O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 146
A PRIMEIRA CAMPANHA DE PREGAÇÃO NA GALILÉIA
A primeira viagem de pregação pública pela Galiléia começou no domingo, 18 de janeiro, do ano 28 d.C., e continuou durante cerca de dois meses, terminando com o retorno a Cafarnaum, no dia 17 de março. Nessa campanha, Jesus e os doze apóstolos, ajudados pelos antigos apóstolos de João, pregaram o evangelho e batizaram os crentes em Rimon, Jotapata, Ramá, Zebulom, Iron, Giscala, Corazim, Madom, Caná, Naim, e En-dor. Nessas cidades, permaneceram e ensinaram; enquanto ao passar por muitas outras aldeias menores eles proclamaram o evangelho do Reino.
Essa foi a primeira vez que Jesus permitiu aos seus seguidores pregar sem restrição. Nessa viagem ele os advertiu em apenas três ocasiões; aconselhou-os a permanecer afastados de Nazaré e a ser discretos quando passassem por Cafarnaum e por Tiberíades. Foi uma fonte de grande satisfação para os apóstolos sentirem, afinal, que tinham liberdade para pregar e ensinar sem restrição, e todos se lançaram à obra de pregar o evangelho, ministrando aos doentes e batizando os crentes com grande seriedade e muita alegria.
1. PREGANDO EM RIMON
A pequena cidade de Rimon dedicou-se, certa vez, à adoração de um deus babilônico do ar, Raman. Muitos dos primeiros ensinamentos babilônicos e do zoroastrismo eram ainda abraçados pelas crenças dos rimonitanos; por isso Jesus e os vinte e quatro devotaram grande parte do seu tempo à tarefa de deixar evidente a diferença entre essas crenças mais antigas e o novo evangelho do Reino. Ali, Pedro fez um dos grandes sermões da sua carreira inicial, sobre “Aarão e o bezerro de ouro”.
Embora muitos dos cidadãos de Rimon tenham-se tornado crentes dos ensinamentos de Jesus, eles causaram grandes problemas para os seus irmãos em anos posteriores. É difícil, no curto tempo de uma única vida, converter adoradores da natureza à plena comunhão da adoração de um ideal espiritual.
Muitas das melhores idéias sobre a luz e as trevas, o bem e o mal, o tempo e a eternidade, dos babilônios e dos persas, foram incorporadas, mais tarde, às doutrinas do chamado cristianismo; e essa inclusão tornou os ensinamentos cristãos mais imediatamente aceitáveis aos povos do Oriente próximo. De um modo semelhante, a inclusão de muitas das teorias de Platão, sobre o espírito ideal ou sobre os arquétipos invisíveis de todas as coisas visíveis e materiais, mais tarde adaptadas por Filo para a teologia dos hebreus fez com que os ensinamentos cristãos de Paulo passassem a ser mais facilmente aceitos pelos gregos ocidentais.
Foi em Rimon que Todan ouviu, pela primeira vez, o evangelho do Reino e, mais tarde, levou essa mensagem à Mesopotâmia e mesmo até mais adiante. Ele estava entre os primeiros a pregar as boas-novas àqueles que residiam além do Eufrates.
2. EM JOTAPATA
Conquanto a gente comum de Jotapata tenha ouvido Jesus e os seus apóstolos com alegria e embora muitos tenham aceitado o evangelho do Reino, foi a palavra de Jesus aos vinte e quatro, na segunda noite da permanência deles nessa aldeia pequena, que deu personalidade à missão de Jotapata. Natanael estava com a mente confundida pelos ensinamentos do Mestre a respeito da prece, da ação de graças e da adoração; e, em resposta à sua pergunta, Jesus falou prolongadamente para melhor explicar o seu ensinamento. Resumido e colocado em uma linguagem moderna, esse discurso pode ser apresentado, enfatizando os seguintes pontos:
1. A atenção, que se dá à iniqüidade, consciente e persistentemente, dentro do coração do homem, destrói gradualmente a conexão, tecida pela prece, da alma humana com os circuitos espirituais de comunicação entre o homem e o seu Criador. Naturalmente que Deus ouve os pedidos dos seus filhos, mas, quando o coração humano, deliberada e persistentemente, abriga conceitos iníquos, isso leva gradualmente à perda da comunhão pessoal entre o filho da Terra e o seu Pai celeste.
2. A prece que é incompatível com as leis conhecidas e estabelecidas de Deus é uma abominação para as Deidades do Paraíso. Se o homem não ouve os Deuses quando eles falam da Sua criação dentro das leis do espírito, da mente e da matéria, o próprio ato de um desdém deliberado e consciente, da parte das criaturas, faz com que os ouvidos das personalidades espirituais deixem de escutar os pedidos pessoais desses mortais desobedientes e sem lei. Jesus citou, para os seus apóstolos, a passagem do profeta Zacarias: “Mas eles recusaram-se a ouvir e sacudiram os ombros e fecharam os ouvidos para não ouvir. Sim, eles endureceram como pedra os seus corações, para não ter que ouvir a Minha lei e as palavras que Eu enviei, pelo Meu espírito, por meio dos profetas; e portanto os resultados dos seus maus pensamentos caem como uma grande ira sobre as suas cabeças culpadas. E assim aconteceu que gritaram por misericórdia, mas não havia ouvido aberto para escutá-los”. E então Jesus citou o provérbio do homem sábio que disse: “Aquele que ensurdece seus ouvidos, para não ouvir a lei divina, até mesmo a sua prece será uma abominação”.
3. Ao abrir o lado humano, do canal de comunicação entre Deus e o homem, os mortais imediatamente disponibilizam o fluxo sempre constante da ministração divina às criaturas dos mundos. Quando o homem ouve o espírito de Deus falar dentro do coração humano, inerente a essa experiência é o fato de que Deus simultaneamente ouve a prece desse homem. O próprio perdão do pecado opera desse mesmo modo inequívoco. O Pai no céu já vos perdoou antes mesmo de terdes pensado em pedir o perdão a Ele, mas esse perdão só se torna disponível, à vossa experiência religiosa pessoal, no momento em que vós perdoardes os vossos semelhantes. O perdão de Deus não está de fato condicionado ao perdão que dais aos vossos semelhantes, mas é condicionado precisamente assim na experiência. E tal fato, da sincronia entre o perdão divino e o humano, foi, desse modo, reconhecido e incluído na prece que Jesus ensinou aos apóstolos.
4. Há uma lei básica de justiça, no universo, da qual a misericórdia é impotente para se desviar. Não é possível, a uma criatura completamente egoísta dos reinos do tempo e do espaço, receber as glórias não egoístas do Paraíso. Nem mesmo o amor infinito de Deus pode forçar a salvação, da sobrevivência eterna, de qualquer criatura mortal que escolhe não sobreviver. A misericórdia é concedida com uma grande amplidão, mas, afinal, há mandatos de justiça que, nem o amor, combinado com a misericórdia, pode efetivamente ab-rogar. E novamente Jesus citou as escrituras dos hebreus: “Eu chamei e vós vos recusastes a ouvir; eu estendi a minha mão, mas nenhum homem deu atenção. Vós reduzistes a nada todos os Meus conselhos e rejeitastes a Minha censura e, por causa dessa atitude rebelde, torna-se inevitável Me chamardes sem receber uma resposta. Tendo rejeitado o caminho da vida, vós podeis buscar por Mim com toda diligência nos vossos momentos de sofrimento, mas não ireis encontrar-Me”.
5. Aqueles que querem receber misericórdia devem demonstrar ter misericórdia; não julgueis para não serdes julgados. Com o mesmo espírito que julgardes os outros, vós também sereis julgados. A misericórdia não abole totalmente a justiça do universo. Ao final, a verdade seguinte ficará demonstrada: “Aquele que fecha os ouvidos ao grito do pobre, também ele algum dia clamará por ajuda, e ninguém o ouvirá”. A sinceridade de qualquer prece é a certeza de que será ouvida; a sabedoria espiritual e a consistência universal de qualquer pedido determinam o tempo, a maneira e o grau da resposta. Um pai sábio não responde literalmente aos pedidos tolos dos seus filhos ignorantes e inexperientes, não obstante as crianças possam sentir um grande prazer e uma satisfação real na alma, ao fazerem pedidos absurdos.
6. Quando vos tornardes inteiramente dedicados a fazer a vontade do Pai no céu, a resposta a todos os vossos pedidos será concedida porque as vossas preces estarão de pleno acordo com a vontade do Pai, e a vontade do Pai manifesta-se sempre em todo o seu vasto universo. Aquilo que o verdadeiro filho deseja e que é da vontade do Pai infinito, É. Uma prece feita desse modo não pode permanecer sem resposta, e possivelmente nenhuma outra espécie de pedido pode ser atendida integralmente.
7. O apelo do justo é o ato de fé do filho de Deus, que abre a porta das reservas de bondade, de verdade e de misericórdia do Pai; e essas boas dádivas têm, há muito, estado à espera da aproximação do filho, para que ele aproprie-se pessoalmente delas. A prece não muda a atitude divina para com o homem, mas muda a atitude do homem para com o imutável Pai. O motivo da prece é o que dá a ela o direito de acesso ao ouvido divino, não é a posição social, econômica ou religiosa, exterior, daquele que faz a prece.
8. A prece não deve ser empregada para evitar as demoras no tempo, nem para transcender as limitações do espaço. A prece não é algo como uma técnica destinada ao engrandecimento do eu, nem deve ser feita para conseguir vantagens injustas sobre o semelhante. Uma alma totalmente egoísta é incapaz de fazer uma prece, no sentido verdadeiro da palavra. Disse Jesus: “Que o vosso deleite supremo exista, segundo o caráter de Deus, e Ele certamente vos concederá os desejos sinceros do vosso coração”. “Comprometais o vosso caminho com o Senhor; confiai Nele, e Ele agirá”. “Pois o Senhor ouve o apelo do necessitado, e Ele considerará a prece dos desamparados”.
9. “Eu vim do Pai; e, portanto, se vós alguma vez estiverdes sem saber o que pedir ao Pai, pedi em meu nome e eu apresentarei o vosso pedido, de acordo com as vossas reais necessidades e desejos e de acordo com a vontade do meu Pai”. Protegei-vos contra o grande perigo de tornar-vos autocentrados nas vossas preces. Evitai orar demasiadamente para vós próprios; orai mais para o progresso espiritual dos vossos semelhantes. Evitai a prece materialista; orai em espírito e para a abundância das dádivas do espírito.
10. Quando orardes pelos doentes e afligidos, não espereis que os vossos pedidos ocupem o lugar das ministrações amorosas e inteligentes a serem dadas por vós às necessidades desses afligidos. Orai pelo bem-estar das vossas famílias, dos amigos e dos semelhantes, mas orai especialmente por aqueles que vos amaldiçoam, e fazei, com amor, pedidos por aqueles que vos perseguem. “Sobre quando orar, entretanto, disso eu nada digo. O espírito que reside em vós, só ele pode levar-vos a formular as preces que expressam as vossas relações internas com o Pai dos espíritos”.
11. Muitos recorrem à prece apenas quando estão em dificuldades. Essa prática é imprudente e enganosa. É bem verdade que fazeis bem em orar quando estiverdes atormentados, mas deveis também vos lembrar de falar ao Pai, enquanto filhos, mesmo quando tudo vai bem com a vossa alma. Que as vossas preces verdadeiras sejam sempre feitas em segredo. Que os homens não ouçam as vossas preces pessoais. As preces de ação de graças são apropriadas para os grupos de adoradores, mas a prece da alma é um assunto pessoal. Existe apenas uma forma de prece que é apropriada para todos os filhos de Deus, e esta é: “Apesar de tudo, seja feita a vossa vontade”.
12. Todos que acreditam nesse evangelho deveriam orar sinceramente para a expansão do Reino do céu. De todas as preces das escrituras dos hebreus, ele comentou com mais aprovação a prece do salmista: “Criai em mim um coração puro, ó Deus, e renovai em mim o meu espírito de retidão. Purgai-me de pecados secretos e mantende este vosso servo afastado de transgressões presunçosas”. Jesus comentou prolongadamente sobre a relação da prece com as palavras desleixadas e ofensivas, citando: “Colocai uma vigia, ó Senhor, na minha boca; tomai conta da porta dos meus lábios”. “A língua humana”, disse Jesus, “é um membro que poucos podem dominar, mas o espírito interior pode transformar esse membro desregrado em uma voz suave de tolerância e em um ministro inspirado de misericórdia”.
13. Jesus ensinou que a prece para chamar pelo guiamento divino, na trajetória da vida terrena, tem quase tanta importância quanto a prece que invoca o conhecimento da vontade do Pai. Na realidade isso significa uma prece para atingir-se a sabedoria divina. Jesus nunca ensinou que o conhecimento humano e as habilidades especiais poderiam ser conquistadas por meio da prece. Ele ensinou, contudo, que a prece é um fator na expansão da capacidade, que se tem de receber a presença do espírito divino. Quando Jesus ensinou aos seus agregados a orar em espírito e na verdade, ele explicou que se referia a orar com sinceridade e de acordo com o próprio esclarecimento, a orar de todo o coração de um modo inteligente, honesto e constante.
14. Jesus preveniu aos seus seguidores contra o pensamento de que as suas preces ficariam mais eficazes se feitas com repetições rebuscadas, e por meio de uma construção mais eloqüente da frase, do jejum, da penitência ou de sacrifícios. Mas exortou os seus crentes a empregar a prece como um meio para serem conduzidos, pelo agradecimento, à verdadeira adoração. Jesus deplorava que tão pouco do espírito da ação de agradecimento estivesse presente nas preces e na adoração dos seus seguidores. Ele citou as escrituras, nessa ocasião, dizendo: “É uma coisa boa agradecer ao Senhor e cantar louvores em nome do Altíssimo, em reconhecimento do seu amor e bondade a cada manhã, e todas as noites, à sua fidelidade, pois Deus me fez alegre por intermédio do seu trabalho. Em tudo e por tudo eu agradecerei de acordo com a vontade de Deus”.
15. E então Jesus disse: “Não sejais tão constantemente preocupados com as vossas necessidades comuns. Não fiqueis apreensivos a respeito dos problemas da vossa existência terrena, mas em todas essas coisas, pela oração e pela súplica, com o espírito de um agradecimento sincero, deixai as vossas necessidades expostas diante do vosso Pai que está no céu”. E então citou das escrituras: “Eu louvarei o nome de Deus com uma canção e O exaltarei com o meu agradecimento. E isso irá agradar ao Senhor, mais do que o sacrifício de um boi ou um touro com chifres e cascos”.
16. Jesus ensinou aos seus seguidores que, após fazerem as suas preces ao Pai, eles deveriam permanecer durante um momento em atitude de receptividade silenciosa para dar, ao espírito residente, uma oportunidade melhor de falar à alma atenta. O espírito do Pai fala melhor ao homem, quando a mente humana está em uma atitude de verdadeira adoração. Nós adoramos a Deus, graças à ajuda do espírito residente do Pai e à iluminação da mente humana, por meio da ministração da verdade. A adoração, como ensinada por Jesus, faz o adorador cada vez mais semelhante ao ser adorado. A adoração é uma experiência de transformação, por meio da qual o finito aproxima-se gradualmente para alcançar, em ultimidade, a presença do Infinito.
E Jesus falou aos seus apóstolos de muitas outras verdades sobre a comunhão do homem com Deus, mas não foram muitos os que puderam compreender plenamente o seu ensinamento.
3. A PARADA EM RAMÁ
Em Ramá, Jesus teve o debate memorável com um filosofo grego idoso, cujos ensinamentos mostravam que a ciência e a filosofia eram suficientes para satisfazer as necessidades da experiência humana. Com paciência e compaixão, Jesus ouviu esse educador grego reconhecer a verdade de muitas coisas que ele dissera; mas Jesus apontou, quando o filósofo terminou, na sua argumentação sobre a existência humana, que ele havia deixado de explicar “de onde, o porquê e para onde”, e acrescentou: “Onde vós terminais é que nós começamos. A religião é uma revelação à alma do homem, que lida com as realidades espirituais, que a mente em si não poderia jamais descobrir, nem sondar integralmente. Os esforços intelectuais podem revelar os fatos da vida, mas o evangelho do Reino desvela as verdades do ser. Vós abordastes as sombras materiais da verdade; será que podereis agora escutar o que eu tenho para falar-vos, sobre as realidades eternas e espirituais que projetam, em sombras temporais transitórias, os fatos materiais da existência mortal?” E, por mais de uma hora, Jesus ensinou a esse grego sobre as verdades salvadoras do evangelho do Reino. O velho filósofo foi sensível ao modo de abordagem adotado pelo Mestre, e sendo honesto, sincero e de coração aberto, ele rapidamente acreditou nesse evangelho da salvação.
Os apóstolos ficaram um pouco desconsertados com o modo franco com o qual Jesus aquiesceu quanto a muitas das proposições do grego, mas Jesus disse a eles, depois, em particular: “Meus filhos, não vos admireis de que eu tenha sido tolerante com a filosofia do grego. A certeza interior verdadeira e genuína não teme, nem um pouco, uma análise exterior; a verdade também não se ressente de nenhuma crítica honesta. Vós não deveríeis, nunca, esquecer-vos de que a intolerância é uma máscara a encobrir as dúvidas secretas, alimentadas quanto à verdade da própria crença. Nenhum homem é perturbado, em momento algum, pela atitude do seu semelhante quando tem uma confiança perfeita na verdade daquilo em que acredita, de todo o coração. A coragem é a confiança daqueles que têm uma honestidade a toda prova quanto às coisas que professam acreditar. Os homens sinceros são destemidos quanto a um exame crítico das suas verdadeiras convicções e dos seus ideais nobres”.
Na segunda noite em Ramá, Tomé fez a Jesus esta pergunta: “Mestre, como um novo crente dos seus ensinamentos pode saber realmente, e sentir-se seguro, sobre a verdade dessas boas-novas do Reino?”
E Jesus disse a Tomé: “A tua certeza de teres entrado na família do Reino do Pai e de que tu sobreviverás eternamente, com os filhos do Reino, é totalmente uma questão de experiência pessoal – de fé na palavra da verdade. A segurança espiritual equivale à tua experiência religiosa pessoal com as realidades eternas da verdade divina e é, por outro lado, igual ao teu entendimento inteligente das realidades da verdade, somadas à tua fé espiritual e diminuídas das tuas dúvidas sinceras.
“O Filho é naturalmente dotado com a vida do Pai. Tendo sido dotados com o espírito vivo do Pai, vós sois, portanto, filhos de Deus. Vós sobrevivereis depois da vossa vida no mundo material da carne, porque estais identificados com o espírito vivo do Pai, a dádiva da vida eterna. Muitos, de fato, tinham esta vida antes de eu ter vindo do Pai, e muitos mais têm recebido este espírito porque eles acreditaram na minha palavra; mas eu declaro que, quando eu voltar ao Pai, Ele enviará o Seu espírito aos corações de todos os homens.
“Ainda que não possais observar o espírito divino trabalhando nas vossas mentes, há um método prático para descobrir o nível em que conseguistes ter o controle dos poderes da vossa alma, sob o ensinamento e o guiamento desse espírito interior residente do Pai celeste: é a medida do amor pelo vosso semelhante. Esse espírito do Pai compartilha do amor do Pai e, à proporção que domina o homem, leva infalivelmente na direção da adoração divina e da consideração amorosa pelo semelhante. A princípio, vós acreditais que sois filhos de Deus, porque o meu ensinamento tornou-vos mais conscientes da condução interna da presença residente do Pai; mas em breve o Espírito da Verdade será vertido sobre toda a carne, e ele viverá entre os homens e ensinará a todos os homens, do mesmo modo que eu vivo agora entre vós e vos digo palavras da verdade. E este Espírito da Verdade, falando a todos os dons espirituais das vossas almas, ajudar-vos-á a saber que sois filhos de Deus. E ele dará o testemunho infalível, junto com a presença residente do Pai, o vosso espírito, que então residirá em todos os homens, como agora reside em alguns, dizendo-vos que sois na realidade os filhos de Deus.
“Todo filho terreno, que aceitar a condução desse espírito, conhecerá finalmente a vontade de Deus, e aquele que se entregar à vontade do meu Pai, viverá eternamente. O caminho da vida terrena até o estado eterno não vos foi claramente descrito. No entanto há um caminho, sempre houve, e eu vim para fazer dele um caminho novo e vivo. Aquele que entra no Reino tem já a vida eterna – não perecerá jamais. Mas vós compreendereis melhor uma grande parte de tudo isso quando eu tiver voltado para o Pai e quando vos tornardes capacitados para ver as vossas experiências em retrospecção.”
E todos aqueles que ouviram essas palavras abençoadas ficaram grandemente satisfeitos. Os ensinamentos judeus, a respeito da sobrevivência dos justos, tinham sido confusos e incertos; e foi reanimador e inspirador para os seguidores de Jesus ouvirem essas palavras, bastante precisas e positivas, de promessa sobre a sobrevivência eterna de todos os crentes verdadeiros.
Os apóstolos continuaram a pregar e a batizar os crentes e, ao mesmo tempo, mantiveram a prática de visitar de casa em casa, confortando os abatidos e ministrando aos doentes e afligidos. A organização apostólica estava expandida, pois cada um dos apóstolos de Jesus agora tinha um dos apóstolos de João como colaborador; Abner era o colaborador de André; e esse plano prevaleceu até que descessem a Jerusalém para a próxima Páscoa.
A instrução especial, dada por Jesus, durante a permanência deles em Zebulom, tinha a ver principalmente com as novas discussões sobre as obrigações recíprocas no Reino, e abrangia um ensinamento destinado a tornar claras as diferenças entre a experiência religiosa pessoal e as amizades e as obrigações religiosas sociais. Esta foi uma das poucas vezes em que o Mestre falou sobre os aspectos sociais da religião. Durante toda a sua vida terrena, Jesus deu pouquíssimas instruções aos seus seguidores a respeito da socialização da religião.
Em Zebulom, a população era de uma raça mista, meio judia e meio gentia, e poucos deles realmente acreditavam em Jesus, não obstante terem ouvido sobre as curas dos doentes em Cafarnaum.
4. O EVANGELHO EM IROM
Em Iron, como em muitas das aldeias menores da Galiléia e da Judéia, havia uma sinagoga e, durante os tempos iniciais das ministrações de Jesus, era costume dele falar nessas sinagogas, no dia de sábado. Algumas vezes, ele falava no serviço da manhã, e Pedro, ou um dos outros apóstolos, pregava na reunião da tarde. Jesus e os apóstolos freqüentemente também ensinavam e pregavam em assembléias noturnas, durante a semana, na sinagoga. Embora os líderes religiosos de Jerusalém, cada vez mais se opusessem a Jesus, eles não exerciam nenhum controle direto sobre as sinagogas de fora dessa cidade. Não foi senão mais tarde, durante a ministração pública de Jesus, que foram capazes de criar, de um modo tão abrangente, um sentimento contra ele a ponto de provocar o fechamento quase universal das sinagogas ao ensinamento dele. Nesta época, todas as sinagogas da Galiléia e da Judéia ainda estavam abertas para ele.
Iron era o local de muitas minas importantes para a época e, já que Jesus nunca tinha participado da vida dos mineiros, ele passou a maior parte do seu tempo nas minas, durante sua permanência em Iron. Enquanto os apóstolos visitavam as casas e pregavam nas praças públicas, Jesus labutava nas minas com esses trabalhadores subterrâneos. A fama das curas de Jesus tinha espalhado-se até essa aldeia remota, e muitos doentes e aflitos buscaram ajuda pelas suas mãos, e vários deles foram grandemente beneficiados pela sua ministração de cura. Mas, em nenhum desses casos, o Mestre efetuou um chamado milagre de cura, exceto no caso da lepra.
No final da tarde do terceiro dia em Iron, quando Jesus retornava das minas e dirigia-se ao seu alojamento, por acaso passou em uma estreita rua lateral. Quando se aproximou da cabana esquálida de um certo leproso, o homem afligido, tendo ouvido sobre a fama das suas curas, teve a coragem de abordá-lo, quando passou pela sua porta, e ajoelhado diante dele foi dizendo: “Senhor, se apenas quisesses, tu poderias limpar-me. Ouvi a mensagem dos teus instrutores, e gostaria de entrar no Reino, se eu pudesse ser purificado”. E o leproso falou desse modo porque, entre os judeus, os leprosos eram proibidos até mesmo de freqüentar a sinagoga ou aderir à adoração pública. Esse homem realmente acreditava que não poderia ser recebido no Reino vindouro, a menos que pudesse encontrar a cura para a sua lepra. E Jesus viu a aflição dele, ouviu aquelas palavras de fé aferrada e o seu coração humano foi tocado e a mente divina foi movida pela compaixão. E, quando Jesus pousou seus olhos sobre ele, o homem caiu com o rosto no chão em adoração. Então, o Mestre estendeu a sua mão e, tocando-o, disse: “Sim, eu quero – sê purificado”. E, imediatamente, ele foi curado; a lepra não mais o afligia.
Jesus colocou o homem de pé, e ordenou-lhe: “Toma cuidado para não dizer a nenhum homem sobre a tua cura, vá cuidar em silêncio das tuas coisas, mostra-te ao sacerdote e ofereça os sacrifícios como foram mandados por Moisés, como testemunho da tua purificação”. Mas esse homem não fez como Jesus havia instruído que ele fizesse. Em vez disso, começou a tornar público, para todos na cidade, que Jesus tinha curado a sua lepra e, como ele era conhecido de todos na aldeia, o povo podia ver claramente que ele havia sido curado da sua doença. E ele não foi aos sacerdotes,como Jesus havia aconselhado que fizesse. Por conseqüência de ter tornado pública a nova de que Jesus o havia curado, o Mestre foi tão atropelado pelos doentes que se viu forçado a levantar-se cedo, no dia seguinte, e deixar a aldeia. Embora Jesus não tenha entrado de novo na aldeia, ele permaneceu dois dias nos seus arredores, perto das minas, continuando a instruir os mineiros crentes a respeito do evangelho do Reino.
Essa cura do leproso foi o primeiro, assim chamado, milagre feito de modo intencional e deliberado por Jesus, até esse momento. E era esse um caso verdadeiro de lepra.
De Iron, eles foram para Giscala, proclamando o evangelho durante dois dias e então partiram para Corazim, onde passaram quase uma semana pregando as boas-novas. Em Corazim, contudo, eles não puderam conquistar muitos crentes para o Reino. Em nenhum outro lugar onde ensinara Jesus tinha encontrado uma rejeição tão geral à sua mensagem. A permanência em Corazim foi muito deprimente para a maioria dos apóstolos; e André e Abner tiveram muita dificuldade em manter a coragem dos seus condiscípulos. E então, passando tranqüilamente por Cafarnaum, eles foram para a aldeia de Madom, onde tiveram um pouco mais de êxito. Nas mentes da maioria dos apóstolos, prevaleceu a idéia de que o pouco êxito obtido nas cidades visitadas mais recentemente era devido à insistência de Jesus para que eles se abstivessem, nos seus ensinamentos e pregações, de referir-se a ele como um curador. Como eles almejavam que Jesus purificasse um outro leproso ou que, de algum outro modo, manifestasse ele o seu poder para atrair a atenção do povo! Mas o Mestre permaneceu impassível ante seus pedidos fervorosos.
5. DE VOLTA A CANÁ
O grupo apostólico ficou bastante contente quando Jesus anunciou: “Amanhã vamos a Caná”. Eles todos sabiam que teriam uma audiência simpática em Caná, pois Jesus era bem conhecido lá. Eles estavam indo bem, no seu trabalho de atrair o povo para o Reino quando, ao terceiro dia, Tito, um cidadão proeminente de Cafarnaum, chegou em Caná; ele era apenas meio crente, e o seu filho estava seriamente doente. Ao tomar conhecimento de que Jesus estava em Caná, ele apressou-se a ir até lá para vê-lo. Em Cafarnaum, todos os fiéis pensavam que Jesus podia curar qualquer doença.
Quando esse nobre localizou Jesus em Caná, suplicou-lhe que se apressasse para ir até Cafarnaum a fim de curar o seu filho doente. Enquanto os apóstolos aguardavam com a respiração presa na expectativa, Jesus, olhando para o pai do menino doente, disse: “Por quanto tempo serei tolerante convosco? O poder de Deus está no meio de vós, mas, a menos que possais ver os sinais e presenciar prodígios, vos recusais a acreditar”. Todavia, o nobre implorou a Jesus, dizendo: “Meu Senhor, eu creio, mas venha antes que o meu filho faleça, pois quando eu o deixei ele já estava a ponto de morrer”. E depois de ter abaixado a cabeça, por um momento, em uma meditação silenciosa, Jesus subitamente falou: “Retorna à tua casa; o teu filho viverá”. Tito acreditou na palavra de Jesus e apressou-se a voltar para Cafarnaum. Ao retornar, os seus servos saíram para encontrá-lo, dizendo: “Rejubila-te, pois o teu filho melhorou – ele vive”. Então Tito perguntou a eles sobre a hora em que o menino começara a melhorar e, quando os servos responderam: “Ontem por volta das sete horas a febre o deixou”. E o pai lembrou-se de que tinha sido por volta dessa hora que Jesus dissera: “O teu filho viverá”. E a partir daí Tito acreditou, de coração, e toda a sua família também acreditou. Esse filho tornou-se um poderoso ministro do Reino e, mais tarde, sacrificou a sua vida junto com aqueles que padeceram em Roma. Embora toda a criadagem de Tito, os seus amigos, e até mesmo os apóstolos considerassem esse episódio como um milagre, na verdade não o foi. Pelo menos não foi um milagre de cura de doença física. Foi apenas um caso de pré-ciência a respeito do curso da lei natural, exatamente aquele conhecimento ao qual Jesus freqüentemente recorreu, depois do seu batismo.
E novamente Jesus foi obrigado a apressar-se para sair de Caná, por causa da atenção indevidamente atraída pelo segundo episódio dessa espécie, que acontecia à sua ministração nessa aldeia. Os habitantes da aldeia lembraram-se da água e do vinho e, agora que se supunha que ele tinha curado o filho do nobre, a uma distância tão grande, vinham até ele, não apenas trazendo os doentes e aflitos, mas, também, enviando mensageiros com a solicitação de que ele curasse sofredores à distância. E quando Jesus percebeu que toda a região estava mobilizada, ele disse: “Vamos para Naim”.
6. NAIM E O FILHO DA VIÚVA
Nos sinais, essa gente acreditava; eram pessoas de uma geração à espera de prodígios. Nessa altura dos acontecimentos, os habitantes do centro e do sul da Galiléia tinham a mente voltada sempre para os milagres quando pensavam em Jesus e na ministração pessoal dele. Dezenas, centenas de pessoas sinceras, que sofriam de desordens puramente nervosas, e aflitos, com distúrbios emocionais, vinham à presença de Jesus e então voltavam para as suas casas anunciando aos seus amigos que Jesus as tinha curado. E esse povo ignorante e de mente simples considerava esses casos de cura mental como sendo de curas físicas miraculosas.
Quando Jesus tentou deixar Caná e ir para Naim, uma multidão grande de crentes e curiosos o seguiu. Eles estavam inclinados a ver milagres e prodígios, e não se deixariam decepcionar. Quando Jesus e os seus apóstolos aproximaram-se do portão da cidade, depararam-se com o cortejo de um funeral, a caminho de um cemitério vizinho dali, levando o único filho de uma mãe viúva de Naim. Essa mulher era muito respeitada; e metade da aldeia seguia os que carregavam o esquife desse rapaz, que se supunha estar morto. Quando o funeral passou por Jesus e os seus seguidores, a viúva e os seus amigos, reconhecendo o Mestre, suplicaram que ele trouxesse o filho dela de volta à vida. A expectativa, que tinham, de milagres havia sido elevada até um ponto tão alto que eles imaginavam Jesus como alguém capaz de curar qualquer doença humana. E por que esse curador não poderia até mesmo ressuscitar os mortos? Jesus, assim importunado, deu um passo adiante e, levantando o tampo do esquife, examinou o rapaz. Descobrindo que o moço não estava realmente morto, ele percebeu a tragédia que a sua presença podia evitar; assim, voltando-se para a mãe, Jesus disse: “Não chores. O teu filho não está morto; ele dorme. E te será devolvido”. E então, tomando o jovem pela mão, ele disse: “Acorda e levanta”. E o jovem, que se supunha estar morto, logo se assentou e começou a falar, e Jesus os mandou de volta para as suas casas.
Jesus empenhou-se em acalmar a multidão e tentou, em vão, explicar que o jovem não estava morto realmente, que ele não o tinha trazido de volta da morte, mas foi inútil. A multidão que o seguia, e toda a aldeia de Naim, foi levada ao ponto alto de um frenesi emocional. Muitos foram tomados pelo medo, outros pelo pânico, enquanto outros ainda caíram em prece e nas lamentações dos próprios pecados. E só muito depois do cair da noite é que a multidão clamorosa pôde ser dispersada. E, claro está, não obstante a afirmação feita por Jesus de que o rapaz não estava morto, todos insistiam que um milagre tinha acontecido. Que até mesmo um morto tinha sido ressuscitado. Embora Jesus tivesse dito a eles que o rapaz estava meramente em um sono profundo, eles justificaram-se dizendo ser este o seu modo de falar, chamando a atenção para o fato de que Jesus, sempre na sua grande modéstia, tentava esconder os próprios milagres. E assim, por toda a Galiléia e pela Judéia, espalhou-se a nova de que Jesus tinha ressuscitado dos mortos o filho da viúva, e muitos que ouviram esse relato acreditaram nele. Jesus nunca foi capaz de fazer nem mesmo com que os seus apóstolos compreendessem inteiramente que o filho da viúva não estava realmente morto quando ele o havia convocado a acordar e levantar-se. Todavia, ele os convenceu, o suficiente para que o episódio ficasse suprimido de todos os registros subseqüentes, exceto do de Lucas, que o registrou como o episódio lhe tinha sido contado. E, de novo, Jesus foi tão assediado como médico que partiu bem cedo no dia seguinte para En-dor.
7. EM EN-DOR
Em En-dor Jesus escapou, por uns poucos dias, do clamor das multidões em busca de curas físicas. Durante a permanência deles, nesse lugar, o Mestre narrou novamente, para instruir os apóstolos, a história do rei Saul e da bruxa de En-dor. Jesus disse claramente aos seus apóstolos que os seres intermediários extraviados e rebeldes, que tantas vezes tinham personificado os supostos espíritos dos mortos, seriam em breve colocados sob controle, de tal modo que não mais pudessem fazer essas coisas estranhas. Ele disse aos seus seguidores que, depois que ele voltasse para o Pai, e depois que o Pai e ele tivessem vertido o espírito Deles sobre toda a carne, esses seres semi-espirituais – os considerados espíritos impuros – não mais poderiam possuir os mortais de inteligência mais débil ou de mente perversa.
Jesus explicou ainda, aos seus apóstolos, que os espíritos de seres humanos já mortos não retornam ao mundo da sua origem, para comunicar-se com os seus semelhantes vivos. Apenas depois de ter passado uma era dispensacional é que seria possível ao espírito, em avanço, do homem mortal, retornar à Terra e, ainda assim, só em casos excepcionais e como parte da administração espiritual do planeta.
Após dois dias de repouso, Jesus disse aos seus apóstolos: “Retornemos amanhã a Cafarnaum para ficarmos lá e ensinarmos, enquanto o interior do país se acalma. Nas casas deles, passado esse tempo, todos ficarão recuperados desse tipo de agitação”.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 42
ENERGIA – MENTE E MATÉRIA
A fundação do universo é material, no sentido em que a energia é a base de toda a existência; e a energia pura é controlada
pelo Pai Universal. A força, a energia, é a coisa que permanece como um monumento perpétuo, demonstrando e provando a
existência e a presença do Absoluto Universal. Essa imensa corrente de energia, que provém das Presenças do Paraíso, nunca
faltou, nunca falhou; nunca houve nenhuma interrupção na sustentação infinita.
A manipulação da energia do universo dá-se sempre de acordo com a vontade pessoal e com os mandatos plenamente sábios do Pai
Universal. Esse controle pessoal do poder manifestado, e da energia circulante, é modificado pelos atos coordenados e pelas
decisões do Filho Eterno, bem como pelos propósitos unidos do Filho e do Pai, executados pelo Agente Conjunto. Esses seres
divinos atuam pessoalmente, e como indivíduos; e, funcionam, também, na pessoa e nos poderes de um número quase ilimitado de
subordinados, cada um diferentemente expressivo do propósito eterno e divino no universo dos universos. Mas essas
modificações, ou transmutações funcionais e provisionais do poder divino, de nenhum modo reduzem a verdade da afirmação de
que toda a energia-força está sob o controle último de um Deus pessoal, residente no centro de todas as coisas.
1. ENERGIAS E FORÇAS DO PARAÍSO
A base do universo é material, mas a essência da vida é espírito. O Pai dos espíritos é também o ancestral dos universos; o
Pai eterno do Filho Original é também a fonte-eternidade do modelo original, a Ilha do Paraíso.
A matéria – ou a energia, pois ambas não são senão manifestações diversas da mesma realidade cósmica, como fenômenos no
universo – é inerente ao Pai Universal. “Nele consistem todas as coisas.” A matéria pode surgir para manifestar a energia
inerente e para exibir os poderes autocontidos, mas as linhas da gravidade envolvidas nas energias ligadas a todos esses
fenômenos físicos derivam-se e dependem do Paraíso. O ultímatom, a primeira forma mensurável de energia, tem o Paraíso como o
seu núcleo.
Há, inata na matéria e presente no espaço universal, uma forma de energia não conhecida em Urântia. Quando essa descoberta
for finalmente feita, então os físicos irão sentir que terão solucionado, ou pelo menos quase, os mistérios da matéria. E
assim terão dado mais um passo no sentido de se aproximar do Criador; e dominado mais uma fase da técnica divina; mas de modo
nenhum eles terão encontrado a Deus, nem terão desvendado o conhecimento da existência da matéria, nem a operação das leis
naturais, separadamente da técnica cósmica do Paraíso, nem o propósito motivador do Pai Universal.
Depois de um progresso ainda maior e de novas descobertas, depois que Urântia houver avançado incomensuravelmente em relação
aos conhecimentos atuais e, ainda que vós pudésseis alcançar o controle das rotações energéticas das unidades elétricas da
matéria, a ponto de conseguir modificar as suas manifestações físicas – mesmo depois de todo esse progresso possível, os
cientistas permanecerão, indefinidamente, impotentes para criar sequer um átomo de matéria, ou gerar um raio de energia e,
menos ainda, para outorgar à matéria aquilo a que chamamos de vida.
A criação da energia e a dádiva da vida são prerrogativas do Pai Universal e das personalidades Criadoras, coligadas a Ele. O
rio da energia e da vida é uma efusão contínua vinda das Deidades, uma corrente universal e unida de força do Paraíso,
irradiando-se por todo o espaço. Essa energia divina penetra toda a criação. Os organizadores da força iniciam essas mudanças
e instituem as modificações da força-espaço, que se manifestam no evento da energia; os diretores de potência transmutam
energia em matéria; assim nascem os mundos materiais. Os Portadores da Vida iniciam, na matéria morta, aqueles processos aos
quais chamamos vida, vida material. Os Supervisores do Poder Moroncial atuam do mesmo modo nos reinos da transição entre o
mundo material e o espiritual. Os Criadores espirituais superiores inauguram processos semelhantes nas formas divinas de
energia, que resultam em formas mais elevadas de espíritos de vida inteligente.
A energia provém do Paraíso, formada segundo a ordem divina. A energia – a energia pura – compartilha da natureza da
organização divina; é formada segundo a semelhança dos três Deuses abraçados em um só, como eles funcionam na sede central do
universo dos universos. E toda a força é circuitada ao Paraíso; vem das Presenças do Paraíso e para lá retorna e, em
essência, é uma manifestação da Causa não causada – o Pai Universal – ; e, sem o Pai, nada do que existe existiria.
A força derivada da Deidade, existente em Si, é, por si própria, eternamente existente. A energia-força é imperecível,
indestrutível; essas manifestações do Infinito podem estar sujeitas à transmutação ilimitada, à transformação sem fim e à
metamorfose eterna; mas em nenhum sentido ou grau, nem mesmo na menor proporção imaginável, poderiam ou deveriam elas sofrer
extinção. Mas a energia, ainda que emergindo do Infinito, não se manifesta de forma infinita; há limites externos para o
universo-mestre, como ele é atualmente concebido.
A energia é eterna, mas não infinita; e responde sempre à gravidade todo-abrangente da Infinitude. A força e a energia
continuam eternamente; uma vez que tenham saído do Paraíso, devem retornar para lá, ainda que idades e mais idades sejam
necessárias para completar o circuito ordenado. Aquilo que tem a sua origem na Deidade do Paraíso só pode ter como destino o
Paraíso, ou alguma Deidade.
E tudo isso confirma a nossa crença em um universo dos universos circular, um pouco limitado, mas ordenado e imenso. Não fora
isso verdade, então a evidência do esgotamento da energia em algum ponto, mais cedo ou mais tarde, iria aparecer. Todas as
leis, as organizações, a administração e o testemunho dos exploradores do universo – tudo aponta para a existência de um Deus
infinito e, ainda assim, para um universo finito, de uma circularidade de existência sem fim, quase sem limites, todavia
finito, em contraste com a infinitude.
2. SISTEMAS UNIVERSAIS DE ENERGIA NÃO ESPIRITUAL
De fato, é difícil encontrar as palavras adequadas, em qualquer língua de Urântia, por meio das quais designar e, portanto,
descrever os vários níveis de força e de energia – física, mental ou espiritual. Essas narrativas não podem, de todo, ater-se
às vossas definições de força, de energia, de poder e de potência. Há tanta pobreza, nessa linguagem, que devemos usar tais
termos com múltiplos significados. Neste documento, por exemplo, a palavra energia é usada para denotar todas as fases e
formas de fenômenos de movimento, de ação e de potencial, enquanto força é usada para indicar os estágios da energia na
pré-gravidade; e poder e potência, para os estágios da energia na pós-gravidade.
Contudo, tentarei minimizar a confusão conceptual, sugerindo a prudência recomendável de adotar a seguinte classificação para
a força cósmica, para a energia emergente e para o poder-físico da energia do universo – a energia física:
1. Potência de espaço. Essa é a presença inquestionável, no espaço livre, do Absoluto Inqualificável. A extensão desse
conceito denota o potencial de espaço-força do universo, inerente à totalidade funcional do Absoluto Inqualificável, enquanto
a intenção desse conceito implica a totalidade da realidade cósmica – os universos – que emanou de modo eterno da Ilha do
Paraíso, que é sem começo, sem fim, que nunca se move e que nunca muda.
Os fenômenos específicos da parte inferior do Paraíso provavelmente abrangem três zonas de presença e de atuação da força
absoluta: a zona de ponto de apoio fulcral do Absoluto Inqualificável, a zona da própria Ilha do Paraíso e a zona
intermediária de algumas agências ou funções não identificadas, que se equalizam e se compensam. Essas zonas triconcêntricas
são o centro do ciclo da realidade cósmica do Paraíso.
A potência do espaço é uma pré-realidade; é o domínio do Absoluto Inqualificável e é sensível apenas à atração pessoal do Pai
Universal, não obstante o fato de ela ser aparentemente modificável pela presença dos Mestres Organizadores Primários da
Força.
Em Uversa, faz-se referência à potência do espaço como ABSOLUTA.
2. Força primordial. Esta representa a primeira mudança básica na potência do espaço e pode ser uma das funções, no baixo
Paraíso, do Absoluto Inqualificável. Sabemos que a presença do espaço que sai do baixo Paraíso é modificada, de alguma
maneira, em relação àquela que está entrando. Independentemente, porém, de qualquer dessas possíveis relações, a
transmutação, abertamente reconhecida, da potência do espaço em força primordial é uma função diferencial primária da
presença-tensão dos organizadores da força viva do Paraíso.
A força passiva e potencial torna-se ativa e primordial em resposta à resistência oferecida pela presença, no espaço, dos
Mestres Organizadores da Força Primariamente Derivantes. A força está emergindo agora, do domínio exclusivo do Absoluto
Inqualificável para os domínios de sensibilidade múltipla – em resposta a alguns movimentos primordiais iniciados pelo Deus
da Ação e em seguida a certos movimentos de compensação que emanam do Absoluto Universal. A força primordial parece reagir à
causação transcendental em uma medida proporcional ao absoluto.
A força primordial, algumas vezes, é denominada energia pura; em Uversa referimo-nos a ela como SEGREGATA.
3. Energias emergentes. A presença passiva dos organizadores da força primária é suficiente para transformar a potência do
espaço em força primordial e é nesse campo espacial, assim ativado, que esses mesmos organizadores da força começam as suas
operações iniciais e ativas. A força primordial está destinada a passar por duas fases distintas de transmutação, nos reinos
da manifestação da energia, antes de surgir como uma força no universo. Esses dois níveis de energia emergente são:
a. Energia de potência. Essa é a energia poderosa-direcional, movimentadora de massa, poderosamente tensionada e de reações
violentas – com sistemas gigantescos de energia, colocados em movimento pelas atividades dos organizadores da força primária.
Essa energia primária, ou poderosa, não é sensível, inicialmente, de modo definido, à atração da gravidade do Paraíso; se bem
que provavelmente produza uma massa agregada, ou uma sensibilidade espaço-direcional ao grupo coletivo de influências
absolutas que operam a partir do lado baixo do Paraíso. Quando a energia emerge até o nível inicial de sensibilidade à
atração circular e absoluta da gravidade do Paraíso, os organizadores da força primária cedem o seu lugar para o
funcionamento dos seus colaboradores secundários.
b. Energia de gravidade. A energia que agora surge é sensível à gravidade, carrega o potencial do poder do universo e
transforma-se no ancestral ativo de toda a matéria do universo. Essa energia secundária ou gravitacional é o produto da
elaboração da energia, resultante da presença-pressão e das tendências-tensões, estabelecidas pelos Mestres Organizadores
Associados Transcendentais da Força. Em resposta ao trabalho desses manipuladores da força, a energia-espaço passa
rapidamente do estágio de potência ao estado gravitacional, tornando-se assim sensível, diretamente, à atração da gravidade
(absoluta) circular do Paraíso que, ao mesmo tempo revela um certo potencial de sensibilidade à atração da gravidade linear,
inerente à massa material, que logo surge dos estágios eletrônicos e pós-eletrônicos da energia e da matéria. Com o
aparecimento da sensibilidade à gravidade, os Mestres Organizadores Associados da Força podem retirar-se da energia dos
ciclones de espaço, contanto que os Diretores do Poder do Universo estejam designados para esse campo de ação.
Estamos totalmente incertos a respeito das causas exatas dos estágios primordiais da evolução da força, mas reconhecemos a
ação inteligente do Último, em ambos os níveis de manifestação emergente da energia. As energias potentes e gravitacionais,
quando observadas coletivamente, são chamadas ULTIMATA, em Uversa.
4. Poder universal. A força-espaço foi transformada em energia de espaço e, em seguida, na energia de controle da gravidade.
Assim, a energia física amadureceu até aquele ponto em que pode ser dirigida em canais de poder e servir aos propósitos
múltiplos dos Criadores do universo. Esse trabalho é feito pelos versáteis diretores, centros e controladores da energia
física no grande universo – as criações habitadas e organizadas. Esses Diretores do Poder, no Universo, assumem o controle
mais ou menos completo de vinte e uma das trinta fases da energia que constituem o presente sistema de energia dos sete
superuniversos. Esse domínio da energia-poder da matéria é o âmbito das atividades inteligentes do Sétuplo, funcionando sob o
controle tempo-espacial do Supremo.
Em Uversa, referimo-nos ao reino do poder no universo como GRAVITA.
5. Energia de Havona. Os conceitos, nesta narrativa, deslocaram-se no sentido do Paraíso, à medida que a força-espaço
transmutante foi seguida, nível a nível, até o nível de trabalhabilidade do poder-energia dos universos do tempo e do espaço.
Continuando, no sentido do Paraíso, encontra-se em seguida uma fase preexistente de energia que é característica do universo
central. Aqui o ciclo evolucionário parece voltar-se sobre si mesmo; o poder-energia agora parece começar a reverter-se na
direção da força, mas uma força de natureza muito diferente daquela da potência do espaço e da força primordial. Os sistemas
de energia de Havona não são duais; eles são trinos. É esse o domínio da energia existencial do Agente Conjunto, funcionando
em nome da Trindade do Paraíso.
Essas energias de Havona são conhecidas em Uversa como TRIATA.
6. Energia transcendental. Este sistema de energia opera no nível superior e vem de um nível superior do Paraíso, existindo
apenas em relação aos povos absonitos. Em Uversa é denominada TRANOSTA.
7. Monota. Quando a energia vem do Paraíso, ela está próxima da divindade. Inclinamo-nos a acreditar que a monota é a energia
viva, não espiritual, do Paraíso – uma contraparte, na eternidade, da energia viva e espiritual do Filho Original –, sendo
portanto o sistema de energia não espiritual do Pai Universal.
Não conseguimos diferençar a natureza do espírito do Paraíso e a da monota do Paraíso; são aparentemente semelhantes. Têm
nomes diferentes, mas dificilmente vos será dito muito a respeito de uma realidade cujas manifestações espirituais e
não-espirituais sejam diferenciáveis apenas por um nome.
Sabemos que as criaturas finitas podem alcançar a experiência da adoração do Pai Universal, por intermédio da ministração de
Deus, o Sétuplo, e dos Ajustadores do Pensamento, mas duvidamos de que qualquer personalidade subabsoluta e, até mesmo, os
diretores de potência possam compreender a infinitude da energia da Primeira Grande Fonte e Centro. Uma coisa é certa: os
diretores de potência podem ser conhecedores da técnica da metamorfose da força-espaço, mas eles não revelam o segredo para o
resto de nós. A minha opinião é de que eles não compreendem plenamente a função dos organizadores da força.
Esses diretores de potência são, eles próprios, catalisadores da energia; isto é, a presença deles é a causa pela qual a
energia segmenta-se, organiza-se ou reúne-se em formação por unidades. E tudo isso implica que deve haver algo inerente à
energia, na presença dessas entidades do poder, que a leva a funcionar assim,. Os Melquisedeques de Nebadon há muito
denominaram o fenômeno da transmutação da força cósmica em poder, no universo, como uma das sete “infinidades da divindade”.
E é até esse ponto que vós ireis avançar nessa questão durante a vossa ascensão no universo local.
Não obstante sejamos incapazes de compreender plenamente a origem, a natureza e as transmutações da força cósmica, estamos
inteiramente atualizados sobre todas as fases do comportamento da energia emergente, desde os tempos da sua sensibilidade
direta e inequívoca à ação da gravidade do Paraíso – por volta do tempo do início da função dos diretores de potência do
superuniverso.
3. CLASSIFICAÇÃO DA MATÉRIA
Em todos os universos a matéria é idêntica, com exceção do universo central. A matéria, para ter as suas propriedades
físicas, depende da velocidade de rotação dos membros componentes seus, depende do número e do tamanho dos componentes que
giram, depende da sua distância ao corpo do núcleo ou do conteúdo de espaço da matéria, bem como da presença de certas forças
ainda não descobertas em Urântia.
Há dez grandes divisões da matéria, nos diferentes sóis, planetas e corpos espaciais:
1. A matéria ultimatômica – as unidades físicas primordiais da existência material, as partículas de energia que compõem os
elétrons.
2. A matéria subeletrônica – o estágio explosivo e repelente dos supergases solares.
3. A matéria eletrônica – o estágio elétrico da diferenciação material – elétrons, prótons e várias outras unidades que
entram na constituição variada dos grupos eletrônicos.
4. A matéria subatômica – a matéria que existe amplamente no interior dos sóis abrasantes.
5. Os átomos fragmentados – encontrados nos sóis em fase de resfriamento e em todo o espaço.
6. A matéria ionizada – os átomos individuais, desprovidos dos seus elétrons externos (quimicamente ativos) por meio de
atividades elétricas, térmicas ou de raios X, e por solventes.
7. A matéria atômica – o estágio químico da organização dos elementos, as unidades componentes da matéria molecular ou
visível.
8. O estágio molecular da matéria – a matéria, como ela existe em Urântia, em um estado de materialização relativamente
estável, sob condições comuns.
9. A matéria radioativa – a tendência desorganizadora e a atividade dos elementos mais pesados, sob condições de aquecimento
moderado e de pressão gravitacional menor.
10. A matéria em colapso – a matéria relativamente estável, encontrada no interior de sóis frios ou mortos. Essa forma de
matéria não é de fato estacionária; há ainda alguma atividade ultimatômica e mesmo eletrônica, mas ali as unidades estão em
grande proximidade, e as suas velocidades de rotação encontram-se grandemente diminuídas.
Essa classificação da matéria diz respeito mais à sua organização do que às formas sob as quais aparecem para os seres
criados. E também não leva em conta os estágios pré-emergentes da energia, nem as eternas materializações no Paraíso e no
universo central.
4. ENERGIA E TRANSMUTAÇÕES DA MATÉRIA
A luz, o calor, a eletricidade, o magnetismo, a química, a energia e a matéria são – em origem, natureza e destino – uma
única e mesma coisa, junto com outras realidades materiais ainda não descobertas em Urântia.
Nós não compreendemos plenamente as mudanças quase infindáveis, às quais a energia física pode estar sujeita. Num universo,
ela aparece como luz, em um outro, como luz mais calor, noutro, como formas de energia desconhecidas em Urântia; em
incalculáveis milhões de anos, pode reaparecer como alguma forma de energia elétrica irrequieta, alguma energia elétrica ou
poder magnético incontido; e, ainda mais tarde, pode aparecer novamente, em um outro universo, como alguma forma de matéria
variável, passando por uma série de metamorfoses, e, em seguida, ter o seu desaparecimento exterior físico nalgum grande
cataclismo dos reinos. E então, após idades incontáveis e após vagar quase interminavelmente por inúmeros universos, de novo,
essa mesma energia pode reemergir e, muitas vezes, alterar a sua forma e potencial; e, assim, continuam essas transformações
por idades sucessivas e por incontáveis reinos. Assim a matéria continua o seu fluxo, passando por transmutações no tempo,
mas alinhando-se sempre, verdadeiramente, ao círculo da eternidade; e, ainda que há muito impedida de retornar à sua fonte, é
sempre sensível a essa fonte e prossegue interminavelmente no caminho ordenado pela Personalidade Infinita que a emitiu.Os centros de potência e os seus colaboradores estão ocupados com o trabalho de transmutar o ultímatom nos circuitos e nas
revoluções dos elétrons. Esses seres únicos controlam e compõem o poder, com a sua hábil manipulação da unidade básica da
energia materializada, o ultímatom. Eles são os mestres da energia que circula nesse estado primitivo. Em conexão com os
controladores físicos, eles são capazes de controlar efetivamente e de dirigir a energia, mesmo depois que ela tiver sido
transmutada, até o nível elétrico, o assim chamado estágio eletrônico. Mas o alcance da ação deles fica enormemente
abreviado, quando a energia, organizada eletronicamente, passa a girar dentro de sistemas atômicos. Após tal materialização,
essas energias ficam sob o controle completo do poder de atração da gravidade linear.
A gravidade atua positivamente nas linhas de poder e nos canais de energia dos centros de potência e dos controladores
físicos, mas esses seres têm apenas uma relação negativa com a gravidade – o exercício dos seus dons antigravitacionais.
Em todo o espaço, o frio e outras influências físicas trabalham criativamente organizando os ultímatons em elétrons. O calor
é a medida da atividade eletrônica, enquanto o frio significa meramente a ausência de calor – o repouso relativo da energia
–, o status da carga-força universal do espaço, desde que não estejam presentes nem a energia emergente nem a matéria
organizada, e desde que não sejam sensíveis à gravidade.
A presença da gravidade, bem como a sua ação, é o que impede o surgimento do zero absoluto teórico, pois o espaço
interestelar não tem a temperatura do zero absoluto. Em todo o espaço organizado há correntes de energias que são sensíveis à
gravidade, circuitos de poder e de atividades ultimatômicas, bem como de energias eletrônicas em organização. Praticamente
falando, o espaço não é vazio. E mesmo a atmosfera de Urântia vai tornando-se crescentemente menos densa, até que à altitude
de cinco mil quilômetros ela começa a esmaecer-se nessa parte do universo, e se transformar na matéria do espaço comum. O
espaço conhecido, mais próximo do vazio, em Nebadon, conteria cerca de cem ultímatons – o equivalente a um elétron – em cada
dezesseis centímetros cúbicos. Essa escassez de matéria é considerada como sendo praticamente o espaço vazio.
A temperatura – o calor e o frio – é secundária, apenas para a gravidade nos reinos da evolução da energia e da matéria. Os
ultímatons são humildemente obedientes às temperaturas extremas. As temperaturas baixas favorecem certas formas de construção
eletrônica e de formação de conjuntos atômicos, ao passo que as temperaturas altas facilitam toda a sorte de quebras atômicas
e de desintegração material.
Quando submetidas ao calor e à pressão de certos estados solares internos, todas as associações de matéria podem ser
rompidas, excetuando-se as mais primitivas. O calor pode assim vencer grandemente a estabilidade da gravidade. Mas nenhum
calor, ou pressão solar, conhecido pode converter os ultímatons de volta à energia de potência.
Os sóis abrasantes podem transformar a matéria em várias formas de energia, ao passo que os mundos escuros e todo o espaço
exterior podem desacelerar a atividade eletrônica e ultimatômica, a ponto de converter essas energias na matéria dos reinos.
Certas associações eletrônicas de natureza próxima, bem como muitas das associações básicas de matéria nuclear, são formadas
sob as temperaturas excessivamente baixas do espaço aberto, sendo mais tarde aumentadas pela associação com adições maiores
de energia materializante.
Em toda essa metamorfose, que nunca acaba, entre energia e matéria, devemos contar com a influência da pressão da gravidade e
com o comportamento antigravitacional das energias ultimatômicas, sob certas condições de temperatura, velocidade e
revolução. A temperatura, as correntes de energia, a distância e a presença dos organizadores da força viva e dos diretores
de potência também exercem o seu papel em todo o fenômeno de transmutação da energia e da matéria.
O acréscimo de massa à matéria é igual ao acréscimo de energia, dividido pelo quadrado da velocidade da luz. Num sentido
dinâmico, o trabalho que a matéria em repouso pode realizar é igual à energia despendida para manter unidas as suas partes,
desde o Paraíso, menos a resistência das forças a serem vencidas no trânsito e a atração exercida pelas partes da matéria,
umas sobre as outras.
A existência das formas pré-eletrônicas da matéria está indicada pelos dois pesos atômicos do chumbo. O chumbo de formação
original pesa ligeiramente mais do que aquele produzido por meio da desintegração do urânio, por emanações do rádio; e essa
diferença no peso atômico representa a verdadeira perda de energia na quebra atômica.
A integridade relativa da matéria é assegurada pelo fato de que a energia pode apenas ser absorvida e liberada naquelas
quantidades exatas a que os cientistas de Urântia denominaram de quanta. Essa providência sábia, nos reinos materiais, serve
para manter os universos em funcionamento contínuo.
A quantidade de energia absorvida ou liberada, quando as posições eletrônicas ou outras se alternam, é sempre um “quantum” ou
algum múltiplo do mesmo, mas o comportamento vibratório, ou ondulatório, dessas unidades de energia é determinado,
integralmente, pelas dimensões das estruturas materiais envolvidas. Essas manifestações da energia, sob a forma de ondas, têm
860 vezes os diâmetros dos ultímatons, dos elétrons dos átomos, ou das outras unidades que lhes dão origem. A confusão
interminável que acompanha a observação da mecânica, das ondas de comportamento quântico, é devido à superposição de ondas de
energia: duas cristas podem combinar-se, para formar uma crista de altura dupla, enquanto uma crista e um vão podem
combinar-se, ocasionando assim um cancelamento mútuo.
5. MANIFESTAÇÕES DE ENERGIA ONDULATÓRIA
No superuniverso de Orvonton há uma centena de oitavas de energias de ondas. Dessa centena de grupos de manifestações de
energia, sessenta e quatro, total ou parcialmente, são reconhecidas em Urântia. Os raios do sol constituem-se de quatro
oitavas na escala do superuniverso, sendo que os raios visíveis abrangem uma única oitava, a de número quarenta e seis nessa
série. O grupo ultravioleta vem em seguida, enquanto a dez oitavas acima se encontram os raios X, seguidos pelos raios gama
do rádio. A trinta e duas oitavas acima da luz visível do sol, estão os raios da energia do espaço exterior, tão
freqüentemente misturados com as partículas minúsculas de matéria altamente energizada que lhes são associadas. Imediatamente
abaixo da luz visível do sol surgem os raios infravermelhos, e trinta oitavas abaixo está o grupo de radiotransmissão.
As manifestações da energia ondulatória – do ponto de vista do esclarecimento científico do século vinte em Urântia – podem
ser classificadas nos dez grupos seguintes:
1. Raios infra-ultimatômicos – as rotações limítrofes dos ultímatons quando eles começam a assumir uma forma definida. Esse é
o primeiro estágio da energia emergente, em que os fenômenos ondulatórios podem ser detectados e medidos.
2. Raios ultimatômicos. A reunião da energia, nas esferas diminutas dos ultímatons, ocasiona vibrações no conteúdo do espaço,
as quais são discerníveis e mensuráveis. E, muito antes que os físicos descubram o ultímatom, sem dúvida irão eles detectar
os fenômenos causados pelos raios lançados sobre Urântia. Esses raios curtos e poderosos representam a atividade inicial dosultímatons à medida que se desaceleram até aquele ponto em que se voltam para a organização eletrônica da matéria. À medida
que os ultímatons se aglomeram, formando elétrons, uma condensação ocorre com a conseqüente estocagem de energia.
3. Raios espaciais curtos. Estas são as mais curtas de todas as vibrações puramente eletrônicas e representam o estágio
pré-atômico dessa forma de matéria. Esses raios requerem temperaturas extraordinariamente altas ou extraordinarimente baixas
para a sua produção. Há duas espécies desses raios espaciais: uma que se dá com o nascimento dos átomos e a outra que indica
a desagregação atômica. A maior quantidade deles emana dos planos de maior densidade do superuniverso, a Via Láctea, que é
também o plano mais denso dos universos exteriores.
4. Estágio eletrônico. Este estágio de energia é a base de toda a materialização, nos sete superuniversos. Quando os elétrons
passam de níveis de energia mais elevados para os mais baixos, de velocidade orbital, é desprendido sempre um quantum
determinado. As mudanças das órbitas dos elétrons resultam na ejeção, ou na absorção, de partículas da energia-luz, bastante
definidas e uniformemente mensuráveis, enquanto o elétron individualmente sempre desprende uma partícula de energia-luz
quando submetido à colisão. As manifestações da energia ondulatória também são geradas a partir das atividades de corpos
positivos e de outros representantes do estágio eletrônico.
5. Raios gama – são as emanações que caracterizam a dissociação espontânea da matéria atômica. A melhor ilustração dessa
forma de atividade eletrônica está nos fenômenos associados à desintegração do rádio.
6. Grupo dos raios X. O próximo passo na desaceleração dos elétrons gera as várias formas de raios X solares junto com os
raios X artificialmente gerados. A carga eletrônica forma um campo elétrico; o movimento faz surgir uma corrente elétrica; a
corrente elétrica produz um campo magnético. Quando um elétron é paralisado subitamente, o distúrbio eletromagnético
resultante produz os raios X; os raios X são essa perturbação. Os raios X solares são idênticos àqueles gerados mecanicamente
para explorar o interior do corpo humano, excetuando-se o fato de que são ligeiramente mais longos.
7. Raios ultravioleta ou os raios químicos da luz do sol e as suas várias produções mecânicas.
8. Luz branca – toda a luz visível dos sóis.
9. Raios infravermelhos – a desaceleração da atividade eletrônica, ainda mais próxima do estágio de aquecimento considerável.
10. Ondas hertzianas – aquelas energias utilizadas, em Urântia, para as teledifusões.
A todas essas dez fases da atividade ondulatória da energia, o olho humano apenas pode reagir a uma oitava: àquela da luz
solar global de um sol comum.
O chamado éter é meramente um nome coletivo, usado para designar um grupo de atividades de força e de energia que ocorrem no
espaço. Os ultímatons, os elétrons e outras agregações da energia em forma de massa são partículas uniformes de matéria e, no
seu trânsito no espaço, elas realmente se propagam em linha reta. A luz e todas as outras formas de manifestação de energia
reconhecíveis consistem de uma sucessão de partículas definidas de energia que se propagam em linha reta, excetuando-se nos
pontos em que a sua trajetória é modificada pela gravidade e outras forças que intervêm. Que essas procissões de partículas
de energia surjam como fenômenos ondulatórios, quando sujeitas a certas observações, é devido à resistência das camadas de
força, não diferenciadas, em todo o espaço, o éter hipotético, e à tensão da intergravidade das agregações associadas de
matéria. O espaçamento dos intervalos entre as partículas de matéria, junto com a velocidade inicial dos feixes de energia,
estabelece a aparência ondulatória de muitas formas de matéria-energia.
A excitação do conteúdo de espaço produz uma reação ondulatória à passagem de partículas de matéria que se movem rapidamente,
do mesmo modo que a passagem de uma embarcação, pelas águas, inicia ondas de várias amplitudes e intervalos.
O comportamento da força primordial dá surgimento a fenômenos que são, de muitos modos, análogos ao éter por vós postulado. O
espaço não é vazio; as esferas de todo o espaço giram e mergulham em um vasto oceano de energia-força disseminado; e nem
mesmo o interior de um átomo, no espaço, é vazio. Não há nenhum éter, contudo; e a ausência mesma desse éter hipotético
capacita os planetas habitados a escaparem de cair no sol e os elétrons, nas suas órbitas, a resistirem a cair para dentro do
núcleo.
6. ULTÍMATONS, ELÉTRONS E ÁTOMOS
Conquanto a carga de espaço da força universal seja homogênea e indiferenciada, a organização da energia, evoluída em
matéria, requer a concentração da energia em massas discretas, de dimensões definidas e de peso estabelecido – uma reação
precisa à gravidade.
A gravidade local ou linear torna-se plenamente operativa com o surgimento da organização atômica da matéria. A matéria
pré-atômica torna-se ligeiramente sensível à gravidade quando ativada por raios X e por outras energias similares, mas nenhum
empuxo de atração da gravidade linear mensurável é exercido sobre as partículas livres, desagregadas e sem carga de
energia-eletrônica, ou sobre os ultímatons não agrupados.
Os ultímatons funcionam por atração mútua, respondendo apenas à atração circular da gravidade do Paraíso. Sem a reação à
gravidade linear, eles mantêm-se vagando assim em um espaço universal. Os ultímatons são capazes de acelerar a sua velocidade
de revolução, a ponto de atingir o comportamento de uma antigravidade parcial, mas não podem, independentemente dos diretores
organizadores da força ou poder, atingir a velocidade crítica, na qual escapam para a desindividualização, e retornam ao
estado de energia potencial. Na natureza, os ultímatons escapam do status de existência física apenas quando participam da
ruptura terminal de um sol resfriado que se extingue.
Os ultímatons, desconhecidos em Urântia, desaceleram-se passando por muitas atividades físicas antes de atingirem os
pré-requisitos da energia de revolução para a organização eletrônica. Os ultímatons têm três variedades de movimentos: a
resistência mútua à força cósmica, as rotações individuais de potencial antigravitacional, e as posições no interior do
elétron da centena de ultímatons mutuamente interassociados.
A atração mútua mantém cem ultímatons juntos na constituição do elétron; e nunca há mais nem menos do que cem ultímatons em
um elétron típico. A perda de um ou mais ultímatons destrói a identidade típica eletrônica, trazendo assim à existência uma
das dez formas modificadas do elétron.
Os ultímatons não descrevem órbitas ou giros em torno dos circuitos dentro dos elétrons, mas espalham-se ou agrupam-se, de
acordo com as suas velocidades de rotação axial, determinando assim as dimensões diferenciais eletrônicas. Essa mesma
velocidade ultimatômica, de rotação axial, também determina as reações negativas ou positivas dos vários tipos de unidades
eletrônicas. A segregação total e o agrupamento de matéria eletrônica, junto com a diferenciação elétrica, entre os corposnegativos e os positivos de matéria-energia, resultam dessas funções várias das interassociações dos ultímatons componentes.
Cada átomo tem um diâmetro ligeiramente maior do que um quarto de milionésimo de milímetro enquanto um elétron pesa um pouco
mais do que uma duodécima-milésima parte do menor átomo, o do hidrogênio. O próton positivo, característico do núcleo
atômico, ainda que possa não ser maior do que um elétron negativo, pesa quase duas mil vezes mais.
Se a massa da matéria fosse ampliada, a ponto de um elétron pesar 2,83 gramas, então o tamanho teria de ser aumentado
proporcionalmente, e o volume desse elétron tornar-se-ia tão grande quanto o da Terra. Se o volume de um próton – mil e
oitocentas vezes mais pesado do que um elétron – fosse ampliado até o tamanho da cabeça de um alfinete, nessa mesma proporção
a cabeça do alfinete atingiria um diâmetro igual ao da órbita da Terra ao redor do sol.
7. MATÉRIA ATÔMICA
Toda a matéria desenvolve-se em uma ordem semelhante à da formação de um sistema solar. No centro de cada universo diminuto
de energia existe uma porção nuclear de existência material, relativamente estável e estacionária. Essa unidade central é
dotada de uma possibilidade tríplice de manifestação. Em torno desse centro de energia giram, em uma profusão sem fim, mas em
circuitos flutuantes, as unidades de energia que são vagamente comparáveis aos planetas que giram em torno do sol, em algum
grupo estelar como o vosso próprio sistema solar.
Dentro do átomo, os elétrons giram em torno do próton central, relativamente com o mesmo espaço que os planetas possuem para
girar em torno do sol no espaço do sistema solar. Há uma distância relativa, em relação ao tamanho real, entre os núcleos
atômicos e os circuitos eletrônicos internos, a qual corresponde à que existe entre o planeta mais interno, Mercúrio, e o
vosso sol.
As rotações axiais e as suas velocidades orbitais, em torno do núcleo, estão ambas além da imaginação humana, para não
mencionar as velocidades dos seus ultímatons componentes. As partículas positivas do rádio voam para o espaço a velocidades
de dezesseis mil quilômetros por segundo, enquanto as partículas negativas atingem uma velocidade que se aproxima daquela da
luz.
Os universos locais são de construção decimal. Há apenas uma centena de materializações atômicas distinguíveis da
energia-espaço em um universo dual; e essa é a organização máxima possível da matéria em Nebadon. Essa centena de formas de
matéria consiste de uma série regular na qual de um a cem elétrons giram em torno de um núcleo central relativamente
compacto. É essa associação ordenada e confiável, de várias energias, que constitui a matéria.
Nem todos os mundos exibirão uma centena de elementos reconhecíveis na sua superfície, mas em algum lugar esses elementos
estarão ou terão estado presentes, ou encontram-se em processo de evolução. As condições que envolvem a origem e a evolução
futura de um planeta determinam quantos dos cem tipos atômicos poderão ser encontrados. Os átomos mais pesados não são
encontráveis na superfície de muitos mundos. Mesmo em Urântia os elementos mais pesados conhecidos manifestam uma tendência
de estilhaçarem-se no ar, como é ilustrado pelo comportamento do rádio.
A estabilidade do átomo depende do número de nêutrons eletricamente inativos no corpo central. O comportamento químico
depende completamente da atividade dos elétrons livres em órbita.
Em Orvonton nunca foi possível reunir naturalmente acima de cem elétrons orbitais em um sistema atômico. Sempre que se
introduziu artificialmente cento e um no campo orbital, o resultado tem sempre sido um deslocamento quase instantâneo do
próton central com a dispersão enlouquecida dos elétrons e de outras energias liberadas.
Ainda que os átomos possam conter de um a cem elétrons em órbita, apenas os dez elétrons exteriores, dos átomos maiores,
giram em torno do núcleo central, como corpos distintos e separados, intacta e compactamente girando em órbitas precisas e
definidas. Os trinta elétrons mais próximos do centro são de observação e de detecção difícil, como corpos separados e
organizados. Essa mesma proporção relativa de comportamento eletrônico, em relação à proximidade nuclear, prevalece em todos
os átomos, a despeito do número de elétrons abrangido. Quanto mais próximo se está do núcleo, menos a individualização dos
elétrons acontece. A extensão da energia ondulatória de um elétron pode assim espalhar-se para ocupar todas as órbitas
atômicas menores; e isso é especialmente verdade sobre os elétrons mais próximos do núcleo atômico.
Os trinta elétrons de órbitas mais internas têm individualidade, mas os seus sistemas de energia tendem a se intermesclar,
estendendo-se de elétron a elétron, e quase que de órbita a órbita. Os próximos trinta elétrons constituem a segunda família,
ou zona de energia; e são de uma individualidade mais pronunciada, os seus corpos de matéria exercem um controle mais
completo sobre os sistemas de energia que os acompanham. Os próximos trinta elétrons, a terceira zona de energia, são ainda
mais individualizados e circulam em órbitas mais distintas e definidas. Os dez últimos elétrons, presentes apenas nos dez
elementos mais pesados, possuem a dignidade da independência e são, portanto, capazes de escapar mais ou menos livremente do
controle do núcleo-mãe. Com um mínimo de variação de temperatura e pressão, os membros desse quarto grupo mais externo de
elétrons escaparão da atração do núcleo central, como é ilustrado na dispersão espontânea do urânio e dos elementos
semelhantes.
Os primeiros vinte e sete átomos, aqueles que contêm de um a vinte e sete elétrons em órbita, são mais fáceis de serem
distinguidos do que os restantes. Do vigésimo-oitavo, em diante, encontramos cada vez mais a imprevisibilidade da presença
suposta do Absoluto Inqualificável. Um pouco dessa imprevisibilidade eletrônica, todavia, é causada pelas velocidades axiais
das rotações ultimatômicas diferenciais e pela propensão inexplicada dos ultímatons de “amontoarem-se”. Outras influências –
físicas, elétricas, magnéticas e gravitacionais – também colaboram para produzir comportamentos eletrônicos variáveis. Os
átomos são, pois, semelhantes a pessoas quanto à previsibilidade. Os estatísticos podem anunciar leis que governam um grande
número, seja de átomos, seja de pessoas; mas não individualmente para um único átomo, nem para uma única pessoa.
8. COESÃO ATÔMICA
Ainda que a gravidade seja um dos vários fatores a contribuir para manter coeso um minúsculo sistema atômico, há, também
presente, em meio a essas unidades físicas básicas, uma energia poderosa e desconhecida, e o segredo da sua constituição
básica e do seu comportamento último é uma força que ainda não foi descoberta em Urântia. Tal influência universal permeia
todo o espaço interior abrangido por essa mínima organização da energia.
O espaço entre os elétrons de um átomo não é vazio. Dentro de um átomo, esse espaço entre os elétrons é ativado por
manifestações ondulatórias que são perfeitamentes incronizadas com as velocidades de rotação dos elétrons e dos ultímatons.
Essa força não é inteiramente dominada pelas leis reconhecidas por vós, de atração positiva e negativa; o seu comportamento,
portanto, algumas vezes é imprevisível. Essa influência sem nome parece ser uma reação da força do espaço, da parte do
Absoluto Inqualificável.
Os prótons carregados e os nêutrons não carregados, do núcleo do átomo, são mantidos coesos pela função de reciprocidade do
mésotron, uma partícula de matéria 180 vezes mais pesada do que o elétron. Sem esse arranjo, a carga elétrica contida nos
prótons seria desagregadora do núcleo atômico.
Do modo como os átomos são constituídos, nem as forças elétricas nem as gravitacionais poderiam manter o núcleo coeso. A
integridade do núcleo é sustentada pela função coesiva recíproca do mésotron, que é capaz de conservar partículas carregadas
e não carregadas em coesão, por causa do poder superior da massa-força e da função suplementar de levar os prótons e os
nêutrons a mudarem constantemente de lugar. O mésotron faz com que a carga elétrica das partículas do núcleo seja trocada sem
cessar, em um sentido e no outro, entre os prótons e os nêutrons. Num infinitésimo de segundo, uma dada partícula do núcleo é
um próton carregado e, no próximo, é um nêutron não carregado. E essas alternâncias, no status da energia, são tão
inacreditavelmente rápidas que a carga elétrica fica impedida de ter qualquer oportunidade de funcionar como uma influência
desagregadora. Assim, o mésotron funciona como uma partícula “portadora de energia” que poderosamente contribui para a
estabilidade nuclear do átomo.
A presença e a função do mésotron explicam também outro enigma atômico. Quando os átomos atuam radioativamente, eles emitem
muito mais energia do que seria esperado. Esse excesso de radiação deriva-se da quebra do mésotron “portador de energia”,
que, por isso, transforma-se em um mero elétron. A desintegração do mésotron é também acompanhada pela emissão de certas
partículas pequenas não carregadas.
O mésotron explica certas propriedades coesivas do núcleo atômico, mas não é ele que gera a coesão entre próton e próton, nem
a adesão de nêutron a nêutron. A força paradoxal e poderosa da integridade coesiva, no átomo, é uma forma de energia ainda
não descoberta em Urântia.
Esses mésotrons são abundantemente encontrados nos raios do espaço que incidem, tão incessantemente, sobre o vosso planeta.
9. A FILOSOFIA NATURAL
A religião não é a única a ser dogmática; a filosofia natural tende igualmente a dogmatizar. Um renomado educador religioso
chegou à conclusão de que o número sete era fundamental à natureza, porque há sete aberturas na cabeça humana; mas se ele
tivesse sabido mais sobre a química, ele poderia ter advogado tal crença fundamentado em um fenômeno verdadeiro do mundo
físico. Em todos os universos físicos do tempo e do espaço, apesar da manifestação universal da constituição decimal da
energia, há uma reminiscência, sempre presente, da realidade da organização eletrônica sétupla da pré-matéria.
O número sete é básico para o universo central e para o sistema espiritual de transmissões inerentes do caráter; mas o número
dez, o sistema decimal, é inerente à energia, à matéria e à criação material. O mundo atômico, contudo, apresenta uma certa
caracterização periódica que é recorrente em grupos de sete – uma marca de nascença que esse mundo material carrega e que
indica a sua longínqua origem espiritual. Essa persistência sétupla da constituição criativa é exibida nos domínios químicos, como uma recorrência de propriedades
químicas e físicas semelhantes, em grupos separados e periódicos de sete, quando os elementos básicos são arranjados segundo
a ordem seqüencial dos seus pesos atômicos. Quando os elementos químicos de Urântia são, assim, ordenados em uma fila
qualquer, uma certa qualidade ou propriedade tem a tendência de repetir-se a cada sete elementos. Essa mudança periódica a
cada sete ocorre decrescentemente e com variações em toda a tábua química, sendo mais intensamente observável nos primeiros
grupos ou de pesos atômicos mais baixos. A começar por qualquer elemento, após notar-se uma propriedade, essa qualidade irá
mudar por seis elementos consecutivos, mas ao alcançar o oitavo, ela tende a reaparecer, isto é, o oitavo elemento,
quimicamente ativo, assemelha-se ao primeiro, o nono ao segundo, e assim por diante. Esse fato, do mundo físico, aponta
inequivocamente a constituição sétupla da energia ancestral e indica a realidade fundamental da diversidade sétupla das
criações do tempo e do espaço. O homem deveria também notar que há sete cores no espectro natural.
Mas nem todas as suposições da filosofia natural são válidas; e um exemplo é o éter hipotético, que representa uma tentativa
engenhosa do homem para unificar a sua ignorância sobre o fenômeno do espaço. A filosofia do universo não pode ser elaborada
com base nas observações da chamada ciência. Se a metamorfose de uma borboleta não fosse visível, um cientista estaria
inclinado a negar a possibilidade da mesma desenvolver-se a partir de uma lagarta.
A estabilidade física, associada à elasticidade biológica, está presente na natureza apenas por causa da quase infinita
sabedoria possuída pelos Arquitetos Mestres da criação. Nada, a não ser a sabedoria transcendental, poderia jamais projetar
unidades de matéria que são ao mesmo tempo tão estáveis e tão eficazmente flexíveis.
10. SISTEMAS NÃO-ESPIRITUAIS DE ENERGIAS UNIVERSAIS (SISTEMAS DE MENTE MATERIAL)
O movimento sem fim da realidade cósmica relativa, fluindo desde a absolutez da monota do Paraíso, até a absolutez da
potência do espaço, sugere certas evoluções de relacionamento, entre as realidades não-espirituais da Primeira Fonte e Centro
– aquelas realidades que estão ocultas na potência do espaço, reveladas na monota, e provisoriamente divulgadas em níveis
cósmicos intermediários. Esse ciclo eterno de energia, estando ligado ao circuito do Pai dos Universos, é absoluto e, em
sendo absoluto, não é expansível de nenhuma forma, nem em valor; o Pai Primordial, entretanto – agora e sempre –, realiza em
Si uma arena de significados, sempre em expansão, no espaço-tempo, e que transcende o espaço-tempo; uma arena de relações
mutáveis, nas quais a matéria-energia está sendo progressivamente objeto do supracontrole do espírito vivo divino por
intermédio de um esforço experiencial da mente viva e pessoal.
As energias universais não-espirituais são reassociadas nos sistemas vivos de mentes não Criadoras, em vários níveis, alguns
dos quais podem ser descritos como a seguir:
1. Espíritos pré-ajudantes da mente. Este nível de mente é não-experiencial e, nos mundos habitados, é ministrado pelos
Mestres Controladores Físicos. Essa é a mente mecânica, o intelecto não-ensinável, da forma mais primitiva de vida material;
mas a mente não-ensinável funciona em muitos níveis, além daquele da vida planetária primitiva.
2. Espíritos ajudantes da mente. Essa é uma ministração do Espírito Materno do universo local, funcionando através dos seus
sete espíritos ajudantes da mente, no nível ensinável (não-mecânico) da mente material. Nesse nível, a mente material está
experienciando: como intelecto subhumano (animal) por meio dos primeiros cinco ajudantes; como intelecto humano (moral) por
intermédio dos sete ajudantes; como intelecto supra-humano (nos seres intermediários) por meio dos dois últimos ajudantes.
3. Mentes moronciais em evolução – a consciência, em expansão, das personalidades em evolução, nas suas carreiras ascendentes
no universo local. Esta é uma outorga do Espírito Materno do universo local, em conexão com o Filho Criador. Esse nível da
mente indica a organização do tipo moroncial de veículo de vida, uma síntese do material e do espiritual que é efetuada pelos
Supervisores do Poder Moroncial de um universo local. A mente moroncial funciona diferencialmente, em resposta aos 570 níveis
da vida moroncial, demonstrando uma capacidade associativa crescente com a mente cósmica, nos níveis mais elevados de
realização. Esse é o curso evolucionário das criaturas mortais, mas a mente de uma ordem não-moroncial é também outorgada por
um Filho do Universo e por um Espírito do Universo, aos filhos não-moronciais das criações locais.
A mente cósmica. Essa é a mente setuplamente diversificada do tempo e do espaço, cada fase da mesma sendo ministrada, por um
dos Sete Espíritos Mestres, a um dos sete superuniversos. A mente cósmica engloba todos os níveis da mente finita e
coordena-se experiencialmente com os níveis da deidade evolucionária da Mente Suprema, e transcendentalmente com o nível
existencial da mente absoluta – os circuitos diretos do Agente Conjunto.
No Paraíso, a mente é absoluta; em Havona, absonita; em Orvonton, finita. A mente indica sempre a presença-atividade da
ministração viva, acrescida de sistemas de energia variada; e isso é verdade em todos os níveis e para todas as espécies de
mentes. Mas, para além da mente cósmica, torna-se cada vez mais difícil descrever as relações da mente com a energia não
espiritual. A mente de Havona é subabsoluta, mas é supra-evolucionária; sendo experiencial-existencial, ela está mais próxima
do absonito do que de qualquer outro conceito revelado a vós. A mente do Paraíso está adiante da compreensão humana; ela é
existencial, não-espacial e não-temporal. Entretanto, todos esses níveis de mente são sobrepujados pela presença universal do
Agente Conjunto – pela atração da gravidade mental do Deus da mente no Paraíso.
11. MECANISMOS DO UNIVERSO
Na avaliação e no reconhecimento da mente, deveria ser lembrado que o universo não é nem meramente mecânico, nem mágico; ele
é uma criação da mente e um mecanismo com leis. Na aplicação prática, contudo, se as leis da natureza operam naquilo que
parecem ser os reinos duais do físico e do espiritual, na realidade, eles são apenas um. A Primeira Fonte e Centro é a causa
primordial de toda a materialização e, ao mesmo tempo, é o Pai primeiro, e o Pai final de todos os espíritos. O Pai do
Paraíso aparece pessoalmente nos universos, fora de Havona, apenas como energia pura e espírito puro – como o Ajustador do
Pensamento e outros fragmentos semelhantes.
Os mecanismos não dominam, absolutamente, toda a criação; o universo dos universos é totalmente planejado pela mente, feito
pela mente e administrado pela mente. Mas o mecanismo divino do universo dos universos é por demais perfeito, no todo, para
que os métodos científicos da mente finita do homem nele possam discernir, no mínimo que seja, o domínio da mente infinita.
Pois a mente que cria, controla e mantém não é nem a mente material, nem a mente da criatura; é a mente do espírito
funcionando nos níveis criadores da realidade divina e a partir deles.
A capacidade de discernir e de descobrir a mente, com base nos mecanismos do universo, depende inteiramente da habilidade, do
escopo e da capacidade da mente investigadora empenhada nessa tarefa de observação. As mentes do espaço-tempo, organizadas a
partir das energias do tempo e do espaço, ficam sujeitas aos mecanismos do tempo e do espaço.
O movimento e a gravitação no universo são facetas gêmeas do mecanismo impessoal do espaço-tempo, no universo dos universos.
Os níveis de sensibilidade à gravidade, para o espírito, a mente e a matéria, são totalmente independentes do tempo, mas
apenas os níveis verdadeiros da realidade do espírito são independentes do espaço (são não-espaciais). Os níveis mais
elevados da mente do universo – os níveis da mente espiritual – podem também ser não espaciais, mas os níveis da mente
material, tais como a mente humana, são sensíveis às interações da gravitação do universo, apenas perdendo essa sensibilidade
à proporção que se identificam com o espírito. Os níveis da realidade do espírito são reconhecidos pelo seu conteúdo de
espírito; e a espiritualidade no tempo e no espaço é medida na proporção inversa da sensibilidade à gravidade linear.
A sensibilidade à gravidade linear é uma medida quantitativa da energia não espiritual. Toda a massa – ou energia organizada
– está sujeita a essa atração, a menos que o movimento e a mente atuem sobre ela. A gravidade linear é a força de coesão, de
curto alcance, do macrocosmo, do mesmo modo que as forças da coesão interna do átomo são as forças de curto alcance do
microcosmo. A energia física materializada, organizada naquilo que se chama de matéria, não pode atravessar o espaço sem ter
a sua sensibilidade à gravidade linear alterada. Se bem que essa sensibilidade à gravidade seja diretamente proporcional à
massa, ela é modificada pelo espaço intermediário, de um modo tal que o resultado final, quando expresso pelo inverso do
quadrado da distância, nada mais é que grosseiramente aproximado. O espaço finalmente predomina sobre a gravitação linear por
causa da presença, nele, das influências antigravitacionais de numerosas forças supramateriais que operam para neutralizar a
ação da gravidade e todas as respostas a ela.
Os mecanismos cósmicos extremamente complexos, e que aparentam surgir de um modo altamente automático, tendem sempre a
esconder a presença da mente intrínseca que os originou ou criou, para toda e qualquer inteligência, no universo, que esteja
em um nível muito abaixo daquele da natureza e da capacidade do mecanismo em si mesmo. E, por isso, torna-se inevitável que
os mecanismos mais elevados do universo pareçam, para as ordens mais baixas de criaturas, não ter mente. A única exceção
possível dessa conclusão seria a de atribuir uma mente ao incrível fenômeno de um universo, que aparentemente se automantém –
mas essa é uma questão para a filosofia, mais do que de experiência real.
Como a mente coordena o universo, a rigidez dos mecanismos não existe. O fenômeno da evolução progressiva, associado à
automanutenção cósmica, é universal. A capacidade de evolução do universo é inexaurível para infinitude da espontaneidade. O
progresso, no sentido da unidade harmoniosa, a síntese experiencial crescente superposta a uma complexidade sempre crescente
de relações, só poderia ser alcançado por uma mente que tenha propósito e que seja dominante.
Quanto mais elevada for a mente do universo, associada a um fenômeno universal qualquer, tanto mais difícil torna-se
descobri-la para os tipos mais baixos de mente. E, já que a mente do mecanismo do universo é a mente-espírito criativa (a
própria mente do Infinito), ela nunca pode ser descoberta ou percebida nunca pelas mentes de nível baixo do universo; e muito
menos pela mente mais baixa de todas, a humana. A mente animal em evolução, conquanto seja naturalmente buscadora de Deus,
não é por si mesma, nem em si mesma, inerentemente conhecedora de Deus.
12. MODELO E FORMA – O PREDOMÍNIO DA MENTE
A evolução dos mecanismos implica e indica a presença oculta e a predominância da mente criativa. A capacidade do intelecto
mortal de conceber, projetar e criar mecanismos automáticos demonstra que as qualidades superiores, criativas e plenas de
propósito, da mente do homem, são a influência dominante no planeta. A mente tende sempre para a:
1. Criação de mecanismos materiais.
2. Descoberta de mistérios ocultos.
3. Exploração de situações remotas.
4. Formulação de sistemas mentais.
5. Alcance dos objetivos da sabedoria.
6. Realização de níveis do espírito.
7. Cumprimento dos destinos divinos – supremos, últimos e absolutos.
A mente é sempre criativa. O dom da mente de um indivíduo animal, mortal, moroncial, ascendente do espírito ou que tenha
alcançado a finalidade, é sempre competente para produzir um corpo adequado e útil para a identidade da criatura vivente.
Todavia, o fenômeno da presença de uma personalidade, ou do modelo de uma identidade, como tal, não é uma manifestação de
energia, seja física, mental ou espiritual. A forma da personalidade é o aspecto modelar de um ser vivo; denota uma ordenação
das energias, e isso, acrescentado à vida e ao movimento, é o mecanismo da existência da criatura.
Mesmo os seres espirituais têm forma, e essas formas espirituais (os modelos) são reais. Até o tipo mais elevado de
personalidades espirituais tem formas – presenças de personalidades análogas, em todos os sentidos, aos corpos mortais de
Urântia. Quase todos os seres encontrados nos sete superuniversos possuem formas. Todavia, há umas poucas exceções a essa
regra geral: os Ajustadores do Pensamento parecem existir sem uma forma, até fundirem-se com as almas sobreviventes dos seus
colaboradores mortais. Os Mensageiros Solitários, os Espíritos Inspirados da Trindade, os Ajudantes Pessoais do Espírito
Infinito, os Mensageiros por Gravidade, os Registradores Transcendentais e alguns outros também não têm formas descobertas.
Contudo, são essas as raras exceções típicas; a grande maioria tem formas autênticas de personalidade, formas que são
individualmente características e que são reconhecíveis e pessoalmente distinguíveis.
A conexão da mente cósmica com a ministração dos espíritos ajudantes da mente desenvolve um tabernáculo físico adequado para
o ser humano em evolução. De um modo semelhante, a mente moroncial individualiza a forma moroncial para todos os
sobreviventes mortais. Do mesmo modo que um corpo mortal é pessoal e característico para cada ser humano, assim, a forma
moroncial será altamente individual e adequadamente característica da mente criativa que o domina. Não há duas formas
moronciais que sejam parecidas, como não há dois corpos humanos idênticos. Os Supervisores do Poder Moroncial patrocinam, e o
serafim assistente providencia os materiais moronciais não diferenciados a partir dos quais a vida moroncial pode começar a
trabalhar. E, após a vida moroncial, será constatado que as formas do espírito são igualmente diferentes, pessoais e
características das respectivas mentes-espíritos que residem nelas.
Num mundo material, vós pensais em um corpo como tendo um espírito; mas nós consideramos o espírito como tendo um corpo. Os
olhos materiais são verdadeiramente as janelas da alma que nasce do espírito. O espírito é o arquiteto, a mente é o
construtor, o corpo é a edificação material.
As energias físicas, espirituais e mentais, como tais e nos seus estados puros, não interagem integralmente como
factualizações no universo dos fenômenos. No Paraíso, as três energias estão coordenadas, em Havona têm de ser e são
coordenadas; ao passo que, nos níveis de atividades finitas do universo, todas as gamas de predominâncias devem ser
encontradas, a material, a mental e a espiritual. Em situações não pessoais do tempo e do espaço, a energia física parece
predominar; mas também parece que quanto mais a função da mente-espírito aproxima-se da divindade, em propósito, e da
supremacia, em ação, tanto mais nitidamente a fase do espírito torna-se predominante; parece também que, no nível último, o
espírito-mente pode tornar-se quase completamente dominante. No nível absoluto, o espírito certamente é predominante. E daí
em diante, no reino do tempo e do espaço, sempre que uma realidade do espírito divino esteja presente, sempre que uma
mente-espírito real estiver funcionando, sempre haverá uma tendência a produzir uma contraparte material ou física daquela
realidade do espírito.
O espírito é a realidade criativa; a contraparte física é o reflexo, no tempo-espaço, da realidade do espírito, a repercussão
física da ação criativa da mente-espírito.
A mente domina universalmente a matéria, exatamente como esta, por sua vez, é sensível e responde ao controle último do
espírito. E, no homem mortal, apenas aquela mente que livremente se submete ao direcionamento do espírito pode almejar
sobreviver à existência mortal do espaço-tempo, tal uma criança imortal do mundo eterno do espírito do Supremo, do Último e
do Absoluto: o Infinito.
[Apresentado por um Mensageiro Poderoso a serviço em Nebadon, e a pedido de Gabriel.]
DOCUMENTO 42
ENERGIA – MENTE E MATÉRIA
A fundação do universo é material, no sentido em que a energia é a base de toda a existência; e a energia pura é controlada
pelo Pai Universal. A força, a energia, é a coisa que permanece como um monumento perpétuo, demonstrando e provando a
existência e a presença do Absoluto Universal. Essa imensa corrente de energia, que provém das Presenças do Paraíso, nunca
faltou, nunca falhou; nunca houve nenhuma interrupção na sustentação infinita.
A manipulação da energia do universo dá-se sempre de acordo com a vontade pessoal e com os mandatos plenamente sábios do Pai
Universal. Esse controle pessoal do poder manifestado, e da energia circulante, é modificado pelos atos coordenados e pelas
decisões do Filho Eterno, bem como pelos propósitos unidos do Filho e do Pai, executados pelo Agente Conjunto. Esses seres
divinos atuam pessoalmente, e como indivíduos; e, funcionam, também, na pessoa e nos poderes de um número quase ilimitado de
subordinados, cada um diferentemente expressivo do propósito eterno e divino no universo dos universos. Mas essas
modificações, ou transmutações funcionais e provisionais do poder divino, de nenhum modo reduzem a verdade da afirmação de
que toda a energia-força está sob o controle último de um Deus pessoal, residente no centro de todas as coisas.
1. ENERGIAS E FORÇAS DO PARAÍSO
A base do universo é material, mas a essência da vida é espírito. O Pai dos espíritos é também o ancestral dos universos; o
Pai eterno do Filho Original é também a fonte-eternidade do modelo original, a Ilha do Paraíso.
A matéria – ou a energia, pois ambas não são senão manifestações diversas da mesma realidade cósmica, como fenômenos no
universo – é inerente ao Pai Universal. “Nele consistem todas as coisas.” A matéria pode surgir para manifestar a energia
inerente e para exibir os poderes autocontidos, mas as linhas da gravidade envolvidas nas energias ligadas a todos esses
fenômenos físicos derivam-se e dependem do Paraíso. O ultímatom, a primeira forma mensurável de energia, tem o Paraíso como o
seu núcleo.
Há, inata na matéria e presente no espaço universal, uma forma de energia não conhecida em Urântia. Quando essa descoberta
for finalmente feita, então os físicos irão sentir que terão solucionado, ou pelo menos quase, os mistérios da matéria. E
assim terão dado mais um passo no sentido de se aproximar do Criador; e dominado mais uma fase da técnica divina; mas de modo
nenhum eles terão encontrado a Deus, nem terão desvendado o conhecimento da existência da matéria, nem a operação das leis
naturais, separadamente da técnica cósmica do Paraíso, nem o propósito motivador do Pai Universal.
Depois de um progresso ainda maior e de novas descobertas, depois que Urântia houver avançado incomensuravelmente em relação
aos conhecimentos atuais e, ainda que vós pudésseis alcançar o controle das rotações energéticas das unidades elétricas da
matéria, a ponto de conseguir modificar as suas manifestações físicas – mesmo depois de todo esse progresso possível, os
cientistas permanecerão, indefinidamente, impotentes para criar sequer um átomo de matéria, ou gerar um raio de energia e,
menos ainda, para outorgar à matéria aquilo a que chamamos de vida.
A criação da energia e a dádiva da vida são prerrogativas do Pai Universal e das personalidades Criadoras, coligadas a Ele. O
rio da energia e da vida é uma efusão contínua vinda das Deidades, uma corrente universal e unida de força do Paraíso,
irradiando-se por todo o espaço. Essa energia divina penetra toda a criação. Os organizadores da força iniciam essas mudanças
e instituem as modificações da força-espaço, que se manifestam no evento da energia; os diretores de potência transmutam
energia em matéria; assim nascem os mundos materiais. Os Portadores da Vida iniciam, na matéria morta, aqueles processos aos
quais chamamos vida, vida material. Os Supervisores do Poder Moroncial atuam do mesmo modo nos reinos da transição entre o
mundo material e o espiritual. Os Criadores espirituais superiores inauguram processos semelhantes nas formas divinas de
energia, que resultam em formas mais elevadas de espíritos de vida inteligente.
A energia provém do Paraíso, formada segundo a ordem divina. A energia – a energia pura – compartilha da natureza da
organização divina; é formada segundo a semelhança dos três Deuses abraçados em um só, como eles funcionam na sede central do
universo dos universos. E toda a força é circuitada ao Paraíso; vem das Presenças do Paraíso e para lá retorna e, em
essência, é uma manifestação da Causa não causada – o Pai Universal – ; e, sem o Pai, nada do que existe existiria.
A força derivada da Deidade, existente em Si, é, por si própria, eternamente existente. A energia-força é imperecível,
indestrutível; essas manifestações do Infinito podem estar sujeitas à transmutação ilimitada, à transformação sem fim e à
metamorfose eterna; mas em nenhum sentido ou grau, nem mesmo na menor proporção imaginável, poderiam ou deveriam elas sofrer
extinção. Mas a energia, ainda que emergindo do Infinito, não se manifesta de forma infinita; há limites externos para o
universo-mestre, como ele é atualmente concebido.
A energia é eterna, mas não infinita; e responde sempre à gravidade todo-abrangente da Infinitude. A força e a energia
continuam eternamente; uma vez que tenham saído do Paraíso, devem retornar para lá, ainda que idades e mais idades sejam
necessárias para completar o circuito ordenado. Aquilo que tem a sua origem na Deidade do Paraíso só pode ter como destino o
Paraíso, ou alguma Deidade.
E tudo isso confirma a nossa crença em um universo dos universos circular, um pouco limitado, mas ordenado e imenso. Não fora
isso verdade, então a evidência do esgotamento da energia em algum ponto, mais cedo ou mais tarde, iria aparecer. Todas as
leis, as organizações, a administração e o testemunho dos exploradores do universo – tudo aponta para a existência de um Deus
infinito e, ainda assim, para um universo finito, de uma circularidade de existência sem fim, quase sem limites, todavia
finito, em contraste com a infinitude.
2. SISTEMAS UNIVERSAIS DE ENERGIA NÃO ESPIRITUAL
De fato, é difícil encontrar as palavras adequadas, em qualquer língua de Urântia, por meio das quais designar e, portanto,
descrever os vários níveis de força e de energia – física, mental ou espiritual. Essas narrativas não podem, de todo, ater-se
às vossas definições de força, de energia, de poder e de potência. Há tanta pobreza, nessa linguagem, que devemos usar tais
termos com múltiplos significados. Neste documento, por exemplo, a palavra energia é usada para denotar todas as fases e
formas de fenômenos de movimento, de ação e de potencial, enquanto força é usada para indicar os estágios da energia na
pré-gravidade; e poder e potência, para os estágios da energia na pós-gravidade.
Contudo, tentarei minimizar a confusão conceptual, sugerindo a prudência recomendável de adotar a seguinte classificação para
a força cósmica, para a energia emergente e para o poder-físico da energia do universo – a energia física:
1. Potência de espaço. Essa é a presença inquestionável, no espaço livre, do Absoluto Inqualificável. A extensão desse
conceito denota o potencial de espaço-força do universo, inerente à totalidade funcional do Absoluto Inqualificável, enquanto
a intenção desse conceito implica a totalidade da realidade cósmica – os universos – que emanou de modo eterno da Ilha do
Paraíso, que é sem começo, sem fim, que nunca se move e que nunca muda.
Os fenômenos específicos da parte inferior do Paraíso provavelmente abrangem três zonas de presença e de atuação da força
absoluta: a zona de ponto de apoio fulcral do Absoluto Inqualificável, a zona da própria Ilha do Paraíso e a zona
intermediária de algumas agências ou funções não identificadas, que se equalizam e se compensam. Essas zonas triconcêntricas
são o centro do ciclo da realidade cósmica do Paraíso.
A potência do espaço é uma pré-realidade; é o domínio do Absoluto Inqualificável e é sensível apenas à atração pessoal do Pai
Universal, não obstante o fato de ela ser aparentemente modificável pela presença dos Mestres Organizadores Primários da
Força.
Em Uversa, faz-se referência à potência do espaço como ABSOLUTA.
2. Força primordial. Esta representa a primeira mudança básica na potência do espaço e pode ser uma das funções, no baixo
Paraíso, do Absoluto Inqualificável. Sabemos que a presença do espaço que sai do baixo Paraíso é modificada, de alguma
maneira, em relação àquela que está entrando. Independentemente, porém, de qualquer dessas possíveis relações, a
transmutação, abertamente reconhecida, da potência do espaço em força primordial é uma função diferencial primária da
presença-tensão dos organizadores da força viva do Paraíso.
A força passiva e potencial torna-se ativa e primordial em resposta à resistência oferecida pela presença, no espaço, dos
Mestres Organizadores da Força Primariamente Derivantes. A força está emergindo agora, do domínio exclusivo do Absoluto
Inqualificável para os domínios de sensibilidade múltipla – em resposta a alguns movimentos primordiais iniciados pelo Deus
da Ação e em seguida a certos movimentos de compensação que emanam do Absoluto Universal. A força primordial parece reagir à
causação transcendental em uma medida proporcional ao absoluto.
A força primordial, algumas vezes, é denominada energia pura; em Uversa referimo-nos a ela como SEGREGATA.
3. Energias emergentes. A presença passiva dos organizadores da força primária é suficiente para transformar a potência do
espaço em força primordial e é nesse campo espacial, assim ativado, que esses mesmos organizadores da força começam as suas
operações iniciais e ativas. A força primordial está destinada a passar por duas fases distintas de transmutação, nos reinos
da manifestação da energia, antes de surgir como uma força no universo. Esses dois níveis de energia emergente são:
a. Energia de potência. Essa é a energia poderosa-direcional, movimentadora de massa, poderosamente tensionada e de reações
violentas – com sistemas gigantescos de energia, colocados em movimento pelas atividades dos organizadores da força primária.
Essa energia primária, ou poderosa, não é sensível, inicialmente, de modo definido, à atração da gravidade do Paraíso; se bem
que provavelmente produza uma massa agregada, ou uma sensibilidade espaço-direcional ao grupo coletivo de influências
absolutas que operam a partir do lado baixo do Paraíso. Quando a energia emerge até o nível inicial de sensibilidade à
atração circular e absoluta da gravidade do Paraíso, os organizadores da força primária cedem o seu lugar para o
funcionamento dos seus colaboradores secundários.
b. Energia de gravidade. A energia que agora surge é sensível à gravidade, carrega o potencial do poder do universo e
transforma-se no ancestral ativo de toda a matéria do universo. Essa energia secundária ou gravitacional é o produto da
elaboração da energia, resultante da presença-pressão e das tendências-tensões, estabelecidas pelos Mestres Organizadores
Associados Transcendentais da Força. Em resposta ao trabalho desses manipuladores da força, a energia-espaço passa
rapidamente do estágio de potência ao estado gravitacional, tornando-se assim sensível, diretamente, à atração da gravidade
(absoluta) circular do Paraíso que, ao mesmo tempo revela um certo potencial de sensibilidade à atração da gravidade linear,
inerente à massa material, que logo surge dos estágios eletrônicos e pós-eletrônicos da energia e da matéria. Com o
aparecimento da sensibilidade à gravidade, os Mestres Organizadores Associados da Força podem retirar-se da energia dos
ciclones de espaço, contanto que os Diretores do Poder do Universo estejam designados para esse campo de ação.
Estamos totalmente incertos a respeito das causas exatas dos estágios primordiais da evolução da força, mas reconhecemos a
ação inteligente do Último, em ambos os níveis de manifestação emergente da energia. As energias potentes e gravitacionais,
quando observadas coletivamente, são chamadas ULTIMATA, em Uversa.
4. Poder universal. A força-espaço foi transformada em energia de espaço e, em seguida, na energia de controle da gravidade.
Assim, a energia física amadureceu até aquele ponto em que pode ser dirigida em canais de poder e servir aos propósitos
múltiplos dos Criadores do universo. Esse trabalho é feito pelos versáteis diretores, centros e controladores da energia
física no grande universo – as criações habitadas e organizadas. Esses Diretores do Poder, no Universo, assumem o controle
mais ou menos completo de vinte e uma das trinta fases da energia que constituem o presente sistema de energia dos sete
superuniversos. Esse domínio da energia-poder da matéria é o âmbito das atividades inteligentes do Sétuplo, funcionando sob o
controle tempo-espacial do Supremo.
Em Uversa, referimo-nos ao reino do poder no universo como GRAVITA.
5. Energia de Havona. Os conceitos, nesta narrativa, deslocaram-se no sentido do Paraíso, à medida que a força-espaço
transmutante foi seguida, nível a nível, até o nível de trabalhabilidade do poder-energia dos universos do tempo e do espaço.
Continuando, no sentido do Paraíso, encontra-se em seguida uma fase preexistente de energia que é característica do universo
central. Aqui o ciclo evolucionário parece voltar-se sobre si mesmo; o poder-energia agora parece começar a reverter-se na
direção da força, mas uma força de natureza muito diferente daquela da potência do espaço e da força primordial. Os sistemas
de energia de Havona não são duais; eles são trinos. É esse o domínio da energia existencial do Agente Conjunto, funcionando
em nome da Trindade do Paraíso.
Essas energias de Havona são conhecidas em Uversa como TRIATA.
6. Energia transcendental. Este sistema de energia opera no nível superior e vem de um nível superior do Paraíso, existindo
apenas em relação aos povos absonitos. Em Uversa é denominada TRANOSTA.
7. Monota. Quando a energia vem do Paraíso, ela está próxima da divindade. Inclinamo-nos a acreditar que a monota é a energia
viva, não espiritual, do Paraíso – uma contraparte, na eternidade, da energia viva e espiritual do Filho Original –, sendo
portanto o sistema de energia não espiritual do Pai Universal.
Não conseguimos diferençar a natureza do espírito do Paraíso e a da monota do Paraíso; são aparentemente semelhantes. Têm
nomes diferentes, mas dificilmente vos será dito muito a respeito de uma realidade cujas manifestações espirituais e
não-espirituais sejam diferenciáveis apenas por um nome.
Sabemos que as criaturas finitas podem alcançar a experiência da adoração do Pai Universal, por intermédio da ministração de
Deus, o Sétuplo, e dos Ajustadores do Pensamento, mas duvidamos de que qualquer personalidade subabsoluta e, até mesmo, os
diretores de potência possam compreender a infinitude da energia da Primeira Grande Fonte e Centro. Uma coisa é certa: os
diretores de potência podem ser conhecedores da técnica da metamorfose da força-espaço, mas eles não revelam o segredo para o
resto de nós. A minha opinião é de que eles não compreendem plenamente a função dos organizadores da força.
Esses diretores de potência são, eles próprios, catalisadores da energia; isto é, a presença deles é a causa pela qual a
energia segmenta-se, organiza-se ou reúne-se em formação por unidades. E tudo isso implica que deve haver algo inerente à
energia, na presença dessas entidades do poder, que a leva a funcionar assim,. Os Melquisedeques de Nebadon há muito
denominaram o fenômeno da transmutação da força cósmica em poder, no universo, como uma das sete “infinidades da divindade”.
E é até esse ponto que vós ireis avançar nessa questão durante a vossa ascensão no universo local.
Não obstante sejamos incapazes de compreender plenamente a origem, a natureza e as transmutações da força cósmica, estamos
inteiramente atualizados sobre todas as fases do comportamento da energia emergente, desde os tempos da sua sensibilidade
direta e inequívoca à ação da gravidade do Paraíso – por volta do tempo do início da função dos diretores de potência do
superuniverso.
3. CLASSIFICAÇÃO DA MATÉRIA
Em todos os universos a matéria é idêntica, com exceção do universo central. A matéria, para ter as suas propriedades
físicas, depende da velocidade de rotação dos membros componentes seus, depende do número e do tamanho dos componentes que
giram, depende da sua distância ao corpo do núcleo ou do conteúdo de espaço da matéria, bem como da presença de certas forças
ainda não descobertas em Urântia.
Há dez grandes divisões da matéria, nos diferentes sóis, planetas e corpos espaciais:
1. A matéria ultimatômica – as unidades físicas primordiais da existência material, as partículas de energia que compõem os
elétrons.
2. A matéria subeletrônica – o estágio explosivo e repelente dos supergases solares.
3. A matéria eletrônica – o estágio elétrico da diferenciação material – elétrons, prótons e várias outras unidades que
entram na constituição variada dos grupos eletrônicos.
4. A matéria subatômica – a matéria que existe amplamente no interior dos sóis abrasantes.
5. Os átomos fragmentados – encontrados nos sóis em fase de resfriamento e em todo o espaço.
6. A matéria ionizada – os átomos individuais, desprovidos dos seus elétrons externos (quimicamente ativos) por meio de
atividades elétricas, térmicas ou de raios X, e por solventes.
7. A matéria atômica – o estágio químico da organização dos elementos, as unidades componentes da matéria molecular ou
visível.
8. O estágio molecular da matéria – a matéria, como ela existe em Urântia, em um estado de materialização relativamente
estável, sob condições comuns.
9. A matéria radioativa – a tendência desorganizadora e a atividade dos elementos mais pesados, sob condições de aquecimento
moderado e de pressão gravitacional menor.
10. A matéria em colapso – a matéria relativamente estável, encontrada no interior de sóis frios ou mortos. Essa forma de
matéria não é de fato estacionária; há ainda alguma atividade ultimatômica e mesmo eletrônica, mas ali as unidades estão em
grande proximidade, e as suas velocidades de rotação encontram-se grandemente diminuídas.
Essa classificação da matéria diz respeito mais à sua organização do que às formas sob as quais aparecem para os seres
criados. E também não leva em conta os estágios pré-emergentes da energia, nem as eternas materializações no Paraíso e no
universo central.
4. ENERGIA E TRANSMUTAÇÕES DA MATÉRIA
A luz, o calor, a eletricidade, o magnetismo, a química, a energia e a matéria são – em origem, natureza e destino – uma
única e mesma coisa, junto com outras realidades materiais ainda não descobertas em Urântia.
Nós não compreendemos plenamente as mudanças quase infindáveis, às quais a energia física pode estar sujeita. Num universo,
ela aparece como luz, em um outro, como luz mais calor, noutro, como formas de energia desconhecidas em Urântia; em
incalculáveis milhões de anos, pode reaparecer como alguma forma de energia elétrica irrequieta, alguma energia elétrica ou
poder magnético incontido; e, ainda mais tarde, pode aparecer novamente, em um outro universo, como alguma forma de matéria
variável, passando por uma série de metamorfoses, e, em seguida, ter o seu desaparecimento exterior físico nalgum grande
cataclismo dos reinos. E então, após idades incontáveis e após vagar quase interminavelmente por inúmeros universos, de novo,
essa mesma energia pode reemergir e, muitas vezes, alterar a sua forma e potencial; e, assim, continuam essas transformações
por idades sucessivas e por incontáveis reinos. Assim a matéria continua o seu fluxo, passando por transmutações no tempo,
mas alinhando-se sempre, verdadeiramente, ao círculo da eternidade; e, ainda que há muito impedida de retornar à sua fonte, é
sempre sensível a essa fonte e prossegue interminavelmente no caminho ordenado pela Personalidade Infinita que a emitiu.Os centros de potência e os seus colaboradores estão ocupados com o trabalho de transmutar o ultímatom nos circuitos e nas
revoluções dos elétrons. Esses seres únicos controlam e compõem o poder, com a sua hábil manipulação da unidade básica da
energia materializada, o ultímatom. Eles são os mestres da energia que circula nesse estado primitivo. Em conexão com os
controladores físicos, eles são capazes de controlar efetivamente e de dirigir a energia, mesmo depois que ela tiver sido
transmutada, até o nível elétrico, o assim chamado estágio eletrônico. Mas o alcance da ação deles fica enormemente
abreviado, quando a energia, organizada eletronicamente, passa a girar dentro de sistemas atômicos. Após tal materialização,
essas energias ficam sob o controle completo do poder de atração da gravidade linear.
A gravidade atua positivamente nas linhas de poder e nos canais de energia dos centros de potência e dos controladores
físicos, mas esses seres têm apenas uma relação negativa com a gravidade – o exercício dos seus dons antigravitacionais.
Em todo o espaço, o frio e outras influências físicas trabalham criativamente organizando os ultímatons em elétrons. O calor
é a medida da atividade eletrônica, enquanto o frio significa meramente a ausência de calor – o repouso relativo da energia
–, o status da carga-força universal do espaço, desde que não estejam presentes nem a energia emergente nem a matéria
organizada, e desde que não sejam sensíveis à gravidade.
A presença da gravidade, bem como a sua ação, é o que impede o surgimento do zero absoluto teórico, pois o espaço
interestelar não tem a temperatura do zero absoluto. Em todo o espaço organizado há correntes de energias que são sensíveis à
gravidade, circuitos de poder e de atividades ultimatômicas, bem como de energias eletrônicas em organização. Praticamente
falando, o espaço não é vazio. E mesmo a atmosfera de Urântia vai tornando-se crescentemente menos densa, até que à altitude
de cinco mil quilômetros ela começa a esmaecer-se nessa parte do universo, e se transformar na matéria do espaço comum. O
espaço conhecido, mais próximo do vazio, em Nebadon, conteria cerca de cem ultímatons – o equivalente a um elétron – em cada
dezesseis centímetros cúbicos. Essa escassez de matéria é considerada como sendo praticamente o espaço vazio.
A temperatura – o calor e o frio – é secundária, apenas para a gravidade nos reinos da evolução da energia e da matéria. Os
ultímatons são humildemente obedientes às temperaturas extremas. As temperaturas baixas favorecem certas formas de construção
eletrônica e de formação de conjuntos atômicos, ao passo que as temperaturas altas facilitam toda a sorte de quebras atômicas
e de desintegração material.
Quando submetidas ao calor e à pressão de certos estados solares internos, todas as associações de matéria podem ser
rompidas, excetuando-se as mais primitivas. O calor pode assim vencer grandemente a estabilidade da gravidade. Mas nenhum
calor, ou pressão solar, conhecido pode converter os ultímatons de volta à energia de potência.
Os sóis abrasantes podem transformar a matéria em várias formas de energia, ao passo que os mundos escuros e todo o espaço
exterior podem desacelerar a atividade eletrônica e ultimatômica, a ponto de converter essas energias na matéria dos reinos.
Certas associações eletrônicas de natureza próxima, bem como muitas das associações básicas de matéria nuclear, são formadas
sob as temperaturas excessivamente baixas do espaço aberto, sendo mais tarde aumentadas pela associação com adições maiores
de energia materializante.
Em toda essa metamorfose, que nunca acaba, entre energia e matéria, devemos contar com a influência da pressão da gravidade e
com o comportamento antigravitacional das energias ultimatômicas, sob certas condições de temperatura, velocidade e
revolução. A temperatura, as correntes de energia, a distância e a presença dos organizadores da força viva e dos diretores
de potência também exercem o seu papel em todo o fenômeno de transmutação da energia e da matéria.
O acréscimo de massa à matéria é igual ao acréscimo de energia, dividido pelo quadrado da velocidade da luz. Num sentido
dinâmico, o trabalho que a matéria em repouso pode realizar é igual à energia despendida para manter unidas as suas partes,
desde o Paraíso, menos a resistência das forças a serem vencidas no trânsito e a atração exercida pelas partes da matéria,
umas sobre as outras.
A existência das formas pré-eletrônicas da matéria está indicada pelos dois pesos atômicos do chumbo. O chumbo de formação
original pesa ligeiramente mais do que aquele produzido por meio da desintegração do urânio, por emanações do rádio; e essa
diferença no peso atômico representa a verdadeira perda de energia na quebra atômica.
A integridade relativa da matéria é assegurada pelo fato de que a energia pode apenas ser absorvida e liberada naquelas
quantidades exatas a que os cientistas de Urântia denominaram de quanta. Essa providência sábia, nos reinos materiais, serve
para manter os universos em funcionamento contínuo.
A quantidade de energia absorvida ou liberada, quando as posições eletrônicas ou outras se alternam, é sempre um “quantum” ou
algum múltiplo do mesmo, mas o comportamento vibratório, ou ondulatório, dessas unidades de energia é determinado,
integralmente, pelas dimensões das estruturas materiais envolvidas. Essas manifestações da energia, sob a forma de ondas, têm
860 vezes os diâmetros dos ultímatons, dos elétrons dos átomos, ou das outras unidades que lhes dão origem. A confusão
interminável que acompanha a observação da mecânica, das ondas de comportamento quântico, é devido à superposição de ondas de
energia: duas cristas podem combinar-se, para formar uma crista de altura dupla, enquanto uma crista e um vão podem
combinar-se, ocasionando assim um cancelamento mútuo.
5. MANIFESTAÇÕES DE ENERGIA ONDULATÓRIA
No superuniverso de Orvonton há uma centena de oitavas de energias de ondas. Dessa centena de grupos de manifestações de
energia, sessenta e quatro, total ou parcialmente, são reconhecidas em Urântia. Os raios do sol constituem-se de quatro
oitavas na escala do superuniverso, sendo que os raios visíveis abrangem uma única oitava, a de número quarenta e seis nessa
série. O grupo ultravioleta vem em seguida, enquanto a dez oitavas acima se encontram os raios X, seguidos pelos raios gama
do rádio. A trinta e duas oitavas acima da luz visível do sol, estão os raios da energia do espaço exterior, tão
freqüentemente misturados com as partículas minúsculas de matéria altamente energizada que lhes são associadas. Imediatamente
abaixo da luz visível do sol surgem os raios infravermelhos, e trinta oitavas abaixo está o grupo de radiotransmissão.
As manifestações da energia ondulatória – do ponto de vista do esclarecimento científico do século vinte em Urântia – podem
ser classificadas nos dez grupos seguintes:
1. Raios infra-ultimatômicos – as rotações limítrofes dos ultímatons quando eles começam a assumir uma forma definida. Esse é
o primeiro estágio da energia emergente, em que os fenômenos ondulatórios podem ser detectados e medidos.
2. Raios ultimatômicos. A reunião da energia, nas esferas diminutas dos ultímatons, ocasiona vibrações no conteúdo do espaço,
as quais são discerníveis e mensuráveis. E, muito antes que os físicos descubram o ultímatom, sem dúvida irão eles detectar
os fenômenos causados pelos raios lançados sobre Urântia. Esses raios curtos e poderosos representam a atividade inicial dosultímatons à medida que se desaceleram até aquele ponto em que se voltam para a organização eletrônica da matéria. À medida
que os ultímatons se aglomeram, formando elétrons, uma condensação ocorre com a conseqüente estocagem de energia.
3. Raios espaciais curtos. Estas são as mais curtas de todas as vibrações puramente eletrônicas e representam o estágio
pré-atômico dessa forma de matéria. Esses raios requerem temperaturas extraordinariamente altas ou extraordinarimente baixas
para a sua produção. Há duas espécies desses raios espaciais: uma que se dá com o nascimento dos átomos e a outra que indica
a desagregação atômica. A maior quantidade deles emana dos planos de maior densidade do superuniverso, a Via Láctea, que é
também o plano mais denso dos universos exteriores.
4. Estágio eletrônico. Este estágio de energia é a base de toda a materialização, nos sete superuniversos. Quando os elétrons
passam de níveis de energia mais elevados para os mais baixos, de velocidade orbital, é desprendido sempre um quantum
determinado. As mudanças das órbitas dos elétrons resultam na ejeção, ou na absorção, de partículas da energia-luz, bastante
definidas e uniformemente mensuráveis, enquanto o elétron individualmente sempre desprende uma partícula de energia-luz
quando submetido à colisão. As manifestações da energia ondulatória também são geradas a partir das atividades de corpos
positivos e de outros representantes do estágio eletrônico.
5. Raios gama – são as emanações que caracterizam a dissociação espontânea da matéria atômica. A melhor ilustração dessa
forma de atividade eletrônica está nos fenômenos associados à desintegração do rádio.
6. Grupo dos raios X. O próximo passo na desaceleração dos elétrons gera as várias formas de raios X solares junto com os
raios X artificialmente gerados. A carga eletrônica forma um campo elétrico; o movimento faz surgir uma corrente elétrica; a
corrente elétrica produz um campo magnético. Quando um elétron é paralisado subitamente, o distúrbio eletromagnético
resultante produz os raios X; os raios X são essa perturbação. Os raios X solares são idênticos àqueles gerados mecanicamente
para explorar o interior do corpo humano, excetuando-se o fato de que são ligeiramente mais longos.
7. Raios ultravioleta ou os raios químicos da luz do sol e as suas várias produções mecânicas.
8. Luz branca – toda a luz visível dos sóis.
9. Raios infravermelhos – a desaceleração da atividade eletrônica, ainda mais próxima do estágio de aquecimento considerável.
10. Ondas hertzianas – aquelas energias utilizadas, em Urântia, para as teledifusões.
A todas essas dez fases da atividade ondulatória da energia, o olho humano apenas pode reagir a uma oitava: àquela da luz
solar global de um sol comum.
O chamado éter é meramente um nome coletivo, usado para designar um grupo de atividades de força e de energia que ocorrem no
espaço. Os ultímatons, os elétrons e outras agregações da energia em forma de massa são partículas uniformes de matéria e, no
seu trânsito no espaço, elas realmente se propagam em linha reta. A luz e todas as outras formas de manifestação de energia
reconhecíveis consistem de uma sucessão de partículas definidas de energia que se propagam em linha reta, excetuando-se nos
pontos em que a sua trajetória é modificada pela gravidade e outras forças que intervêm. Que essas procissões de partículas
de energia surjam como fenômenos ondulatórios, quando sujeitas a certas observações, é devido à resistência das camadas de
força, não diferenciadas, em todo o espaço, o éter hipotético, e à tensão da intergravidade das agregações associadas de
matéria. O espaçamento dos intervalos entre as partículas de matéria, junto com a velocidade inicial dos feixes de energia,
estabelece a aparência ondulatória de muitas formas de matéria-energia.
A excitação do conteúdo de espaço produz uma reação ondulatória à passagem de partículas de matéria que se movem rapidamente,
do mesmo modo que a passagem de uma embarcação, pelas águas, inicia ondas de várias amplitudes e intervalos.
O comportamento da força primordial dá surgimento a fenômenos que são, de muitos modos, análogos ao éter por vós postulado. O
espaço não é vazio; as esferas de todo o espaço giram e mergulham em um vasto oceano de energia-força disseminado; e nem
mesmo o interior de um átomo, no espaço, é vazio. Não há nenhum éter, contudo; e a ausência mesma desse éter hipotético
capacita os planetas habitados a escaparem de cair no sol e os elétrons, nas suas órbitas, a resistirem a cair para dentro do
núcleo.
6. ULTÍMATONS, ELÉTRONS E ÁTOMOS
Conquanto a carga de espaço da força universal seja homogênea e indiferenciada, a organização da energia, evoluída em
matéria, requer a concentração da energia em massas discretas, de dimensões definidas e de peso estabelecido – uma reação
precisa à gravidade.
A gravidade local ou linear torna-se plenamente operativa com o surgimento da organização atômica da matéria. A matéria
pré-atômica torna-se ligeiramente sensível à gravidade quando ativada por raios X e por outras energias similares, mas nenhum
empuxo de atração da gravidade linear mensurável é exercido sobre as partículas livres, desagregadas e sem carga de
energia-eletrônica, ou sobre os ultímatons não agrupados.
Os ultímatons funcionam por atração mútua, respondendo apenas à atração circular da gravidade do Paraíso. Sem a reação à
gravidade linear, eles mantêm-se vagando assim em um espaço universal. Os ultímatons são capazes de acelerar a sua velocidade
de revolução, a ponto de atingir o comportamento de uma antigravidade parcial, mas não podem, independentemente dos diretores
organizadores da força ou poder, atingir a velocidade crítica, na qual escapam para a desindividualização, e retornam ao
estado de energia potencial. Na natureza, os ultímatons escapam do status de existência física apenas quando participam da
ruptura terminal de um sol resfriado que se extingue.
Os ultímatons, desconhecidos em Urântia, desaceleram-se passando por muitas atividades físicas antes de atingirem os
pré-requisitos da energia de revolução para a organização eletrônica. Os ultímatons têm três variedades de movimentos: a
resistência mútua à força cósmica, as rotações individuais de potencial antigravitacional, e as posições no interior do
elétron da centena de ultímatons mutuamente interassociados.
A atração mútua mantém cem ultímatons juntos na constituição do elétron; e nunca há mais nem menos do que cem ultímatons em
um elétron típico. A perda de um ou mais ultímatons destrói a identidade típica eletrônica, trazendo assim à existência uma
das dez formas modificadas do elétron.
Os ultímatons não descrevem órbitas ou giros em torno dos circuitos dentro dos elétrons, mas espalham-se ou agrupam-se, de
acordo com as suas velocidades de rotação axial, determinando assim as dimensões diferenciais eletrônicas. Essa mesma
velocidade ultimatômica, de rotação axial, também determina as reações negativas ou positivas dos vários tipos de unidades
eletrônicas. A segregação total e o agrupamento de matéria eletrônica, junto com a diferenciação elétrica, entre os corposnegativos e os positivos de matéria-energia, resultam dessas funções várias das interassociações dos ultímatons componentes.
Cada átomo tem um diâmetro ligeiramente maior do que um quarto de milionésimo de milímetro enquanto um elétron pesa um pouco
mais do que uma duodécima-milésima parte do menor átomo, o do hidrogênio. O próton positivo, característico do núcleo
atômico, ainda que possa não ser maior do que um elétron negativo, pesa quase duas mil vezes mais.
Se a massa da matéria fosse ampliada, a ponto de um elétron pesar 2,83 gramas, então o tamanho teria de ser aumentado
proporcionalmente, e o volume desse elétron tornar-se-ia tão grande quanto o da Terra. Se o volume de um próton – mil e
oitocentas vezes mais pesado do que um elétron – fosse ampliado até o tamanho da cabeça de um alfinete, nessa mesma proporção
a cabeça do alfinete atingiria um diâmetro igual ao da órbita da Terra ao redor do sol.
7. MATÉRIA ATÔMICA
Toda a matéria desenvolve-se em uma ordem semelhante à da formação de um sistema solar. No centro de cada universo diminuto
de energia existe uma porção nuclear de existência material, relativamente estável e estacionária. Essa unidade central é
dotada de uma possibilidade tríplice de manifestação. Em torno desse centro de energia giram, em uma profusão sem fim, mas em
circuitos flutuantes, as unidades de energia que são vagamente comparáveis aos planetas que giram em torno do sol, em algum
grupo estelar como o vosso próprio sistema solar.
Dentro do átomo, os elétrons giram em torno do próton central, relativamente com o mesmo espaço que os planetas possuem para
girar em torno do sol no espaço do sistema solar. Há uma distância relativa, em relação ao tamanho real, entre os núcleos
atômicos e os circuitos eletrônicos internos, a qual corresponde à que existe entre o planeta mais interno, Mercúrio, e o
vosso sol.
As rotações axiais e as suas velocidades orbitais, em torno do núcleo, estão ambas além da imaginação humana, para não
mencionar as velocidades dos seus ultímatons componentes. As partículas positivas do rádio voam para o espaço a velocidades
de dezesseis mil quilômetros por segundo, enquanto as partículas negativas atingem uma velocidade que se aproxima daquela da
luz.
Os universos locais são de construção decimal. Há apenas uma centena de materializações atômicas distinguíveis da
energia-espaço em um universo dual; e essa é a organização máxima possível da matéria em Nebadon. Essa centena de formas de
matéria consiste de uma série regular na qual de um a cem elétrons giram em torno de um núcleo central relativamente
compacto. É essa associação ordenada e confiável, de várias energias, que constitui a matéria.
Nem todos os mundos exibirão uma centena de elementos reconhecíveis na sua superfície, mas em algum lugar esses elementos
estarão ou terão estado presentes, ou encontram-se em processo de evolução. As condições que envolvem a origem e a evolução
futura de um planeta determinam quantos dos cem tipos atômicos poderão ser encontrados. Os átomos mais pesados não são
encontráveis na superfície de muitos mundos. Mesmo em Urântia os elementos mais pesados conhecidos manifestam uma tendência
de estilhaçarem-se no ar, como é ilustrado pelo comportamento do rádio.
A estabilidade do átomo depende do número de nêutrons eletricamente inativos no corpo central. O comportamento químico
depende completamente da atividade dos elétrons livres em órbita.
Em Orvonton nunca foi possível reunir naturalmente acima de cem elétrons orbitais em um sistema atômico. Sempre que se
introduziu artificialmente cento e um no campo orbital, o resultado tem sempre sido um deslocamento quase instantâneo do
próton central com a dispersão enlouquecida dos elétrons e de outras energias liberadas.
Ainda que os átomos possam conter de um a cem elétrons em órbita, apenas os dez elétrons exteriores, dos átomos maiores,
giram em torno do núcleo central, como corpos distintos e separados, intacta e compactamente girando em órbitas precisas e
definidas. Os trinta elétrons mais próximos do centro são de observação e de detecção difícil, como corpos separados e
organizados. Essa mesma proporção relativa de comportamento eletrônico, em relação à proximidade nuclear, prevalece em todos
os átomos, a despeito do número de elétrons abrangido. Quanto mais próximo se está do núcleo, menos a individualização dos
elétrons acontece. A extensão da energia ondulatória de um elétron pode assim espalhar-se para ocupar todas as órbitas
atômicas menores; e isso é especialmente verdade sobre os elétrons mais próximos do núcleo atômico.
Os trinta elétrons de órbitas mais internas têm individualidade, mas os seus sistemas de energia tendem a se intermesclar,
estendendo-se de elétron a elétron, e quase que de órbita a órbita. Os próximos trinta elétrons constituem a segunda família,
ou zona de energia; e são de uma individualidade mais pronunciada, os seus corpos de matéria exercem um controle mais
completo sobre os sistemas de energia que os acompanham. Os próximos trinta elétrons, a terceira zona de energia, são ainda
mais individualizados e circulam em órbitas mais distintas e definidas. Os dez últimos elétrons, presentes apenas nos dez
elementos mais pesados, possuem a dignidade da independência e são, portanto, capazes de escapar mais ou menos livremente do
controle do núcleo-mãe. Com um mínimo de variação de temperatura e pressão, os membros desse quarto grupo mais externo de
elétrons escaparão da atração do núcleo central, como é ilustrado na dispersão espontânea do urânio e dos elementos
semelhantes.
Os primeiros vinte e sete átomos, aqueles que contêm de um a vinte e sete elétrons em órbita, são mais fáceis de serem
distinguidos do que os restantes. Do vigésimo-oitavo, em diante, encontramos cada vez mais a imprevisibilidade da presença
suposta do Absoluto Inqualificável. Um pouco dessa imprevisibilidade eletrônica, todavia, é causada pelas velocidades axiais
das rotações ultimatômicas diferenciais e pela propensão inexplicada dos ultímatons de “amontoarem-se”. Outras influências –
físicas, elétricas, magnéticas e gravitacionais – também colaboram para produzir comportamentos eletrônicos variáveis. Os
átomos são, pois, semelhantes a pessoas quanto à previsibilidade. Os estatísticos podem anunciar leis que governam um grande
número, seja de átomos, seja de pessoas; mas não individualmente para um único átomo, nem para uma única pessoa.
8. COESÃO ATÔMICA
Ainda que a gravidade seja um dos vários fatores a contribuir para manter coeso um minúsculo sistema atômico, há, também
presente, em meio a essas unidades físicas básicas, uma energia poderosa e desconhecida, e o segredo da sua constituição
básica e do seu comportamento último é uma força que ainda não foi descoberta em Urântia. Tal influência universal permeia
todo o espaço interior abrangido por essa mínima organização da energia.
O espaço entre os elétrons de um átomo não é vazio. Dentro de um átomo, esse espaço entre os elétrons é ativado por
manifestações ondulatórias que são perfeitamentes incronizadas com as velocidades de rotação dos elétrons e dos ultímatons.
Essa força não é inteiramente dominada pelas leis reconhecidas por vós, de atração positiva e negativa; o seu comportamento,
portanto, algumas vezes é imprevisível. Essa influência sem nome parece ser uma reação da força do espaço, da parte do
Absoluto Inqualificável.
Os prótons carregados e os nêutrons não carregados, do núcleo do átomo, são mantidos coesos pela função de reciprocidade do
mésotron, uma partícula de matéria 180 vezes mais pesada do que o elétron. Sem esse arranjo, a carga elétrica contida nos
prótons seria desagregadora do núcleo atômico.
Do modo como os átomos são constituídos, nem as forças elétricas nem as gravitacionais poderiam manter o núcleo coeso. A
integridade do núcleo é sustentada pela função coesiva recíproca do mésotron, que é capaz de conservar partículas carregadas
e não carregadas em coesão, por causa do poder superior da massa-força e da função suplementar de levar os prótons e os
nêutrons a mudarem constantemente de lugar. O mésotron faz com que a carga elétrica das partículas do núcleo seja trocada sem
cessar, em um sentido e no outro, entre os prótons e os nêutrons. Num infinitésimo de segundo, uma dada partícula do núcleo é
um próton carregado e, no próximo, é um nêutron não carregado. E essas alternâncias, no status da energia, são tão
inacreditavelmente rápidas que a carga elétrica fica impedida de ter qualquer oportunidade de funcionar como uma influência
desagregadora. Assim, o mésotron funciona como uma partícula “portadora de energia” que poderosamente contribui para a
estabilidade nuclear do átomo.
A presença e a função do mésotron explicam também outro enigma atômico. Quando os átomos atuam radioativamente, eles emitem
muito mais energia do que seria esperado. Esse excesso de radiação deriva-se da quebra do mésotron “portador de energia”,
que, por isso, transforma-se em um mero elétron. A desintegração do mésotron é também acompanhada pela emissão de certas
partículas pequenas não carregadas.
O mésotron explica certas propriedades coesivas do núcleo atômico, mas não é ele que gera a coesão entre próton e próton, nem
a adesão de nêutron a nêutron. A força paradoxal e poderosa da integridade coesiva, no átomo, é uma forma de energia ainda
não descoberta em Urântia.
Esses mésotrons são abundantemente encontrados nos raios do espaço que incidem, tão incessantemente, sobre o vosso planeta.
9. A FILOSOFIA NATURAL
A religião não é a única a ser dogmática; a filosofia natural tende igualmente a dogmatizar. Um renomado educador religioso
chegou à conclusão de que o número sete era fundamental à natureza, porque há sete aberturas na cabeça humana; mas se ele
tivesse sabido mais sobre a química, ele poderia ter advogado tal crença fundamentado em um fenômeno verdadeiro do mundo
físico. Em todos os universos físicos do tempo e do espaço, apesar da manifestação universal da constituição decimal da
energia, há uma reminiscência, sempre presente, da realidade da organização eletrônica sétupla da pré-matéria.
O número sete é básico para o universo central e para o sistema espiritual de transmissões inerentes do caráter; mas o número
dez, o sistema decimal, é inerente à energia, à matéria e à criação material. O mundo atômico, contudo, apresenta uma certa
caracterização periódica que é recorrente em grupos de sete – uma marca de nascença que esse mundo material carrega e que
indica a sua longínqua origem espiritual. Essa persistência sétupla da constituição criativa é exibida nos domínios químicos, como uma recorrência de propriedades
químicas e físicas semelhantes, em grupos separados e periódicos de sete, quando os elementos básicos são arranjados segundo
a ordem seqüencial dos seus pesos atômicos. Quando os elementos químicos de Urântia são, assim, ordenados em uma fila
qualquer, uma certa qualidade ou propriedade tem a tendência de repetir-se a cada sete elementos. Essa mudança periódica a
cada sete ocorre decrescentemente e com variações em toda a tábua química, sendo mais intensamente observável nos primeiros
grupos ou de pesos atômicos mais baixos. A começar por qualquer elemento, após notar-se uma propriedade, essa qualidade irá
mudar por seis elementos consecutivos, mas ao alcançar o oitavo, ela tende a reaparecer, isto é, o oitavo elemento,
quimicamente ativo, assemelha-se ao primeiro, o nono ao segundo, e assim por diante. Esse fato, do mundo físico, aponta
inequivocamente a constituição sétupla da energia ancestral e indica a realidade fundamental da diversidade sétupla das
criações do tempo e do espaço. O homem deveria também notar que há sete cores no espectro natural.
Mas nem todas as suposições da filosofia natural são válidas; e um exemplo é o éter hipotético, que representa uma tentativa
engenhosa do homem para unificar a sua ignorância sobre o fenômeno do espaço. A filosofia do universo não pode ser elaborada
com base nas observações da chamada ciência. Se a metamorfose de uma borboleta não fosse visível, um cientista estaria
inclinado a negar a possibilidade da mesma desenvolver-se a partir de uma lagarta.
A estabilidade física, associada à elasticidade biológica, está presente na natureza apenas por causa da quase infinita
sabedoria possuída pelos Arquitetos Mestres da criação. Nada, a não ser a sabedoria transcendental, poderia jamais projetar
unidades de matéria que são ao mesmo tempo tão estáveis e tão eficazmente flexíveis.
10. SISTEMAS NÃO-ESPIRITUAIS DE ENERGIAS UNIVERSAIS (SISTEMAS DE MENTE MATERIAL)
O movimento sem fim da realidade cósmica relativa, fluindo desde a absolutez da monota do Paraíso, até a absolutez da
potência do espaço, sugere certas evoluções de relacionamento, entre as realidades não-espirituais da Primeira Fonte e Centro
– aquelas realidades que estão ocultas na potência do espaço, reveladas na monota, e provisoriamente divulgadas em níveis
cósmicos intermediários. Esse ciclo eterno de energia, estando ligado ao circuito do Pai dos Universos, é absoluto e, em
sendo absoluto, não é expansível de nenhuma forma, nem em valor; o Pai Primordial, entretanto – agora e sempre –, realiza em
Si uma arena de significados, sempre em expansão, no espaço-tempo, e que transcende o espaço-tempo; uma arena de relações
mutáveis, nas quais a matéria-energia está sendo progressivamente objeto do supracontrole do espírito vivo divino por
intermédio de um esforço experiencial da mente viva e pessoal.
As energias universais não-espirituais são reassociadas nos sistemas vivos de mentes não Criadoras, em vários níveis, alguns
dos quais podem ser descritos como a seguir:
1. Espíritos pré-ajudantes da mente. Este nível de mente é não-experiencial e, nos mundos habitados, é ministrado pelos
Mestres Controladores Físicos. Essa é a mente mecânica, o intelecto não-ensinável, da forma mais primitiva de vida material;
mas a mente não-ensinável funciona em muitos níveis, além daquele da vida planetária primitiva.
2. Espíritos ajudantes da mente. Essa é uma ministração do Espírito Materno do universo local, funcionando através dos seus
sete espíritos ajudantes da mente, no nível ensinável (não-mecânico) da mente material. Nesse nível, a mente material está
experienciando: como intelecto subhumano (animal) por meio dos primeiros cinco ajudantes; como intelecto humano (moral) por
intermédio dos sete ajudantes; como intelecto supra-humano (nos seres intermediários) por meio dos dois últimos ajudantes.
3. Mentes moronciais em evolução – a consciência, em expansão, das personalidades em evolução, nas suas carreiras ascendentes
no universo local. Esta é uma outorga do Espírito Materno do universo local, em conexão com o Filho Criador. Esse nível da
mente indica a organização do tipo moroncial de veículo de vida, uma síntese do material e do espiritual que é efetuada pelos
Supervisores do Poder Moroncial de um universo local. A mente moroncial funciona diferencialmente, em resposta aos 570 níveis
da vida moroncial, demonstrando uma capacidade associativa crescente com a mente cósmica, nos níveis mais elevados de
realização. Esse é o curso evolucionário das criaturas mortais, mas a mente de uma ordem não-moroncial é também outorgada por
um Filho do Universo e por um Espírito do Universo, aos filhos não-moronciais das criações locais.
A mente cósmica. Essa é a mente setuplamente diversificada do tempo e do espaço, cada fase da mesma sendo ministrada, por um
dos Sete Espíritos Mestres, a um dos sete superuniversos. A mente cósmica engloba todos os níveis da mente finita e
coordena-se experiencialmente com os níveis da deidade evolucionária da Mente Suprema, e transcendentalmente com o nível
existencial da mente absoluta – os circuitos diretos do Agente Conjunto.
No Paraíso, a mente é absoluta; em Havona, absonita; em Orvonton, finita. A mente indica sempre a presença-atividade da
ministração viva, acrescida de sistemas de energia variada; e isso é verdade em todos os níveis e para todas as espécies de
mentes. Mas, para além da mente cósmica, torna-se cada vez mais difícil descrever as relações da mente com a energia não
espiritual. A mente de Havona é subabsoluta, mas é supra-evolucionária; sendo experiencial-existencial, ela está mais próxima
do absonito do que de qualquer outro conceito revelado a vós. A mente do Paraíso está adiante da compreensão humana; ela é
existencial, não-espacial e não-temporal. Entretanto, todos esses níveis de mente são sobrepujados pela presença universal do
Agente Conjunto – pela atração da gravidade mental do Deus da mente no Paraíso.
11. MECANISMOS DO UNIVERSO
Na avaliação e no reconhecimento da mente, deveria ser lembrado que o universo não é nem meramente mecânico, nem mágico; ele
é uma criação da mente e um mecanismo com leis. Na aplicação prática, contudo, se as leis da natureza operam naquilo que
parecem ser os reinos duais do físico e do espiritual, na realidade, eles são apenas um. A Primeira Fonte e Centro é a causa
primordial de toda a materialização e, ao mesmo tempo, é o Pai primeiro, e o Pai final de todos os espíritos. O Pai do
Paraíso aparece pessoalmente nos universos, fora de Havona, apenas como energia pura e espírito puro – como o Ajustador do
Pensamento e outros fragmentos semelhantes.
Os mecanismos não dominam, absolutamente, toda a criação; o universo dos universos é totalmente planejado pela mente, feito
pela mente e administrado pela mente. Mas o mecanismo divino do universo dos universos é por demais perfeito, no todo, para
que os métodos científicos da mente finita do homem nele possam discernir, no mínimo que seja, o domínio da mente infinita.
Pois a mente que cria, controla e mantém não é nem a mente material, nem a mente da criatura; é a mente do espírito
funcionando nos níveis criadores da realidade divina e a partir deles.
A capacidade de discernir e de descobrir a mente, com base nos mecanismos do universo, depende inteiramente da habilidade, do
escopo e da capacidade da mente investigadora empenhada nessa tarefa de observação. As mentes do espaço-tempo, organizadas a
partir das energias do tempo e do espaço, ficam sujeitas aos mecanismos do tempo e do espaço.
O movimento e a gravitação no universo são facetas gêmeas do mecanismo impessoal do espaço-tempo, no universo dos universos.
Os níveis de sensibilidade à gravidade, para o espírito, a mente e a matéria, são totalmente independentes do tempo, mas
apenas os níveis verdadeiros da realidade do espírito são independentes do espaço (são não-espaciais). Os níveis mais
elevados da mente do universo – os níveis da mente espiritual – podem também ser não espaciais, mas os níveis da mente
material, tais como a mente humana, são sensíveis às interações da gravitação do universo, apenas perdendo essa sensibilidade
à proporção que se identificam com o espírito. Os níveis da realidade do espírito são reconhecidos pelo seu conteúdo de
espírito; e a espiritualidade no tempo e no espaço é medida na proporção inversa da sensibilidade à gravidade linear.
A sensibilidade à gravidade linear é uma medida quantitativa da energia não espiritual. Toda a massa – ou energia organizada
– está sujeita a essa atração, a menos que o movimento e a mente atuem sobre ela. A gravidade linear é a força de coesão, de
curto alcance, do macrocosmo, do mesmo modo que as forças da coesão interna do átomo são as forças de curto alcance do
microcosmo. A energia física materializada, organizada naquilo que se chama de matéria, não pode atravessar o espaço sem ter
a sua sensibilidade à gravidade linear alterada. Se bem que essa sensibilidade à gravidade seja diretamente proporcional à
massa, ela é modificada pelo espaço intermediário, de um modo tal que o resultado final, quando expresso pelo inverso do
quadrado da distância, nada mais é que grosseiramente aproximado. O espaço finalmente predomina sobre a gravitação linear por
causa da presença, nele, das influências antigravitacionais de numerosas forças supramateriais que operam para neutralizar a
ação da gravidade e todas as respostas a ela.
Os mecanismos cósmicos extremamente complexos, e que aparentam surgir de um modo altamente automático, tendem sempre a
esconder a presença da mente intrínseca que os originou ou criou, para toda e qualquer inteligência, no universo, que esteja
em um nível muito abaixo daquele da natureza e da capacidade do mecanismo em si mesmo. E, por isso, torna-se inevitável que
os mecanismos mais elevados do universo pareçam, para as ordens mais baixas de criaturas, não ter mente. A única exceção
possível dessa conclusão seria a de atribuir uma mente ao incrível fenômeno de um universo, que aparentemente se automantém –
mas essa é uma questão para a filosofia, mais do que de experiência real.
Como a mente coordena o universo, a rigidez dos mecanismos não existe. O fenômeno da evolução progressiva, associado à
automanutenção cósmica, é universal. A capacidade de evolução do universo é inexaurível para infinitude da espontaneidade. O
progresso, no sentido da unidade harmoniosa, a síntese experiencial crescente superposta a uma complexidade sempre crescente
de relações, só poderia ser alcançado por uma mente que tenha propósito e que seja dominante.
Quanto mais elevada for a mente do universo, associada a um fenômeno universal qualquer, tanto mais difícil torna-se
descobri-la para os tipos mais baixos de mente. E, já que a mente do mecanismo do universo é a mente-espírito criativa (a
própria mente do Infinito), ela nunca pode ser descoberta ou percebida nunca pelas mentes de nível baixo do universo; e muito
menos pela mente mais baixa de todas, a humana. A mente animal em evolução, conquanto seja naturalmente buscadora de Deus,
não é por si mesma, nem em si mesma, inerentemente conhecedora de Deus.
12. MODELO E FORMA – O PREDOMÍNIO DA MENTE
A evolução dos mecanismos implica e indica a presença oculta e a predominância da mente criativa. A capacidade do intelecto
mortal de conceber, projetar e criar mecanismos automáticos demonstra que as qualidades superiores, criativas e plenas de
propósito, da mente do homem, são a influência dominante no planeta. A mente tende sempre para a:
1. Criação de mecanismos materiais.
2. Descoberta de mistérios ocultos.
3. Exploração de situações remotas.
4. Formulação de sistemas mentais.
5. Alcance dos objetivos da sabedoria.
6. Realização de níveis do espírito.
7. Cumprimento dos destinos divinos – supremos, últimos e absolutos.
A mente é sempre criativa. O dom da mente de um indivíduo animal, mortal, moroncial, ascendente do espírito ou que tenha
alcançado a finalidade, é sempre competente para produzir um corpo adequado e útil para a identidade da criatura vivente.
Todavia, o fenômeno da presença de uma personalidade, ou do modelo de uma identidade, como tal, não é uma manifestação de
energia, seja física, mental ou espiritual. A forma da personalidade é o aspecto modelar de um ser vivo; denota uma ordenação
das energias, e isso, acrescentado à vida e ao movimento, é o mecanismo da existência da criatura.
Mesmo os seres espirituais têm forma, e essas formas espirituais (os modelos) são reais. Até o tipo mais elevado de
personalidades espirituais tem formas – presenças de personalidades análogas, em todos os sentidos, aos corpos mortais de
Urântia. Quase todos os seres encontrados nos sete superuniversos possuem formas. Todavia, há umas poucas exceções a essa
regra geral: os Ajustadores do Pensamento parecem existir sem uma forma, até fundirem-se com as almas sobreviventes dos seus
colaboradores mortais. Os Mensageiros Solitários, os Espíritos Inspirados da Trindade, os Ajudantes Pessoais do Espírito
Infinito, os Mensageiros por Gravidade, os Registradores Transcendentais e alguns outros também não têm formas descobertas.
Contudo, são essas as raras exceções típicas; a grande maioria tem formas autênticas de personalidade, formas que são
individualmente características e que são reconhecíveis e pessoalmente distinguíveis.
A conexão da mente cósmica com a ministração dos espíritos ajudantes da mente desenvolve um tabernáculo físico adequado para
o ser humano em evolução. De um modo semelhante, a mente moroncial individualiza a forma moroncial para todos os
sobreviventes mortais. Do mesmo modo que um corpo mortal é pessoal e característico para cada ser humano, assim, a forma
moroncial será altamente individual e adequadamente característica da mente criativa que o domina. Não há duas formas
moronciais que sejam parecidas, como não há dois corpos humanos idênticos. Os Supervisores do Poder Moroncial patrocinam, e o
serafim assistente providencia os materiais moronciais não diferenciados a partir dos quais a vida moroncial pode começar a
trabalhar. E, após a vida moroncial, será constatado que as formas do espírito são igualmente diferentes, pessoais e
características das respectivas mentes-espíritos que residem nelas.
Num mundo material, vós pensais em um corpo como tendo um espírito; mas nós consideramos o espírito como tendo um corpo. Os
olhos materiais são verdadeiramente as janelas da alma que nasce do espírito. O espírito é o arquiteto, a mente é o
construtor, o corpo é a edificação material.
As energias físicas, espirituais e mentais, como tais e nos seus estados puros, não interagem integralmente como
factualizações no universo dos fenômenos. No Paraíso, as três energias estão coordenadas, em Havona têm de ser e são
coordenadas; ao passo que, nos níveis de atividades finitas do universo, todas as gamas de predominâncias devem ser
encontradas, a material, a mental e a espiritual. Em situações não pessoais do tempo e do espaço, a energia física parece
predominar; mas também parece que quanto mais a função da mente-espírito aproxima-se da divindade, em propósito, e da
supremacia, em ação, tanto mais nitidamente a fase do espírito torna-se predominante; parece também que, no nível último, o
espírito-mente pode tornar-se quase completamente dominante. No nível absoluto, o espírito certamente é predominante. E daí
em diante, no reino do tempo e do espaço, sempre que uma realidade do espírito divino esteja presente, sempre que uma
mente-espírito real estiver funcionando, sempre haverá uma tendência a produzir uma contraparte material ou física daquela
realidade do espírito.
O espírito é a realidade criativa; a contraparte física é o reflexo, no tempo-espaço, da realidade do espírito, a repercussão
física da ação criativa da mente-espírito.
A mente domina universalmente a matéria, exatamente como esta, por sua vez, é sensível e responde ao controle último do
espírito. E, no homem mortal, apenas aquela mente que livremente se submete ao direcionamento do espírito pode almejar
sobreviver à existência mortal do espaço-tempo, tal uma criança imortal do mundo eterno do espírito do Supremo, do Último e
do Absoluto: o Infinito.
[Apresentado por um Mensageiro Poderoso a serviço em Nebadon, e a pedido de Gabriel.]
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 121
A ÉPOCA DA AUTO-OUTORGA DE MICHAEL
Atuando sob a supervisão de uma comissão de doze membros da Irmandade Unida dos Intermediários de Urântia, promovida
conjuntamente pelo presidente da nossa ordem e o Melquisedeque relator; eu sou o intermediário que esteve outrora destinado
ao apóstolo André, e estou autorizado a colocar neste registro a narrativa dos atos de Jesus de Nazaré, do modo como foram
observados pela minha ordem de criaturas terrenas e como foram posteriormente registrados, de uma maneira parcial, pelo
indivíduo humano que esteve sob a minha guarda temporal. Sabendo o quanto o seu Mestre evitava, tão escrupulosamente, deixar
registros escritos atrás de si, André recusou-se firmemente a multiplicar cópias da sua narrativa escrita. Uma atitude
semelhante da parte dos outros apóstolos de Jesus atrasou bastante a redação dos evangelhos.
1. O OCIDENTE, NO PRIMEIRO SÉCULO DEPOIS DE CRISTO
Jesus não veio a este mundo durante uma idade de decadência espiritual. Na época do seu nascimento, Urântia estava passando
por um renascimento do pensamento e da vivência religiosos, como não havia conhecido em toda a sua história anterior
pós-Adâmica, nem conheceria em qualquer era, desde então. Quando Michael encarnou em Urântia, o mundo apresentava a mais
favorável condição para a auto-outorga do Filho Criador, entre todas as que haviam prevalecido anteriormente, ou que haviam
sido geradas, desde então. Durante os séculos imediatamente anteriores a essa época, a cultura e a língua gregas haviam-se
espalhado pelo Ocidente e pelo Oriente próximo, e os judeus, sendo de uma raça levantina de natureza meio ocidental e meio
oriental, estavam, pois, eminentemente qualificados para utilizar esse quadro cultural e lingüístico na disseminação eficaz
de uma nova religião, tanto para o leste quanto para o oeste. Tais circunstâncias ficaram ainda mais favoráveis com o governo
dos romanos, politicamente tolerante para com o Mundo Mediterrâneo.
Toda essa combinação de influências mundiais é bem ilustrada pelas atividades de Paulo, que, tendo a cultura religiosa de um
hebreu entre os hebreus, proclamou o evangelho de um Messias judeu, na língua grega, enquanto ele próprio era um cidadão
romano.
Nada como a civilização da época de Jesus foi visto no Ocidente, antes ou depois daquela época. A civilização européia foi
unificada e coordenada sob uma extraordinária influência tríplice:
1. O sistema político-social dos romanos.
2. A língua e a cultura gregas – e, em uma certa medida, a filosofia grega.
3. A influência, de veloz expansão, da religião e dos ensinamentos morais judeus.
Quando Jesus nasceu, todo o Mundo Mediterrâneo era um império unificado. Boas estradas interligavam muitos dos maiores
centros, pela primeira vez na História do mundo. Os mares estavam isentos de piratas, e uma grande era de comércio e de
viagens estava rapidamente avançando. A Europa não gozou novamente de um período como esse, de viagens e de comércio, até o
século dezenove depois de Cristo.
Não obstante a paz interna e a prosperidade superficial do mundo greco-romano, uma maioria de habitantes do império definhava
em uma miséria sórdida. A classe superior, pouco numerosa, era rica; uma classe inferior miserável e empobrecida abrangia a
massa da Humanidade. Não havia, naqueles dias, uma classe média feliz e próspera, essa classe mal havia começado a surgir na
sociedade romana.
As primeiras lutas entre os Estados de Roma e da Pártia haviam sido concluídas, em um passado recente, deixando a Síria nas
mãos dos romanos. Nos tempos de Jesus, a Palestina e a Síria estavam gozando de um período de prosperidade, de paz relativa e
de grandes relações comerciais com as nações do Oriente e do Ocidente.
2. O POVO JUDEU
Os judeus eram uma parte da raça semítica mais antiga, que também incluía os babilônios, os fenícios e os inimigos mais
recentes de Roma, os cartagineses. Durante o início do primeiro século depois de Cristo, os judeus eram, dentre os povos
semitas, o grupo de maior influência, e aconteceu que eles ocuparam uma posição geográfica peculiarmente estratégica no
mundo, que, naquela época, era governado e organizado para o comércio.
Muitas das grandes estradas ligando as nações da antigüidade passavam pela Palestina, que se tornou assim um ponto de
confluência ou onde se cruzavam as estradas de três continentes. Os viajantes, o comércio e os exércitos da Babilônia, da
Assíria, do Egito, da Síria, da Grécia, da Pártia e de Roma atravessaram a Palestina sem cessar. Desde tempos imemoriais,
muitas frotas de caravanas do Oriente passavam por alguma parte dessa região, indo para os poucos portos marinhos da
extremidade oriental do Mediterrâneo, de onde os barcos carregavam as suas cargas para todo o Ocidente marítimo. E mais da
metade desse tráfego de caravanas passava por dentro ou próximo da pequena cidade de Nazaré, na Galiléia.
Embora a Palestina fosse a terra da cultura religiosa judaica e o local de nascimento do cristianismo, os judeus estavam
espalhados pelo mundo, morando em muitas nações e fazendo comércio em todas as províncias dos Estados de Roma e da Pártia.
A Grécia contribuiu com uma língua e uma cultura, Roma construiu as estradas e unificou um império, mas, com as suas mais de
duzentas sinagogas e comunidades religiosas bem organizadas, espalhadas aqui e ali, em todo o mundo romano, a dispersão dos
judeus forneceu os centros culturais nos quais o novo evangelho do Reino do céu teve a sua recepção inicial, e dos quais,
subseqüentemente, ele espalhou-se até os confins do mundo.
Cada sinagoga judaica tolerava uma faixa à parte de crentes gentios, de homens “devotos” ou “tementes a Deus”, e foi nessa
faixa de prosélitos que Paulo fez a maior parte dos seus primeiros convertidos ao cristianismo. Até mesmo o templo em
Jerusalém possuía uma área especial decorada para os gentios. Havia uma ligação muito estreita entre a cultura, o comércio e
o culto, entre Jerusalém e a Antióquia. Na Antióquia, os discípulos de Paulo foram chamados de “cristãos” pela primeira vez.
A centralização do culto no templo judaico em Jerusalém constituía não apenas o segredo da sobrevivência do monoteísmo deles,
mas também a promessa da manutenção e da disseminação, para o mundo, de um conceito novo e ampliado daquele único Deus de
todas as nações e Pai de todos os mortais. O serviço, no templo em Jerusalém, representava a sobrevivência de um conceito
cultural religioso em face da queda da sucessão de suseranos nacionais gentios e de perseguidores raciais.
O povo judeu dessa época, embora sob a suserania dos romanos, desfrutava de um grau considerável de autogoverno. E, pois,
relembrando os então recentes atos de heroísmo de libertação executados por Judas Macabeus e pelos seus sucessores imediatos
estavam vibrantes com a expectativa da aparição imediata de um libertador ainda mais magnífico, o Messias há tanto tempo
esperado.
O segredo da sobrevivência da Palestina, o reino dos judeus, como um Estado semi-independente, estava entregue à política
externa do governo romano, que desejava manter o controle sobre as estradas na Palestina e que a ligavam à Síria e ao Egito,
bem como aos terminais ocidentais das rotas das caravanas entre o Oriente e o Ocidente. Roma não queria nenhuma potência,
surgindo no Levante, que pudesse restringir a sua expansão futura naquelas regiões. A política da intriga, que tinha por
objetivo colocar a Síria seleucida e o Egito ptolomaico um contra o outro, necessitava de que se fortalecesse a Palestina
como um Estado separado e independente. A política romana, a degeneração do Egito e o enfraquecimento progressivo dos
seleucidas, diante da emergência do poder da Pártia, explicam por que, durante muitas gerações, um grupo, assim pequeno e sem
poder, de judeus houvesse sido capaz de manter a sua independência, apesar de ter contra si os seleucidas ao norte e os
ptolomaicos ao sul. Essa liberdade e essa independência fortuitas dos governos políticos dos povos vizinhos mais poderosos
eram atribuídas pelos judeus ao fato de que eles eram o “povo escolhido”, e à interferência direta de Yavé. Tal atitude de
superioridade racial tornou mais difícil, para eles, resistirem à suserania romana, quando, finalmente, ela se abateu sobre a
terra deles. Contudo, mesmo nessa hora triste, os judeus recusaram-se a compreender que a sua missão no mundo era espiritual,
não política.
Os judeus achavam-se extraordinariamente apreensivos e suspeitosos, durante a época de Jesus, porque eles estavam então sendo
governados por um estrangeiro, Herodes, o idumeu, que havia trazido a si a suserania da Judéia, pois ele se insinuara
espertamente por entre os governantes romanos. E, embora Herodes professasse lealdade às observâncias cerimoniais dos
hebreus, ele continuava a erigir templos para muitos deuses estranhos.
As relações amistosas de Herodes com os governantes romanos permitiam que os judeus viajassem com segurança pelo mundo, e
assim abriram caminho para a penetração crescente dos judeus, até mesmo nas partes distantes do império romano, e em nações
estrangeiras com as quais Roma mantinha tratados, levando o novo evangelho do Reino do céu. O reino de Herodes também
contribuiu muito para a fusão ulterior das filosofias hebraica e helênica.
Herodes construiu o porto de Cesaréia, que, mais tarde, ajudou a transformar a Palestina em um ponto de confluência das
estradas do mundo civilizado. Ele morreu no ano 4 a.C., e o seu filho, Herodes Antipas, governou a Galiléia e a Peréia
durante a juventude e o ministério de Jesus, até o ano 39 d.C. Antipas, como o seu pai, era um grande construtor. Ele
construiu muitas das cidades da Galiléia, incluindo o importante centro comercial de Séforis.
Os galileus não tinham muito prestígio junto aos líderes religiosos, nem junto aos mestres rabinos de Jerusalém. A Galiléia
era mais dos gentios do que dos judeus, quando Jesus nasceu.
3. ENTRE OS GENTIOS
Embora as condições sociais e econômicas do Estado Romano não fossem da ordem mais elevada, reinava uma paz doméstica bem
disseminada, e a prosperidade era propícia para a auto-outorga de Michael. No primeiro século depois de Cristo, a sociedade
do Mundo Mediterrâneo consistia de cinco substratos bem definidos:
1. A aristocracia. As classes superiores, com dinheiro e poder oficial, os grupos governantes privilegiados.
2. Os grupos de negócios. Os príncipes mercadores e os banqueiros, os negociantes – os grandes importadores e exportadores –
os mercadores internacionais.
3. A pequena classe média. Embora esse grupo fosse de fato pequeno, era muito influente e constituiu a coluna dorsal da
igreja cristã inicial, pois encorajava tais grupos a continuar nos seus vários ofícios e comércios. Entre os judeus, muitos
dos fariseus pertenciam a essa classe de comerciantes.
4. O proletariado livre. Esse grupo tinha um status social baixo ou nulo. Embora orgulhosos da sua liberdade, eles estavam em
grande desvantagem, porque eram forçados a competir com o trabalho escravo. As classes altas dedicavam-lhes um certo desdém,
pois consideravam que eram inúteis, exceto para os “propósitos da reprodução”.
5. Os escravos. Metade da população do Estado Romano era de escravos; muitos eram indivíduos superiores e rapidamente abriram
o seu caminho para o livre proletariado, e mesmo para o comércio. A maioria ou era medíocre, ou muito inferior.
A escravidão, mesmo a de povos superiores, era um aspecto das conquistas militares romanas. O poder do senhor sobre o seu
escravo era irrestrito. A igreja cristã inicial compunha-se, em grande parte, das classes mais baixas e desses escravos.
Os escravos superiores muitas vezes recebiam salários e, por meio de economias, tornavam-se capazes de comprar a sua
liberdade. Muitos desses escravos emancipados alcançaram altas posições no Estado, na Igreja e no mundo dos negócios. E foram
exatamente tais possibilidades que tornaram a igreja cristã inicial tão tolerante com essa forma modificada de escravidão.
Não havia nenhum problema social generalizado no império romano, no primeiro século depois de Cristo. A maior parte da
população considerava-se como pertencente àquele grupo no qual a sorte as levara a nascer. Havia, sempre aberta, uma porta
através da qual os indivíduos talentosos e capazes poderiam ascender do substrato inferior ao superior da sociedade romana;
mas o povo, em geral, era de pessoas contentes com a sua posição social. Elas não possuíam consciência de classe, nem
consideravam essas distinções de classe como sendo injustas ou erradas. O cristianismo não foi, em nenhum sentido, um
movimento econômico, tendo como propósito melhorar as misérias das classes oprimidas.
Embora a mulher gozasse de mais liberdade em todo o império romano do que na sua posição restrita na Palestina, a devoção
familiar e a afeição natural dos judeus ultrapassavam em muito as do mundo gentio.
4. A FILOSOFIA DOS GENTIOS
Os gentios eram, de um ponto de vista moral, um pouco inferiores aos judeus, mas havia, presente nos corações dos gentios
mais nobres, um solo abundante de bondade natural e de potencial de afeição humana no qual era possível à semente do
cristianismo germinar e produzir uma abundante colheita de caráter moral e de realização espiritual. Então, o mundo gentio
estava dominado por quatro grandes filosofias, todas derivadas mais ou menos do platonismo anterior dos gregos. Essas escolas
de filosofia eram:
1. A epicuriana. Essa escola de pensamento dedicava-se à busca da felicidade. Os melhores epicurianos não eram dados a
excessos sensuais. Ao menos essa doutrina ajudou a livrar os romanos de uma forma mais nefasta de fatalismo, pois ensinou que
os homens poderiam fazer alguma coisa para melhorar o seu status terrestre. E combateu, com eficácia, as superstições
ignorantes.
2. A estóica. O estoicismo era a filosofia superior das classes melhores. Os estóicos acreditavam que um controle do
Destino-Razão dominava toda a natureza. Ensinavam que a alma do homem era divina; que estava aprisionada no corpo mau da
natureza física. A alma do homem alcançava a liberdade, vivendo em harmonia com a natureza, com Deus; assim, a virtude
tornava-se a sua própria recompensa. O estoicismo elevou-se até uma moralidade sublime, a ideais nunca transcendidos por
qualquer sistema puramente humano de filosofia. Embora os estóicos professassem ser “a progênie de Deus”, eles não tiveram
êxito em conhecê-Lo e, portanto, falharam em encontrá-Lo. O estoicismo permaneceu como uma filosofia; nunca se transformou em
uma religião. Os seus seguidores buscaram sintonizar as suas mentes com a harmonia da mente Universal, mas deixaram de ver-se
como os filhos de um Pai amoroso. Paulo inclinou-se fortemente para o estoicismo, quando escreveu: “Eu aprendi que, em
qualquer estado em que me encontre, devo estar contente”.
3. A cínica. Embora a filosofia dos cínicos remonte a Diógenes de Atenas, eles tiraram uma boa parte da sua doutrina dos
ensinamentos remanescentes de Maquiventa Melquisedeque. O cinismo havia sido, anteriormente, mais uma religião do que uma
filosofia. Ao menos, os cínicos fizeram da sua religião-filosofia algo democrático. Nos campos e nas praças dos mercados eles
pregavam continuamente a sua doutrina, segundo a qual “o homem podia salvar a si próprio, se quisesse”. Eles pregavam a
simplicidade e a virtude, e estimulavam os homens a enfrentar a morte destemidamente. Esses pregadores cínicos itinerantes
muito fizeram para preparar a população, espiritualmente faminta, para os missionários cristãos posteriores. O seu plano de
pregação popular estava bastante de acordo com o modelo e com o estilo das Epístolas de Paulo.
4. A cética. O ceticismo afirmava que o conhecimento era falacioso, e que a convicção e a certeza eram impossíveis. Era uma
atitude puramente negativa, e nunca se tornou difundida de um modo geral.
Essas filosofias eram semi-religiosas; elas eram, muitas vezes, revigorantes, éticas e enobrecedoras, mas, em geral, estavam
acima da gente comum. Com exceção possivelmente do cinismo, eram filosofias para o forte e o sábio, não eram religiões de
salvação, nem para o pobre, nem para o fraco.
5. AS RELIGIÕES DOS GENTIOS
Durante as idades precedentes, a religião havia sido, principalmente, um assunto da tribo ou da nação; e, dificilmente, um
assunto de preocupação do indivíduo. Os deuses eram tribais ou nacionais, não pessoais. Tais sistemas religiosos
proporcionavam pouca satisfação para as aspirações espirituais individuais da pessoa comum.
Nos tempos de Jesus, as religiões do Ocidente incluíam:
1. Os cultos pagãos. Estes eram uma combinação da mitologia helênica e latina, de patriotismo e de tradição.
2. O culto ao imperador. Essa deificação do homem como símbolo do Estado era muito seriamente ressentida pelos judeus e os
primeiros cristãos, e desembocou diretamente nas perseguições amargas a ambas as igrejas pelo governo romano. 3. A astrologia. Essa pseudo-ciência da Babilônia desenvolveu-se como uma religião por todo o Império Greco-Romano. Mesmo o
homem do século vinte ainda não se libertou totalmente dessa crença supersticiosa.
4. As religiões dos mistérios. Nesse mundo de tanta fome espiritual, uma enchente de cultos misteriosos irrompeu: eram
religiões novas e estranhas do Levante que seduziam a gente comum e que prometiam a salvação individual. Essas religiões
rapidamente tornaram-se as crenças aceitas pelas classes mais baixas do mundo greco-romano. E fizeram muito para preparar o
caminho para a disseminação rápida dos ensinamentos vastamente superiores do cristianismo, que apresentavam às pessoas
inteligentes um conceito majestoso da Deidade associado a uma teologia excitante e uma oferta generosa de salvação de todos,
incluindo os homens comuns ignorantes, mas espiritualmente famintos, daqueles dias.
As religiões dos mistérios marcaram o fim das crenças nacionais e resultaram no nascimento dos inúmeros cultos pessoais. Os
mistérios eram muitos, mas eram todos caracterizados por:
1. Alguma lenda mítica, um mistério – daí o seu nome. Em geral, esse mistério dizia respeito à história da vida, à morte e à
ressurreição de algum deus, como ilustrado nos ensinamentos do mitraísmo, que, durante um certo tempo, foi contemporâneo e
competidor do culto cristão crescente de Paulo.
2. Os mistérios eram não nacionais e inter-raciais. Eram pessoais e fraternais, dando surgimento a irmandades religiosas e a
inúmeras sociedades sectárias.
3. Eles eram, nos seus serviços, caracterizados por cerimônias elaboradas de iniciação e por sacramentos espetaculares de
adoração. Os seus ritos e rituais secretos algumas vezes eram horríveis e revoltantes.
4. Não importando a natureza das suas cerimônias, nem o grau dos seus excessos, esses mistérios invariavelmente prometiam a
salvação aos seus devotos, “a libertação do mal, a sobrevivência depois da morte e uma vida duradoura em reinos abençoados
além deste mundo de tristezas e de escravidão”.
Não cometais, contudo, o erro de confundir os ensinamentos de Jesus com os dos mistérios. A popularidade dos mistérios revela
a busca do homem pela sobrevivência, retratando, assim, a fome e a sede real de religião pessoal e de retidão individual.
Embora os mistérios hajam fracassado em satisfazer adequadamente a essa aspiração, eles prepararam o caminho para o
surgimento posterior de Jesus, que verdadeiramente trouxe a este mundo o pão e a água da vida.
Paulo, em um esforço de aproveitar a adesão ampla dos tipos melhores das religiões dos mistérios, fez certas adaptações dos
ensinamentos de Jesus, de modo a torná-los mais aceitáveis para um número maior de convertidos em potencial. No entanto, os
ensinamentos de Jesus (o cristianismo), mesmo com as concessões de Paulo, eram superiores ao melhor dos mistérios, porque:
1. Paulo ensinou uma redenção moral, uma salvação ética. O cristianismo abriu o caminho de uma nova vida e proclamou um novo
ideal. Paulo abandonou os ritos mágicos e as cerimônias de encantamento.
2. O cristianismo apresentava uma religião que atacava o problema humano com soluções finais, pois não apenas oferecia a
salvação da tristeza e mesmo da morte, mas também prometia a libertação do pecado, seguida da graça de um caráter reto de
qualidades de sobrevivência eterna. 3. Os mistérios eram edificados sobre mitos. O cristianismo, como Paulo o pregava, fundava-se em um fato histórico: a
auto-outorga de Michael, o Filho de Deus, doando-se à humanidade.
A moralidade entre os gentios não era necessariamente relacionada nem à filosofia nem à religião. Fora da Palestina, nem
sempre ocorria às pessoas que um sacerdote de uma religião deveria levar uma vida moral. A religião judaica e,
subseqüentemente, os ensinamentos de Jesus e, mais tarde o cristianismo em evolução, de Paulo, foram as primeiras religiões
européias a colocar uma mão na moral e outra na ética, insistindo em que os religiosos dessem alguma atenção a ambas.
E foi em uma tal geração de homens, dominada por sistemas tão incompletos de filosofia e em meio à perplexidade, por causa de
cultos religiosos complexos, que Jesus nasceu na Palestina. E a essa mesma geração ele posteriormente deu o seu evangelho de
religião pessoal – de filiação a Deus.
6. A RELIGIÃO DOS HEBREUS
Ao final do primeiro século antes de Cristo, o pensamento religioso de Jerusalém havia sido fortemente influenciado e um
tanto modificado pelos ensinamentos culturais gregos e mesmo pela filosofia grega. Na longa divergência entre as visões da
escola de pensamento hebreu do Ocidente e do Oriente, Jerusalém e o restante do Ocidente e do Levante, em geral, adotaram a
visão judaica oriental ou o ponto de vista helenista modificado.
Nos dias de Jesus, três línguas predominavam na Palestina: o povo comum falava algum dialeto do aramaico; os sacerdotes e os
rabinos falavam o hebreu; as classes educadas e o substrato melhor dos judeus em geral falavam o grego. As primeiras
traduções das escrituras dos hebreus para o grego em Alexandria foram responsáveis, em uma grande medida, pela predominância
subseqüente da ramificação grega na cultura e na teologia judaicas. E os escritos dos educadores cristãos estavam para
surgir, em breve, nessa mesma língua. A renascença do judaísmo data da tradução, para o grego, das escrituras dos hebreus.
Isso foi uma influência vital que determinou, mais tarde, a tendência do culto cristão de Paulo de ir na direção do Ocidente,
em vez de ir na direção do Oriente.
Embora as crenças judaicas helenizadas fossem pouco influenciadas pelos ensinamentos dos epicurianos, elas foram bastante
afetadas, materialmente, pela filosofia de Platão e pelas doutrinas de auto-abnegação dos estóicos. A grande invasão do
estoicismo é exemplificada pelo Quarto Livro dos Macabeus; a influência tanto da filosofia platônica quanto das doutrinas
estóicas é demonstrada na sabedoria de Salomão. Os judeus helenizados trouxeram, para as escrituras dos hebreus, uma
interpretação de tal modo alegórica que eles não encontraram nenhuma dificuldade em conformar a teologia dos hebreus à
filosofia aristotélica reverenciada por eles. Tudo isso, porém, levou a uma confusão desastrosa, até que tais problemas
fossem encampados pela mão de Filo de Alexandria, que harmonizou e sistematizou a filosofia grega e a teologia dos hebreus em
um sistema compacto e bastante consistente de crenças e práticas religiosas. Era esse ensinamento ulterior da filosofia
grega, conjugado com a teologia dos hebreus, que prevalecia na Palestina, enquanto Jesus viveu e ensinou, e que Paulo
utilizou como fundação sobre a qual construir o seu culto cristão, mais avançado e iluminado.
Filo era um grande educador; desde Moisés, nenhum homem vivera que houvesse exercido uma influência tão profunda sobre o
pensamento ético e religioso do mundo ocidental. Na questão da combinação dos melhores elementos dos sistemas contemporâneosde ensinamentos éticos e religiosos, houve sete educadores humanos que se destacaram: Setard, Moisés, Zoroastro, Lao-tsé,
Buda, Filo e Paulo.
Muitas, mas não todas, inconsistências de Filo, resultantes do esforço de combinar a filosofia mística grega e as doutrinas
estóicas dos romanos com a teologia legalista dos hebreus, Paulo identificou-as e eliminou-as, sabiamente, na sua teologia
básica pré-cristã. Filo franqueou a Paulo um caminho amplo para restaurar o conceito da Trindade do Paraíso, que havia muito
estava adormecido na teologia dos judeus. Apenas em um ponto Paulo deixou de se manter à altura de Filo ou de transcender os
ensinamentos desse rico e educado judeu da Alexandria, e esse foi o da doutrina da expiação; Filo ensinava a necessidade da
libertação da doutrina de que o perdão não seria obtido senão pelo derramamento de sangue. Ele possivelmente visualizou a
realidade e a presença dos Ajustadores do Pensamento mais claramente do que o conseguiu Paulo. Contudo, a teoria de Paulo
sobre o pecado original, as doutrinas da culpa hereditária e do mal inato e da sua redenção eram parcialmente de origem
mitraica, tendo pouco em comum com a teologia hebraica, com a filosofia de Filo ou com os ensinamentos de Jesus. Alguns
aspectos dos ensinamentos de Paulo acerca do pecado original e da expiação eram originários dele próprio.
O evangelho de João, a última das narrativas da vida terrena de Jesus, foi endereçado aos povos ocidentais e apresenta a sua
história sobremaneira à luz do ponto de vista dos cristãos tardios de Alexandria, que eram também discípulos dos ensinamentos
de Filo.
Por volta da época de Cristo, uma estranha reviravolta de sentimentos para com os judeus ocorreu em Alexandria e desse antigo
bastião dos judeus surgiu uma onda virulenta de perseguição estendendo-se até Roma, de onde muitos milhares deles foram
banidos. Todavia, essa campanha de deturpação dos fatos não se prolongou; logo o governo imperial restaurou total e
amplamente as liberdades dos judeus em todo o império.
Em todo o vasto mundo, não importando por onde os judeus se encontrassem dispersados, por causa do comércio ou da opressão,
eles mantinham, de comum acordo, os seus corações centrados no templo sagrado de Jerusalém. A teologia judaica sobreviveu do
modo como foi interpretada e praticada em Jerusalém, não obstante haver sido, por muitas vezes, salva do esquecimento por
intervenções oportunas de certos educadores babilônios.
Cerca de dois milhões e meio desses judeus dispersados tinham o hábito de vir a Jerusalém, para a celebração dos festivais
nacionais religiosos. E, não importando as diferenças teológicas ou filosóficas entre os judeus do Oriente (os babilônios) e
os do Ocidente (os helênicos), todos eles estavam de acordo sobre Jerusalém ser o centro do seu culto e sobre terem sempre
esperança na vinda do Messias.
7. JUDEUS E GENTIOS
Na época de Jesus, os judeus haviam chegado a um conceito estabelecido sobre a sua origem, história e destino. Haviam
construído um muro rígido de separação entre eles próprios e o mundo gentio; e encaravam todos os hábitos gentios com um
extremo desprezo. O seu culto seguia a letra da lei e eles entregavam-se a uma forma de hipocrisia baseada no orgulho falso
da sua descendência. Eles haviam formado noções preconcebidas a respeito do Messias prometido, e a maioria dessas
expectativas visualizava um Messias que viria como parte da sua história nacional e racial. Para os hebreus daqueles dias, a
teologia judaica estava irrevogavelmente estabelecida, fixada para sempre.
Os ensinamentos e práticas de Jesus a respeito da tolerância e da bondade iam contra a atitude bem antiga dos judeus para com
os outros povos,que eles consideravam pagãos. Durante gerações, os judeus haviam nutrido uma atitude para com o mundo
exterior que tornou impossível a eles aceitarem os ensinamentos do Mestre sobre a irmandade espiritual dos homens. Eles não
estavam dispostos a compartilhar Yavé em termos de igualdade com os gentios e, do mesmo modo, não se dispunham a aceitar,
como sendo Filho de Deus, um homem que ensinava doutrinas tão novas e estranhas.
Os escribas, os fariseus e o sacerdócio mantinham os judeus em uma escravidão terrível de ritualismo e de legalismo, uma
escravidão muito mais real do que a do governo político romano. Os judeus da época de Jesus não eram mantidos apenas sob o
jugo da lei, mas estavam igualmente presos às exigências escravizadoras das tradições, que envolviam e invadiam todos os
domínios da vida pessoal e social. Essas regulamentações minuciosas de conduta perseguiram e dominaram todos os judeus leais,
e não é estranho que rejeitassem prontamente qualquer um dentre eles que presumisse ignorar as suas tradições sagradas e que
ousasse desprezar as suas regras de conduta social já havia tanto tempo honradas. Dificilmente poderiam eles ver
favoravelmente os ensinamentos de um homem que não hesitava em se contrapor aos dogmas que eles consideravam como tendo sido
ordenados pelo próprio Pai Abraão. Moisés havia dado a eles as suas leis e eles não se comprometeriam em concessões.
À época do primeiro século depois de Cristo, a interpretação oral da lei feita pelos educadores reconhecidos, os escribas,
havia-se transformado em uma autoridade mais alta do que a própria lei escrita. E tudo isso tornou mais fácil para alguns
líderes religiosos dos judeus predispor o povo contra a aceitação de um novo evangelho.
Tais circunstâncias tornaram impossível para os judeus realizar o seu destino divino como mensageiros do novo evangelho de
liberdade religiosa e de liberdade espiritual. Eles não podiam quebrar as cadeias da tradição. Jeremias dissera sobre a “lei
a ser escrita nos corações dos homens”, Ezequiel falara sobre um “novo espírito que viveria na alma do homem”, e o salmista
orara para que Deus viesse “criar um coração interior limpo e um espírito reto renovado”. Quando, porém, a religião judaica
das boas obras e da escravidão à lei caiu como vítima da estagnação da inércia tradicionalista, o movimento de evolução
religiosa deslocou-se para o Ocidente, para os povos europeus.
E assim, um povo diferente foi convocado a levar ao mundo uma teologia avançada, um sistema de ensinamentos que incorporava a
filosofia dos gregos, a lei dos romanos, a moralidade dos hebreus e o evangelho da santidade da personalidade e da liberdade
espiritual; como fora formulado por Paulo, com base nos ensinamentos de Jesus.
O culto cristão de Paulo tinha, na sua moralidade, um sinal judeu de nascimento. Os judeus consideravam a história como
conseqüência da providência de Deus – do trabalho de Yavé. Os gregos trouxeram ao novo ensinamento os conceitos mais claros
da vida eterna. As doutrinas de Paulo foram influenciadas, na teologia e na filosofia, não apenas pelos ensinamentos de
Jesus, mas também por Platão e Filo. Na ética, ele se inspirou não apenas em Cristo, mas também nos estóicos.
O evangelho de Jesus, como foi incorporado no culto do cristianismo da Antióquia de Paulo, tornou-se um amálgama dos
ensinamentos seguintes:
1. O raciocínio filosófico dos prosélitos gregos do judaísmo, incluindo alguns dos seus conceitos da vida eterna.
2. Os atraentes ensinamentos dos cultos dos mistérios que prevaleciam, especialmente as doutrinas mitraicas da redenção, da
expiação e da salvação, por meio do sacrifício feito a algum deus.
3. A robusta moralidade da religião judaica estabelecida.
O império romano do Mediterrâneo, o reino Pártio e os povos adjacentes da época de Jesus alimentavam, todos, idéias imaturas
e primitivas a respeito da geografia do mundo, da astronomia, da saúde e das doenças; e, naturalmente, eles ficaram
impressionados com os pronunciamentos novos e surpreendentes do carpinteiro de Nazaré. As idéias da possessão pelos espíritos
bons e maus aplicavam-se, não apenas a seres humanos, mas até mesmo às rochas e às árvores, e muitos viam-nas como sendo
possuídas por espíritos. Essa foi uma idade encantada, e todos acreditavam em milagres como acontecimentos bastante comuns.
8. OS REGISTROS ESCRITOS ANTERIORES
Tanto quanto possível, e consistentemente com o nosso mandato, nós nos esforçamos para utilizar e coordenar, em uma certa
medida, os arquivos existentes, que são relacionados com a vida de Jesus em Urântia. Embora tenhamos desfrutado do acesso aos
registros perdidos do apóstolo André, e nos hajamos beneficiado da colaboração de uma vasta hoste de seres celestes que
esteve na Terra durante a época da auto-outorga de Michael (e, especialmente do seu Ajustador, agora Personalizado), tem sido
o nosso propósito também fazer uso dos assim chamados evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João.
Esses registros do Novo Testamento tiveram a sua origem nas circunstâncias seguintes:
1. O evangelho segundo Marcos. João Marcos escreveu o primeiro registro (excetuando-se as notas de André), o mais breve e o
mais simples, da vida de Jesus. Ele apresentou o Mestre como um ministro, como um homem entre os homens. Embora Marcos fosse
um jovem, evoluindo em meio às muitas cenas que ele retrata, o seu registro é, na realidade, o evangelho segundo Simão Pedro.
Inicialmente, ele fora mais ligado a Pedro, e, mais tarde, a Paulo. Marcos escreveu esse registro estimulado por Pedro e por
um pedido sincero da igreja de Roma. Sabendo quão consistentemente o Mestre havia-se recusado a escrever os seus
ensinamentos, quando na Terra e na carne, Marcos, como os apóstolos e outros discípulos importantes, hesitava em colocá-los
por escrito. Pedro, porém, sentiu que a igreja de Roma, requisitava a assistência dessa narrativa por escrito, e Marcos
consentiu em prepará-la. Ele fez muitas notas antes de Pedro morrer, no ano 67 d.C. e, de acordo com as linhas gerais
aprovadas por Pedro e pela igreja em Roma, ele começou a escrevê-los logo depois da morte de Pedro. O evangelho ficou pronto
lá pelo final do ano 68 d.C. Marcos escreveu-o inteiramente de memória e a partir das memórias de Pedro. Esse registro, desde
então, tem sido alterado consideravelmente; inúmeras passagens foram retiradas e algumas, mais tarde, foram acrescentadas,
com a finalidade de repor o último quinto do evangelho original, que foi perdido do primeiro manuscrito antes de haver sido
jamais copiado. Esse registro, feito por Marcos, em conjunção com as anotações de André e as de Mateus, foi a base escrita de
todas as narrativas subseqüentes dos Evangelhos que procuraram retratar a vida e os ensinamentos de Jesus.
2. O evangelho de Mateus. O chamado evangelho segundo Mateus é o registro da vida do Mestre que foi escrito para a edificação
dos cristãos judeus. O autor desse registro procura continuamente mostrar que, na vida de Jesus, muito do que ele fez foi
para que “pudesse ser cumprido aquilo que foi dito pelo profeta”. O evangelho de Mateus retrata Jesus como um filho de Davi,
apresentando-o como se houvesse tido um grande respeito pela lei judaica e pelos profetas.
O apóstolo Mateus não escreveu esse evangelho. Foi escrito por Isador, um dos seus discípulos, que teve, no seu trabalho, a
ajuda não apenas da lembrança pessoal de Mateus desses acontecimentos, mas também um certo registro que este último havia
feito sobre as palavras de Jesus, exatamente depois da sua crucificação. Esse registro de Mateus foi escrito em aramaico;
Isador escreveu-o em grego. Não houve a intenção de enganar, ao creditar-se a obra a Mateus. Era costume, naqueles dias, que
os discípulos prestassem assim homenagem aos seus mestres.
O registro original de Mateus foi editado e recebeu aditamentos no ano 40 d.C., pouco antes de ele haver deixado Jerusalém
para entrar em pregação evangelizadora. Era um registro particular, havendo a última cópia sido destruída pelo incêndio de um
monastério sírio, no ano 416 d.C.
Isador escapou de Jerusalém no ano 70 d.C., depois da invasão da cidade pelos exércitos de Tito, levando consigo para Pela
uma cópia das notas de Mateus. No ano 71 enquanto vivia em Pela, Isador escreveu o evangelho segundo Mateus. Ele também tinha
consigo os primeiros quatro quintos da narrativa de Marcos.
3. O evangelho segundo Lucas. Lucas, o médico da Antióquia em Pisídia, era um gentio convertido por Paulo, e ele escreveu uma
história totalmente diferente da vida do Mestre. Ele começou a seguir Paulo e a aprender sobre a vida e os ensinamentos de
Jesus no ano 47 d.C. Lucas preserva muito da “graça do Senhor Jesus Cristo” no seu registro, pois ele reuniu esses fatos de
Paulo e de outros. Lucas apresenta o Mestre como “o amigo de publicanos e pecadores”. Ele transformou em evangelho muitas das
suas anotações, somente depois da morte de Paulo. Lucas escreveu-o no ano 82 d.C., em Acáia. Ele planejou três livros
tratando da história de Cristo e da cristandade, mas morreu no ano 90 d.C. pouco antes de terminar o segundo desses
trabalhos, os “Atos dos Apóstolos”.
Para material de compilação desse evangelho, Lucas primeiro usou da história da vida de Jesus, como Paulo a relatara a ele. O
evangelho de Lucas é, portanto, de algum modo, o evangelho segundo Paulo. Lucas, no entanto, tinha outras fontes de
informação. Ele não apenas entrevistou dezenas de testemunhas oculares dos inúmeros episódios da vida de Jesus, que ele
registrou, mas também ele tinha consigo uma cópia do evangelho de Marcos, isto é, os primeiros quatro quintos da narrativa de
Isador, e um breve registro feito no ano 78 d.C., em Antióquia, por um crente chamado Cedes. Lucas também possuía uma cópia
mutilada e muito modificada de algumas notas que supostamente teriam sido feitas pelo apóstolo André.
4. O evangelho de João. O evangelho segundo João relata grande parte do trabalho de Jesus na Judéia e perto de Jerusalém, que
não consta em outros registros. Esse é o assim chamado evangelho segundo João, o filho de Zebedeu, e embora João não o haja
escrito, ele o inspirou. Desde a primeira vez que foi escrito, foi editado várias vezes, de modo a fazê-lo parecer ter sido
escrito pelo próprio João. Quando esse registro foi feito, João estava de posse dos outros Evangelhos, e viu que muita coisa
havia sido omitida; e, desse modo, no ano 101 d.C., ele encorajou o seu discípulo, Natam, um judeu grego de Cesaréia, a
começar a escrevê-lo. João forneceu o seu material de memória, e sugeriu que ele se baseasse nas referências feitas nos três
registros já existentes. João nada tinha que houvesse sido escrito por ele próprio. A epístola conhecida como “Primeira de
João” foi escrita pelo próprio João, como uma carta de apresentação para o trabalho que Natam executara sob a sua direção.
Todos esses escritores apresentaram retratos honestos de Jesus como eles o viam, lembravam ou haviam aprendido dele, e como
os conceitos que eles tinham desses acontecimentos distantes foram afetados pela sua posterior adoção da teologia cristã de
Paulo. E esses registros, imperfeitos como eram, foram suficientes para mudar o curso da história de Urântia por quase dois
mil anos.
[Esclarecimentos: Ao cumprir a minha missão de reconstituir os ensinamentos, e de recontar a história dos feitos de Jesus de
Nazaré, eu lancei mão livremente de todas as fontes de registro e de informações do planeta. A minha motivação principal foi
preparar um documento que fosse esclarecedor, não apenas para a geração de homens que agora vive, mas que também pudesse ser
de bastante proveito para todas as gerações futuras. Do vasto estoque de informações que se tornou disponível para mim, eu
escolhi tudo que seria mais adequado à realização desse propósito. Tanto quanto possível eu retirei as minhas informações de
fontes puramente humanas. Apenas quando tais fontes demonstravam ser insuficientes é que recorri aos arquivos supra-humanos.
Sempre que as idéias e os conceitos da vida e dos ensinamentos de Jesus houverem sido expressos de um modo aceitável por uma
mente humana, eu terei dado preferência, invariavelmente, a tais modelos de pensamentos aparentemente humanos. Embora tenha
procurado ajustar a expressão verbal para que ela melhor se conformasse ao nosso conceito da significação real e da
verdadeira importância da vida e dos ensinamentos do Mestre, eu me ative, tanto quanto possível, aos conceitos factuais e ao
modelo de pensamento humano, em todas as minhas narrativas. Sei muito bem que os conceitos que tiveram origem na mente humana
serão mais aceitáveis e de maior ajuda para todas as outras mentes humanas. Sempre que não me foi possível encontrar os
conceitos necessários nos registros humanos, nem nas expressões humanas, em seguida, eu lancei mão dos recursos de memória da
minha própria ordem de criaturas da Terra, os intermediários. E sempre que essa fonte secundária de informação se mostrou
inadequada, eu recorri, sem hesitar, às fontes supra-planetárias de informação.
Os memorandos que eu reuni, e, a partir dos quais preparei esta narrativa da vida e dos ensinamentos de Jesus –
independentemente do registro escrito da memória do apóstolo André –, abrangem preciosidades do pensamento e conceitos
superiores dos ensinamentos de Jesus, reunidos por mais de dois mil seres humanos que viveram na Terra desde os dias de Jesus
até a época da elaboração destes textos de revelação, ou, mais corretamente dizendo, de restabelecimentos deles. Recorreu-se
à permissão para fazer revelações apenas quando os registros humanos e os conceitos humanos falharam em fornecer um modelo
adequado de pensamento. A minha missão de revelar proibiu-me de recorrer a fontes extra-humanas, fosse de informação, fosse
de expressão, antes do momento em que eu pudesse atestar que havia fracassado nos meus esforços de achar a expressão
conceitual exigida, por intermédio de fontes puramente humanas.
Conquanto eu haja feito esta narrativa de acordo com o conceito que tenho de uma seqüência efetiva para a sua organização, e
em resposta à minha escolha imediata de expressão, e contando com a colaboração dos meus onze companheiros intermediários
agregados, e sob a supervisão do Melquisedeque relator, todavia, a maioria das idéias e mesmo das expressões efetivas que eu
utilizei, desse modo, tiveram a sua origem nas mentes dos homens de muitas raças que viveram na Terra, durante as gerações
sucessivas até aquelas que ainda viviam, na época deste trabalho. Na realidade, eu tenho servido mais como um colecionador e
como um editor do que como um narrador original. Eu me apropriei, sem hesitar, daquelas idéias e conceitos, preferivelmente
humanos, que me capacitaram a criar o retrato mais eficiente da vida de Jesus e que me qualificaram para restabelecer os seus
ensinamentos sem par, por meio de um estilo de frases que fosse de mais proveito e mais universalmente elucidativo. Em nome
da Irmandade dos Intermediários Unidos de Urântia, desejo expressar gratidão a todas as fontes de registros e conceitos que
foram aqui utilizados para a elaboração destes nossos restabelecimentos da vida de Jesus, na Terra.]
DOCUMENTO 121
A ÉPOCA DA AUTO-OUTORGA DE MICHAEL
Atuando sob a supervisão de uma comissão de doze membros da Irmandade Unida dos Intermediários de Urântia, promovida
conjuntamente pelo presidente da nossa ordem e o Melquisedeque relator; eu sou o intermediário que esteve outrora destinado
ao apóstolo André, e estou autorizado a colocar neste registro a narrativa dos atos de Jesus de Nazaré, do modo como foram
observados pela minha ordem de criaturas terrenas e como foram posteriormente registrados, de uma maneira parcial, pelo
indivíduo humano que esteve sob a minha guarda temporal. Sabendo o quanto o seu Mestre evitava, tão escrupulosamente, deixar
registros escritos atrás de si, André recusou-se firmemente a multiplicar cópias da sua narrativa escrita. Uma atitude
semelhante da parte dos outros apóstolos de Jesus atrasou bastante a redação dos evangelhos.
1. O OCIDENTE, NO PRIMEIRO SÉCULO DEPOIS DE CRISTO
Jesus não veio a este mundo durante uma idade de decadência espiritual. Na época do seu nascimento, Urântia estava passando
por um renascimento do pensamento e da vivência religiosos, como não havia conhecido em toda a sua história anterior
pós-Adâmica, nem conheceria em qualquer era, desde então. Quando Michael encarnou em Urântia, o mundo apresentava a mais
favorável condição para a auto-outorga do Filho Criador, entre todas as que haviam prevalecido anteriormente, ou que haviam
sido geradas, desde então. Durante os séculos imediatamente anteriores a essa época, a cultura e a língua gregas haviam-se
espalhado pelo Ocidente e pelo Oriente próximo, e os judeus, sendo de uma raça levantina de natureza meio ocidental e meio
oriental, estavam, pois, eminentemente qualificados para utilizar esse quadro cultural e lingüístico na disseminação eficaz
de uma nova religião, tanto para o leste quanto para o oeste. Tais circunstâncias ficaram ainda mais favoráveis com o governo
dos romanos, politicamente tolerante para com o Mundo Mediterrâneo.
Toda essa combinação de influências mundiais é bem ilustrada pelas atividades de Paulo, que, tendo a cultura religiosa de um
hebreu entre os hebreus, proclamou o evangelho de um Messias judeu, na língua grega, enquanto ele próprio era um cidadão
romano.
Nada como a civilização da época de Jesus foi visto no Ocidente, antes ou depois daquela época. A civilização européia foi
unificada e coordenada sob uma extraordinária influência tríplice:
1. O sistema político-social dos romanos.
2. A língua e a cultura gregas – e, em uma certa medida, a filosofia grega.
3. A influência, de veloz expansão, da religião e dos ensinamentos morais judeus.
Quando Jesus nasceu, todo o Mundo Mediterrâneo era um império unificado. Boas estradas interligavam muitos dos maiores
centros, pela primeira vez na História do mundo. Os mares estavam isentos de piratas, e uma grande era de comércio e de
viagens estava rapidamente avançando. A Europa não gozou novamente de um período como esse, de viagens e de comércio, até o
século dezenove depois de Cristo.
Não obstante a paz interna e a prosperidade superficial do mundo greco-romano, uma maioria de habitantes do império definhava
em uma miséria sórdida. A classe superior, pouco numerosa, era rica; uma classe inferior miserável e empobrecida abrangia a
massa da Humanidade. Não havia, naqueles dias, uma classe média feliz e próspera, essa classe mal havia começado a surgir na
sociedade romana.
As primeiras lutas entre os Estados de Roma e da Pártia haviam sido concluídas, em um passado recente, deixando a Síria nas
mãos dos romanos. Nos tempos de Jesus, a Palestina e a Síria estavam gozando de um período de prosperidade, de paz relativa e
de grandes relações comerciais com as nações do Oriente e do Ocidente.
2. O POVO JUDEU
Os judeus eram uma parte da raça semítica mais antiga, que também incluía os babilônios, os fenícios e os inimigos mais
recentes de Roma, os cartagineses. Durante o início do primeiro século depois de Cristo, os judeus eram, dentre os povos
semitas, o grupo de maior influência, e aconteceu que eles ocuparam uma posição geográfica peculiarmente estratégica no
mundo, que, naquela época, era governado e organizado para o comércio.
Muitas das grandes estradas ligando as nações da antigüidade passavam pela Palestina, que se tornou assim um ponto de
confluência ou onde se cruzavam as estradas de três continentes. Os viajantes, o comércio e os exércitos da Babilônia, da
Assíria, do Egito, da Síria, da Grécia, da Pártia e de Roma atravessaram a Palestina sem cessar. Desde tempos imemoriais,
muitas frotas de caravanas do Oriente passavam por alguma parte dessa região, indo para os poucos portos marinhos da
extremidade oriental do Mediterrâneo, de onde os barcos carregavam as suas cargas para todo o Ocidente marítimo. E mais da
metade desse tráfego de caravanas passava por dentro ou próximo da pequena cidade de Nazaré, na Galiléia.
Embora a Palestina fosse a terra da cultura religiosa judaica e o local de nascimento do cristianismo, os judeus estavam
espalhados pelo mundo, morando em muitas nações e fazendo comércio em todas as províncias dos Estados de Roma e da Pártia.
A Grécia contribuiu com uma língua e uma cultura, Roma construiu as estradas e unificou um império, mas, com as suas mais de
duzentas sinagogas e comunidades religiosas bem organizadas, espalhadas aqui e ali, em todo o mundo romano, a dispersão dos
judeus forneceu os centros culturais nos quais o novo evangelho do Reino do céu teve a sua recepção inicial, e dos quais,
subseqüentemente, ele espalhou-se até os confins do mundo.
Cada sinagoga judaica tolerava uma faixa à parte de crentes gentios, de homens “devotos” ou “tementes a Deus”, e foi nessa
faixa de prosélitos que Paulo fez a maior parte dos seus primeiros convertidos ao cristianismo. Até mesmo o templo em
Jerusalém possuía uma área especial decorada para os gentios. Havia uma ligação muito estreita entre a cultura, o comércio e
o culto, entre Jerusalém e a Antióquia. Na Antióquia, os discípulos de Paulo foram chamados de “cristãos” pela primeira vez.
A centralização do culto no templo judaico em Jerusalém constituía não apenas o segredo da sobrevivência do monoteísmo deles,
mas também a promessa da manutenção e da disseminação, para o mundo, de um conceito novo e ampliado daquele único Deus de
todas as nações e Pai de todos os mortais. O serviço, no templo em Jerusalém, representava a sobrevivência de um conceito
cultural religioso em face da queda da sucessão de suseranos nacionais gentios e de perseguidores raciais.
O povo judeu dessa época, embora sob a suserania dos romanos, desfrutava de um grau considerável de autogoverno. E, pois,
relembrando os então recentes atos de heroísmo de libertação executados por Judas Macabeus e pelos seus sucessores imediatos
estavam vibrantes com a expectativa da aparição imediata de um libertador ainda mais magnífico, o Messias há tanto tempo
esperado.
O segredo da sobrevivência da Palestina, o reino dos judeus, como um Estado semi-independente, estava entregue à política
externa do governo romano, que desejava manter o controle sobre as estradas na Palestina e que a ligavam à Síria e ao Egito,
bem como aos terminais ocidentais das rotas das caravanas entre o Oriente e o Ocidente. Roma não queria nenhuma potência,
surgindo no Levante, que pudesse restringir a sua expansão futura naquelas regiões. A política da intriga, que tinha por
objetivo colocar a Síria seleucida e o Egito ptolomaico um contra o outro, necessitava de que se fortalecesse a Palestina
como um Estado separado e independente. A política romana, a degeneração do Egito e o enfraquecimento progressivo dos
seleucidas, diante da emergência do poder da Pártia, explicam por que, durante muitas gerações, um grupo, assim pequeno e sem
poder, de judeus houvesse sido capaz de manter a sua independência, apesar de ter contra si os seleucidas ao norte e os
ptolomaicos ao sul. Essa liberdade e essa independência fortuitas dos governos políticos dos povos vizinhos mais poderosos
eram atribuídas pelos judeus ao fato de que eles eram o “povo escolhido”, e à interferência direta de Yavé. Tal atitude de
superioridade racial tornou mais difícil, para eles, resistirem à suserania romana, quando, finalmente, ela se abateu sobre a
terra deles. Contudo, mesmo nessa hora triste, os judeus recusaram-se a compreender que a sua missão no mundo era espiritual,
não política.
Os judeus achavam-se extraordinariamente apreensivos e suspeitosos, durante a época de Jesus, porque eles estavam então sendo
governados por um estrangeiro, Herodes, o idumeu, que havia trazido a si a suserania da Judéia, pois ele se insinuara
espertamente por entre os governantes romanos. E, embora Herodes professasse lealdade às observâncias cerimoniais dos
hebreus, ele continuava a erigir templos para muitos deuses estranhos.
As relações amistosas de Herodes com os governantes romanos permitiam que os judeus viajassem com segurança pelo mundo, e
assim abriram caminho para a penetração crescente dos judeus, até mesmo nas partes distantes do império romano, e em nações
estrangeiras com as quais Roma mantinha tratados, levando o novo evangelho do Reino do céu. O reino de Herodes também
contribuiu muito para a fusão ulterior das filosofias hebraica e helênica.
Herodes construiu o porto de Cesaréia, que, mais tarde, ajudou a transformar a Palestina em um ponto de confluência das
estradas do mundo civilizado. Ele morreu no ano 4 a.C., e o seu filho, Herodes Antipas, governou a Galiléia e a Peréia
durante a juventude e o ministério de Jesus, até o ano 39 d.C. Antipas, como o seu pai, era um grande construtor. Ele
construiu muitas das cidades da Galiléia, incluindo o importante centro comercial de Séforis.
Os galileus não tinham muito prestígio junto aos líderes religiosos, nem junto aos mestres rabinos de Jerusalém. A Galiléia
era mais dos gentios do que dos judeus, quando Jesus nasceu.
3. ENTRE OS GENTIOS
Embora as condições sociais e econômicas do Estado Romano não fossem da ordem mais elevada, reinava uma paz doméstica bem
disseminada, e a prosperidade era propícia para a auto-outorga de Michael. No primeiro século depois de Cristo, a sociedade
do Mundo Mediterrâneo consistia de cinco substratos bem definidos:
1. A aristocracia. As classes superiores, com dinheiro e poder oficial, os grupos governantes privilegiados.
2. Os grupos de negócios. Os príncipes mercadores e os banqueiros, os negociantes – os grandes importadores e exportadores –
os mercadores internacionais.
3. A pequena classe média. Embora esse grupo fosse de fato pequeno, era muito influente e constituiu a coluna dorsal da
igreja cristã inicial, pois encorajava tais grupos a continuar nos seus vários ofícios e comércios. Entre os judeus, muitos
dos fariseus pertenciam a essa classe de comerciantes.
4. O proletariado livre. Esse grupo tinha um status social baixo ou nulo. Embora orgulhosos da sua liberdade, eles estavam em
grande desvantagem, porque eram forçados a competir com o trabalho escravo. As classes altas dedicavam-lhes um certo desdém,
pois consideravam que eram inúteis, exceto para os “propósitos da reprodução”.
5. Os escravos. Metade da população do Estado Romano era de escravos; muitos eram indivíduos superiores e rapidamente abriram
o seu caminho para o livre proletariado, e mesmo para o comércio. A maioria ou era medíocre, ou muito inferior.
A escravidão, mesmo a de povos superiores, era um aspecto das conquistas militares romanas. O poder do senhor sobre o seu
escravo era irrestrito. A igreja cristã inicial compunha-se, em grande parte, das classes mais baixas e desses escravos.
Os escravos superiores muitas vezes recebiam salários e, por meio de economias, tornavam-se capazes de comprar a sua
liberdade. Muitos desses escravos emancipados alcançaram altas posições no Estado, na Igreja e no mundo dos negócios. E foram
exatamente tais possibilidades que tornaram a igreja cristã inicial tão tolerante com essa forma modificada de escravidão.
Não havia nenhum problema social generalizado no império romano, no primeiro século depois de Cristo. A maior parte da
população considerava-se como pertencente àquele grupo no qual a sorte as levara a nascer. Havia, sempre aberta, uma porta
através da qual os indivíduos talentosos e capazes poderiam ascender do substrato inferior ao superior da sociedade romana;
mas o povo, em geral, era de pessoas contentes com a sua posição social. Elas não possuíam consciência de classe, nem
consideravam essas distinções de classe como sendo injustas ou erradas. O cristianismo não foi, em nenhum sentido, um
movimento econômico, tendo como propósito melhorar as misérias das classes oprimidas.
Embora a mulher gozasse de mais liberdade em todo o império romano do que na sua posição restrita na Palestina, a devoção
familiar e a afeição natural dos judeus ultrapassavam em muito as do mundo gentio.
4. A FILOSOFIA DOS GENTIOS
Os gentios eram, de um ponto de vista moral, um pouco inferiores aos judeus, mas havia, presente nos corações dos gentios
mais nobres, um solo abundante de bondade natural e de potencial de afeição humana no qual era possível à semente do
cristianismo germinar e produzir uma abundante colheita de caráter moral e de realização espiritual. Então, o mundo gentio
estava dominado por quatro grandes filosofias, todas derivadas mais ou menos do platonismo anterior dos gregos. Essas escolas
de filosofia eram:
1. A epicuriana. Essa escola de pensamento dedicava-se à busca da felicidade. Os melhores epicurianos não eram dados a
excessos sensuais. Ao menos essa doutrina ajudou a livrar os romanos de uma forma mais nefasta de fatalismo, pois ensinou que
os homens poderiam fazer alguma coisa para melhorar o seu status terrestre. E combateu, com eficácia, as superstições
ignorantes.
2. A estóica. O estoicismo era a filosofia superior das classes melhores. Os estóicos acreditavam que um controle do
Destino-Razão dominava toda a natureza. Ensinavam que a alma do homem era divina; que estava aprisionada no corpo mau da
natureza física. A alma do homem alcançava a liberdade, vivendo em harmonia com a natureza, com Deus; assim, a virtude
tornava-se a sua própria recompensa. O estoicismo elevou-se até uma moralidade sublime, a ideais nunca transcendidos por
qualquer sistema puramente humano de filosofia. Embora os estóicos professassem ser “a progênie de Deus”, eles não tiveram
êxito em conhecê-Lo e, portanto, falharam em encontrá-Lo. O estoicismo permaneceu como uma filosofia; nunca se transformou em
uma religião. Os seus seguidores buscaram sintonizar as suas mentes com a harmonia da mente Universal, mas deixaram de ver-se
como os filhos de um Pai amoroso. Paulo inclinou-se fortemente para o estoicismo, quando escreveu: “Eu aprendi que, em
qualquer estado em que me encontre, devo estar contente”.
3. A cínica. Embora a filosofia dos cínicos remonte a Diógenes de Atenas, eles tiraram uma boa parte da sua doutrina dos
ensinamentos remanescentes de Maquiventa Melquisedeque. O cinismo havia sido, anteriormente, mais uma religião do que uma
filosofia. Ao menos, os cínicos fizeram da sua religião-filosofia algo democrático. Nos campos e nas praças dos mercados eles
pregavam continuamente a sua doutrina, segundo a qual “o homem podia salvar a si próprio, se quisesse”. Eles pregavam a
simplicidade e a virtude, e estimulavam os homens a enfrentar a morte destemidamente. Esses pregadores cínicos itinerantes
muito fizeram para preparar a população, espiritualmente faminta, para os missionários cristãos posteriores. O seu plano de
pregação popular estava bastante de acordo com o modelo e com o estilo das Epístolas de Paulo.
4. A cética. O ceticismo afirmava que o conhecimento era falacioso, e que a convicção e a certeza eram impossíveis. Era uma
atitude puramente negativa, e nunca se tornou difundida de um modo geral.
Essas filosofias eram semi-religiosas; elas eram, muitas vezes, revigorantes, éticas e enobrecedoras, mas, em geral, estavam
acima da gente comum. Com exceção possivelmente do cinismo, eram filosofias para o forte e o sábio, não eram religiões de
salvação, nem para o pobre, nem para o fraco.
5. AS RELIGIÕES DOS GENTIOS
Durante as idades precedentes, a religião havia sido, principalmente, um assunto da tribo ou da nação; e, dificilmente, um
assunto de preocupação do indivíduo. Os deuses eram tribais ou nacionais, não pessoais. Tais sistemas religiosos
proporcionavam pouca satisfação para as aspirações espirituais individuais da pessoa comum.
Nos tempos de Jesus, as religiões do Ocidente incluíam:
1. Os cultos pagãos. Estes eram uma combinação da mitologia helênica e latina, de patriotismo e de tradição.
2. O culto ao imperador. Essa deificação do homem como símbolo do Estado era muito seriamente ressentida pelos judeus e os
primeiros cristãos, e desembocou diretamente nas perseguições amargas a ambas as igrejas pelo governo romano. 3. A astrologia. Essa pseudo-ciência da Babilônia desenvolveu-se como uma religião por todo o Império Greco-Romano. Mesmo o
homem do século vinte ainda não se libertou totalmente dessa crença supersticiosa.
4. As religiões dos mistérios. Nesse mundo de tanta fome espiritual, uma enchente de cultos misteriosos irrompeu: eram
religiões novas e estranhas do Levante que seduziam a gente comum e que prometiam a salvação individual. Essas religiões
rapidamente tornaram-se as crenças aceitas pelas classes mais baixas do mundo greco-romano. E fizeram muito para preparar o
caminho para a disseminação rápida dos ensinamentos vastamente superiores do cristianismo, que apresentavam às pessoas
inteligentes um conceito majestoso da Deidade associado a uma teologia excitante e uma oferta generosa de salvação de todos,
incluindo os homens comuns ignorantes, mas espiritualmente famintos, daqueles dias.
As religiões dos mistérios marcaram o fim das crenças nacionais e resultaram no nascimento dos inúmeros cultos pessoais. Os
mistérios eram muitos, mas eram todos caracterizados por:
1. Alguma lenda mítica, um mistério – daí o seu nome. Em geral, esse mistério dizia respeito à história da vida, à morte e à
ressurreição de algum deus, como ilustrado nos ensinamentos do mitraísmo, que, durante um certo tempo, foi contemporâneo e
competidor do culto cristão crescente de Paulo.
2. Os mistérios eram não nacionais e inter-raciais. Eram pessoais e fraternais, dando surgimento a irmandades religiosas e a
inúmeras sociedades sectárias.
3. Eles eram, nos seus serviços, caracterizados por cerimônias elaboradas de iniciação e por sacramentos espetaculares de
adoração. Os seus ritos e rituais secretos algumas vezes eram horríveis e revoltantes.
4. Não importando a natureza das suas cerimônias, nem o grau dos seus excessos, esses mistérios invariavelmente prometiam a
salvação aos seus devotos, “a libertação do mal, a sobrevivência depois da morte e uma vida duradoura em reinos abençoados
além deste mundo de tristezas e de escravidão”.
Não cometais, contudo, o erro de confundir os ensinamentos de Jesus com os dos mistérios. A popularidade dos mistérios revela
a busca do homem pela sobrevivência, retratando, assim, a fome e a sede real de religião pessoal e de retidão individual.
Embora os mistérios hajam fracassado em satisfazer adequadamente a essa aspiração, eles prepararam o caminho para o
surgimento posterior de Jesus, que verdadeiramente trouxe a este mundo o pão e a água da vida.
Paulo, em um esforço de aproveitar a adesão ampla dos tipos melhores das religiões dos mistérios, fez certas adaptações dos
ensinamentos de Jesus, de modo a torná-los mais aceitáveis para um número maior de convertidos em potencial. No entanto, os
ensinamentos de Jesus (o cristianismo), mesmo com as concessões de Paulo, eram superiores ao melhor dos mistérios, porque:
1. Paulo ensinou uma redenção moral, uma salvação ética. O cristianismo abriu o caminho de uma nova vida e proclamou um novo
ideal. Paulo abandonou os ritos mágicos e as cerimônias de encantamento.
2. O cristianismo apresentava uma religião que atacava o problema humano com soluções finais, pois não apenas oferecia a
salvação da tristeza e mesmo da morte, mas também prometia a libertação do pecado, seguida da graça de um caráter reto de
qualidades de sobrevivência eterna. 3. Os mistérios eram edificados sobre mitos. O cristianismo, como Paulo o pregava, fundava-se em um fato histórico: a
auto-outorga de Michael, o Filho de Deus, doando-se à humanidade.
A moralidade entre os gentios não era necessariamente relacionada nem à filosofia nem à religião. Fora da Palestina, nem
sempre ocorria às pessoas que um sacerdote de uma religião deveria levar uma vida moral. A religião judaica e,
subseqüentemente, os ensinamentos de Jesus e, mais tarde o cristianismo em evolução, de Paulo, foram as primeiras religiões
européias a colocar uma mão na moral e outra na ética, insistindo em que os religiosos dessem alguma atenção a ambas.
E foi em uma tal geração de homens, dominada por sistemas tão incompletos de filosofia e em meio à perplexidade, por causa de
cultos religiosos complexos, que Jesus nasceu na Palestina. E a essa mesma geração ele posteriormente deu o seu evangelho de
religião pessoal – de filiação a Deus.
6. A RELIGIÃO DOS HEBREUS
Ao final do primeiro século antes de Cristo, o pensamento religioso de Jerusalém havia sido fortemente influenciado e um
tanto modificado pelos ensinamentos culturais gregos e mesmo pela filosofia grega. Na longa divergência entre as visões da
escola de pensamento hebreu do Ocidente e do Oriente, Jerusalém e o restante do Ocidente e do Levante, em geral, adotaram a
visão judaica oriental ou o ponto de vista helenista modificado.
Nos dias de Jesus, três línguas predominavam na Palestina: o povo comum falava algum dialeto do aramaico; os sacerdotes e os
rabinos falavam o hebreu; as classes educadas e o substrato melhor dos judeus em geral falavam o grego. As primeiras
traduções das escrituras dos hebreus para o grego em Alexandria foram responsáveis, em uma grande medida, pela predominância
subseqüente da ramificação grega na cultura e na teologia judaicas. E os escritos dos educadores cristãos estavam para
surgir, em breve, nessa mesma língua. A renascença do judaísmo data da tradução, para o grego, das escrituras dos hebreus.
Isso foi uma influência vital que determinou, mais tarde, a tendência do culto cristão de Paulo de ir na direção do Ocidente,
em vez de ir na direção do Oriente.
Embora as crenças judaicas helenizadas fossem pouco influenciadas pelos ensinamentos dos epicurianos, elas foram bastante
afetadas, materialmente, pela filosofia de Platão e pelas doutrinas de auto-abnegação dos estóicos. A grande invasão do
estoicismo é exemplificada pelo Quarto Livro dos Macabeus; a influência tanto da filosofia platônica quanto das doutrinas
estóicas é demonstrada na sabedoria de Salomão. Os judeus helenizados trouxeram, para as escrituras dos hebreus, uma
interpretação de tal modo alegórica que eles não encontraram nenhuma dificuldade em conformar a teologia dos hebreus à
filosofia aristotélica reverenciada por eles. Tudo isso, porém, levou a uma confusão desastrosa, até que tais problemas
fossem encampados pela mão de Filo de Alexandria, que harmonizou e sistematizou a filosofia grega e a teologia dos hebreus em
um sistema compacto e bastante consistente de crenças e práticas religiosas. Era esse ensinamento ulterior da filosofia
grega, conjugado com a teologia dos hebreus, que prevalecia na Palestina, enquanto Jesus viveu e ensinou, e que Paulo
utilizou como fundação sobre a qual construir o seu culto cristão, mais avançado e iluminado.
Filo era um grande educador; desde Moisés, nenhum homem vivera que houvesse exercido uma influência tão profunda sobre o
pensamento ético e religioso do mundo ocidental. Na questão da combinação dos melhores elementos dos sistemas contemporâneosde ensinamentos éticos e religiosos, houve sete educadores humanos que se destacaram: Setard, Moisés, Zoroastro, Lao-tsé,
Buda, Filo e Paulo.
Muitas, mas não todas, inconsistências de Filo, resultantes do esforço de combinar a filosofia mística grega e as doutrinas
estóicas dos romanos com a teologia legalista dos hebreus, Paulo identificou-as e eliminou-as, sabiamente, na sua teologia
básica pré-cristã. Filo franqueou a Paulo um caminho amplo para restaurar o conceito da Trindade do Paraíso, que havia muito
estava adormecido na teologia dos judeus. Apenas em um ponto Paulo deixou de se manter à altura de Filo ou de transcender os
ensinamentos desse rico e educado judeu da Alexandria, e esse foi o da doutrina da expiação; Filo ensinava a necessidade da
libertação da doutrina de que o perdão não seria obtido senão pelo derramamento de sangue. Ele possivelmente visualizou a
realidade e a presença dos Ajustadores do Pensamento mais claramente do que o conseguiu Paulo. Contudo, a teoria de Paulo
sobre o pecado original, as doutrinas da culpa hereditária e do mal inato e da sua redenção eram parcialmente de origem
mitraica, tendo pouco em comum com a teologia hebraica, com a filosofia de Filo ou com os ensinamentos de Jesus. Alguns
aspectos dos ensinamentos de Paulo acerca do pecado original e da expiação eram originários dele próprio.
O evangelho de João, a última das narrativas da vida terrena de Jesus, foi endereçado aos povos ocidentais e apresenta a sua
história sobremaneira à luz do ponto de vista dos cristãos tardios de Alexandria, que eram também discípulos dos ensinamentos
de Filo.
Por volta da época de Cristo, uma estranha reviravolta de sentimentos para com os judeus ocorreu em Alexandria e desse antigo
bastião dos judeus surgiu uma onda virulenta de perseguição estendendo-se até Roma, de onde muitos milhares deles foram
banidos. Todavia, essa campanha de deturpação dos fatos não se prolongou; logo o governo imperial restaurou total e
amplamente as liberdades dos judeus em todo o império.
Em todo o vasto mundo, não importando por onde os judeus se encontrassem dispersados, por causa do comércio ou da opressão,
eles mantinham, de comum acordo, os seus corações centrados no templo sagrado de Jerusalém. A teologia judaica sobreviveu do
modo como foi interpretada e praticada em Jerusalém, não obstante haver sido, por muitas vezes, salva do esquecimento por
intervenções oportunas de certos educadores babilônios.
Cerca de dois milhões e meio desses judeus dispersados tinham o hábito de vir a Jerusalém, para a celebração dos festivais
nacionais religiosos. E, não importando as diferenças teológicas ou filosóficas entre os judeus do Oriente (os babilônios) e
os do Ocidente (os helênicos), todos eles estavam de acordo sobre Jerusalém ser o centro do seu culto e sobre terem sempre
esperança na vinda do Messias.
7. JUDEUS E GENTIOS
Na época de Jesus, os judeus haviam chegado a um conceito estabelecido sobre a sua origem, história e destino. Haviam
construído um muro rígido de separação entre eles próprios e o mundo gentio; e encaravam todos os hábitos gentios com um
extremo desprezo. O seu culto seguia a letra da lei e eles entregavam-se a uma forma de hipocrisia baseada no orgulho falso
da sua descendência. Eles haviam formado noções preconcebidas a respeito do Messias prometido, e a maioria dessas
expectativas visualizava um Messias que viria como parte da sua história nacional e racial. Para os hebreus daqueles dias, a
teologia judaica estava irrevogavelmente estabelecida, fixada para sempre.
Os ensinamentos e práticas de Jesus a respeito da tolerância e da bondade iam contra a atitude bem antiga dos judeus para com
os outros povos,que eles consideravam pagãos. Durante gerações, os judeus haviam nutrido uma atitude para com o mundo
exterior que tornou impossível a eles aceitarem os ensinamentos do Mestre sobre a irmandade espiritual dos homens. Eles não
estavam dispostos a compartilhar Yavé em termos de igualdade com os gentios e, do mesmo modo, não se dispunham a aceitar,
como sendo Filho de Deus, um homem que ensinava doutrinas tão novas e estranhas.
Os escribas, os fariseus e o sacerdócio mantinham os judeus em uma escravidão terrível de ritualismo e de legalismo, uma
escravidão muito mais real do que a do governo político romano. Os judeus da época de Jesus não eram mantidos apenas sob o
jugo da lei, mas estavam igualmente presos às exigências escravizadoras das tradições, que envolviam e invadiam todos os
domínios da vida pessoal e social. Essas regulamentações minuciosas de conduta perseguiram e dominaram todos os judeus leais,
e não é estranho que rejeitassem prontamente qualquer um dentre eles que presumisse ignorar as suas tradições sagradas e que
ousasse desprezar as suas regras de conduta social já havia tanto tempo honradas. Dificilmente poderiam eles ver
favoravelmente os ensinamentos de um homem que não hesitava em se contrapor aos dogmas que eles consideravam como tendo sido
ordenados pelo próprio Pai Abraão. Moisés havia dado a eles as suas leis e eles não se comprometeriam em concessões.
À época do primeiro século depois de Cristo, a interpretação oral da lei feita pelos educadores reconhecidos, os escribas,
havia-se transformado em uma autoridade mais alta do que a própria lei escrita. E tudo isso tornou mais fácil para alguns
líderes religiosos dos judeus predispor o povo contra a aceitação de um novo evangelho.
Tais circunstâncias tornaram impossível para os judeus realizar o seu destino divino como mensageiros do novo evangelho de
liberdade religiosa e de liberdade espiritual. Eles não podiam quebrar as cadeias da tradição. Jeremias dissera sobre a “lei
a ser escrita nos corações dos homens”, Ezequiel falara sobre um “novo espírito que viveria na alma do homem”, e o salmista
orara para que Deus viesse “criar um coração interior limpo e um espírito reto renovado”. Quando, porém, a religião judaica
das boas obras e da escravidão à lei caiu como vítima da estagnação da inércia tradicionalista, o movimento de evolução
religiosa deslocou-se para o Ocidente, para os povos europeus.
E assim, um povo diferente foi convocado a levar ao mundo uma teologia avançada, um sistema de ensinamentos que incorporava a
filosofia dos gregos, a lei dos romanos, a moralidade dos hebreus e o evangelho da santidade da personalidade e da liberdade
espiritual; como fora formulado por Paulo, com base nos ensinamentos de Jesus.
O culto cristão de Paulo tinha, na sua moralidade, um sinal judeu de nascimento. Os judeus consideravam a história como
conseqüência da providência de Deus – do trabalho de Yavé. Os gregos trouxeram ao novo ensinamento os conceitos mais claros
da vida eterna. As doutrinas de Paulo foram influenciadas, na teologia e na filosofia, não apenas pelos ensinamentos de
Jesus, mas também por Platão e Filo. Na ética, ele se inspirou não apenas em Cristo, mas também nos estóicos.
O evangelho de Jesus, como foi incorporado no culto do cristianismo da Antióquia de Paulo, tornou-se um amálgama dos
ensinamentos seguintes:
1. O raciocínio filosófico dos prosélitos gregos do judaísmo, incluindo alguns dos seus conceitos da vida eterna.
2. Os atraentes ensinamentos dos cultos dos mistérios que prevaleciam, especialmente as doutrinas mitraicas da redenção, da
expiação e da salvação, por meio do sacrifício feito a algum deus.
3. A robusta moralidade da religião judaica estabelecida.
O império romano do Mediterrâneo, o reino Pártio e os povos adjacentes da época de Jesus alimentavam, todos, idéias imaturas
e primitivas a respeito da geografia do mundo, da astronomia, da saúde e das doenças; e, naturalmente, eles ficaram
impressionados com os pronunciamentos novos e surpreendentes do carpinteiro de Nazaré. As idéias da possessão pelos espíritos
bons e maus aplicavam-se, não apenas a seres humanos, mas até mesmo às rochas e às árvores, e muitos viam-nas como sendo
possuídas por espíritos. Essa foi uma idade encantada, e todos acreditavam em milagres como acontecimentos bastante comuns.
8. OS REGISTROS ESCRITOS ANTERIORES
Tanto quanto possível, e consistentemente com o nosso mandato, nós nos esforçamos para utilizar e coordenar, em uma certa
medida, os arquivos existentes, que são relacionados com a vida de Jesus em Urântia. Embora tenhamos desfrutado do acesso aos
registros perdidos do apóstolo André, e nos hajamos beneficiado da colaboração de uma vasta hoste de seres celestes que
esteve na Terra durante a época da auto-outorga de Michael (e, especialmente do seu Ajustador, agora Personalizado), tem sido
o nosso propósito também fazer uso dos assim chamados evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João.
Esses registros do Novo Testamento tiveram a sua origem nas circunstâncias seguintes:
1. O evangelho segundo Marcos. João Marcos escreveu o primeiro registro (excetuando-se as notas de André), o mais breve e o
mais simples, da vida de Jesus. Ele apresentou o Mestre como um ministro, como um homem entre os homens. Embora Marcos fosse
um jovem, evoluindo em meio às muitas cenas que ele retrata, o seu registro é, na realidade, o evangelho segundo Simão Pedro.
Inicialmente, ele fora mais ligado a Pedro, e, mais tarde, a Paulo. Marcos escreveu esse registro estimulado por Pedro e por
um pedido sincero da igreja de Roma. Sabendo quão consistentemente o Mestre havia-se recusado a escrever os seus
ensinamentos, quando na Terra e na carne, Marcos, como os apóstolos e outros discípulos importantes, hesitava em colocá-los
por escrito. Pedro, porém, sentiu que a igreja de Roma, requisitava a assistência dessa narrativa por escrito, e Marcos
consentiu em prepará-la. Ele fez muitas notas antes de Pedro morrer, no ano 67 d.C. e, de acordo com as linhas gerais
aprovadas por Pedro e pela igreja em Roma, ele começou a escrevê-los logo depois da morte de Pedro. O evangelho ficou pronto
lá pelo final do ano 68 d.C. Marcos escreveu-o inteiramente de memória e a partir das memórias de Pedro. Esse registro, desde
então, tem sido alterado consideravelmente; inúmeras passagens foram retiradas e algumas, mais tarde, foram acrescentadas,
com a finalidade de repor o último quinto do evangelho original, que foi perdido do primeiro manuscrito antes de haver sido
jamais copiado. Esse registro, feito por Marcos, em conjunção com as anotações de André e as de Mateus, foi a base escrita de
todas as narrativas subseqüentes dos Evangelhos que procuraram retratar a vida e os ensinamentos de Jesus.
2. O evangelho de Mateus. O chamado evangelho segundo Mateus é o registro da vida do Mestre que foi escrito para a edificação
dos cristãos judeus. O autor desse registro procura continuamente mostrar que, na vida de Jesus, muito do que ele fez foi
para que “pudesse ser cumprido aquilo que foi dito pelo profeta”. O evangelho de Mateus retrata Jesus como um filho de Davi,
apresentando-o como se houvesse tido um grande respeito pela lei judaica e pelos profetas.
O apóstolo Mateus não escreveu esse evangelho. Foi escrito por Isador, um dos seus discípulos, que teve, no seu trabalho, a
ajuda não apenas da lembrança pessoal de Mateus desses acontecimentos, mas também um certo registro que este último havia
feito sobre as palavras de Jesus, exatamente depois da sua crucificação. Esse registro de Mateus foi escrito em aramaico;
Isador escreveu-o em grego. Não houve a intenção de enganar, ao creditar-se a obra a Mateus. Era costume, naqueles dias, que
os discípulos prestassem assim homenagem aos seus mestres.
O registro original de Mateus foi editado e recebeu aditamentos no ano 40 d.C., pouco antes de ele haver deixado Jerusalém
para entrar em pregação evangelizadora. Era um registro particular, havendo a última cópia sido destruída pelo incêndio de um
monastério sírio, no ano 416 d.C.
Isador escapou de Jerusalém no ano 70 d.C., depois da invasão da cidade pelos exércitos de Tito, levando consigo para Pela
uma cópia das notas de Mateus. No ano 71 enquanto vivia em Pela, Isador escreveu o evangelho segundo Mateus. Ele também tinha
consigo os primeiros quatro quintos da narrativa de Marcos.
3. O evangelho segundo Lucas. Lucas, o médico da Antióquia em Pisídia, era um gentio convertido por Paulo, e ele escreveu uma
história totalmente diferente da vida do Mestre. Ele começou a seguir Paulo e a aprender sobre a vida e os ensinamentos de
Jesus no ano 47 d.C. Lucas preserva muito da “graça do Senhor Jesus Cristo” no seu registro, pois ele reuniu esses fatos de
Paulo e de outros. Lucas apresenta o Mestre como “o amigo de publicanos e pecadores”. Ele transformou em evangelho muitas das
suas anotações, somente depois da morte de Paulo. Lucas escreveu-o no ano 82 d.C., em Acáia. Ele planejou três livros
tratando da história de Cristo e da cristandade, mas morreu no ano 90 d.C. pouco antes de terminar o segundo desses
trabalhos, os “Atos dos Apóstolos”.
Para material de compilação desse evangelho, Lucas primeiro usou da história da vida de Jesus, como Paulo a relatara a ele. O
evangelho de Lucas é, portanto, de algum modo, o evangelho segundo Paulo. Lucas, no entanto, tinha outras fontes de
informação. Ele não apenas entrevistou dezenas de testemunhas oculares dos inúmeros episódios da vida de Jesus, que ele
registrou, mas também ele tinha consigo uma cópia do evangelho de Marcos, isto é, os primeiros quatro quintos da narrativa de
Isador, e um breve registro feito no ano 78 d.C., em Antióquia, por um crente chamado Cedes. Lucas também possuía uma cópia
mutilada e muito modificada de algumas notas que supostamente teriam sido feitas pelo apóstolo André.
4. O evangelho de João. O evangelho segundo João relata grande parte do trabalho de Jesus na Judéia e perto de Jerusalém, que
não consta em outros registros. Esse é o assim chamado evangelho segundo João, o filho de Zebedeu, e embora João não o haja
escrito, ele o inspirou. Desde a primeira vez que foi escrito, foi editado várias vezes, de modo a fazê-lo parecer ter sido
escrito pelo próprio João. Quando esse registro foi feito, João estava de posse dos outros Evangelhos, e viu que muita coisa
havia sido omitida; e, desse modo, no ano 101 d.C., ele encorajou o seu discípulo, Natam, um judeu grego de Cesaréia, a
começar a escrevê-lo. João forneceu o seu material de memória, e sugeriu que ele se baseasse nas referências feitas nos três
registros já existentes. João nada tinha que houvesse sido escrito por ele próprio. A epístola conhecida como “Primeira de
João” foi escrita pelo próprio João, como uma carta de apresentação para o trabalho que Natam executara sob a sua direção.
Todos esses escritores apresentaram retratos honestos de Jesus como eles o viam, lembravam ou haviam aprendido dele, e como
os conceitos que eles tinham desses acontecimentos distantes foram afetados pela sua posterior adoção da teologia cristã de
Paulo. E esses registros, imperfeitos como eram, foram suficientes para mudar o curso da história de Urântia por quase dois
mil anos.
[Esclarecimentos: Ao cumprir a minha missão de reconstituir os ensinamentos, e de recontar a história dos feitos de Jesus de
Nazaré, eu lancei mão livremente de todas as fontes de registro e de informações do planeta. A minha motivação principal foi
preparar um documento que fosse esclarecedor, não apenas para a geração de homens que agora vive, mas que também pudesse ser
de bastante proveito para todas as gerações futuras. Do vasto estoque de informações que se tornou disponível para mim, eu
escolhi tudo que seria mais adequado à realização desse propósito. Tanto quanto possível eu retirei as minhas informações de
fontes puramente humanas. Apenas quando tais fontes demonstravam ser insuficientes é que recorri aos arquivos supra-humanos.
Sempre que as idéias e os conceitos da vida e dos ensinamentos de Jesus houverem sido expressos de um modo aceitável por uma
mente humana, eu terei dado preferência, invariavelmente, a tais modelos de pensamentos aparentemente humanos. Embora tenha
procurado ajustar a expressão verbal para que ela melhor se conformasse ao nosso conceito da significação real e da
verdadeira importância da vida e dos ensinamentos do Mestre, eu me ative, tanto quanto possível, aos conceitos factuais e ao
modelo de pensamento humano, em todas as minhas narrativas. Sei muito bem que os conceitos que tiveram origem na mente humana
serão mais aceitáveis e de maior ajuda para todas as outras mentes humanas. Sempre que não me foi possível encontrar os
conceitos necessários nos registros humanos, nem nas expressões humanas, em seguida, eu lancei mão dos recursos de memória da
minha própria ordem de criaturas da Terra, os intermediários. E sempre que essa fonte secundária de informação se mostrou
inadequada, eu recorri, sem hesitar, às fontes supra-planetárias de informação.
Os memorandos que eu reuni, e, a partir dos quais preparei esta narrativa da vida e dos ensinamentos de Jesus –
independentemente do registro escrito da memória do apóstolo André –, abrangem preciosidades do pensamento e conceitos
superiores dos ensinamentos de Jesus, reunidos por mais de dois mil seres humanos que viveram na Terra desde os dias de Jesus
até a época da elaboração destes textos de revelação, ou, mais corretamente dizendo, de restabelecimentos deles. Recorreu-se
à permissão para fazer revelações apenas quando os registros humanos e os conceitos humanos falharam em fornecer um modelo
adequado de pensamento. A minha missão de revelar proibiu-me de recorrer a fontes extra-humanas, fosse de informação, fosse
de expressão, antes do momento em que eu pudesse atestar que havia fracassado nos meus esforços de achar a expressão
conceitual exigida, por intermédio de fontes puramente humanas.
Conquanto eu haja feito esta narrativa de acordo com o conceito que tenho de uma seqüência efetiva para a sua organização, e
em resposta à minha escolha imediata de expressão, e contando com a colaboração dos meus onze companheiros intermediários
agregados, e sob a supervisão do Melquisedeque relator, todavia, a maioria das idéias e mesmo das expressões efetivas que eu
utilizei, desse modo, tiveram a sua origem nas mentes dos homens de muitas raças que viveram na Terra, durante as gerações
sucessivas até aquelas que ainda viviam, na época deste trabalho. Na realidade, eu tenho servido mais como um colecionador e
como um editor do que como um narrador original. Eu me apropriei, sem hesitar, daquelas idéias e conceitos, preferivelmente
humanos, que me capacitaram a criar o retrato mais eficiente da vida de Jesus e que me qualificaram para restabelecer os seus
ensinamentos sem par, por meio de um estilo de frases que fosse de mais proveito e mais universalmente elucidativo. Em nome
da Irmandade dos Intermediários Unidos de Urântia, desejo expressar gratidão a todas as fontes de registros e conceitos que
foram aqui utilizados para a elaboração destes nossos restabelecimentos da vida de Jesus, na Terra.]
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