meta da vida. A vida humana recebia um novo dom de valor moral e de dignidade divina.
6. Jesus ensinou que as realidades eternas eram o resultado (a recompensa) do esforço terreno de retidão. A permanência mortal do homem na Terra adquiriu um novo significado, em conseqüência do reconhecimento de um destino nobre.
7. O novo evangelho afirmava que a salvação humana é a revelação de um propósito divino de longo alcance a ser cumprido e realizado, em destino futuro, no serviço sem fim dos salvados filhos de Deus.
Esses ensinamentos cobrem a idéia ampliada do Reino, como foi ensinada por Jesus. Esse grande conceito não estava incluído nos ensinamentos elementares e confusos de João Batista sobre o Reino.
Os apóstolos foram incapazes de compreender o significado real das palavras do Mestre a respeito do Reino. A distorção posterior dos ensinamentos de Jesus, como estão registrados no Novo Testamento, acontece porque o conceito daqueles que escreveram os evangelhos encontrava-se matizado pela crença de que Jesus estaria ausente do mundo, então, apenas por um curto período de tempo; que ele retornaria logo para estabelecer o Reino em poder e glória – exatamente esta era a idéia que eles alimentavam enquanto ele estava junto deles na carne. Mas Jesus não ligava o estabelecimento do Reino à idéia do seu retorno a este mundo. Que se tenham passado os séculos sem nenhum sinal da vinda da “Nova Era”, de nenhum modo contradiz o ensinamento de Jesus.
O grande esforço que esse sermão representava era a tentativa de converter o conceito do Reino do céu no ideal que é a idéia de fazer a vontade de Deus. Há muito, o Mestre tinha já ensinado os seus seguidores a orar: “Venha a nós o Vosso Reino; a Vossa vontade seja feita”; e nessa época ele sinceramente buscava induzi-los a abandonar o uso do termo Reino de Deus, em favor do equivalente mais prático, a vontade de Deus. Mas ele não teve êxito.
Jesus desejava substituir a idéia de reino, de rei e de súditos, pelo conceito da família celeste, do Pai celeste e dos filhos libertados de Deus, e empenhados no serviço voluntário e cheio de júbilo ao semelhante, e na adoração sublime e inteligente de Deus, o Pai.
Até então os apóstolos tinham formado um ponto de vista duplo sobre o Reino; eles consideravam-no como sendo:
1. Uma questão de experiência pessoal, então presente nos corações dos verdadeiros crentes.
2. Uma questão de fenômeno racial ou mundial; pois o Reino estava no futuro, algo por que se devia aguardar ansiosamente.
Eles consideravam a vinda do Reino, aos corações dos homens, um desenvolvimento gradativo, como o fermento na massa ou como o crescimento da semente de mostarda. E acreditavam que a vinda do Reino no sentido racial ou mundial seria súbita tanto quanto espetacular. Jesus nunca se cansou de dizer a eles que o Reino do céu era a sua experiência pessoal de realizar as mais altas qualidades da vivência espiritual; que essas realidades da experiência espiritual traduzem-se progressivamente em níveis novos e mais elevados de certeza divina e de grandeza eterna.
Nessa tarde, o Mestre ensinou claramente sobre um novo conceito da dupla natureza do Reino, descrevendo as duas fases seguintes:
“Primeira: o Reino de Deus neste mundo, o desejo supremo de fazer a vontade de Deus, o amor não egoísta pelos homens, que dá os bons frutos de uma conduta mais ética e mais moral.
“Segunda: o Reino de Deus nos céus, a meta dos crentes mortais, o estado em que o amor por Deus é perfeccionado, e em que a vontade de Deus é feita mais divinamente”.
Jesus ensinou que aquele que acredita pela fé entra imediatamente no Reino. Nos vários discursos ele ensinou que duas coisas são essenciais à entrada no Reino por meio da fé:
1. A fé e a sinceridade. Vir como uma criancinha, receber o dom da filiação como uma dádiva; submeter-se a fazer a vontade de Deus sem questionar e em confiança plena e genuína na sabedoria do Pai; vir ao Reino, livre de preconceitos e preconcebimentos; estar de mente aberta para aprender, como um filho não estragado por mimos.
2. A fome da verdade. A sede de retidão, uma mudança na mente; conquistar um motivo para ser como Deus e encontrar Deus.
Jesus ensinou que o pecado não é produto de uma natureza defeituosa, mas que é antes o fruto de uma mente conhecedora que se deixa dominar por uma vontade indômita. A respeito do pecado, ele ensinou que Deus já os perdoou e, pelo ato de perdoarmos ao nosso semelhante, tornamos o perdão de Deus disponível para nos favorecer pessoalmente. Ao perdoar ao vosso irmão na carne, vós estais criando uma capacidade na vossa própria alma de entrar na realidade do perdão de Deus para os vossos próprios erros.
Na época em que o apóstolo João começou a escrever a história da vida e dos ensinamentos de Jesus, os primeiros cristãos tinham tido tantos problemas com a idéia do Reino de Deus e com as perseguições por ela geradas, que abdicaram quase por inteiro do uso desse termo. João fala muito sobre a “vida eterna”. Jesus referia-se a ele muitas vezes como o “Reino da vida”. Ele referia-se também com freqüência ao “Reino de Deus, dentro de vós”. Uma vez ele falou dessa experiência como “a irmandade da família, com Deus o Pai”. Jesus procurou substituir reino por muitos termos, mas sempre sem êxito. Entre outros, ele usou: família de Deus, vontade do Pai, amigos de Deus, comunidade dos crentes, irmandade dos homens, seio do Pai, crianças de Deus, comunidade dos fiéis, serviço do Pai e filhos liberados de Deus.
Todavia ele não pôde escapar do uso da idéia de um reino. Só mais de cinqüenta anos mais tarde, depois da destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos, esse conceito de reino começou a se transformar no culto da vida eterna, à medida que o seu aspecto social e institucional foi assumido pela igreja cristã, então em vias de expansão e cristalização rápidas.
3. EM RELAÇÃO À RETIDÃO
Jesus estava sempre tentando inculcar nos seus apóstolos e discípulos que eles deviam buscar, pela fé, uma retidão que excedesse em muito a da retidão do trabalho servil de que alguns dos escribas e fariseus tanto se vangloriavam perante o mundo.
Embora Jesus ensinasse que a fé, aquela simples credulidade infantil, é a chave para a porta do Reino, ele também ensinava que, tendo passado porta adentro, havia os degraus progressivos da retidão, que toda criança crédula devia galgar para crescer, até chegar à estatura plena de um robusto filho de Deus.
É no que diz respeito à técnica de receber o perdão de Deus que a realização na retidão do Reino é revelada. A fé é o preço que vós pagais para entrar na família de Deus; mas o perdão é o ato de Deus que acolhe a vossa fé como um preço para a admissão. Para um crente do Reino receber o perdão de Deus, torna-se necessária uma experiência definitiva e real que consiste nos quatro passos seguintes, os passos da retidão interior do Reino:
1. O perdão de Deus fica de fato ao alcance do homem, que o experimenta pessoalmente tão logo ele perdoe os seus semelhantes.
2. O homem não perdoará verdadeiramente os seus semelhantes a menos que os ame como a si próprio.
3. Amar assim ao próximo, como a ti próprio, nisso está a mais elevada ética.
4. A conduta moral, a verdadeira retidão, torna-se, então, o resultado natural desse amor.
Fica, pois, evidente que a verdadeira religião interior do Reino tende a se manifestar, infalível e crescentemente, nas vias práticas do serviço ao próximo. Jesus ensinou uma religião viva que compelia os seus crentes a empenhar-se em fazer o serviço do amor. Mas Jesus não colocou a ética no lugar da religião. Ele ensinou a religião como uma causa e a ética como um resultado.
A retidão de qualquer ato deve ser medida pelo motivo; as mais elevadas formas do bem são, portanto, inconscientes. Jesus nunca mostrava interesse pela moral ou pela ética como tal. Ele estava integralmente interessado por aquela amizade interior e espiritual com Deus, o Pai, que se manifesta exteriormente com tanta certeza e tão diretamente como um serviço amoroso ao homem. Ele ensinou que a religião do Reino é uma experiência pessoal genuína que nenhum homem consegue limitar dentro de si próprio; que a consciência de ser um membro da família de crentes leva inevitavelmente à prática dos preceitos da conduta familiar, do serviço aos próprios irmãos e irmãs, em um esforço de elevar e de expandir a irmandade.
A religião do Reino é pessoal, individual; os frutos, os resultados, são da família, são sociais. Jesus nunca deixou de exaltar o individual como sagrado, por contraste com a comunidade. Mas ele também reconheceu que o homem desenvolve o seu caráter por meio do serviço não egoísta; que desdobra a sua natureza moral por meio da relação de amor aos seus semelhantes.
Ao ensinar que o Reino é interior, exaltando o individual, Jesus deu o golpe de misericórdia na velha sociedade, inaugurando uma nova dispensação de verdadeira retidão social. O mundo conheceu ainda pouquíssimo dessa nova ordem de sociedade, porque recusou-se a praticar os princípios dos ensinamentos sobre o Reino do céu. Quando este Reino, de preponderância espiritual, vier à Terra, ele não se manifestará simplesmente na melhora das condições sociais e materiais, traduzir-se-á mais por meio da glória dos valores espirituais, elevados e enriquecidos, que são característicos de uma era, que se avizinha, de melhores relações humanas e de realizações espirituais mais avançadas.
4. OS ENSINAMENTOS DE JESUS SOBRE O REINO
Jesus nunca deu uma definição precisa do Reino. Em certo momento ele discorreria sobre uma fase do Reino e, em uma outra hora, ele falaria sobre um aspecto diferente da irmandade do Reino de Deus nos corações dos homens. No decurso do sermão dessa tarde de sábado, Jesus destacou nada mais do que cinco fases, ou épocas, do Reino, e que são:
1. A experiência pessoal interior da vida espiritual na amizade do crente individual com Deus, o Pai.
2. A irmandade crescente dos crentes, na palavra de Deus; os aspectos sociais da moral mais elevada e da ética viva, resultantes do Reino do espírito de Deus, nos corações dos crentes individuais.
3. A irmandade supramortal dos seres espirituais invisíveis que prevalece na Terra e nos céus, o Reino supra-humano de Deus.
4. A perspectiva de uma realização mais integral da vontade de Deus, o avanço para o alvorecer de uma nova ordem social em conseqüência de um vivenciar espiritual mais aperfeiçoado – a próxima era para o homem.
5. O Reino na sua plenitude, a idade espiritual futura de luz e vida na Terra.
E por isso devemos sempre examinar o ensinamento do Mestre, para nos certificarmos a respeito de qual dessas cinco fases pode estar referindo-se quando faz uso do termo Reino do céu. Por meio desse processo de modificar gradativamente a vontade do homem e de assim influenciar as decisões humanas, Michael e os seus colaboradores estão também, gradual mas certamente, modificando todo o curso da evolução humana, sob vários aspectos, inclusive o social.
O Mestre, nessa ocasião, colocou ênfase nos cinco pontos seguintes, como representantes cardinais dos aspectos do evangelho do Reino:
1. A predominância do individual.
2. A vontade como fator determinante na experiência humana.
3. A comunhão espiritual com Deus, o Pai.
4. As satisfações supremas do serviço amoroso do homem.
5. A transcendência do espiritual sobre o material na personalidade humana.
Este mundo nunca experimentou seriamente, nem sincera ou honestamente, essas idéias dinâmicas e esses ideais divinos da doutrina de Jesus sobre o Reino do céu. Mas vós não devíeis ficar desencorajados por causa do progresso aparentemente lento da idéia do Reino em Urântia. Lembrai-vos de que a ordem da evolução progressiva está sujeita a mudanças periódicas súbitas e inesperadas, tanto no mundo material quanto no espiritual. Assim, pois, a auto-outorga de Jesus, como um Filho encarnado, foi um acontecimento estranho e inesperado na vida espiritual do mundo. E também não devíeis, ao procurardes pela manifestação do Reino, durante esta idade atual, cometer o erro fatal de deixar de efetivar o estabelecimento dele dentro das vossas próprias almas.
Conquanto Jesus haja feito referência a uma fase futura do Reino e tenha sugerido, em inúmeras ocasiões, que esse acontecimento poderia surgir como uma parte de uma crise mundial; e embora ele tenha prometido, de um modo muito seguro, em várias ocasiões, retornar, em alguma época, a Urântia, deveria ficar registrado que ele nunca condicionou uma dessas idéias necessariamente à outra. Ele prometeu uma nova revelação do Reino na Terra, para alguma época futura; e também prometeu voltar a este mundo pessoalmente em alguma época; mas ele não disse que esses dois acontecimentos eram sinônimos. De tudo o que sabemos, essas promessas podem, ou não, referir-se ao mesmo evento.
Os seus apóstolos e discípulos, com toda certeza, estabeleceram um vínculo entre esses dois ensinamentos. Quando o Reino não se materializou como eles esperavam, e então ao relembrarem-se do ensinamento do Mestre a respeito de um Reino futuro e relembrando-se da sua promessa de vir novamente, eles precipitaram-se na conclusão de que essas promessas referiam-se a um evento idêntico; e, por isso, eles viveram na esperança de uma segunda vinda imediata dele, para estabelecer o Reino na sua plenitude e com poder e glória. Assim,as gerações sucessivas de crentes viveram na Terra, alimentando também essa mesma esperança inspiradora, porém decepcionante.
5. AS IDÉIAS POSTERIORES SOBRE O REINO
Tendo resumido os ensinamentos de Jesus sobre o Reino do céu, estamos autorizados a narrar certas idéias que se tornaram vinculadas ao conceito do Reino, e a engajarmo-nos em uma previsão profética do Reino tal como poderia evoluir na idade que virá.
Durante os primeiros séculos da propaganda cristã, a idéia do Reino do céu foi tremendamente influenciada pelas noções do idealismo grego, que se espalhavam rapidamente então, a idéia do natural enquanto sombra do espiritual – do temporal como a sombra do eterno no tempo.
Mas os grandes passos que marcaram o transplante dos ensinamentos de Jesus, de um solo judeu para um solo gentio, foram dados quando o Messias do Reino tornou-se o Redentor da igreja, uma organização religiosa e social que crescia por causa das atividades de Paulo e dos seus sucessores, baseada nos ensinamentos de Jesus e do modo como foram suplementadas pelas idéias de Filo e pelas doutrinas persas do bem e do mal.
As idéias e os ideais de Jesus, incorporados nos ensinamentos sobre o Reino, o evangelho, quase deixaram de ser realizados, pois os seus seguidores distorciam progressivamente os pronunciamentos dele. O conceito do Reino, do Mestre, foi notavelmente modificado por duas grandes tendências:
1. Os crentes judeus persistiam em considerá-lo como o Messias. Eles acreditavam que Jesus retornaria de fato, e muito em breve, para estabelecer um reino mundial e mais ou menos material.
2. Os cristãos gentios começaram muito cedo a aceitar as doutrinas de Paulo, que levavam cada vez mais à crença geral de que Jesus era o Redentor dos filhos da igreja, que seria a sucedânea institucional do conceito inicial da irmandade puramente espiritual no Reino.
A igreja, como uma conseqüência social do Reino, teria sido plenamente natural e até mesmo desejável. O mal da igreja não veio da sua existência, mas antes do fato de que ela suplantou quase completamente o conceito do Reino trazido por Jesus. A igreja, institucionalizada, de Paulo tornou-se uma substituta virtual para o Reino do céu proclamado por Jesus.
Não duvideis, contudo: esse mesmo Reino do céu que o Mestre ensinou, como existindo dentro do coração do crente, ainda será proclamado a esta igreja cristã, e a todas outras religiões, raças e nações na Terra – bem como a todos os indivíduos.
O Reino, como ensinado por Jesus, o ideal espiritual de retidão do indivíduo e o conceito da divina comunhão do homem com Deus, foi gradualmente engolido pela concepção mística da pessoa de Jesus como um Criador-Redentor e dirigente espiritual de uma comunidade religiosa socializada. Desse modo uma igreja formal e institucional tornou-se a substituta para a irmandade do Reino, conduzida individualmente pelo espírito.
A igreja foi um resultado social inevitável e útil da vida de Jesus e dos seus ensinamentos; a tragédia consistiu no fato de que essa reação social aos ensinamentos do Reino tivesse desalojado e suplantado tão completamente o conceito espiritual do verdadeiro Reino, como Jesus ensinou-o e viveu-o.
O reino, para os judeus, era a comunidade israelita; para os gentios, tornou-se a igreja cristã. Para Jesus o Reino era o conjunto daqueles indivíduos que tinham confessado a sua fé na paternidade de Deus, proclamando assim a sua dedicação a fazer a vontade de Deus de coração, e, pois, tornando-se membros da irmandade espiritual dos homens.
O Mestre compreendeu integralmente que alguns resultados sociais apareceriam no mundo em conseqüência da disseminação do evangelho do Reino; mas a sua intenção era que todas essas manifestações sociais desejáveis devessem aparecer como conseqüências inevitáveis inconscientes, ou frutos naturais, dessa experiência interior pessoal dos crentes individuais, de uma comunidade puramente espiritual e da comunhão com o espírito divino que reside em todos esses crentes e que os anima.
Jesus previu que uma organização social, ou igreja, sucederia ao progresso do Reino espiritual verdadeiro, e por isso é que ele nunca se opôs a que os apóstolos praticassem o rito do batismo de João. Ele ensinou que a alma verdadeiramente amante da verdade, aquela que tem fome e sede de retidão, e de Deus, é admitida no Reino espiritual pela fé; ao mesmo tempo os apóstolos ensinavam que esse crente é admitido dentro da organização social dos discípulos por intermédio do rito exterior do batismo.
Quando os seguidores mais próximos de Jesus reconheceram que haviam fracassado parcialmente na realização do ideal, de Jesus, do estabelecimento do Reino nos corações dos homens, por meio da orientação e do predomínio exercido pelo espírito do crente individual, eles trataram de impedir que o seu ensinamento ficasse totalmente perdido, substituindo o ideal do Mestre sobre o Reino pela criação gradativa de uma organização social visível, a igreja cristã. E quando eles concretizaram esse programa de substituição, com a finalidade de manter uma coerência e prover um reconhecimento do ensinamento do Mestre a respeito do fato do Reino, eles levaram adiante a idéia de estabelecer o Reino no futuro. A igreja, tão logo ficou bem estabelecida, começou a ensinar que na realidade o Reino iria surgir no apogeu da era cristã, com a segunda vinda de Cristo.
Desse modo o Reino transformou-se no conceito de uma era, na idéia de uma visitação futura e no ideal da redenção final dos santos do Altíssimo. Os primeiros cristãos (e a maioria dos cristãos posteriores) em geral perderam de vista a idéia de Pai-e-filho, incorporada ao ensinamento de Jesus sobre o Reino, ao substituírem-na pela bem organizada comunidade social da igreja. Em suma, a igreja transformou-se principalmente em uma fraternidade social que, efetivamente, deslocou e substituiu o conceito e o ideal de Jesus para uma irmandade espiritual.
O conceito ideal de Jesus não teve nenhum êxito em impor-se; mas, sobre a fundação que são a vida e os ensinamentos pessoais do Mestre, Paulo fez por construir uma sociedade que, suplementando-se pelos conceitos gregos e persas da vida eterna e acrescida da doutrina de Filo sobre o temporal em contraste com o espiritual, se tornou uma das sociedades humanas mais progressivas como jamais existiu em Urântia.
O conceito de Jesus ainda está vivo nas religiões avançadas do mundo. A igreja cristã de Paulo é a sombra socializada e humanizada daquilo que Jesus tinha a intenção de que o Reino do céu fosse – e do que ainda, muito certamente, será. Paulo e os seus sucessores, em parte, transferiram as questões da vida eterna do indivíduo para a igreja. Cristo, assim, transformou-se em um dirigente da igreja, mais do que o irmão mais velho de cada indivíduo crente na família do Pai no Reino. Paulo e os seus contemporâneos aplicaram todas as implicações espirituais da palavra de Jesus, a respeito de si próprio e do indivíduo crente, à igreja como um grupo de crentes; e, ao fazer isso, eles deram um golpe mortal no conceito elaborado por Jesus, de que o Reino divino estaria no coração do crente individual.
E assim, por séculos, a igreja cristã tem trabalhado sob uma situação bastante embaraçosa; pois ousou trazer para si aqueles poderes misteriosos e os privilégios do Reino; poderes e privilégios estes que podem ser exercidos e experimentados apenas entre Jesus e os seus irmãos espirituais de crença. E assim torna-se claro que ser um membro da igreja não significa necessariamente estar em comunhão com o Reino; este é espiritual, a igreja é principalmente social.
Mais cedo ou mais tarde um outro João Batista, maior ainda, deve aparecer proclamando que “o Reino de Deus está à mão” – querendo com isso referir-se a um retorno ao conceito altamente espiritual de Jesus, o qual proclamou que o Reino é a vontade do seu Pai no céu, dominante e transcendente, no coração daquele que crê – e fazendo tudo isso sem referir-se, de nenhum modo, nem à igreja visível na Terra nem à antecipada segunda vinda do Cristo. É necessário que haja um renascimento dos ensinamentos verdadeiros de Jesus, uma reafirmação que desfaça o trabalho dos seus primeiros seguidores, que acabaram criando um sistema sociofilosófico de crença em torno do fato da permanência de Michael na Terra. Em pouco tempo o ensinamento dessa história sobre Jesus quase suplantou a pregação de Jesus sobre o Reino. Assim, uma religião histórica veio a substituir o ensinamento no qual Jesus tinha combinado as idéias morais e os ideais espirituais mais elevados do homem com a esperança mais sublime do homem quanto ao futuro – a vida eterna. Essa era a boa-nova da palavra sobre o Reino.
O ensinamento de Jesus tinha muitas facetas diferentes, por isso, em uns poucos séculos, os estudantes dos registros desses ensinamentos dividiram-se em tantos cultos e seitas. Essa subdivisão lastimável dos crentes cristãos resulta da incapacidade de distinguir nos ensinamentos múltiplos do Mestre a unidade divina da sua incomparável vida. Algum dia, entretanto, aqueles que acreditam verdadeiramente em Jesus não estarão assim divididos espiritualmente nas suas atitudes, diante dos que não crêem. Podemos sempre ter diferenças de compreensão intelectual e de interpretação, e até níveis variados de graus de socialização, mas a falta de fraternidade espiritual não apenas é indesculpável como é repreensível.
Não vos equivoqueis! Há, nos ensinamentos de Jesus, uma natureza eterna que não permitirá que eles permaneçam infrutíferos para sempre nos corações dos homens que pensam. O Reino, como Jesus o concebeu, fracassou amplamente na Terra; no momento presente, uma igreja exterior tomou o seu lugar; mas devíeis compreender que essa igreja é apenas um estágio larvar do Reino espiritual obstruído, ela o levará ao longo dessa era material e até uma dispensação mais espiritual, na qual os ensinamentos do Mestre podem desfrutar de uma oportunidade mais plena para desenvolver-se. Assim a chamada igreja cristã torna-se a crisálida dentro da qual o conceito do Reino de Jesus está agora adormecido. O Reino da irmandade divina ainda está vivo e, com certeza, finalmente irá sair dessa longa submersão, tal uma borboleta que por fim surge, de uma criatura menos atraente, como um desdobramento da beleza, e fruto de um desenvolvimento metamórfico.
quarta-feira, 26 de março de 2008
sábado, 22 de março de 2008
A RESSURREIÇÃO
O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 189
A RESSURREIÇÃO
Logo após o enterro de Jesus, na sexta-feira à tarde, o dirigente dos arcanjos de Nebadon, então presente em Urântia, convocou o seu conselho de ressurreição das criaturas de vontade, adormecidas, e começou a fazer considerações sobre uma possível técnica para a reconstituição de Jesus. Esses filhos reunidos do universo local, criaturas de Michael, realizaram isso sob a sua própria responsabilidade; Gabriel não os havia reunido. Por volta da meia-noite tinham chegado à conclusão de que a criatura nada poderia fazer para facilitar a ressurreição do Criador. Eles estavam dispostos a aceitar o conselho de Gabriel, que os instruíra para que, desde que Michael havia “dado a sua vida por seu livre-arbítrio, também teria o poder para retomá-la de novo de acordo com a sua própria determinação”. Pouco depois da suspensão desse conselho de arcanjos, Portadores da Vida e seus vários colaboradores, no trabalho de reabilitação da criatura e da criação moroncial, o Ajustador Personalizado de Jesus, estando no comando pessoal das hostes celestes, então reunidas em Urântia, naquela vigília ansiosa, disse estas palavras a todos:
“Nenhum de vós nada pode fazer para ajudar o vosso Criador-pai, no seu retorno à vida. Como um mortal deste reino, ele experimentou o falecimento dos mortais; como Soberano de um universo ele ainda vive. O que vós observais é o trânsito mortal de Jesus de Nazaré, da vida na carne para a vida na morôncia. O trânsito espiritual desse Jesus foi completado no momento em que eu me separei da sua personalidade e tornei-me o vosso diretor temporário. O vosso Criador-pai escolheu passar pela experiência inteira das suas criaturas mortais, do nascimento nos mundos materiais, da morte natural e da ressurreição da morôncia até o status de uma existência espiritual verdadeira. Estais observando uma certa fase dessa experiência, mas não podeis participar dela. As coisas que normalmente fazeis pela criatura, não podeis fazer pelo Criador. Um Filho Criador tem, dentro de si próprio, o poder de outorgar-se, à semelhança de quaisquer dos seus filhos criados; ele tem dentro de si o poder para dispor da sua vida observável e para retomá-la novamente; e ele tem esse poder pela via do comando direto do Pai do Paraíso, e eu sei do que estou falando.”
Quando ouviram o Ajustador Personalizado dizendo isso, todos eles assumiram uma atitude de expectativa ansiosa, desde Gabriel até o mais humilde querubim. Eles viram o corpo mortal de Jesus no sepulcro; eles detectaram evidências de atividades do seu amado Soberano, no universo; e, não compreendendo tais fenômenos, esperaram pacientemente pelo que sobreviria.
1. O TRÂNSITO MORONCIAL
Às duas e quarenta e cinco do domingo de manhã, a comissão de encarnação do Paraíso, formada por sete personalidades não identificadas do Paraíso, chegou ao local e
imediatamente desmembrou-se em torno do sepulcro. Às duas horas e cinqüenta minutos, vibrações intensas de atividades materiais e moronciais combinadas começaram a emanar do novo sepulcro de José, e às três horas e dois minutos, nessa manhã de domingo, 9 de abril do ano 30 d.C., a forma moroncial ressuscitada e a personalidade de Jesus de Nazaré saíram do sepulcro.
Depois de ressuscitado, Jesus emergiu do sepulcro; o corpo de carne no qual ele tinha vivido e trabalhado na Terra por quase trinta e seis anos ainda jazia lá no nicho do sepulcro, envolto no lençol de linho, exatamente como tinha sido colocado, para descansar, por José e pelos seus amigos, na sexta-feira à tarde. Nem a pedra diante da entrada do sepulcro havia sido movida para nada; o selo de Pilatos permanecia intacto ainda; os soldados ainda estavam de guarda. Os guardiães do templo tinham estado em vigia contínua; a guarda romana tinha sido mudada à meia-noite. Nenhum desses vigias suspeitava de que o objeto da sua vigia tinha levantado-se em uma nova forma mais elevada de existência; e de que o corpo que eles estavam guardando agora não era senão um envelope exterior descartado que não tinha mais nenhuma ligação com a personalidade moroncial liberada e ressuscitada de Jesus.
A humanidade é lenta para perceber que, em tudo o que é pessoal, a matéria é o esqueleto da morôncia, e que ambos são uma sombra refletida da realidade espiritual que perdura. Quanto tempo terá de passar até que vós considereis o tempo como a imagem em movimento da eternidade e o espaço como uma sombra fugaz das realidades do Paraíso?
Até onde podemos julgar, nenhuma criatura deste universo, nem personalidade alguma de outro universo, nada teve a ver com essa ressurreição moroncial de Jesus de Nazaré. Na sexta-feira ele entregou a sua vida como um mortal deste reino; no domingo de manhã, ele retomou-a, de novo, como um ser moroncial do sistema de Satânia em Norlatiadeque. Há muito sobre a ressurreição de Jesus que nós não compreendemos. Mas sabemos que ocorreu como declaramos e por volta da hora indicada. Podemos também registrar que todos os fenômenos conhecidos, relacionados com esse trânsito mortal, ou ressurreição moroncial, aconteceram exatamente ali no novo sepulcro de José, onde o material mortal de Jesus permanecia envolto em trajes mortuários.
Sabemos que nenhuma criatura do universo local participou desse despertar moroncial. Percebemos as sete personalidades do Paraíso em torno do sepulcro, mas não as vimos fazer nada para o despertar do Mestre. Tão logo Jesus apareceu ao lado de Gabriel, bem acima do sepulcro, as sete personalidades do Paraíso indicaram sobre a sua intenção de partir imediatamente para Uversa.
Esclareçamos definitivamente o conceito da ressurreição de Jesus fazendo as seguintes afirmações:
1. O seu corpo material ou físico não era uma parte da personalidade ressuscitada. Quando Jesus saiu do sepulcro, o seu corpo de carne permaneceu intacto no sepulcro. Ele emergiu da tumba sem mover as pedras diante da entrada e sem romper os selos de Pilatos.
2. Ele não emergiu do sepulcro como um espírito, nem como Michael de Nebadon; ele não apareceu na forma do Soberano Criador, tal como fora antes da sua encarnação à semelhança da carne mortal em Urântia.
3. Ele saiu do sepulcro de José na própria semelhança das personalidades moronciais dos que, como os seres moronciais ascendentes ressuscitados, emergem das salas de ressurreição do primeiro mundo das mansões deste sistema local
de Satânia. E a presença do monumento em memória de Michael, no centro do imenso pátio das salas de ressurreição de mansônia número um, leva-nos a conjecturar que a ressurreição do Mestre em Urântia foi de algum modo promovida a partir daquele que é o primeiro mundo das mansões do sistema.
O primeiro ato de Jesus, depois de levantar do sepulcro, foi o de saudar Gabriel e instruí-lo a continuar na função de executivo dos assuntos do universo entregue a Emanuel e, então, ele solicitou ao dirigente dos Melquisedeques que transmitisse a sua saudação fraternal a Emanuel. Pediu ao Altíssimo de Edêntia pela autorização dos Anciães dos Dias para o seu trânsito mortal; e, voltando-se para os grupos moronciais, dos sete mundos das mansões, aqui reunidos para saudar e dar as boas-vindas ao seu Criador, como criatura da sua própria ordem, Jesus disse as primeiras palavras da sua carreira pós-mortal. Disse o Jesus moroncial: “Tendo terminado a minha vida na carne, eu permanecerei aqui por um breve período na forma transitória para que eu possa conhecer melhor, e mais completamente, a vida das minhas criaturas ascendentes e para que em seguida eu revele a vontade do meu Pai no Paraíso”.
Depois de ter falado, Jesus sinalizou para o Ajustador Personalizado, e para todas as inteligências do universo, que estavam reunidas em Urântia para presenciar a ressurreição, a fim de que fossem imediatamente despachadas para cumprir os seus respectivos compromissos no universo.
Jesus começava agora os contatos de nível moroncial, sendo apresentado, como criatura, aos requisitos da vida que ele tinha escolhido viver por um curto tempo em Urântia. Essa iniciação ao mundo moroncial necessitou de um período de mais de uma hora do tempo terreno e foi por duas vezes interrompida pelo seu desejo de comunicar-se com as suas antigas companheiras na carne, quando elas vieram de Jerusalém para espiar com admiração dentro do sepulcro vazio e descobrir o que consideraram uma evidência da sua ressurreição.
E agora se completa o trânsito mortal de Jesus – a ressurreição moroncial do Filho do Homem. E começou a experiência transitória do Mestre, como personalidade a meio caminho entre o material e o espiritual. E a tudo isso ele fez por meio do poder inerente a si próprio; nenhuma personalidade prestou-lhe qualquer assistência. Agora ele vive como Jesus moroncial e na medida em que começa essa vida moroncial, o corpo material da sua carne está lá, exatamente como antes, na tumba. Os soldados continuavam de guarda e o selo do governador nas pedras ainda não havia sido rompido.
2. O CORPO MATERIAL DE JESUS
Às três e dez, enquanto o Jesus ressuscitado se confraternizava com as personalidades moronciais reunidas, vindas dos sete mundos das mansões de Satânia, o dirigente dos arcanjos – os anjos da ressurreição – aproximou-se de Gabriel e pediu-lhe o corpo mortal de Jesus. E o dirigente dos arcanjos disse: “Podemos não participar da ressurreição moroncial da experiência de auto-outorga de Michael, nosso soberano, mas gostaríamos de ter os seus restos mortais sob a nossa custódia para dissolução imediata. Não nos propomos empregar a nossa técnica de desmaterialização; meramente queremos invocar o processo do tempo acelerado. Suficiente é que tenhamos visto já o Soberano viver e morrer em Urântia; as hostes dos céus seriam poupadas da recordação de ter de suportar a visão da degradação lenta da forma humana do Criador e Sustentador de um universo. Em nome das inteligências celestes de todo o Nebadon, peço um mandato dando a mim a custódia do corpo mortal de Jesus de Nazaré e o poder de procedermos à sua dissolução imediata”.
E depois de conferenciarem, Gabriel e o decano Altíssimo de Edêntia, foi dada ao porta-voz dos arcanjos das hostes celestes a permissão para que ele dispusesse dos restos físicos de Jesus como ele julgasse conveniente.
Depois de concedido esse pedido, ao dirigente dos arcanjos, ele convocou para ajudá-lo muitos dos seus companheiros, junto com uma numerosa hoste de representantes de todas as ordens de personalidades celestes e então, com o auxílio das criaturas intermediárias de Urântia, eles deram prosseguimento à tomada de posse do corpo físico de Jesus. Esse corpo de morte era uma criação puramente material; era físico e real; não poderia ser removido do sepulcro, como havia sido removida a forma moroncial da ressurreição, escapando do selo sepulcral. Com a ajuda de algumas personalidades moronciais auxiliares, a forma moroncial, em um momento, pode se fazer como espírito, de um modo tal que se torne indiferente à matéria comum, enquanto em um outro momento ela pode tornar-se discernível e contatável para os seres materiais, como os mortais deste reino.
Enquanto eles se preparavam para remover o corpo de Jesus do sepulcro, antes de dispor dele de um modo preparatório para dar-lhe uma dissolução quase instantânea condigna e de modo reverente, foi designado às criaturas secundárias de Urântia que rolassem as pedras afastando-as da entrada da tumba. A maior dessas duas pedras era circular e imensa, muito semelhante a uma roda de moinho e se movia em um sulco marcado na rocha, de um modo tal que podia ser rolada para frente e para trás, a fim de abrir ou fechar a tumba. Quando os guardas judeus vigilantes e os soldados romanos, sob a luz escassa na madrugada, viram essa imensa pedra começar a rolar saindo da entrada do sepulcro, aparentemente por si mesma – sem quaisquer meios visíveis a explicar esse movimento –, eles foram tomados pelo medo e pelo pânico e correram, abandonando depressa o local. Os judeus correram para as suas casas, voltando depois para reportar o acontecido ao seu capitão no templo. Os romanos correram para a fortaleza de Antônia e contaram o que tinham visto ao centurião, tão logo ele chegou ao seu posto.
Os líderes judeus começaram uma sórdida operação para livrar-se supostamente de Jesus oferecendo subornos ao traidor Judas, e agora, ao defrontar-se com essa situação embaraçosa, em vez de pensar em punir os guardas que desertaram seu posto, recorreram ao expediente de subornar esses guardas e os soldados romanos. Pagaram a cada um desses vinte homens uma quantia em dinheiro e instruíram-nos a dizer a todos: “Enquanto dormíamos durante a noite, os seus discípulos precipitaram-se sobre nós e levaram o corpo”. E os líderes judeus fizeram promessas solenes aos soldados de defendê-los perante Pilatos, caso chegasse ao conhecimento do governador que eles tinham aceitado um suborno.
A crença cristã na ressurreição de Jesus tem sido baseada no fato do “sepulcro vazio”. Foi real e verdadeiramente um fato que o sepulcro estivesse vazio, mas essa não é a verdade da ressurreição. A tumba estava real e verdadeiramente vazia quando os primeiros crentes chegaram, mas esse fato, associado ao da indubitável ressurreição do Mestre, levou à formulação de uma crença que não era verdadeira: o ensinamento de que o corpo material e mortal de Jesus levantou-se da cova. A verdade relacionada às realidades espirituais e aos valores eternos nem sempre pode ser deduzida de uma combinação de fatos aparentemente reais. Ainda que os fatos individualmente possam ser materialmente verdadeiros, não significa que a conjunção de um agrupamento de fatos deva necessariamente conduzir a conclusões espiritualmente verdadeiras.
O sepulcro de José estava vazio, não porque o corpo de Jesus tenha se recuperado ou ressuscitado, mas porque as hostes celestes tiveram o seu pedido concedido, o pedido de dar a ele uma dissolução especial e única, um retorno do “pó
ao pó”, sem a intervenção das demoras do tempo e sem a operação dos processos ordinários e visíveis da decadência mortal e da decomposição material.
Os restos mortais de Jesus passaram pelo mesmo processo natural de desintegração dos seus elementos que caracteriza todos os corpos humanos na Terra, exceto que, do ponto de vista do tempo, esse modo natural de dissolução foi violentamente acelerado, apressado chegando até mesmo a ser quase instantâneo.
As verdadeiras evidências da ressurreição de Michael são espirituais, pela sua natureza, ainda que esse ensinamento seja corroborado pelo testemunho de muitos mortais do reino, que se encontraram, reconheceram e comungaram com o Mestre ressuscitado na forma moroncial. Ele tornou-se parte da experiência pessoal de quase mil seres humanos, antes de finalmente deixar Urântia.
3. A RESSURREIÇÃO DISPENSACIONAL
Pouco depois das quatro e meia, na manhã desse domingo, Gabriel convocou os arcanjos até perto de si e preparou-se para inaugurar a ressurreição geral da terminação da dispensação Adâmica em Urântia. Quando a vasta hoste de serafins e de querubins, envolvida nesse grande acontecimento, estava organizada em formação apropriada, o Michael moroncial apareceu diante de Gabriel, dizendo: “Do mesmo modo que o meu Pai tem vida em Si próprio, ele a deu ao Filho para que tivesse vida em si próprio. Embora eu não tenha ainda reassumido plenamente o exercício da jurisdição do universo, essa limitação auto-imposta de nenhum modo restringe o outorgamento da vida aos meus filhos adormecidos; que comece o chamado da lista de ressurreição do planeta”.
O circuito dos arcanjos, então, operou pela primeira vez a partir de Urântia. Gabriel e a hoste de arcanjos transportaram-se ao local da polaridade espiritual do planeta; e, quando Gabriel deu o sinal, foi transmitida ao primeiro mundo das mansões do sistema a voz de Gabriel, dizendo: “Por mandato de Michael, que levantem os mortos de uma dispensação de Urântia!” Então todos os sobreviventes das raças humanas de Urântia, que tinham estado adormecidos desde os dias de Adão, e que não tinham ainda ido a julgamento, apareceram nas salas de ressurreição de mansônia, prontos para a sua investidura moroncial. E em um instante de tempo os serafins e os seus colaboradores estavam prontos para partir em direção aos mundos das mansões. Normalmente esses guardiães seráficos, anteriormente designados à custódia grupal desses mortais sobreviventes, teriam estado presentes no momento do seu despertar nas salas de ressurreição de mansônia, mas eles estavam neste mundo, nesse momento, por causa da necessidade aqui, da presença de Gabriel, relacionada com a ressurreição moroncial de Jesus.
Não obstante haver inúmeros indivíduos que, tendo guardiães seráficos pessoais e tendo atingido o nível requerido de progresso da personalidade espiritual, foram para mansônia durante as idades posteriores ao tempo de Adão e Eva e, ainda que tenha havido muitas ressurreições especiais e milenares dos filhos de Urântia, esta era a terceira lista de chamada planetária, ou seja, aquela que completava a lista de ressurreições dispensacionais. A primeira ocorreu na época da chegada do Príncipe Planetário; a segunda, durante a época de Adão; e esta, a terceira, que assinalava a ressurreição moroncial, o trânsito mortal, de Jesus de Nazaré.
Quando o sinal da ressurreição planetária foi recebido pelo dirigente dos arcanjos, o Ajustador Personalizado do Filho do Homem renunciou à sua autoridade sobre as hostes celestes reunidas em Urântia, transferindo todos esses filhos do universo local, de volta para as jurisdições dos seus respectivos comandantes.
E depois de fazer isso ele partiu para Salvington a fim de registrar com Emanuel o fim completo do trânsito mortal de Michael. E ele foi seguido imediatamente por toda a hoste celeste que não estava requisitada para servir em Urântia. Mas Gabriel permaneceu em Urântia com o Jesus moroncial.
E é esse o relato dos acontecimentos da ressurreição de Jesus, segundo foram vistos por aqueles que os presenciaram, como realmente ocorreram, livres das limitações da visão humana, parcial e restrita.
4. A DESCOBERTA DA TUMBA VAZIA
Nesse domingo de madrugada, tendo em vista que nos aproximávamos da hora da ressurreição de Jesus, deve ser relembrado que os dez apóstolos estavam hospedados na casa de Elias e Maria Marcos, onde estavam dormindo na sala de cima, descansando nos mesmos leitos em que se reclinaram no período da Última Ceia com o seu Mestre. Nesse domingo, pela manhã, eles estavam todos reunidos lá, exceto Tomé. Tendo estado com eles por uns poucos minutos, quando se reuniram no sábado até tarde da noite, era demais para Tomé ver os apóstolos e, mais ainda, suportar o pensamento do que tinha acontecido a Jesus. Ele deu uma olhada nos seus companheiros e imediatamente deixou a sala, indo para a casa de Simão, em Betfagé, onde contava poder afundar-se no abismo da sua tristeza a sós. Todos os apóstolos sofriam, nem tanto pela dúvida e desespero quanto pelo temor, a pena e a vergonha.
Na casa de Nicodemos reuniram-se, com Davi Zebedeu e José de Arimatéia, entre doze e quinze dos discípulos de Jesus, dos mais proeminentes de Jerusalém. Na casa de José de Arimatéia estavam entre quinze e vinte das principais mulheres crentes. E essas mulheres encontravam-se na casa de José, sozinhas, e, como elas tinham estado juntas durante as horas do dia de sábado e na noite seguinte, elas permaneciam sem saber da guarda militar de vigia no sepulcro; e tampouco sabiam que uma segunda pedra tinha sido rolada na frente da tumba; nem que ambas as pedras tinham sido colocadas sob o selo de Pilatos.
Um pouco antes das três horas nesse domingo de manhã, quando os primeiros sinais do dia começaram a surgir no lado leste, cinco daquelas mulheres partiram para a tumba de Jesus. Elas tinham preparado uma boa quantidade de loções balsâmicas especiais, e levavam consigo muitas bandagens de linho. O seu propósito era preparar melhor o corpo de Jesus, com os ungüentos fúnebres, envolvendo-o cuidadosamente com novas bandagens.
As mulheres que saíram para a missão de ungir o corpo de Jesus foram as seguintes: Maria Madalena, Maria, a mãe dos gêmeos Alfeus, Salomé, a mãe dos irmãos Zebedeus, Joana, a mulher de Cuza, e Susana, a filha de Ezra de Alexandria.
Eram cerca de três e meia quando as cinco mulheres, carregadas com os seus ungüentos, chegaram diante da tumba vazia. Enquanto passavam pelo portão de Damasco, elas encontraram inúmeros soldados correndo para a cidade, relativamente tomados de pânico, e isso as levou a parar por uns poucos minutos; mas, vendo que nada mais acontecia, retomaram a sua caminhada.
E ficaram muito surpresas ao ver a pedra rolada para fora da entrada do sepulcro pois até, enquanto estavam vindo, entre si, disseram: “Quem nos ajudará a rolar a pedra?” Então elas puseram a sua carga no chão e começaram a olhar, umas para as outras, temerosas e em grande espanto. Enquanto estavam ali de pé,
atônitas, tremendo de medo, Maria Madalena aventurou-se a contornar a pedra menor e ousou entrar no sepulcro aberto. Essa tumba de José ficava no seu jardim, nas colinas, do lado leste da estrada, e também dava face para o lado leste. A essa hora, apenas a luz da madrugada de um novo dia permitia a Maria ver o local onde o corpo do Mestre tinha sido colocado e discernir que ele não mais estava ali. No recesso da pedra, onde haviam deitado Jesus, Maria viu apenas o pano dobrado, em que a sua cabeça esteve repousando e as bandagens, com as quais tinha sido envolto, intactas e dispostas sobre a pedra, tal qual estiveram antes de as hostes celestes terem levado o corpo. O lençol que o cobria encontrava-se aos pés do nicho fúnebre.
Depois de permanecer na entrada da tumba por uns poucos momentos (ela não havia visto nada claramente, tão logo entrara na tumba), Maria viu que o corpo de Jesus não se encontrava lá e que no seu lugar estavam apenas alguns tecidos fúnebres, e ela soltou um grito de alarme e angústia. Todas a mulheres ficaram extremamente nervosas; tinham estado nos seus limites de tensão desde que encontraram os soldados em pânico na entrada da cidade e, quando Maria soltou o grito de angústia, elas ficaram aterrorizadas e saíram dali mais do que depressa. E não pararam até que tivessem corrido por todo o caminho, até o portão de Damasco. Nesse momento Joana deu por si, de que elas tinham abandonado Maria; e reuniu as suas companheiras e voltaram ao sepulcro.
À medida que se aproximaram do sepulcro, a amedrontada Madalena, que ficara ainda mais aterrorizada quando não encontrou suas irmãs esperando por ela, ao sair da tumba, agora corria para elas, exclamando agitadamente: “Ele não está lá – eles levaram-no embora!” E ela as conduziu de volta ao sepulcro, e todas entraram e viram que estava vazio.
Todas as cinco mulheres então se sentaram na pedra próxima da entrada para conversarem sobre a situação. Ainda não lhes havia ocorrido que Jesus tinha ressuscitado. Elas estiveram sozinhas todo o sábado, e conjecturaram que o corpo tivesse sido removido para outro local de descanso. Mas, quando elas refletiram sobre tal solução para o seu dilema, não conseguiram explicação para o fato de os tecidos funerais estarem tão arrumados; como poderia o corpo ter sido removido, já que as próprias bandagens nas quais estivera envolto tinham sido deixadas na mesma posição e aparentemente intactas na prateleira mortuária?
Enquanto essas mulheres estavam sentadas ali durante aqueles momentos da madrugada desse novo dia, elas viram a um canto um vulto estranho, calado e imóvel. Por um momento ficaram de novo amedrontadas, mas Maria Madalena, correndo até lá e dirigindo-se a ele como se fosse o jardineiro, disse: “Para onde tu levaste o Mestre? Onde o puseram? Dize-nos para que possamos ir lá buscá-lo”. Quando o estranho não respondeu a Maria, ela começou a chorar. Então Jesus falou a elas, dizendo: “A quem procurais?” Maria disse: “Procuramos por Jesus, que foi colocado para descansar na tumba de José, mas ele se foi. Sabes para onde o levaram?” Então Jesus disse: “E esse Jesus não vos disse, na Galiléia mesmo, que ele morreria, mas que ele se levantaria novamente?” Essas palavras assombraram as mulheres, mas o Mestre estava tão mudado que elas ainda não o reconheciam, de costas que estava para a escassa luz. E enquanto elas pesavam as suas palavras, ele dirigiu-se a Madalena com uma voz familiar, dizendo: “Maria”. E quando então ouviu essa palavra, dita com uma compaixão tão bem conhecida e em saudação afetuosa, ela soube que era a voz do Mestre, e correu para ajoelhar-se aos seus pés, ao mesmo tempo em que exclamava: “Meu Senhor, e meu Mestre!” E todas as outras mulheres reconheceram que era o Mestre que estava diante delas na forma glorificada, e elas depressa se ajoelharam diante dele.
Esses olhos humanos tornaram-se capazes de ver a forma moroncial de Jesus mediante a ministração especial dos transformadores e das criaturas intermediárias em conjunção com algumas das personalidades moronciais que então acompanhavam Jesus.
Quando Maria tentou abraçar os seus pés, Jesus disse: “Não me toques, Maria, pois eu não sou mais como tu me conheceste na carne. Nesta forma eu permanecerei convosco, por uma temporada, antes de ascender ao Pai. Mas agora ide, todas vós, e dizei aos meus apóstolos – e a Pedro – que eu ressuscitei, e que vós já falastes comigo”.
Após recuperarem-se do choque de um tal assombro, essas mulheres apressaram-se de volta à cidade e para a casa de Elias Marcos, onde contaram aos dez apóstolos tudo o que lhes tinha acontecido; mas os apóstolos não estavam inclinados a acreditar nelas. A princípio pensaram que as mulheres tinham tido uma visão, mas quando Maria Madalena repetiu as palavras com as quais Jesus tinha dirigido-se a elas, e quando Pedro ouviu o seu nome ser pronunciado, ele correu para fora da sala de cima, seguido por João, em grande pressa para chegar ao sepulcro e ver essas coisas por si próprio.
As mulheres repetiram a história daquela conversa com Jesus para os outros apóstolos, mas eles não acreditariam; e eles não iriam ver por si próprios, como o tinham feito Pedro e João.
5. PEDRO E JOÃO NA TUMBA
Enquanto os dois apóstolos corriam para o Gólgota até a tumba de José, os pensamentos de Pedro alternavam-se entre o medo e a esperança; ele temia encontrar o Mestre, mas a sua esperança era estimulada pela história de que Jesus tinha mandado uma palavra especial para ele. E ele achava-se quase persuadido de que Jesus estava realmente vivo; relembrou-se da sua promessa de que iria ressuscitar no terceiro dia. Por mais estranho que possa parecer, essa promessa não havia sido lembrada por Pedro, desde a crucificação até este momento, em que ele corria para o norte, atravessando Jerusalém. À medida que João apressadamente saía da cidade, um estranho êxtase feito de júbilo e de esperança inundava a sua alma. Ele estava quase convencido de que aquelas mulheres realmente viram o Mestre ressuscitado.
João, sendo mais jovem do que Pedro, ultrapassou-o e chegou primeiro à tumba. João permaneceu junto à entrada, olhando para dentro da tumba, que estava exatamente como Maria a havia descrito. Logo Simão Pedro chegou correndo e, entrando, viu a mesma tumba vazia com as mortalhas arrumadas de um modo peculiar. Quando Pedro saiu, João entrou e igualmente viu tudo por si próprio, e então eles sentaram-se na pedra para refletir sobre o que significava tudo o que eles haviam visto e ouvido. E enquanto estavam sentados lá, reviraram nas suas mentes por completo o que tinha sido dito a eles sobre Jesus, mas não conseguiam perceber claramente o que havia acontecido.
Pedro inicialmente sugeriu que a tumba tinha sido saqueada, que inimigos haviam roubado o corpo, talvez tivessem subornado os guardas. Mas João ponderou que a tumba não teria sido deixada tão arrumada se o corpo tivesse sido roubado, e também levantou a questão de como as bandagens foram deixadas para trás, e tão intactas aparentemente. E de novo ambos voltaram à tumba para examinar mais de perto as mortalhas. Quando saíam da tumba pela segunda vez, eles encontraram Maria Madalena que retornara e chorava diante da entrada. Maria tinha ido até os apóstolos acreditando que Jesus tinha levantado-se da cova, mas quando todos eles recusaram-se a acreditar no que ela contou, ficou deprimida e em desespero. Queria voltar para junto da tumba, onde ela pensou ter ouvido a voz familiar de Jesus.
Enquanto Maria permanecia ali, depois de Pedro e João terem ido embora, de novo o Mestre apareceu para ela, dizendo: “Não fiques em dúvida; tem a coragem de crer no que viste e ouviste. Volta aos meus apóstolos e de novo dize a eles que eu ressuscitei,
que eu aparecerei para eles e que logo irei ter com eles na Galiléia como prometi”.
Maria apressou-se a voltar à casa de Marcos e disse aos apóstolos que novamente havia ela conversado com Jesus, mas eles não acreditariam nela. E quando Pedro e João voltaram, eles pararam de ridicularizá-la e ficaram cheios de temor e de apreensão.
DOCUMENTO 189
A RESSURREIÇÃO
Logo após o enterro de Jesus, na sexta-feira à tarde, o dirigente dos arcanjos de Nebadon, então presente em Urântia, convocou o seu conselho de ressurreição das criaturas de vontade, adormecidas, e começou a fazer considerações sobre uma possível técnica para a reconstituição de Jesus. Esses filhos reunidos do universo local, criaturas de Michael, realizaram isso sob a sua própria responsabilidade; Gabriel não os havia reunido. Por volta da meia-noite tinham chegado à conclusão de que a criatura nada poderia fazer para facilitar a ressurreição do Criador. Eles estavam dispostos a aceitar o conselho de Gabriel, que os instruíra para que, desde que Michael havia “dado a sua vida por seu livre-arbítrio, também teria o poder para retomá-la de novo de acordo com a sua própria determinação”. Pouco depois da suspensão desse conselho de arcanjos, Portadores da Vida e seus vários colaboradores, no trabalho de reabilitação da criatura e da criação moroncial, o Ajustador Personalizado de Jesus, estando no comando pessoal das hostes celestes, então reunidas em Urântia, naquela vigília ansiosa, disse estas palavras a todos:
“Nenhum de vós nada pode fazer para ajudar o vosso Criador-pai, no seu retorno à vida. Como um mortal deste reino, ele experimentou o falecimento dos mortais; como Soberano de um universo ele ainda vive. O que vós observais é o trânsito mortal de Jesus de Nazaré, da vida na carne para a vida na morôncia. O trânsito espiritual desse Jesus foi completado no momento em que eu me separei da sua personalidade e tornei-me o vosso diretor temporário. O vosso Criador-pai escolheu passar pela experiência inteira das suas criaturas mortais, do nascimento nos mundos materiais, da morte natural e da ressurreição da morôncia até o status de uma existência espiritual verdadeira. Estais observando uma certa fase dessa experiência, mas não podeis participar dela. As coisas que normalmente fazeis pela criatura, não podeis fazer pelo Criador. Um Filho Criador tem, dentro de si próprio, o poder de outorgar-se, à semelhança de quaisquer dos seus filhos criados; ele tem dentro de si o poder para dispor da sua vida observável e para retomá-la novamente; e ele tem esse poder pela via do comando direto do Pai do Paraíso, e eu sei do que estou falando.”
Quando ouviram o Ajustador Personalizado dizendo isso, todos eles assumiram uma atitude de expectativa ansiosa, desde Gabriel até o mais humilde querubim. Eles viram o corpo mortal de Jesus no sepulcro; eles detectaram evidências de atividades do seu amado Soberano, no universo; e, não compreendendo tais fenômenos, esperaram pacientemente pelo que sobreviria.
1. O TRÂNSITO MORONCIAL
Às duas e quarenta e cinco do domingo de manhã, a comissão de encarnação do Paraíso, formada por sete personalidades não identificadas do Paraíso, chegou ao local e
imediatamente desmembrou-se em torno do sepulcro. Às duas horas e cinqüenta minutos, vibrações intensas de atividades materiais e moronciais combinadas começaram a emanar do novo sepulcro de José, e às três horas e dois minutos, nessa manhã de domingo, 9 de abril do ano 30 d.C., a forma moroncial ressuscitada e a personalidade de Jesus de Nazaré saíram do sepulcro.
Depois de ressuscitado, Jesus emergiu do sepulcro; o corpo de carne no qual ele tinha vivido e trabalhado na Terra por quase trinta e seis anos ainda jazia lá no nicho do sepulcro, envolto no lençol de linho, exatamente como tinha sido colocado, para descansar, por José e pelos seus amigos, na sexta-feira à tarde. Nem a pedra diante da entrada do sepulcro havia sido movida para nada; o selo de Pilatos permanecia intacto ainda; os soldados ainda estavam de guarda. Os guardiães do templo tinham estado em vigia contínua; a guarda romana tinha sido mudada à meia-noite. Nenhum desses vigias suspeitava de que o objeto da sua vigia tinha levantado-se em uma nova forma mais elevada de existência; e de que o corpo que eles estavam guardando agora não era senão um envelope exterior descartado que não tinha mais nenhuma ligação com a personalidade moroncial liberada e ressuscitada de Jesus.
A humanidade é lenta para perceber que, em tudo o que é pessoal, a matéria é o esqueleto da morôncia, e que ambos são uma sombra refletida da realidade espiritual que perdura. Quanto tempo terá de passar até que vós considereis o tempo como a imagem em movimento da eternidade e o espaço como uma sombra fugaz das realidades do Paraíso?
Até onde podemos julgar, nenhuma criatura deste universo, nem personalidade alguma de outro universo, nada teve a ver com essa ressurreição moroncial de Jesus de Nazaré. Na sexta-feira ele entregou a sua vida como um mortal deste reino; no domingo de manhã, ele retomou-a, de novo, como um ser moroncial do sistema de Satânia em Norlatiadeque. Há muito sobre a ressurreição de Jesus que nós não compreendemos. Mas sabemos que ocorreu como declaramos e por volta da hora indicada. Podemos também registrar que todos os fenômenos conhecidos, relacionados com esse trânsito mortal, ou ressurreição moroncial, aconteceram exatamente ali no novo sepulcro de José, onde o material mortal de Jesus permanecia envolto em trajes mortuários.
Sabemos que nenhuma criatura do universo local participou desse despertar moroncial. Percebemos as sete personalidades do Paraíso em torno do sepulcro, mas não as vimos fazer nada para o despertar do Mestre. Tão logo Jesus apareceu ao lado de Gabriel, bem acima do sepulcro, as sete personalidades do Paraíso indicaram sobre a sua intenção de partir imediatamente para Uversa.
Esclareçamos definitivamente o conceito da ressurreição de Jesus fazendo as seguintes afirmações:
1. O seu corpo material ou físico não era uma parte da personalidade ressuscitada. Quando Jesus saiu do sepulcro, o seu corpo de carne permaneceu intacto no sepulcro. Ele emergiu da tumba sem mover as pedras diante da entrada e sem romper os selos de Pilatos.
2. Ele não emergiu do sepulcro como um espírito, nem como Michael de Nebadon; ele não apareceu na forma do Soberano Criador, tal como fora antes da sua encarnação à semelhança da carne mortal em Urântia.
3. Ele saiu do sepulcro de José na própria semelhança das personalidades moronciais dos que, como os seres moronciais ascendentes ressuscitados, emergem das salas de ressurreição do primeiro mundo das mansões deste sistema local
de Satânia. E a presença do monumento em memória de Michael, no centro do imenso pátio das salas de ressurreição de mansônia número um, leva-nos a conjecturar que a ressurreição do Mestre em Urântia foi de algum modo promovida a partir daquele que é o primeiro mundo das mansões do sistema.
O primeiro ato de Jesus, depois de levantar do sepulcro, foi o de saudar Gabriel e instruí-lo a continuar na função de executivo dos assuntos do universo entregue a Emanuel e, então, ele solicitou ao dirigente dos Melquisedeques que transmitisse a sua saudação fraternal a Emanuel. Pediu ao Altíssimo de Edêntia pela autorização dos Anciães dos Dias para o seu trânsito mortal; e, voltando-se para os grupos moronciais, dos sete mundos das mansões, aqui reunidos para saudar e dar as boas-vindas ao seu Criador, como criatura da sua própria ordem, Jesus disse as primeiras palavras da sua carreira pós-mortal. Disse o Jesus moroncial: “Tendo terminado a minha vida na carne, eu permanecerei aqui por um breve período na forma transitória para que eu possa conhecer melhor, e mais completamente, a vida das minhas criaturas ascendentes e para que em seguida eu revele a vontade do meu Pai no Paraíso”.
Depois de ter falado, Jesus sinalizou para o Ajustador Personalizado, e para todas as inteligências do universo, que estavam reunidas em Urântia para presenciar a ressurreição, a fim de que fossem imediatamente despachadas para cumprir os seus respectivos compromissos no universo.
Jesus começava agora os contatos de nível moroncial, sendo apresentado, como criatura, aos requisitos da vida que ele tinha escolhido viver por um curto tempo em Urântia. Essa iniciação ao mundo moroncial necessitou de um período de mais de uma hora do tempo terreno e foi por duas vezes interrompida pelo seu desejo de comunicar-se com as suas antigas companheiras na carne, quando elas vieram de Jerusalém para espiar com admiração dentro do sepulcro vazio e descobrir o que consideraram uma evidência da sua ressurreição.
E agora se completa o trânsito mortal de Jesus – a ressurreição moroncial do Filho do Homem. E começou a experiência transitória do Mestre, como personalidade a meio caminho entre o material e o espiritual. E a tudo isso ele fez por meio do poder inerente a si próprio; nenhuma personalidade prestou-lhe qualquer assistência. Agora ele vive como Jesus moroncial e na medida em que começa essa vida moroncial, o corpo material da sua carne está lá, exatamente como antes, na tumba. Os soldados continuavam de guarda e o selo do governador nas pedras ainda não havia sido rompido.
2. O CORPO MATERIAL DE JESUS
Às três e dez, enquanto o Jesus ressuscitado se confraternizava com as personalidades moronciais reunidas, vindas dos sete mundos das mansões de Satânia, o dirigente dos arcanjos – os anjos da ressurreição – aproximou-se de Gabriel e pediu-lhe o corpo mortal de Jesus. E o dirigente dos arcanjos disse: “Podemos não participar da ressurreição moroncial da experiência de auto-outorga de Michael, nosso soberano, mas gostaríamos de ter os seus restos mortais sob a nossa custódia para dissolução imediata. Não nos propomos empregar a nossa técnica de desmaterialização; meramente queremos invocar o processo do tempo acelerado. Suficiente é que tenhamos visto já o Soberano viver e morrer em Urântia; as hostes dos céus seriam poupadas da recordação de ter de suportar a visão da degradação lenta da forma humana do Criador e Sustentador de um universo. Em nome das inteligências celestes de todo o Nebadon, peço um mandato dando a mim a custódia do corpo mortal de Jesus de Nazaré e o poder de procedermos à sua dissolução imediata”.
E depois de conferenciarem, Gabriel e o decano Altíssimo de Edêntia, foi dada ao porta-voz dos arcanjos das hostes celestes a permissão para que ele dispusesse dos restos físicos de Jesus como ele julgasse conveniente.
Depois de concedido esse pedido, ao dirigente dos arcanjos, ele convocou para ajudá-lo muitos dos seus companheiros, junto com uma numerosa hoste de representantes de todas as ordens de personalidades celestes e então, com o auxílio das criaturas intermediárias de Urântia, eles deram prosseguimento à tomada de posse do corpo físico de Jesus. Esse corpo de morte era uma criação puramente material; era físico e real; não poderia ser removido do sepulcro, como havia sido removida a forma moroncial da ressurreição, escapando do selo sepulcral. Com a ajuda de algumas personalidades moronciais auxiliares, a forma moroncial, em um momento, pode se fazer como espírito, de um modo tal que se torne indiferente à matéria comum, enquanto em um outro momento ela pode tornar-se discernível e contatável para os seres materiais, como os mortais deste reino.
Enquanto eles se preparavam para remover o corpo de Jesus do sepulcro, antes de dispor dele de um modo preparatório para dar-lhe uma dissolução quase instantânea condigna e de modo reverente, foi designado às criaturas secundárias de Urântia que rolassem as pedras afastando-as da entrada da tumba. A maior dessas duas pedras era circular e imensa, muito semelhante a uma roda de moinho e se movia em um sulco marcado na rocha, de um modo tal que podia ser rolada para frente e para trás, a fim de abrir ou fechar a tumba. Quando os guardas judeus vigilantes e os soldados romanos, sob a luz escassa na madrugada, viram essa imensa pedra começar a rolar saindo da entrada do sepulcro, aparentemente por si mesma – sem quaisquer meios visíveis a explicar esse movimento –, eles foram tomados pelo medo e pelo pânico e correram, abandonando depressa o local. Os judeus correram para as suas casas, voltando depois para reportar o acontecido ao seu capitão no templo. Os romanos correram para a fortaleza de Antônia e contaram o que tinham visto ao centurião, tão logo ele chegou ao seu posto.
Os líderes judeus começaram uma sórdida operação para livrar-se supostamente de Jesus oferecendo subornos ao traidor Judas, e agora, ao defrontar-se com essa situação embaraçosa, em vez de pensar em punir os guardas que desertaram seu posto, recorreram ao expediente de subornar esses guardas e os soldados romanos. Pagaram a cada um desses vinte homens uma quantia em dinheiro e instruíram-nos a dizer a todos: “Enquanto dormíamos durante a noite, os seus discípulos precipitaram-se sobre nós e levaram o corpo”. E os líderes judeus fizeram promessas solenes aos soldados de defendê-los perante Pilatos, caso chegasse ao conhecimento do governador que eles tinham aceitado um suborno.
A crença cristã na ressurreição de Jesus tem sido baseada no fato do “sepulcro vazio”. Foi real e verdadeiramente um fato que o sepulcro estivesse vazio, mas essa não é a verdade da ressurreição. A tumba estava real e verdadeiramente vazia quando os primeiros crentes chegaram, mas esse fato, associado ao da indubitável ressurreição do Mestre, levou à formulação de uma crença que não era verdadeira: o ensinamento de que o corpo material e mortal de Jesus levantou-se da cova. A verdade relacionada às realidades espirituais e aos valores eternos nem sempre pode ser deduzida de uma combinação de fatos aparentemente reais. Ainda que os fatos individualmente possam ser materialmente verdadeiros, não significa que a conjunção de um agrupamento de fatos deva necessariamente conduzir a conclusões espiritualmente verdadeiras.
O sepulcro de José estava vazio, não porque o corpo de Jesus tenha se recuperado ou ressuscitado, mas porque as hostes celestes tiveram o seu pedido concedido, o pedido de dar a ele uma dissolução especial e única, um retorno do “pó
ao pó”, sem a intervenção das demoras do tempo e sem a operação dos processos ordinários e visíveis da decadência mortal e da decomposição material.
Os restos mortais de Jesus passaram pelo mesmo processo natural de desintegração dos seus elementos que caracteriza todos os corpos humanos na Terra, exceto que, do ponto de vista do tempo, esse modo natural de dissolução foi violentamente acelerado, apressado chegando até mesmo a ser quase instantâneo.
As verdadeiras evidências da ressurreição de Michael são espirituais, pela sua natureza, ainda que esse ensinamento seja corroborado pelo testemunho de muitos mortais do reino, que se encontraram, reconheceram e comungaram com o Mestre ressuscitado na forma moroncial. Ele tornou-se parte da experiência pessoal de quase mil seres humanos, antes de finalmente deixar Urântia.
3. A RESSURREIÇÃO DISPENSACIONAL
Pouco depois das quatro e meia, na manhã desse domingo, Gabriel convocou os arcanjos até perto de si e preparou-se para inaugurar a ressurreição geral da terminação da dispensação Adâmica em Urântia. Quando a vasta hoste de serafins e de querubins, envolvida nesse grande acontecimento, estava organizada em formação apropriada, o Michael moroncial apareceu diante de Gabriel, dizendo: “Do mesmo modo que o meu Pai tem vida em Si próprio, ele a deu ao Filho para que tivesse vida em si próprio. Embora eu não tenha ainda reassumido plenamente o exercício da jurisdição do universo, essa limitação auto-imposta de nenhum modo restringe o outorgamento da vida aos meus filhos adormecidos; que comece o chamado da lista de ressurreição do planeta”.
O circuito dos arcanjos, então, operou pela primeira vez a partir de Urântia. Gabriel e a hoste de arcanjos transportaram-se ao local da polaridade espiritual do planeta; e, quando Gabriel deu o sinal, foi transmitida ao primeiro mundo das mansões do sistema a voz de Gabriel, dizendo: “Por mandato de Michael, que levantem os mortos de uma dispensação de Urântia!” Então todos os sobreviventes das raças humanas de Urântia, que tinham estado adormecidos desde os dias de Adão, e que não tinham ainda ido a julgamento, apareceram nas salas de ressurreição de mansônia, prontos para a sua investidura moroncial. E em um instante de tempo os serafins e os seus colaboradores estavam prontos para partir em direção aos mundos das mansões. Normalmente esses guardiães seráficos, anteriormente designados à custódia grupal desses mortais sobreviventes, teriam estado presentes no momento do seu despertar nas salas de ressurreição de mansônia, mas eles estavam neste mundo, nesse momento, por causa da necessidade aqui, da presença de Gabriel, relacionada com a ressurreição moroncial de Jesus.
Não obstante haver inúmeros indivíduos que, tendo guardiães seráficos pessoais e tendo atingido o nível requerido de progresso da personalidade espiritual, foram para mansônia durante as idades posteriores ao tempo de Adão e Eva e, ainda que tenha havido muitas ressurreições especiais e milenares dos filhos de Urântia, esta era a terceira lista de chamada planetária, ou seja, aquela que completava a lista de ressurreições dispensacionais. A primeira ocorreu na época da chegada do Príncipe Planetário; a segunda, durante a época de Adão; e esta, a terceira, que assinalava a ressurreição moroncial, o trânsito mortal, de Jesus de Nazaré.
Quando o sinal da ressurreição planetária foi recebido pelo dirigente dos arcanjos, o Ajustador Personalizado do Filho do Homem renunciou à sua autoridade sobre as hostes celestes reunidas em Urântia, transferindo todos esses filhos do universo local, de volta para as jurisdições dos seus respectivos comandantes.
E depois de fazer isso ele partiu para Salvington a fim de registrar com Emanuel o fim completo do trânsito mortal de Michael. E ele foi seguido imediatamente por toda a hoste celeste que não estava requisitada para servir em Urântia. Mas Gabriel permaneceu em Urântia com o Jesus moroncial.
E é esse o relato dos acontecimentos da ressurreição de Jesus, segundo foram vistos por aqueles que os presenciaram, como realmente ocorreram, livres das limitações da visão humana, parcial e restrita.
4. A DESCOBERTA DA TUMBA VAZIA
Nesse domingo de madrugada, tendo em vista que nos aproximávamos da hora da ressurreição de Jesus, deve ser relembrado que os dez apóstolos estavam hospedados na casa de Elias e Maria Marcos, onde estavam dormindo na sala de cima, descansando nos mesmos leitos em que se reclinaram no período da Última Ceia com o seu Mestre. Nesse domingo, pela manhã, eles estavam todos reunidos lá, exceto Tomé. Tendo estado com eles por uns poucos minutos, quando se reuniram no sábado até tarde da noite, era demais para Tomé ver os apóstolos e, mais ainda, suportar o pensamento do que tinha acontecido a Jesus. Ele deu uma olhada nos seus companheiros e imediatamente deixou a sala, indo para a casa de Simão, em Betfagé, onde contava poder afundar-se no abismo da sua tristeza a sós. Todos os apóstolos sofriam, nem tanto pela dúvida e desespero quanto pelo temor, a pena e a vergonha.
Na casa de Nicodemos reuniram-se, com Davi Zebedeu e José de Arimatéia, entre doze e quinze dos discípulos de Jesus, dos mais proeminentes de Jerusalém. Na casa de José de Arimatéia estavam entre quinze e vinte das principais mulheres crentes. E essas mulheres encontravam-se na casa de José, sozinhas, e, como elas tinham estado juntas durante as horas do dia de sábado e na noite seguinte, elas permaneciam sem saber da guarda militar de vigia no sepulcro; e tampouco sabiam que uma segunda pedra tinha sido rolada na frente da tumba; nem que ambas as pedras tinham sido colocadas sob o selo de Pilatos.
Um pouco antes das três horas nesse domingo de manhã, quando os primeiros sinais do dia começaram a surgir no lado leste, cinco daquelas mulheres partiram para a tumba de Jesus. Elas tinham preparado uma boa quantidade de loções balsâmicas especiais, e levavam consigo muitas bandagens de linho. O seu propósito era preparar melhor o corpo de Jesus, com os ungüentos fúnebres, envolvendo-o cuidadosamente com novas bandagens.
As mulheres que saíram para a missão de ungir o corpo de Jesus foram as seguintes: Maria Madalena, Maria, a mãe dos gêmeos Alfeus, Salomé, a mãe dos irmãos Zebedeus, Joana, a mulher de Cuza, e Susana, a filha de Ezra de Alexandria.
Eram cerca de três e meia quando as cinco mulheres, carregadas com os seus ungüentos, chegaram diante da tumba vazia. Enquanto passavam pelo portão de Damasco, elas encontraram inúmeros soldados correndo para a cidade, relativamente tomados de pânico, e isso as levou a parar por uns poucos minutos; mas, vendo que nada mais acontecia, retomaram a sua caminhada.
E ficaram muito surpresas ao ver a pedra rolada para fora da entrada do sepulcro pois até, enquanto estavam vindo, entre si, disseram: “Quem nos ajudará a rolar a pedra?” Então elas puseram a sua carga no chão e começaram a olhar, umas para as outras, temerosas e em grande espanto. Enquanto estavam ali de pé,
atônitas, tremendo de medo, Maria Madalena aventurou-se a contornar a pedra menor e ousou entrar no sepulcro aberto. Essa tumba de José ficava no seu jardim, nas colinas, do lado leste da estrada, e também dava face para o lado leste. A essa hora, apenas a luz da madrugada de um novo dia permitia a Maria ver o local onde o corpo do Mestre tinha sido colocado e discernir que ele não mais estava ali. No recesso da pedra, onde haviam deitado Jesus, Maria viu apenas o pano dobrado, em que a sua cabeça esteve repousando e as bandagens, com as quais tinha sido envolto, intactas e dispostas sobre a pedra, tal qual estiveram antes de as hostes celestes terem levado o corpo. O lençol que o cobria encontrava-se aos pés do nicho fúnebre.
Depois de permanecer na entrada da tumba por uns poucos momentos (ela não havia visto nada claramente, tão logo entrara na tumba), Maria viu que o corpo de Jesus não se encontrava lá e que no seu lugar estavam apenas alguns tecidos fúnebres, e ela soltou um grito de alarme e angústia. Todas a mulheres ficaram extremamente nervosas; tinham estado nos seus limites de tensão desde que encontraram os soldados em pânico na entrada da cidade e, quando Maria soltou o grito de angústia, elas ficaram aterrorizadas e saíram dali mais do que depressa. E não pararam até que tivessem corrido por todo o caminho, até o portão de Damasco. Nesse momento Joana deu por si, de que elas tinham abandonado Maria; e reuniu as suas companheiras e voltaram ao sepulcro.
À medida que se aproximaram do sepulcro, a amedrontada Madalena, que ficara ainda mais aterrorizada quando não encontrou suas irmãs esperando por ela, ao sair da tumba, agora corria para elas, exclamando agitadamente: “Ele não está lá – eles levaram-no embora!” E ela as conduziu de volta ao sepulcro, e todas entraram e viram que estava vazio.
Todas as cinco mulheres então se sentaram na pedra próxima da entrada para conversarem sobre a situação. Ainda não lhes havia ocorrido que Jesus tinha ressuscitado. Elas estiveram sozinhas todo o sábado, e conjecturaram que o corpo tivesse sido removido para outro local de descanso. Mas, quando elas refletiram sobre tal solução para o seu dilema, não conseguiram explicação para o fato de os tecidos funerais estarem tão arrumados; como poderia o corpo ter sido removido, já que as próprias bandagens nas quais estivera envolto tinham sido deixadas na mesma posição e aparentemente intactas na prateleira mortuária?
Enquanto essas mulheres estavam sentadas ali durante aqueles momentos da madrugada desse novo dia, elas viram a um canto um vulto estranho, calado e imóvel. Por um momento ficaram de novo amedrontadas, mas Maria Madalena, correndo até lá e dirigindo-se a ele como se fosse o jardineiro, disse: “Para onde tu levaste o Mestre? Onde o puseram? Dize-nos para que possamos ir lá buscá-lo”. Quando o estranho não respondeu a Maria, ela começou a chorar. Então Jesus falou a elas, dizendo: “A quem procurais?” Maria disse: “Procuramos por Jesus, que foi colocado para descansar na tumba de José, mas ele se foi. Sabes para onde o levaram?” Então Jesus disse: “E esse Jesus não vos disse, na Galiléia mesmo, que ele morreria, mas que ele se levantaria novamente?” Essas palavras assombraram as mulheres, mas o Mestre estava tão mudado que elas ainda não o reconheciam, de costas que estava para a escassa luz. E enquanto elas pesavam as suas palavras, ele dirigiu-se a Madalena com uma voz familiar, dizendo: “Maria”. E quando então ouviu essa palavra, dita com uma compaixão tão bem conhecida e em saudação afetuosa, ela soube que era a voz do Mestre, e correu para ajoelhar-se aos seus pés, ao mesmo tempo em que exclamava: “Meu Senhor, e meu Mestre!” E todas as outras mulheres reconheceram que era o Mestre que estava diante delas na forma glorificada, e elas depressa se ajoelharam diante dele.
Esses olhos humanos tornaram-se capazes de ver a forma moroncial de Jesus mediante a ministração especial dos transformadores e das criaturas intermediárias em conjunção com algumas das personalidades moronciais que então acompanhavam Jesus.
Quando Maria tentou abraçar os seus pés, Jesus disse: “Não me toques, Maria, pois eu não sou mais como tu me conheceste na carne. Nesta forma eu permanecerei convosco, por uma temporada, antes de ascender ao Pai. Mas agora ide, todas vós, e dizei aos meus apóstolos – e a Pedro – que eu ressuscitei, e que vós já falastes comigo”.
Após recuperarem-se do choque de um tal assombro, essas mulheres apressaram-se de volta à cidade e para a casa de Elias Marcos, onde contaram aos dez apóstolos tudo o que lhes tinha acontecido; mas os apóstolos não estavam inclinados a acreditar nelas. A princípio pensaram que as mulheres tinham tido uma visão, mas quando Maria Madalena repetiu as palavras com as quais Jesus tinha dirigido-se a elas, e quando Pedro ouviu o seu nome ser pronunciado, ele correu para fora da sala de cima, seguido por João, em grande pressa para chegar ao sepulcro e ver essas coisas por si próprio.
As mulheres repetiram a história daquela conversa com Jesus para os outros apóstolos, mas eles não acreditariam; e eles não iriam ver por si próprios, como o tinham feito Pedro e João.
5. PEDRO E JOÃO NA TUMBA
Enquanto os dois apóstolos corriam para o Gólgota até a tumba de José, os pensamentos de Pedro alternavam-se entre o medo e a esperança; ele temia encontrar o Mestre, mas a sua esperança era estimulada pela história de que Jesus tinha mandado uma palavra especial para ele. E ele achava-se quase persuadido de que Jesus estava realmente vivo; relembrou-se da sua promessa de que iria ressuscitar no terceiro dia. Por mais estranho que possa parecer, essa promessa não havia sido lembrada por Pedro, desde a crucificação até este momento, em que ele corria para o norte, atravessando Jerusalém. À medida que João apressadamente saía da cidade, um estranho êxtase feito de júbilo e de esperança inundava a sua alma. Ele estava quase convencido de que aquelas mulheres realmente viram o Mestre ressuscitado.
João, sendo mais jovem do que Pedro, ultrapassou-o e chegou primeiro à tumba. João permaneceu junto à entrada, olhando para dentro da tumba, que estava exatamente como Maria a havia descrito. Logo Simão Pedro chegou correndo e, entrando, viu a mesma tumba vazia com as mortalhas arrumadas de um modo peculiar. Quando Pedro saiu, João entrou e igualmente viu tudo por si próprio, e então eles sentaram-se na pedra para refletir sobre o que significava tudo o que eles haviam visto e ouvido. E enquanto estavam sentados lá, reviraram nas suas mentes por completo o que tinha sido dito a eles sobre Jesus, mas não conseguiam perceber claramente o que havia acontecido.
Pedro inicialmente sugeriu que a tumba tinha sido saqueada, que inimigos haviam roubado o corpo, talvez tivessem subornado os guardas. Mas João ponderou que a tumba não teria sido deixada tão arrumada se o corpo tivesse sido roubado, e também levantou a questão de como as bandagens foram deixadas para trás, e tão intactas aparentemente. E de novo ambos voltaram à tumba para examinar mais de perto as mortalhas. Quando saíam da tumba pela segunda vez, eles encontraram Maria Madalena que retornara e chorava diante da entrada. Maria tinha ido até os apóstolos acreditando que Jesus tinha levantado-se da cova, mas quando todos eles recusaram-se a acreditar no que ela contou, ficou deprimida e em desespero. Queria voltar para junto da tumba, onde ela pensou ter ouvido a voz familiar de Jesus.
Enquanto Maria permanecia ali, depois de Pedro e João terem ido embora, de novo o Mestre apareceu para ela, dizendo: “Não fiques em dúvida; tem a coragem de crer no que viste e ouviste. Volta aos meus apóstolos e de novo dize a eles que eu ressuscitei,
que eu aparecerei para eles e que logo irei ter com eles na Galiléia como prometi”.
Maria apressou-se a voltar à casa de Marcos e disse aos apóstolos que novamente havia ela conversado com Jesus, mas eles não acreditariam nela. E quando Pedro e João voltaram, eles pararam de ridicularizá-la e ficaram cheios de temor e de apreensão.
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