O LIVRO DE URANTIA
INTRODUÇÃO
Nas mentes dos mortais de Urântia – este sendo o nome do vosso mundo – existe uma grande confusão a respeito dos significados de termos como Deus, divindade e deidade. Os seres humanos encontram-se mais confusos e inseguros ainda a respeito das relações entre as personalidades divinas designadas por esses diversos nomes. Em vista dessa pobreza conceitual, somada à imensa confusão de idéias, fui orientado a formular essa exposição introdutória, com o fito de explicar os significados que deveriam corresponder a certos símbolos verbais, do modo como deverão ser utilizados a seguir nestes documentos, os quais o corpo de reveladores da verdade de Orvonton foi autorizado a traduzir para o idioma inglês de Urântia.
O nosso intuito é expandir a consciência cósmica e elevar a percepção espiritual; mas torna-se extremamente difícil apresentar conceitos ampliados e a verdade avançada, limitados que ficamos ao uso restrito de um idioma do vosso reino. Entretanto, o nosso mandato exorta-nos a empreender todos os esforços para transmitir os nossos conceitos usando as palavras existentes na língua inglesa. Foi-nos recomendado que introduzíssemos termos novos apenas quando o conceito a ser transmitido não encontrasse em inglês nenhuma terminologia que pudesse ser empregada para retratar um conceito inteiramente novo, ainda que parcialmente ou mesmo com alguma distorção de significado.
Na esperança de facilitar a compreensão e de impedir confusões da parte de todos os mortais que possam ler estes documentos, consideramos sábio apresentar, nesta declaração inicial, um esboço dos significados que estarão ligados a numerosas palavras em inglês a serem empregadas para designar a Deidade, bem como certos conceitos associados às coisas, significados e valores da realidade universal.
Contudo, ao formular esta introdução, já com definições e limitações de terminologia, faz-se necessário antecipar o uso desses termos na apresentação subseqüente. Esta introdução, portanto, não pode ser uma exposição completa e acabada, em si mesma; passando, assim, a ser apenas um guia definidor, destinado a ajudar os leitores dos documentos apresentados a seguir, que discorrem sobre a Deidade e o universo dos universos, e que foram formulados por uma comissão de Orvonton enviada a Urântia com esse propósito.
O vosso mundo, Urântia, é um entre muitos planetas similares habitados, que compreendem o universo local de Nebadon. Este universo, juntamente com criações semelhantes, constitui o superuniverso de Orvonton, de cuja capital, Uversa, provém a nossa comissão. Orvonton é um dos sete superuniversos evolucionários do tempo e do espaço, que circundam a criação de perfeição divina, sem princípio nem fim – o universo central de Havona. No coração desse universo central e eterno está a Ilha do Paraíso, sempre imóvel, centro geográfico da infinitude e morada do Deus eterno.
Por grande universo designamos, em geral, os sete superuniversos em evolução, em conjunto com o universo central e divino; e estas são as criações organizadas e habitadas até o presente. Elas são, todas, uma parte do universo-mestre, que abrange também os universos do espaço exterior, não habitados, mas em mobilização.
I. DEIDADE E DIVINDADE
O universo dos universos apresenta fenômenos de atividades de deidade nos diversos níveis de realidades cósmicas, de significados da mente e de valores do espírito; mas todas essas ministrações – pessoais ou de outras naturezas – são divinamente coordenadas.
A DEIDADE é personalizável como Deus, é pré-pessoal e suprapessoal, de modos não totalmente compreensíveis pelo homem. A deidade caracteriza-se pela qualidade da unidade – factual ou potencial – em todos os níveis supramateriais da realidade; e essa qualidade unificadora é mais bem compreendida pelas criaturas como divindade.
A Deidade funciona em níveis pessoais, pré-pessoais e suprapessoais. A Deidade Total é funcional nos sete níveis seguintes:
1. Estático – A Deidade contida em si própria e existente em si.
2. Potencial – A Deidade volitiva em si própria e com propósito em si.
3. Associativo – A Deidade personalizada em si própria e divinamente fraternal.
4. Criativo – A Deidade distributiva de si própria e divinamente revelada.
5. Evolucionário – A Deidade expansiva por si própria e identificada com a criatura.
6. Supremo – A Deidade que experiencia a si própria e que é unificadora de criatura e Criador. Esta Deidade funciona no primeiro nível de identificação com a criatura, como supracontroladora no tempo-espaço do grande universo, às vezes designada como a Supremacia da Deidade.
7. Último – A Deidade que se projeta a si própria e que transcende o tempo e o espaço. Deidade onipotente, onisciente e onipresente. Esta Deidade funciona no segundo nível da expressão da divindade unificadora, como supracontroladora eficaz e sustentadora absonita do universo-mestre. Comparada ao ministério das Deidades no grande universo, essa função absonita, no universo-mestre, equivale ao supracontrole e à supra-sustentação universal, algumas vezes denominada Ultimidade da Deidade.
O nível finito de realidade caracteriza-se pela vida da criatura nas limitações do tempo e do espaço. As realidades finitas podem não ter fim, mas têm sempre um começo – elas são criadas. O nível da Supremacia da Deidade pode ser concebido como uma função relacionada com as existências finitas.
O nível absonito de realidade é caracterizado por coisas e seres sem começo nem fim; e pela transcendência do tempo e do espaço. Os seres absonitos não são criados; são derivados – simplesmente são. O nível de Ultimidade da Deidade conota uma função relacionada às realidades absonitas. Sempre que o tempo e o espaço são transcendidos, não importando em que parte do universo-mestre, esse fenômeno do absonito é um ato da Ultimidade da Deidade.
O nível absoluto não tem começo nem fim, é fora do tempo e do espaço. Por exemplo: no Paraíso, o tempo e o espaço não existem; o status tempo-espacial do Paraíso é absoluto. As Deidades do Paraíso alcançam esse nível, existencialmente, por meio da Trindade; mas esse terceiro nível de expressão unificadora da Deidade não está plenamente unificado experiencialmente. Quaisquer que sejam o momento, o local e o modo como funcione o nível absoluto da Deidade, os valores e significados Paraíso-absolutos são manifestados.
A Deidade pode ser existencial, como no Filho Eterno; experiencial, como no Ser Supremo; associativa, como em Deus, o Sétuplo; indivisa, como na Trindade do Paraíso.
A Deidade é a fonte de tudo aquilo que é divino. A Deidade é característica e invariavelmente divina, mas nem tudo o que é divino é Deidade necessariamente, ainda que esteja coordenado com a Deidade e tenha a tendência de estar, em alguma fase, em unidade com a Deidade – espiritual, mental ou pessoalmente.
DIVINDADE é a qualidade característica, unificadora e coordenadora da Deidade.
A Divindade é inteligível, pela criatura, como verdade, beleza e bondade. Ela encontra a sua correspondência na personalidade como amor, misericórdia e ministração. E ela é revelada, nos níveis impessoais, como justiça, poder e soberania.
A Divindade pode ser perfeita – completa – como nos níveis existenciais e criadores da perfeição do Paraíso; pode ser imperfeita, como nos níveis experienciais e da criatura em evolução no tempo e no espaço; ou pode ser relativa, nem perfeita ou imperfeita, como em certos níveis de relações existenciais-experienciais de Havona.
Quando tentamos conceber a perfeição em todas as suas fases e formas de relatividade, encontramos sete tipos concebíveis.
1.A perfeição absoluta em todos os aspectos.
2.A perfeição absoluta em algumas fases e a perfeição relativa em todos os outros aspectos.
3.Os aspectos absolutos, relativos e imperfeitos, em combinações variadas.
4. A perfeição absoluta em alguns aspectos e a imperfeição em todos os outros.
5.A perfeição absoluta em nenhuma direção e a perfeição relativa em todas as manifestações.
6.A perfeição absoluta em nenhuma fase, uma perfeição relativa em algumas fases e a imperfeição em outras.
7.A perfeição absoluta em nenhum atributo e a imperfeição em todos eles.
II. DEUSAs criaturas mortais em evolução possuem uma necessidade irresistível de simbolizar os seus conceitos finitos de Deus. A consciência que o homem possui do dever moral, e o seu idealismo espiritual representam um nível de valores – uma realidade experiencial – difícil de simbolizar.
A consciência cósmica implica o reconhecimento de uma Causa Primeira, a realidade una e única não-causada. Deus, o Pai Universal, funciona em três níveis de personalidade-Deidade, de valor subinfinito e de expressão relativa de divindade.
1.Pré-pessoal – como na ministração dos fragmentos do Pai, tais como os Ajustadores do Pensamento.
2.Pessoal – como na experiência evolucionária dos seres criados e procriados.
3.Suprapessoal – como nas existências manifestadas de certos seres absonitos e semelhantes.
DEUS é uma palavra-símbolo que designa todas as personalizações da Deidade. O termo requer uma definição diferente para cada nível pessoal de função da Deidade e deve,ainda, futuramente, ser redefinido dentro de cada um desses níveis, pois esse termo pode ser usado para designar as personalizações diversas, coordenadas e subordinadas, da Deidade, como por exemplo: os Filhos Criadores do Paraíso – os pais dos universos locais.
O termo Deus, do modo como o usamos, pode ser compreendido:
Por designação – como Deus, o Pai.
Pelo contexto – como quando é usado na argumentação a respeito de uma associação de deidades ou um nível da deidade. Quando houver dúvida sobre a interpretação exata da palavra Deus, seria aconselhável referirmo-nos à pessoa do Pai Universal.
O termo Deus sempre denota personalidade. Deidade pode referir-se, ou não, às personalidades da divindade.
A palavra DEUS é usada, nestes documentos, com os significados que se seguem.
1.Deus, o Pai – Criador, Controlador e Sustentador. O Pai Universal, a Primeira Pessoa da Deidade.
2. Deus, o Filho – Criador Coordenado, Controlador do Espírito e Administrador Espiritual. O Filho Eterno, a Segunda Pessoa da Deidade.
3. Deus, o Espírito – Agente Conjunto, Integrador Universal e Outorgador da Mente. O Espírito Infinito, a Terceira Pessoa da Deidade.
4.Deus, o Supremo – o Deus do tempo e do espaço, em factualização e em evolução. A Deidade Pessoal que associativamente alcança a realização experiencial da identidade criatura-Criador no tempo-espaço. O Ser Supremo está pessoalmente experienciando a realização da unidade da Deidade, como o Deus evolutivo e experiencial das criaturas evolucionárias do tempo e do espaço.
5.Deus, o Sétuplo – é a personalidade da Deidade, funcionando de modo factual em todos os lugares, no tempo e no espaço. São as Deidades pessoais do Paraíso e os seus coligados criadores, funcionando dentro e além das fronteiras do universo central e que estão personalizando o poder como Ser Supremo, no primeiro nível da criatura, para a revelação unificadora da Deidade, no tempo e no espaço. Esse nível, o grande universo, é a esfera na qual as personalidades do Paraíso fazem a sua descensão, no tempo-espaço, em associação recíproca com a ascensão, no espaço e no tempo, das criaturas evolucionárias.
6.Deus, o Último – o Deus em processamento corrente, do supratempo e do espaço transcendido. O segundo nível experiencial de manifestação da Deidade unificadora. Deus, o Último, implica a realização adquirida dos valores sintetizados absonitos-suprapessoais, dos valores de espaço e tempo transcendidos e dos valores experienciais em processamento (factualizados), coordenados nos níveis criadores finais da realidade da Deidade.
7.Deus, o Absoluto – o Deus que se experiencializa, dos valores suprapessoais transcendidos e dos significados da divindade, tornando-se agora existencial como o Absoluto da Deidade. Este é o terceiro nível da expressão e da expansão da Deidade unificadora. Neste nível supracriador, a Deidade experiencia a exaustão do potencial personalizável, encontra a Sua completude de divindade, passando pelo esvaziamento da capacidade da revelação de Si nos níveis sucessivos e progressivos de personalização-no-outro. A Deidade agora alcança o Absoluto Inqualificável, impinge-se nele, encontra-se nele e com ele experiencia a identidade.
III. A PRIMEIRA FONTE E CENTRO
A realidade infinita e total é existencial em sete fases e como sete Absolutos coordenados:
1.A Primeira Fonte e Centro.
2.A Segunda Fonte e Centro.
3.A Terceira Fonte e Centro.
4.A Ilha do Paraíso.
5.O Absoluto da Deidade.
6.O Absoluto Universal.
7.O Absoluto Inqualificável.
Deus, sendo a Primeira Fonte e Centro, é primordial em relação à realidade total – irrestritamente. A Primeira Fonte e Centro é infinita, bem como eterna e, portanto, é limitada ou condicionada apenas pela volição.
Deus – o Pai Universal – é a personalidade da Primeira Fonte e Centro e, como tal, mantém relações pessoais de controle infinito sobre todas as fontes e centros coordenados e subordinados. Tal controle é pessoal e infinito, em potencial, ainda que possa nunca funcionar, de fato, devido à perfeição da função de tais fontes, centros e personalidades coordenadas e subordinadas.
A Primeira Fonte e Centro é, portanto, primordial em todos os domínios: deificados ou não deificados, pessoais ou impessoais, factuais ou potenciais, finitos ou infinitos. Nenhum ser ou coisa, nenhuma relatividade ou finalidade existe, exceto em relação direta ou indireta com a primazia da Primeira Fonte e Centro ou em dependência dela.
A Primeira Fonte e Centro está relacionada ao universo do modo como se segue:
1. As forças da gravidade dos universos materiais convergem para o centro de gravidade do Paraíso inferior. Este é exatamente o motivo pelo qual a locação geográfica da Sua pessoa é fixa eternamente, em relação absoluta com o centro de força-energia do plano inferior ou material do Paraíso. Todavia, a personalidade absoluta da Deidade existe no plano superior ou espiritual do Paraíso.
2. As forças da mente convergem para o Espírito Infinito; a mente cósmica diferencial e divergente converge para os Sete Espíritos Mestres; a mente do Supremo, no seu processo de factualização como experiência no espaço-tempo, converge para Majeston.
3. As forças espirituais do universo convergem para o Filho Eterno.
4. A capacidade ilimitada para a ação da deidade reside no Absoluto da Deidade.
5. A capacidade ilimitada de resposta de infinitude existe no Absoluto Inqualificável.
6. Os dois Absolutos – o Qualificado e o Inqualificável – são coordenados e unificados no Absoluto Universal e por ele.
7. A personalidade potencial de um ser moral evolucionário, ou de qualquer outro ser moral, está centrada na personalidade do Pai Universal.
REALIDADE, tal como compreendida pelos seres finitos, é parcial, relativa e vaga. O máximo de realidade da Deidade, plenamente compreensível pelas criaturas evolucionárias finitas, está abrangido no Ser Supremo. Entretanto, há realidades antecedentes e eternas, realidades suprafinitas, que são ancestrais dessa Suprema Deidade das criaturas evolucionárias do tempo e do espaço. Na tentativa de retratar a origem e a natureza da realidade universal, somos forçados a empregar a técnica do raciocínio tempo-espacial, de modo a atingir o nível da mente finita. Portanto, muitos eventos simultâneos na eternidade devem ser apresentados como operações seqüenciais.
Tendo em conta o modo como uma criatura tempo-espacial perceberia a origem e a diferenciação da realidade, o eterno e infinito EU SOU realizou a liberação da Deidade dos entraves que a prendiam à infinitude inqualificável, por intermédio do exercício do livre-arbítrio, inerente e eterno; e essa separação da infinitude inqualificável produziu a primeira tensão-divindade absoluta. Tal tensão do diferencial de infinitude é resolvida pelo Absoluto Universal, que funciona unificando e coordenando a infinitude dinâmica da Deidade Total e a infinitude estática do Absoluto Inqualificável.
Nessa transação original, o teórico EU SOU alcançou a realização da personalidade, ao converter-se no Pai Eterno do Filho Original, tornando-se, simultaneamente, a Fonte Eterna da Ilha do Paraíso. Em coexistência com a diferenciação entre o Filho e o Pai, e na presença do Paraíso, deu-se o surgimento da pessoa do Espírito Infinito e do universo central de Havona. Com o surgimento das Deidades pessoais coexistentes, o Filho Eterno e o Espírito Infinito, o Pai escapou, enquanto personalidade, da Sua difusão, que, de outro modo, seria inevitável, no potencial da Deidade Total. Daí em diante, apenas na Trindade, ou seja, apenas na associação com as suas duas Deidades iguais, é que o Pai preenche todo o potencial da Deidade, enquanto a Deidade crescentemente experiencial está se realizando nos níveis de divindade em Supremacia, Ultimidade e Absolutez.
O conceito do EU SOU é uma concessão filosófica que fazemos à mente finita do homem, presa que é do tempo e acorrentada que é ao espaço, dada a impossibilidade de a criatura compreender as existências eternas – as realidades e as relações sem começo nem fim. Para a criatura do espaço e do tempo, todas as coisas devem ter um começo, exceto apenas AQUELE INCAUSADO – a causa primeva das causas. Conceituamos, então, esse valor-nível filosófico como o EU SOU, instruindo, ao mesmo tempo, a todas as criaturas, que o Filho Eterno e o Espírito Infinito são co-eternos com o EU SOU; em outras palavras, que nunca existiu um tempo em que o EU SOU não tivesse sido o Pai do Filho e, junto com este, do Espírito.
O Infinito é usado para denotar a plenitude – a finalidade –, conseqüência da primazia da Primeira Fonte e Centro. O teórico EU SOU é uma extensão, à maneira filosófica da criatura, da “infinitude da vontade”, mas o Infinito é um valor-nível factual, representando a intenção, na eternidade, da verdadeira infinitude do livre-arbítrio absoluto e sem entraves do Pai Universal. Esse conceito, algumas vezes, é designativo do Pai-Infinito.
Grande parte da confusão que todas as ordens de seres enfrentam, das mais elevadas às inferiores, nos seus esforços para descobrir o Pai-Infinito, é inerente às suas próprias limitações de compreensão. A primazia absoluta do Pai Universal não é aparente para os níveis subinfinitos; sendo, portanto, provável que apenas o Filho Eterno e o Espírito Infinito conheçam, verdadeiramente, o Pai como uma infinitude; para todas as outras personalidades, tal conceito representa o exercício da fé.
IV. REALIDADE DO UNIVERSO
A realidade factualiza-se diferencialmente em diversos níveis do universo; a realidade origina-se na volição infinita do Pai Universal e por meio dela; e é realizável, em três fases primordiais, nos muitos níveis diferentes de factualização no universo.
1. Realidade não deificada, que vai desde os domínios da energia do não pessoal até os reinos da realidade dos valores não personalizáveis da existência universal, chegando mesmo até à presença do Absoluto Inqualificável.
2.Realidade deificada abrange todos os potenciais infinitos da Deidade, indo de baixo para cima, por todos os domínios da personalidade, do finito menos elevado ao mais alto infinito, abrangendo, assim, o domínio de tudo o que é personalizável, e mais, indo até mesmo à presença do Absoluto da Deidade.
3. Realidade interassociada. A realidade do Universo é, supostamente, ou deificada ou não deificada, mas, para os seres subdeificados, existe um vasto domínio de realidade interassociada, em potencial ou em factualização, que é de identificação difícil. Grande parte dessa realidade coordenada está englobada nos domínios do Absoluto Universal.
Este é o conceito primordial de realidade original: o Pai inicia e mantém a Realidade. Os diferenciais primordiais de realidade são os deificados e os não deificados – o Absoluto da Deidade e o Absoluto Inqualificável. O relacionamento primordial é a tensão entre eles. Essa tensão-divindade, iniciada no Pai, resolve-se e eterniza-se perfeitamente no Absoluto Universal.
Do ponto de vista do tempo e do espaço, a realidade é também divisível como se segue:
1.Factual e Potencial. São as realidades que existem na plenitude de expressão, em contraste com aquelas que têm uma capacidade desconhecida de crescimento. O Filho Eterno é uma realidade espiritual absoluta; o homem mortal é, em grande parte, uma potencialidade espiritual não realizada.
2.Absoluta e Subabsoluta. As realidades absolutas são existências na eternidade. As realidades subabsolutas são projetadas em dois níveis: Absonitas – realidades que são relativas com respeito ao tempo e à eternidade. Finitas – realidades que são projetadas no espaço e factualizadas no tempo.
3.Existencial e Experiencial. A Deidade do Paraíso é existencial, mas o Supremo e o Último, que estão emergindo, são experienciais.
4.Pessoal e Impessoal. A expansão da Deidade, a expressão da personalidade e a evolução do universo estão, para sempre, condicionadas pelo ato de livre-arbítrio do Pai, que separou, para sempre, de um lado, os significados e os valores mente-espírito-pessoais da realidade factual e da potencialidade, centrados no Filho Eterno e, do outro lado, aquelas coisas que estão centradas na eterna Ilha do Paraíso e que a ela são inerentes.
PARAÍSO é um termo que inclui os Absolutos focalizados pessoais e não pessoais de todas as fases da realidade do universo. Apropriadamente qualificado, Paraíso pode designar todas e quaisquer formas da realidade: Deidade, divindade, personalidade e energia – espiritual, mental ou material. Todas compartilham o Paraíso, como o seu lugar de origem, função e destino, com respeito aos valores, aos significados e à existência factual.
A Ilha do Paraíso – Paraíso, sem outras conotações – é o Absoluto do controle da gravidade-material exercido pela Primeira Fonte e Centro. O Paraíso não tem movimento, sendo a única coisa estacionária, no universo dos universos. A Ilha do Paraíso tem uma localização no universo, mas nenhuma posição no espaço. Essa Ilha Eterna é a fonte factual dos universos físicos – passados, presentes e futuros. A Ilha da Luz central é um derivativo da Deidade, mas não chega a ser uma Deidade; nem as criações materiais são uma parte da Deidade; elas são uma conseqüência.
O Paraíso não é um criador, é um controlador único de inúmeras atividades no universo; controla muito mais do que reage. Em todos os universos materiais, o Paraíso exerce influência sobre as reações e a conduta de todos os seres que têm algo a ver com a força, a energia e o poder; mas o Paraíso em si mesmo é único, exclusivo e isolado nos universos. O Paraíso não representa nada e nada representa o Paraíso. Não é uma força nem uma presença, é tão somente o Paraíso.
V. REALIDADES DA PERSONALIDADE
A personalidade é um nível de realidade deificada e varia, partindo do nível mortal e intermediário de atividade mental mais elevada, de adoração e de sabedoria, passando pelos níveis moronciais e espirituais e indo até a realização do status de finalidade da personalidade. E essa é a ascensão evolucionária da personalidade da criatura mortal – e das criaturas semelhantes aos mortais –, no entanto há numerosas outras ordens de personalidades no universo.
A realidade está sujeita à expansão universal, a personalidade à diversificação infinita; e ambas são capazes de uma coordenação quase ilimitada com a Deidade e de uma estabilização eterna. Se bem que o campo metamórfico da realidade não pessoal seja definitivamente limitado, não conhecemos limitações para a evolução progressiva das realidades da personalidade.
Nos níveis experienciais alcançados, todas as ordens ou valores de personalidades são associáveis e mesmo co-criacionais. Até mesmo Deus e o homem podem coexistir em uma personalidade unificada, como tão admiravelmente é demonstrado no status presente do Cristo Michael – Filho do Homem e Filho de Deus.
Todas as ordens e fases subinfinitas da personalidade são realizáveis por associatividade e são potencialmente co-criadoras. O pré-pessoal, o pessoal e o suprapessoal estão todos ligados entre si, pelo potencial mútuo de empreender coordenadamente, na realização progressiva e na capacidade co-criadora. Mas nunca o impessoal transmuta-se diretamente em pessoal. A personalidade nunca é espontânea; é uma dádiva do Pai do Paraíso. A personalidade é supra-imposta à energia, e é associada apenas a sistemas vivos de energia; a identidade pode estar associada a formas não viventes de energia.
O Pai Universal é o segredo, tanto da realidade da personalidade quanto da outorga da personalidade e destino da personalidade. O Filho Eterno é a personalidade absoluta, é o segredo da energia espiritual, dos espíritos moronciais e dos espíritos perfeccionados. O Agente Conjunto é a personalidade mente-espírito, a fonte da inteligência, da razão e da mente universal. Contudo, a Ilha do Paraíso é não-pessoal e extra-espiritual, sendo a essência do corpo universal, fonte e centro da matéria física e arquétipo mestre absoluto da realidade material universal.
Essas qualidades da realidade universal estão manifestadas na experiência humana, em Urântia, nos níveis que se seguem:
1.Corpo. O organismo material ou físico do homem. O mecanismo eletroquímico vivo de natureza e origem animal.
2.Mente. O mecanismo de pensar, perceber e sentir do organismo humano. A experiência total, consciente e inconsciente. A inteligência associada à vida emocional, buscando, por meio da adoração e da sabedoria, alcançar o nível acima, do espírito.
3.Espírito. O espírito divino que reside na mente do homem – o Ajustador do Pensamento. Este espírito imortal é pré-pessoal – não é uma personalidade, se bem que esteja destinado a transformar-se em uma parte da personalidade da criatura mortal, quando da sua sobrevivência.
4.Alma. A alma do homem é uma aquisição experiencial. À medida que uma criatura mortal escolhe “cumprir a vontade do Pai dos céus”, assim o espírito que reside no homem torna-se o pai de uma nova realidade na experiência humana. A mente mortal e material é a mãe dessa mesma realidade emergente. A substância dessa nova realidade não é nem material, nem espiritual – é moroncial. Essa é a alma emergente e imortal que está destinada a sobreviver à morte física e iniciar a ascensão ao Paraíso.
Personalidade. A personalidade do homem mortal não é corpo, nem mente, nem espírito; e também não é a alma. A personalidade é a única realidade invariável em meio a uma experiência constantemente mutável da criatura; e ela unifica todos os outros fatores associados da individualidade. A personalidade é o único dom que o Pai Universal confere às energias vivas e associadas de matéria, mente e espírito, e que sobrevive junto com a sobrevivência da alma moroncial.
Morôncia é um termo que designa um vasto nível que se interpola entre o material e o espiritual. Pode designar realidades pessoais ou impessoais, energias vivas ou não viventes. Os elos do tecido moroncial são espirituais, a sua trama é física.
VI. ENERGIA E MODELO ORIGINAL
A toda e qualquer coisa que é sensível ao circuito da personalidade do Pai, chamamos pessoal. A toda e qualquer coisa que é sensível ao circuito espiritual do Filho, chamamos espírito. A toda e qualquer coisa que é sensível ao circuito da mente do Agente Conjunto, chamamos mente; mente, como um atributo do Espírito Infinito – e mente, em todas as suas fases. A toda e qualquer coisa que é sensível ao circuito material da gravidade, centrado no Paraíso inferior, chamamos matéria – matéria-energia, em todos os seus estados metamórficos.
ENERGIA é um termo que usamos em um sentido inclusivo amplo, aplicado aos reinos espiritual, mental e material. Força é também usada assim amplamente. Poder tem o seu uso geralmente limitado à designação do nível eletrônico da matéria, no grande universo, que é sensível à gravidade linear ou material. Poder é também empregado para designar soberania. Não podemos ater-nos às vossas definições, geralmente aceitas, de força, energia e poder. Há uma tal pobreza de linguagem, que devemos atribuir significados múltiplos a esses termos.
A energia física é um termo que denota todas as formas e fases fenomênicas do movimento, seja da ação ou seja do potencial.
Ao abordarmos as manifestações da energia-física, geralmente usamos os termos força cósmica, energia emergente e poder do universo. Esses termos são empregados freqüentemente como se segue:
1. A força cósmica abrange todas as energias que derivam do Absoluto Inqualificável, mas que até o momento não reagem à gravidade do Paraíso.
2. A energia emergente abrange as energias que reagem à gravidade do Paraíso, mas que ainda não são sensíveis à gravidade local ou linear. Esse é o nível pré-eletrônico da matéria-energia.
3. O poder do universo inclui todas as formas de energia que, conquanto permaneçam ainda sensíveis à gravidade do Paraíso, são sensíveis diretamente à gravidade linear. Esse é o nível eletrônico da matéria-energia e de todas as evoluções subseqüentes.
Mente é um fenômeno que denota a presença-atividade do ministério vivo e também de sistemas variados de energia; e isso é verdadeiro para todos os níveis de inteligência. Na personalidade, a mente intervém continuamente, entre o espírito e a matéria; o universo é iluminado, portanto, por três espécies de luz: a luz material, a luz do discernimento intuitivo-intelectual e a luminosidade do espírito.
Luz – a luminosidade do espírito – é um símbolo verbal, uma figura de discurso que conota a manifestação da personalidade característica dos seres espirituais de várias ordens. Essa emanação luminosa não está relacionada, sob nenhum ponto de vista, à luz do discernimento intuitivo-intelectual nem às manifestações da luz física.
MODELO ORIGINAL pode ser projetado como energia material, espiritual ou mental, ou como qualquer combinação dessas energias. Pode estar presente nas personalidades, identidades, entidades ou na matéria não vivente. Mas o modelo é arquétipo e permanece como tal; apenas as cópias são múltiplas.
O modelo original, ou arquétipo, pode configurar a energia, mas não a controla. A gravidade é o único controle da matéria-energia. Nem o espaço nem o arquétipo são sensíveis à gravidade, mas não há nenhuma relação entre o espaço e o arquétipo; o espaço não é nem modelo, nem modelo potencial. O modelo é uma configuração da realidade que já pagou todo o seu débito à gravidade; a realidade de qualquer arquétipo consiste nas suas energias, nos seus componentes de mente, de espírito ou de matéria.
Em contraste com o aspecto do total, o modelo original revela o aspecto individual da energia e da personalidade. As formas da personalidade, ou da identidade, são modelos resultantes da energia (física, espiritual ou mental), mas não são inerentes a ela. Essa qualidade da energia ou da personalidade, em virtude da qual o arquétipo é levado a surgir, pode ser atribuída a Deus – à Deidade – ao dom de força do Paraíso e à coexistência da personalidade e do poder.
O modelo arquetípico é o desenho-mestre do qual as cópias são criadas. O Paraíso Eterno é o absoluto dos modelos; o Filho Eterno é a personalidade-modelo; o Pai Universal é a fonte-ancestral direta de ambos. E, assim, pois, o Paraíso não outorga arquétipos, e o Filho não pode outorgar a personalidade.
VII. O SER SUPREMO
A funcionamento da Deidade no universo-mestre é dual no que diz respeito às relações de eternidade: Deus, o Pai; Deus, o Filho; e Deus, o Espírito, são eternos – são seres existenciais – enquanto Deus, o Supremo; Deus, o Último; e Deus, o Absoluto, são Personalidades em factualização da Deidade, das épocas pós-Havona no tempo-espaço e nas esferas tempo-espacialmente transcendidas da expansão evolucionária do universo-mestre. Essas personalidades em factualização, da Deidade, são eternas no futuro, desde o tempo em que, quando e como se personalizam em poder, nos universos em crescimento, por meio da técnica de factualização experiencial dos potenciais criativos associativos, das Deidades eternas do Paraíso.
A Deidade é, portanto, dual na sua presença:
1. Existencial – seres de existência eterna; passada, presente e futura.
2. Experiencial – seres em factualização, no presente pós-Havona; mas de existência sem fim, ao longo de toda a eternidade futura.
O Pai, o Filho e o Espírito são existenciais – existenciais, em factualidade (embora todos os potenciais sejam supostamente experienciais). O Supremo e o Último são totalmente experienciais. O Absoluto da Deidade é experiencial na factualização, mas existencial na potencialidade. A essência da Deidade é eterna, mas apenas as três pessoas originais da Deidade são eternas (sem quaisquer reservas) inqualificavelmente. Todas as outras personalidades da Deidade têm uma origem, mas são eternas no seu destino.
Tendo alcançado a expressão existencial da Deidade de Si próprio, no Filho e no Espírito, o Pai está agora alcançando a expressão experiencial nos níveis até então impessoais e irrerevelados da deidade, que são Deus, o Supremo, Deus, o Último, e Deus, o Absoluto; mas essas Deidades experienciais não são, agora, plenamente existentes, pois estão em processo de factualização.
Deus, o Supremo, em Havona, é o reflexo do espírito pessoal da Deidade trina do Paraíso. E esse relacionamento associativo da Deidade está agora se expandindo criativamente, para o exterior, no sentido de Deus, o Sétuplo; e está sintetizando-se no poder experiencial do Supremo Todo-Poderoso no grande universo. A Deidade do Paraíso, existencial em três pessoas, está, assim, evoluindo experiencialmente em duas fases da Supremacia, ao passo que essas fases duais se estão unificando em poder de personalidade como um Senhor único, o Ser Supremo.
O Pai Universal, por livre escolha, alcança a liberação dos vínculos da infinitude e das correntes da eternidade por meio da técnica da trinitarização, a tríplice personalização da Deidade. O Ser Supremo está, ainda agora, evoluindo como uma unificação subeterna da personalidade, da manifestação sétupla da Deidade, nos segmentos tempo-espaciais do grande universo.
O Ser Supremo não é um criador direto, exceto como pai de Majeston, mas é um coordenador sintético de todas as atividades de Criador-criatura no universo. O Ser Supremo, agora factualizando-se nos universos evolucionários, é a Deidade correlacionadora e sintetizadora da divindade tempo-espacial, da Deidade trina do Paraíso, em associação experiencial com os Supremos Criadores do tempo e do espaço. Quando finalmente factualizada, essa Deidade evolucionária constituirá a fusão eterna do finito e do infinito – na união perpétua e indissolúvel entre o poder experiencial e a personalidade espiritual.
Toda a realidade finita no tempo-espaço, sob o impulso diretivo do Ser Supremo em evolução, está empenhada em uma mobilização sempre-ascendente e em uma unificação perfeccionante (na síntese de poder-personalidade) entre todas as fases e valores da realidade finita, em associação com fases variadas da realidade do Paraíso, com a finalidade e propósito de embarcar subseqüentemente na tentativa de alcançar os níveis absonitos de realização da supra-criatura.
VIII.DEUS, O SÉTUPLO
Para compensar a criatura pela sua finitude de status e pelas suas limitações de conceito, o Pai Universal estabeleceu, para a criatura evolucionária, uma forma sétupla de entendimento da Deidade, e de aproximação dela:
1.Os Filhos Criadores do Paraíso.
2.Os Anciães dos Dias.
3.Os Sete Espíritos Mestres.
4.O Ser Supremo.
5.Deus, o Espírito.
6.Deus, o Filho.
7.Deus, o Pai.
Essa personalização sétupla da Deidade, no tempo e no espaço, e dentro dos sete superuniversos, capacita o homem mortal para alcançar a presença de Deus, que é espírito. Essa Deidade sétupla que, para as criaturas finitas do tempo-espaço, algumas vezes personaliza-se em poder no Ser Supremo, é a Deidade funcional das criaturas mortais evolucionárias, de carreira ascensional ao Paraíso. Tal carreira, de descobertas experienciais na compreensão de Deus, começa com o reconhecimento da divindade do Filho Criador do universo local, e ascende, passando pelos Anciães dos Dias do superuniverso e por meio da pessoa de um dos Sete Espíritos Mestres, até atingir a descoberta e o reconhecimento da divina personalidade do Pai Universal do Paraíso.
O grande universo é o domínio tríplice da Deidade da Trindade da Supremacia, de Deus, o Sétuplo, e do Ser Supremo. Deus, o Supremo, é potencial na Trindade do Paraíso, de quem deriva a Sua personalidade e os seus atributos espirituais; mas está agora factualizando-se nos Filhos Criadores, nos Anciães dos Dias e nos Espíritos Mestres, de quem deriva o Seu poder de Todo-Poderoso para os superuniversos do tempo e do espaço. Essa manifestação de poder, do Deus imediato das criaturas evolucionárias, evolui factualmente, no tempo e no espaço, concomitantemente com elas. O Supremo Todo-Poderoso, que evolui no nível de valor das atividades não pessoais, e a pessoa espiritual de Deus, o Supremo, são uma única realidade – o Ser Supremo.
Os Filhos Criadores, na associação de Deidade, que é Deus, o Sétuplo, proporcionam o mecanismo pelo qual o mortal se torna imortal e pelo qual o finito encontra o amplexo da infinitude. O Ser Supremo provê a técnica para a mobilização da personalidade em poder, a síntese divina, de todas essas transações múltiplas, capacitando, assim, o finito para alcançar o absonito e, por meio de outras possíveis factualizações futuras, intentar alcançar o Último. Os Filhos Criadores e as suas consortes, as Ministras Divinas, são participantes dessa mobilização suprema, mas os Anciães dos Dias e os Sete Espíritos Mestres estão provavelmente fixados de forma eterna como administradores permanentes no grande universo.
A função de Deus, o Sétuplo, data da organização dos sete superuniversos e, provavelmente, ampliar-se-á junto com a evolução futura das criações do espaço exterior. A organização desses universos futuros, de primeiro, segundo, terceiro e quarto níveis espaciais de evolução progressiva, irá, sem dúvida, testemunhar a inauguração da forma transcendente e absonita de entendimento-aproximação da Deidade.
IX.DEUS, O ÚLTIMO
Assim como o Ser Supremo evolui progressivamente, a partir do dom antecedente da divindade, de potencial de energia e personalidade, contido no grande universo, do mesmo modo, Deus, o Último, emerge dos potenciais da divindade que residem nos domínios transcendidos tempo-espacialmente do universo-mestre. A factualização da Deidade Última assinala a unificação absonita da primeira Trindade experiencial e significa uma expansão unificante da Deidade, no segundo nível da auto-realização criativa. Isso constitui o equivalente, em poder-personalidade, da factualização da Deidade experiencial no universo, das realidades absonitas do Paraíso, nos níveis de manifestação de valores tempo-espacialmente transcendidos. A complementação de tal desdobramento experiencial tem por fim permitir um destino último, de serviço, para todas as criaturas do tempo-espaço que tiverem atingido níveis absonitos, por meio de uma realização completa do Ser Supremo, por intermédio do ministério de Deus, o Sétuplo.
Deus, o Último, é um designativo da Deidade pessoal, funcionando nos níveis absonitos da divindade e nas esferas do supratempo e do espaço transcendido do universo. O Último é uma manifestação supra-suprema de factualização da Deidade. O Supremo é a unificação da Trindade, segundo é compreendida pelos seres finitos; o Último é a unificação da Trindade do Paraíso, segundo é compreendida pelos seres absonitos.
O Pai Universal, por meio do funcionamento da Deidade evolucionária, está factualmente empenhado no ato, estupendo e surpreendente, de focalização da personalidade e de mobilização do poder, nos seus respectivos níveis de significados para o universo, dos valores da realidade divina nos âmbitos do finito, do absonito e mesmo do absoluto.
As três primeiras Deidades do Paraíso, eternas no passado – o Pai Universal, o Filho Eterno e o Espírito Infinito –, estão, no futuro eterno, para complementar-se em personalidade, pela factualização experiencial das Deidades evolucionárias coligadas – Deus, o Supremo; Deus, o Último, e, possivelmente, Deus, o Absoluto.
Deus, o Supremo, e Deus, o Último, agora evoluindo nos universos experienciais, não são existenciais – não são passado-eternos, são apenas futuro-eternos, e eternos tempo-espacialmente condicionados e eternos transcendentalmente condicionados. Eles são Deidades de dons supremos, últimos e, possivelmente, supremo-últimos; mas experimentaram origens históricas no universo. Nunca terão um fim, mas tiveram, sim, um começo para as suas personalidades. São, na verdade, factualizações dos potenciais eternos e infinitos da Deidade, mas não são, por si próprios, nem eternos, nem infinitos incondicionalmente.
X.DEUS, O ABSOLUTO
A realidade eterna do Absoluto da Deidade tem muitas características que não podem ser inteiramente explicadas à mente tempo-espacialmente finita; mas a factualização de Deus, o Absoluto, existiria em conseqüência da unificação da segunda Trindade experiencial, a Trindade Absoluta. Isso constituiria a realização experiencial da divindade absoluta, na unificação de significados absolutos, em níveis absolutos; mas não estamos seguros no que diz respeito à abrangência de todos os valores absolutos, pois não fomos, em tempo algum, informados de que o Absoluto Qualificado seja equivalente ao Infinito. Destinos supra-últimos estão envolvidos nos significados absolutos e em uma espiritualidade infinita e, sem que essas duas realidades sejam alcançadas, não podemos estabelecer valores absolutos.
Deus, o Absoluto, é a meta de alcance e de realização de todos os seres superabsonitos, mas o potencial de poder e personalidade do Absoluto da Deidade transcende o nosso conceito; e hesitamos em discorrer sobre essas realidades, tão distantes que estão da factualização experiencial.
XI.OS TRÊS ABSOLUTOS
Quando o pensamento combinado do Pai Universal e do Filho Eterno, funcionando no Deus da Ação, constituiu a criação do universo divino e central, o Pai seguiu a expressão do Seu pensamento, na palavra do Seu Filho e na atuação do Executivo Conjunto Deles, diferenciando, assim, a Sua Presença Havonal dos potenciais de infinitude. E esses potenciais não desvelados de infinitude permanecem espacialmente oclusos no Absoluto Inqualificável, e divinamente envoltos no Absoluto da Deidade, enquanto estes dois últimos transformam-se em um único, no funcionamento do Absoluto Universal, que é a unidade-infinitude não revelada do Pai do Paraíso.
Tanto a potência da força cósmica quanto a potência da força espiritual estão em processo de revelação-realização progressiva, assim como o enriquecimento de toda a realidade é efetuado, por meio de um crescimento experiencial e de uma correlação do experiencial com o existencial, feita pelo Absoluto Universal. Em virtude da presença eqüipolente do Absoluto Universal, a Primeira Fonte e Centro realiza uma extensão do poder experiencial, desfruta da identificação com as Suas criaturas evolucionárias e realiza a expansão da Deidade experiencial, nos níveis da Supremacia, Ultimidade e Absolutez.
Quando não é possível distinguir plenamente entre o Absoluto da Deidade e o Absoluto Inqualificável; a função supostamente combinada deles, ou a sua presença coordenada, é designada como a ação do Absoluto Universal.
1. O Absoluto da Deidade parece ser o ativador onipotente, enquanto o Absoluto Inqualificável parece ser o mecanizador todo-eficiente do universo dos universos, supremamente unificado e coordenado em ultimidade, e mesmo dos universos após universos, já feitos, em feitura ou ainda por fazer.
O Absoluto da Deidade não pode reagir a qualquer situação, no universo, de um modo subabsoluto, ou, pelo menos, não o faz. Todas as respostas desse Absoluto, a qualquer situação que surja, parecem dar-se em termos do bem-estar de toda a criação de seres e coisas, não apenas no seu estado presente de existência, mas também com vistas às possibilidades infinitas, em toda a eternidade futura.
O Absoluto da Deidade é aquele potencial que foi segregado da realidade total e infinita, por escolha livre do arbítrio do Pai Universal, e no interior do qual todas as atividades da divindade – existenciais e experienciais – ocorrem. Este é o Absoluto Qualificado, que se contradistingue do Absoluto Inqualificável; mas o Absoluto Universal é a supersomatória de ambos, pois inclui todo o potencial absoluto.
2. O Absoluto Inqualificável é não pessoal, extradivino e não deificado. O Absoluto Inqualificável, portanto, é desprovido de personalidade, de divindade e de todas as prerrogativas de criador. Nem fatos, nem a verdade; nem a experiência, nem a revelação; nem a filosofia, nem a absonitude são capazes de penetrar a natureza e o caráter desse Absoluto sem qualificação no universo.
Que fique claro que o Absoluto Inqualificável é uma realidade positiva, que impregna o grande universo e que se estende, aparentemente, com igual presença espacial, para dentro e para fora das atividades de força e de evoluções pré-materiais, das assombrosas extensões das regiões espaciais, para além dos sete superuniversos. O Absoluto Inqualificável não é um mero negativismo de conceito filosófico, baseado em suposições metafísicas sofismáticas a respeito da universalidade, do predomínio e da primazia do incondicionado e do Inqualificável. O Absoluto Inqualificável é um supracontrole positivo do universo em infinitude; esse supracontrole é ilimitado em força e no espaço, mas é definitivamente condicionado à presença de vida, mente, espírito e personalidade; e, além disso, está condicionado às reações da vontade e dos mandatos, plenos de propósito, da Trindade do Paraíso.
Estamos convencidos de que o Absoluto Inqualificável não é uma influência indiferenciada que a tudo impregna e não é, pois, comparável, seja aos conceitos panteístas da metafísica, seja às hipóteses ocasionais do éter feitas pela ciência. O Absoluto Inqualificável é ilimitado quanto à força, e é condicionado à Deidade; mas não percebemos plenamente a relação deste Absoluto com as realidades espirituais dos universos.
3. O Absoluto Universal, deduzimos logicamente, era inevitável ao Pai Universal, em seu ato de livre-arbítrio absoluto, de diferenciar as realidades do universo em valores deificados e não deificados – personalizáveis e não personalizáveis. O Absoluto Universal é o fenômeno que indica, na Deidade, a resolução da tensão criada pela ação livre da vontade ao diferenciar, assim, as realidades do universo, e funciona como o coordenador associativo dessas somas totais de potencialidades existenciais.
A presença-tensão do Absoluto Universal significa o ajustamento dos diferenciais entre a realidade da deidade e a realidade não deificada, inerentes à separação feita entre a dinâmica da divindade, em pleno livre-arbítrio, e a estática incondicionada ou inqualificável.
Lembrai-vos sempre: a infinitude potencial é absoluta e inseparável da eternidade. A infinitude factual, no tempo, não pode nunca ser senão parcial, e deve, portanto, ser não absoluta; tampouco pode a infinitude da personalidade factual ser absoluta, exceto na Deidade inqualificável. E é o diferencial do potencial de infinitude, no Absoluto Inqualificável e no Absoluto da Deidade, que eterniza o Absoluto Universal, tornando cosmicamente possível que haja universos materiais no espaço e espiritualmente possível que haja personalidades finitas no tempo.
O finito pode coexistir no cosmo junto com o Infinito, tão somente porque a presença associativa do Absoluto Universal equaliza muito perfeitamente as tensões entre o tempo e a eternidade, entre o finito e o infinito, entre o potencial de realidade e a factualidade da realidade, entre o Paraíso e o espaço, entre o homem e Deus. Associativamente, o Absoluto Universal constitui a identificação da zona de realidade evolutiva progressiva que existe nos universos do tempo e do espaço e nos universos tempo-espacialmente transcendidos, e que são universos de manifestação sub-infinita da Deidade.
O Absoluto Universal é o potencial da Deidade estático-dinâmica, funcionalmente realizável nos níveis do tempo-eternidade, como valores finito-absolutos e de possível acesso experiencial-existencial. Esse aspecto incompreensível da Deidade pode ser estático, potencial e associativo, mas não é experiencialmente criativo nem evolutivo, no que concerne às personalidades inteligentes, ora funcionando no universo-mestre.
O Absoluto. Os dois Absolutos – o qualificado e o inqualificável –, se bem que aparentemente tão divergentes em função, quando observados pelas criaturas que possuem uma mente, estão, perfeita e divinamente, unificados no e pelo Absoluto Universal. Em última análise, e em uma compreensão final, todos os três são apenas um Absoluto. Nos níveis subinfinitos, eles estão funcionalmente diferenciados, mas, na infinitude, eles são UM.
Não utilizamos jamais o termo Absoluto como uma negação de alguma coisa, nem como rejeição de coisa alguma. Tampouco consideramos o Absoluto Universal como autodeterminativo, como uma espécie de Deidade panteísta e impessoal. O Absoluto, em tudo que diz respeito à personalidade no universo, é estritamente limitado pela Trindade e dominado pela Deidade.
XII. AS TRINDADES
A Trindade do Paraíso, original e eterna, é existencial; e foi inevitável. Essa Trindade, sem começo, era inerente ao fato da diferenciação entre o pessoal e o impessoal, pelo livre-arbítrio do Pai, e factualizou-se quando a Sua vontade pessoal coordenou essas realidades duais, por meio da mente. As Trindades do pós-Havona são experienciais – são inerentes à criação de dois níveis subabsolutos e evolutivos, de manifestação da personalidade em poder, no universo-mestre.
A Trindade do Paraíso – a união eterna na Deidade, do Pai Universal, ao Filho Eterno e ao Espírito Infinito – é existencial em factualidade, mas todos os potenciais são experienciais. Logo, essa Trindade constitui a única realidade da Deidade que abraça a infinitude; e, portanto, é nela que ocorrem os fenômenos de factualização, no universo, de Deus, o Supremo, de Deus, o Último, e de Deus, o Absoluto.
A primeira e a segunda Trindades experienciais, as Trindades pós-Havona, não podem ser infinitas, porque abrangem Deidades derivadas, Deidades que evoluíram por meio da factualização experiencial de realidades criadas ou manifestadas pela Trindade existencial do Paraíso. A infinitude da divindade está sendo constantemente enriquecida, quando não ampliada, pela finitude e pela absonitude da experiência entre criatura e Criador.
As Trindades são verdades do relacionamento e fatos da manifestação coordenada da Deidade. As funções da Trindade englobam as realidades da Deidade, e as realidades da Deidade sempre buscam a realização e a manifestação na personalização. Deus, o Supremo, Deus, o Último e, mesmo, Deus, o Absoluto, são, portanto, inevitabilidades divinas. Essas três Deidades experienciais eram potenciais, na Trindade existencial, a Trindade do Paraíso, mas os seus surgimentos no universo, como personalidades de poder, dependem, em parte, dos seus próprios funcionamentos experienciais, nos universos do poder e da personalidade, e, em parte, das realizações experienciais dos Criadores e das Trindades pós-Havona.
As duas Trindades pós-Havona, a Trindade Última e a Trindade Absoluta, ambas experienciais, não estão agora plenamente manifestadas; estão em processo de realização no universo. Essas associações de Deidades podem ser descritas como se segue:
1. A Trindade Última, atualmente em evolução, consistirá, finalmente, no Ser Supremo, nas Personalidades Criadoras Supremas e nos Arquitetos absonitos do universo-mestre, aqueles planejadores únicos do universo que não são criadores nem criaturas. Deus, o Último, final e inevitavelmente, adquirirá poder e personalizar-se-á como a Deidade-conseqüência da unificação desta Trindade Última experiencial, na arena em expansão do universo-mestre quase ilimitado.
2. A Trindade Absoluta – a segunda Trindade experiencial – agora em processo de factualização, consistirá em Deus, o Supremo, Deus, o Último, e o não revelado Consumador do Destino do Universo. Essa Trindade funciona tanto nos níveis pessoais quanto nos suprapessoais, e mesmo nas fronteiras do não pessoal; e a sua unificação na universalidade experienciaria a Deidade Absoluta.
A Trindade Última está unificando-se experiencialmente até completar-se, mas duvidamos verdadeiramente da possibilidade dessa unificação plena da Trindade Absoluta. O nosso conceito, contudo, da eterna Trindade do Paraíso, é mantido como uma lembrança, sempre presente, de que a trinitarização da Deidade pode realizar aquilo que, de outro modo, seria inatingível; e por isso é que postulamos o surgimento, em algum momento, do Supremo-Último e uma possível trinitarização e factualização de Deus, o Absoluto.
Os filósofos dos universos postulam uma Trindade das Trindades, uma Trindade Infinita experiencial-existencial, mas não são capazes de visualizar a personalização dela; possivelmente equivaleria à pessoa do Pai Universal, no nível conceitual do EU SOU. Todavia, independentemente de tudo isso, a Trindade original do Paraíso é potencialmente infinita, posto que o Pai Universal é factualmente infinito.
CONSIDERAÇÕESAs apresentações seguintes incluem a descrição do caráter do Pai Universal e a natureza dos seus coligados do Paraíso. Ao fazê-las, junto com a tentativa de descrever o universo central perfeito e os sete superuniversos que o rodeiam, estamo-nos guiando pelo mandato dos governantes superuniversais, o qual nos ordena que, em todos os nossos esforços para revelar a verdade e para coordenar o conhecimento essencial, seja dada preferência aos conceitos humanos mais elevados já existentes, relativos aos temas a serem apresentados. Apenas podemos recorrer à revelação pura quando o conceito em apresentação não houver tido expressão prévia adequada, na mente humana.
As sucessivas revelações planetárias da verdade divina, invariavelmente, têm abrangido os conceitos mais elevados existentes dos valores espirituais, como parte de uma nova e intensificada coordenação do conhecimento no planeta. De acordo com isso, ao fazermos essas apresentações sobre Deus e os Seus coligados do universo, nós selecionamos, como base destes documentos, mais de mil conceitos humanos que representam o mais alto e o mais avançado conhecimento planetário de valores espirituais e significados universais. À medida que esses conceitos humanos, reunidos dentre os dos mortais sabedores de Deus, do passado e do presente, tornarem-se inadequados para retratar a verdade, como fomos instruídos a revelá-la, nós iremos, sem hesitação, suplementá-los, recorrendo, para esse propósito, ao nosso conhecimento superior da realidade e da divindade das Deidades do Paraíso e do universo transcendente em que residem.
Estamos plenamente cientes das dificuldades dessa nossa missão; reconhecemos a impossibilidade que é transcrever plenamente a linguagem dos conceitos da divindade e da eternidade, por meio dos símbolos de uma língua, e com os conceitos finitos da mente mortal. Sabemos, porém, que, na mente humana, reside um fragmento de Deus e que, com a alma humana, permanece o Espírito da Verdade; e sabemos também que todas essas forças espirituais conspiram no sentido de tornar o homem material apto para captar a realidade dos valores espirituais e compreender a filosofia dos significados do universo. E, com certeza ainda maior, sabemos que esses espíritos da Divina Presença são capazes de prestar assistência ao homem, na tarefa de apropriação espiritual de toda a verdade que contribua para a elevação da realidade, em contínuo progresso, da experiência religiosa pessoal – a consciência de Deus.
[Ditado por um Conselheiro Divino de Orvonton, Dirigente do Corpo das Personalidades deste Superuniverso, designado para retratar, em Urântia, a verdade sobre as Deidades do Paraíso e o universo dos universos.]
Promovido por um Corpo de Personalidades do Superuniverso, de Uversa, atuando com a autoridade dos Anciães dos Dias de Orvonton.
terça-feira, 17 de julho de 2007
domingo, 15 de julho de 2007
O LIVRO DE URANTIADOCUMENTO 162NA FESTA DE TABERNÁCULOS
Quando Jesus partiu para Jerusalém com os dez apóstolos, ele havia planejado ir pelo caminho de Samaria, sendo esse
o caminho mais curto. E, desse modo, eles passaram pela costa leste do lago e, indo pelo caminho de Citópolis,
entraram nas fronteiras de Samaria. Quase ao cair da noite, Jesus enviou Filipe e Mateus até uma aldeia nos declives
do monte Gilboa, a fim de assegurar alojamento para todo o grupo. E aconteceu que esses aldeões tinham fortes
preconceitos contra os judeus, bem mais do que em geral possuíam os samaritanos, e tais sentimentos estavam
exacerbados nesse momento em particular, quando tantos deles estavam a caminho da Festa de Tabernáculos. Essa gente
sabia pouco sobre Jesus, e eles negaram-lhe alojamentos porque Jesus e os do seu grupo eram judeus. Quando Mateus e
Filipe manifestaram a sua indignação e informaram a esses samaritanos que eles estavam negando hospitalidade ao
Santo Homem de Israel, os aldeões enfurecidos expulsaram-nos da pequena cidade com bastões e pedras.
Depois que Filipe e Mateus retornaram para junto dos companheiros e relataram como tinham sido expulsos da aldeia,
Tiago e João foram até Jesus e disseram: “Mestre, oramos para que nos dê permissão de chamar o fogo dos céus para
devorar esses samaritanos insolentes e impenitentes”. Mas, quando Jesus ouviu essas palavras de vingança, ele
voltou-se para os filhos de Zebedeu e os repreendeu severamente: “Vós não estais conscientes do tipo de atitude que
manifestais. A vingança nada tem em comum com o Reino do céu. E, pois, em vez de discutir, vamos para a pequena
aldeia à beira do vau do Jordão”. E assim, por causa dos preconceitos sectários, esses samaritanos negaram a si
próprios a honra de mostrar hospitalidade ao Filho Criador de um universo.
Jesus e os dez pararam para passar a noite na aldeia, perto do vau do Jordão. E, no dia seguinte, bem cedo,
atravessaram o rio e continuaram a caminho de Jerusalém, pela estrada do leste do Jordão, chegando à Betânia na
quarta-feira à noite. Tomé e Natanael vieram na sexta-feira, tendo sido retardados por causa das suas conversas com
Rodam.
Jesus e os doze permaneceram na vizinhança de Jerusalém até o fim do mês seguinte (outubro), cerca de quatro semanas
e meia depois. Jesus foi à cidade apenas umas poucas vezes, e essas visitas breves foram feitas durante os dias da
Festa de Tabernáculos. Ele passou uma parte considerável de outubro com Abner e os condiscípulos em Belém.
1. OS PERIGOS DA VISITA A JERUSALÉM
Muito antes de partirem da Galiléia, os seguidores de Jesus haviam implorado a ele para ir a Jerusalém e proclamar o
evangelho do Reino, com o objetivo de que a sua mensagem pudesse contar com o prestígio de ter sido pregada no
centro da cultura e do ensino judaico; mas agora que ele de fato viera a Jerusalém para ensinar,eles estavam temerosos pela sua vida. Sabendo que o sinédrio tinha tentado trazer Jesus a Jerusalém para julgá-lo e,
relembrando-se das recentes declarações reiteradas do Mestre de que ele iria sujeitar-se à morte, os apóstolos
estavam literalmente atordoados com a sua súbita decisão de comparecer à Festa de Tabernáculos. A todas as
solicitações anteriores deles, para que fosse a Jerusalém ele havia respondido: “Ainda não chegou a hora”. E, quanto
aos protestos de temor deles, agora ele apenas respondia: “Mas a hora chegou”.
Durante a Festa de Tabernáculos, Jesus, ousadamente, esteve em Jerusalém por várias ocasiões e ensinou publicamente
no templo. Ele fez isso a despeito dos esforços dos seus apóstolos para dissuadi-lo dessa idéia. Embora eles
tivessem, durante um bom tempo, instado-o a proclamar a sua mensagem em Jerusalém, agora temiam vê-lo entrar na
cidade, sabendo muito bem que os escribas e os fariseus estavam dispostos a levá-lo à morte.
A ousada presença de Jesus em Jerusalém, mais do que nunca, confundiu os seus seguidores. Muitos dos seus discípulos
e, até mesmo Judas Iscariotes, ainda apóstolo, chegaram a pensar que Jesus tinha fugido apressadamente para a
Fenícia porque temia os líderes judeus e Herodes Antipas. Eles não conseguiam compreender o significado dos
movimentos do Mestre. A sua presença em Jerusalém para a Festa de Tabernáculos, até mesmo contra os conselhos dos
seus seguidores, foi o suficiente para colocar, definitivamente, um fim em todos os murmúrios sobre medo e covardia.
Durante a Festa de Tabernáculos, milhares de crentes de todas as partes do império romano viram Jesus, ouviram-no
ensinando, e muitos até viajaram à Betânia para conversar com ele a respeito do progresso do Reino nos seus próprios
distritos.
Várias razões havia para que tivesse sido permitido a Jesus pregar publicamente nos pátios do templo durante os dias
da festa, e a principal delas era o temor que surgira, entre os oficiais do sinédrio, em resultado da divisão
secreta de sentimentos nas suas próprias fileiras. Era um fato, que muitos dos membros do sinédrio, ou secretamente
criam em Jesus ou, então, eram decididamente contra prendê-lo durante a festa, enquanto uma quantidade tão grande de
pessoas estava presente em Jerusalém, muitas das quais ou acreditavam nele ou ao menos eram amistosas para com o
movimento espiritual que ele promovia.
Os esforços de Abner e seus companheiros, em toda a Judéia, haviam também feito bastante para consolidar os
sentimentos favoráveis ao Reino, e tanto foi assim que os inimigos de Jesus não ousaram ser muito francos na
oposição. Essa foi uma das razões por que Jesus pôde visitar Jerusalém publicamente e sair dali ainda vivo. Um ou
dois meses antes disso, ele teria certamente sido levado à morte.
Contudo, a intrepidez ousada que teve Jesus de aparecer publicamente em Jerusalém apavorou os seus inimigos; eles
não estavam preparados para um desafio tão arrojado. Várias vezes, durante esse mês, o sinédrio fez tentativas
ineficazes de prender o Mestre, mas tais esforços deram em nada. Os seus inimigos ficaram tão surpreendidos com o
comparecimento inesperado de Jesus em público, em Jerusalém, que chegaram a pensar que deveria ter sido prometida a
ele a proteção das autoridades romanas. Sabendo que Filipe (o irmão de Herodes Antipas) era quase um seguidor de
Jesus, os membros do sinédrio especularam que talvez Filipe tivesse dado a Jesus a promessa de proteção contra os
seus inimigos. E antes que eles despertassem e entendessem que estiveram enganados, ao fazerem a suposição de que
essa presença súbita e ousada dele, em Jerusalém, fosse devido a um acordo secreto com os oficiais romanos, Jesus
havia já deixado a jurisdição deles.
Apenas os doze apóstolos, ao partirem de Magadam, sabiam que Jesus tinha a intenção de comparecer à Festa de
Tabernáculos. Os outros seguidores doMestre ficaram bastante surpresos quando ele apareceu nos pátios do templo e começou a ensinar publicamente, e as
autoridades judias ficaram pasmadas, para mais além de qualquer expressão, quando lhes foi relatado que ele estava
ensinando no templo.
Embora os seus discípulos não esperassem que Jesus comparecesse à festa, a grande maioria dos peregrinos, vinda de
longe, que tinha ouvido falar dele, alimentava a esperança de poder vê-lo em Jerusalém. E eles não se desapontaram,
pois, por várias ocasiões, ele ensinou no Portão de Salomão e em outros locais, como nos pátios dos templos. Esses
ensinamentos foram, na realidade, o anúncio oficial, ou formal, da divindade de Jesus para o povo judeu e para todo
o mundo.
As multidões, que ouviram os ensinamentos do Mestre, estavam divididas nas suas opiniões. Alguns diziam que ele era
um bom homem; alguns, que era um profeta; alguns, que ele era verdadeiramente o Messias; outros diziam que era um
intrometido pernicioso, que estava desencaminhando o povo com as suas doutrinas estranhas. Os seus inimigos
hesitaram em denunciá-lo abertamente, por medo dos crentes amistosos, enquanto os seus amigos temiam reconhecê-lo
abertamente, por medo dos líderes judeus, informados de que o sinédrio estava determinado a mandá-lo para a morte.
Entretanto, mesmo os seus inimigos maravilharam-se com o seu ensinamento, sabendo que ele não tinha sido instruído
nas escolas dos rabinos.
Toda vez que Jesus ia a Jerusalém, os seus apóstolos ficavam tomados pelo terror. E eles sentiam mais medo porque,
dia a dia, escutavam os seus pronunciamentos cada vez mais corajosos a respeito da natureza da sua missão na Terra.
Eles não estavam acostumados a ouvir Jesus fazer asserções tão peremptórias; e afirmações tão espantosas, mesmo
quando pregando entre amigos.
2. A PRIMEIRA PALESTRA NO TEMPLO
Na primeira tarde que Jesus ensinou no templo, um grupo considerável sentou-se para ouvir as suas palavras, que
descreviam a liberdade do novo evangelho; e havia júbilo naqueles que creram nas boas-novas. Foi então que um
ouvinte curioso interrompeu-o para perguntar: “Mestre, como é que tu podes citar as escrituras e ensinar tão
fluentemente ao povo, sendo que fui informado de que não aprendeste segundo os ensinamentos dos rabinos?” Jesus
respondeu: “Nenhum homem ensinou-me as verdades que eu vos declaro. E esse ensinamento não é meu e sim Dele, que me
enviou. Se qualquer homem deseja realmente fazer a vontade do meu Pai, ele deve certamente conhecer o meu
ensinamento, seja ele vindo de Deus ou sejam palavras vindas de mim. Aquele que fala por si próprio busca a sua
própria glória, mas, quando eu falo as palavras do Pai, com isso eu busco a glória Dele, que me enviou. Mas antes de
tentardes entrar na nova luz, não devíeis antes seguir a luz que vós já tendes? Moisés vos deu a lei, mas quantos de
vós tentais honestamente atender às exigências dele? Moisés, nessa lei, ordena-vos, dizendo: ‘Não matareis’; e,
apesar dessa ordem, alguns de vós tentais matar o Filho do Homem”.
Ao ouvir essas palavras, o povo começou a discutir entre si. Alguns disseram que ele estava louco; alguns que era um
demônio. Outros disseram ser esse de fato o profeta da Galiléia, a quem escribas e fariseus há muito vinham tentando
matar. Alguns disseram que as autoridades religiosas estavam com medo de molestá-lo; outros achavam que ainda não se
tinha colocado as mãos nele porque tinham tornado-se crentes dele. Após um debate considerável, alguém, na multidão,
deu um passo à frente e perguntou a Jesus: “Por que os dirigentes tentam matá-lo?” E ele respondeu: “Os dirigentes
buscam matar-me porque eles se ressentem do meu ensinamento sobre as boas-novas do Reino,um evangelho que liberta os homens das tradições pesadas de uma religião formal de cerimônias que esses instrutores
estão determinados a manter a qualquer custo. Eles circuncisam de acordo com a lei, no dia de sábado, mas seriam
capazes de matar-me porque uma vez, no dia de sábado, eu libertei um homem da servidão da aflição. Eles me seguem no
dia de sábado para espionar-me; e matar-me-iam porque, em uma outra ocasião, eu escolhi curar completamente a um
homem acometido de dores, no dia de sábado. Eles buscam matar-me porque sabem muito bem que, se vós crerdes
honestamente e se ousardes aceitar os meus ensinamentos, o sistema da religião tradicional deles ficará arruinado,
destruído para sempre. E assim ficarão privados da autoridade sobre aquilo a que eles devotaram as suas vidas, já
que eles se recusam firmemente a aceitar esse evangelho novo e mais glorioso do Reino de Deus. E agora eu faço um
apelo a cada um de vós: julgai, não de acordo com as aparências exteriores, mas julgai, sim, segundo o verdadeiro
espírito desses ensinamentos; julgai com retidão”.
Então um outro inquiridor disse: “Sim, Mestre, nós buscamos o Messias, mas, quando ele vier, sabemos que ele
aparecerá em mistério. Nós sabemos de onde tu és. Tens estado entre os teus irmãos desde o começo. O libertador virá
em poder, para restaurar o trono do reino de Davi. Tu realmente reivindicas ser o Messias?” E Jesus respondeu: “Vós
pretendeis conhecer-me e saber de onde eu venho. Eu gostaria de que essas pretensões fossem verdadeiras, pois se de
fato assim fosse, vós acharíeis vida abundante nesse conhecimento. Mas eu declaro que eu não vim a vós por minha
própria causa; eu vim enviado pelo Pai, e Aquele que me enviou é verdadeiro e é fiel. Ao recusardes ouvir-me, estais
recusando receber Aquele que me enviou. Vós, se receberdes esse evangelho, chegareis a conhecer a Ele que me enviou.
Eu conheço o Pai, pois eu vim do Pai, para declará-Lo e revelá-Lo para vós”.
Os agentes dos escribas queriam colocar as mãos nele, mas temiam a multidão, pois eram muitos os que criam nele. O
trabalho de Jesus, desde o seu batismo, tinha tornado-se bem conhecido de todo o mundo judeu e, quando muitos deles
contavam sobre essas coisas, eles diziam entre si: “Mesmo que esse instrutor seja da Galiléia, e ainda que não
satisfaça a todas as nossas expectativas de um Messias, nós nos perguntamos, quando vier o libertador, se ele fará
alguma coisa mais bela do que esse Jesus de Nazaré já fez”.
Quando os fariseus e os seus agentes ouviram o povo falando desse modo, eles foram aconselhar-se com os seus líderes
e decidiram que alguma coisa deveria ser feita, sem demora, para colocar um fim nessas apresentações públicas de
Jesus, nos pátios dos templos. Os líderes dos judeus, em geral, estavam dispostos a evitar um confronto com Jesus,
acreditando que as autoridades romanas tivessem prometido imunidade a ele. Eles não conseguiam explicar de outro
modo a sua coragem de vir a Jerusalém naquele momento; mas os oficiais do sinédrio não acreditaram totalmente nesse
rumor. Eles ponderaram que os governantes romanos não fariam uma tal coisa secretamente e sem o conhecimento do
corpo mais alto do governo da nação judaica.
E desse modo, Eber, o agente qualificado do sinédrio, com dois assistentes, foi despachado para prender Jesus. E,
quando Eber aproximava-se de Jesus, o Mestre disse: “Não temais aproximar-vos de mim. Chegai mais perto para ouvir o
meu ensinamento. Eu sei que fostes enviados para prender-me, mas devíeis entender que nada sucederá ao Filho do
Homem antes que chegue a sua hora. Não estejais contra mim; viestes apenas para cumprir as ordens dos vossos patrões
e, até mesmo esses dirigentes dos judeus, em verdade, pensam estar fazendo o serviço de Deus ao buscar secretamente
a minha destruição.“Não tenho nenhum rancor contra vós. O Pai vos ama e, portanto, eu quero a vossa libertação das cadeias do
preconceito e das trevas da tradição. Eu ofereço a vós a liberdade da vida e o júbilo da salvação. Eu proclamo o
caminho novo e vivo, a libertação do mal e a ruptura das cadeias do pecado. Eu vim para que vós pudésseis ter a
vida, e tê-la eternamente. Se vós buscais livrar-vos de mim e dos meus ensinamentos inquietantes; deveríeis
compreender que eu devo estar convosco apenas um pouco mais! Em pouquíssimo tempo eu irei para Ele, que me enviou a
este mundo. E, então, muitos de vós ireis diligentemente procurar por mim, mas não tereis a minha presença, pois até
onde eu devo ir vós não podeis chegar. Porém todos aqueles que verdadeiramente tentarem encontrar-me, em algum
momento, irão alcançar a vida que conduz à presença do meu Pai”.
Alguns daqueles que zombavam, entre si, disseram: “Para onde vai este homem, que não poderemos encontrá-lo? Será que
ele irá viver entre os gregos? Será que irá destruir-se a si próprio? O que poderá estar querendo dizer, quando
declara que logo partirá de perto de nós, e que não poderemos ir até onde ele vai?”
Eber e os seus assistentes negaram-se a prender Jesus e retornaram sem ele. Entretanto, quando o dirigente dos
sacerdotes e fariseus repreendeu Eber e os seus assistentes, porque eles não haviam trazido Jesus, Eber apenas
respondeu: “Tememos prendê-lo no meio da multidão, porque muitos são os que crêem nele. Além do mais, nunca ouvimos
um homem falando como ele. Há algo de fora do comum com esse instrutor. Vós todos faríeis bem de ir até lá para
escutá-lo”. E, quando os principais dirigentes ouviram essas palavras, ficaram surpresos e disseram insultuosamente
a Eber: “Tu também já te desgarraste? Acaso estás à beira de crer nesse enganador? Já ouviste falar de algum dos
nossos homens cultos ou de algum dos dirigentes que acreditaram nele? Alguém dentre os escribas ou dentre os
fariseus já foi enganado por esses ensinamentos astutos? Como podes tu estar influenciado pelo comportamento dessa
multidão ignorante, que não conhece a lei nem os profetas? Acaso não sabes que esse povo inculto está amaldiçoado?”
E Eber então respondeu: “Mesmo assim, meus mestres, esse homem diz palavras de misericórdia e de esperança à
multidão. Ele encoraja os desalentados, e as suas palavras foram confortantes até mesmo para as nossas almas. O que
pode haver de errado nesses ensinamentos, mesmo que ele não seja o Messias das escrituras? E ainda assim a nossa lei
não exige justiça? Condenamos um homem antes de ouvi-lo?” E o dirigente do sinédrio estava irado com Eber e,
voltando-se para ele, disse: “Ficaste louco? Acaso também és da Galiléia? Busca nas escrituras, e descobrirás que,
da Galiléia, não sai nenhum profeta, muito menos o Messias”.
O sinédrio dispersou-se em confusão e Jesus recolheu-se na Betânia para passar a noite.
3. A MULHER SURPREENDIDA EM ADULTÉRIO
Foi durante essa visita a Jerusalém que Jesus esteve com uma certa mulher de má reputação. Ela foi trazida à
presença de Jesus pelos que a acusavam e pelos inimigos dele. A narrativa distorcida, que vós conheceis, desse
episódio sugere que tal mulher tenha sido trazida diante de Jesus pelos escribas e fariseus, e que Jesus lidou,
assim, com eles, como que para indicar que esses líderes religiosos dos judeus pudessem, eles próprios, ser culpados
de imoralidade. Jesus sabia muito bem que, conquanto esses escribas e fariseus fossem cegos espiritualmente e
preconceituosos intelectualmente, por causa da sua lealdade à tradição, eles deviam estar entre os homens mais
íntegros moralmente daqueles dias e daquela geração.Eis o que realmente aconteceu: Cedo, na terceira manhã da festa, quando Jesus aproximava-se do templo, um grupo de
agentes contratados pelo sinédrio veio ao seu encontro. Eles traziam consigo, à força, uma mulher. Ao aproximar-se,
o porta-voz deles disse: “Mestre, esta mulher foi encontrada em adultério – no ato mesmo. Ora, a lei de Moisés manda
que apedrejemos esta mulher. O que dizes sobre o que deve ser feito com ela?”
O plano dos inimigos de Jesus, se ele sustentasse a lei de Moisés, exigindo que a transgressora confessa fosse
apedrejada, era envolvê-lo em dificuldades com os governantes romanos, que tinham negado aos judeus o direito de
infringir a pena de morte sem a aprovação de um tribunal romano. Se ele proibisse o apedrejamento da mulher, eles
iriam acusá-lo diante do sinédrio, por colocar-se acima de Moisés e da lei judaica. Se ele permanecesse em silêncio,
eles o acusariam de covardia. O Mestre, todavia, manobrou a situação de um modo tal que toda a armadilha caiu com o
peso da própria sordidez.
Essa mulher, outrora decente, era esposa de um cidadão inferior de Nazaré, um homem que tinha causado dificuldades a
Jesus durante os seus dias de juventude. O homem, tendo casado com essa mulher, vergonhosamente forçava-a a ganhar a
vida fazendo comércio do próprio corpo. Ele tinha vindo à festa, em Jerusalém, para que a sua mulher pudesse
prostituir-se por ganhos financeiros. Ele tinha aceito uma barganha com os mercenários dos dirigentes judeus,
traindo, assim, a sua própria mulher no seu vício comercializado. E, pois, eles vinham com a mulher e o companheiro
de transgressão, com o propósito de surpreender Jesus fazendo alguma declaração que pudesse ser usada contra ele
próprio, para a sua prisão.
Jesus, procurando na multidão, viu o marido dela, detrás de outras pessoas. Ele sabia que espécie de homem era esse
marido e percebeu que fazia parte da transação desprezível. Jesus andou até perto de onde esse marido degenerado
estava e escreveu na areia algumas palavras que o fizeram ir embora às pressas. Então Jesus veio diante da mulher e
escreveu de novo no chão algo para os seus possíveis acusadores; e, quando eles leram essas palavras, também foram
embora, um a um. E quando o Mestre escreveu pela terceira vez na areia, o companheiro, de pecado, da mulher, por sua
vez partiu e, assim, quando o Mestre levantou-se, depois de escrever, contemplou a mulher que ficara sozinha diante
dele. Jesus disse: “Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém ficou para apedrejar-te?” E a mulher, levantando
os olhos, respondeu: “Ninguém, Senhor”. E então Jesus disse: “Eu sei sobre você; mas nem eu te condeno. Tome o teu
caminho em paz”. E essa mulher, Hildana, renunciou ao seu marido perverso e juntou-se aos discípulos do Reino.
4. A FESTA DE TABERNÁCULOS
A presença de pessoas de todo o mundo conhecido, da Espanha à Índia, fazia da Festa de Tabernáculos uma ocasião
ideal para que Jesus, pela primeira vez, proclamasse publicamente em Jerusalém todo o seu evangelho. Nessa festa, o
povo ficava, boa parte do tempo, ao ar livre, em cabanas feitas de folhagens. Era uma festa das colheitas e, estando
assim como era, no frescor dos meses de outono, os judeus do mundo inteiro freqüentavam a essa festa em maior número
do que à da Páscoa ao final do inverno, ou à de Pentecostes no começo do verão. Os apóstolos contemplavam o seu
Mestre, afinal, fazendo o anúncio corajoso da sua missão na Terra, por assim dizer, perante todo o mundo.Essa era a festa das festas, pois nenhum sacrifício que não tivesse sido realizado nas outras festas podia ser feito
nessa época. Era a ocasião para a recepção das oferendas ao templo; era uma combinação de prazeres das férias com os
ritos solenes da adoração religiosa. E era uma época de júbilo racial, mesclado a sacrifícios, a cantos levíticos e
a toques solenes das trombetas prateadas dos sacerdotes. À noite, em um espetáculo impressionante, o templo e as
multidões de peregrinos eram brilhantemente iluminados pelos grandes candelabros, que queimavam, com muito brilho,
nos pátios das mulheres, e também pelo resplendor de dezenas de tocheiros nos pátios do templo. Toda a cidade estava
alegremente decorada, exceto o castelo romano de Antônia, que dominava, em um contraste sinistro, essa cena festiva
e adoradora. E como os judeus odiavam essa lembrança, sempre presente, do jugo romano!
Setenta touros eram sacrificados durante a festa, simbolizando as setenta nações do paganismo. A cerimônia do
derramamento da água simbolizava o espargimento do espírito divino. Essa cerimônia da água era precedida da
procissão dos sacerdotes e dos levitas, ao nascer do sol. Os adoradores caminhavam pelos degraus que iam do pátio de
Israel ao pátio das mulheres, enquanto ouvia-se o soar sucessivo das trombetas prateadas. E então os fiéis marchavam
até o belo portão, que se abria para o pátio dos gentios. E aí eles davam uma meia-volta para retomar pelo oeste,
repetindo os seus cânticos, e continuando a sua marcha simbólica da água.
Quase quatrocentos e cinqüenta sacerdotes, aproximadamente, junto com um número correspondente de levitas oficiaram
no último dia da festa. Ao alvorecer, os peregrinos reuniam-se, de todas as partes da cidade, cada um deles
carregando na mão direita um ramalhete feito de murta, de salgueiro e de ramos de palma, enquanto na mão esquerda
eles carregavam um ramo da maçã do paraíso – a cidra, ou a “fruta proibida”. Esses peregrinos dividiam-se em três
grupos para a cerimônia do alvorecer. Uma parte permanecia no templo, a fim de presenciar os sacrifícios da manhã.
Outro grupo marchava de Jerusalém até perto de Maza, com o fito de cortar os ramos de salgueiro para adornar o altar
dos sacrifícios. Já o terceiro grupo formava uma procissão que seguia de perto o sacerdote com a água; este, ao som
das trombetas prateadas, levava o cântaro dourado que iria conter a água simbólica, de Ofel, partindo do templo e
seguindo até a proximidade de Siloé, onde estava localizado o portão da fonte. Depois de enchido o cântaro dourado,
na piscina da fonte de Siloé, a procissão marchava de volta para o templo, entrando pelo caminho do portão da água e
indo diretamente até o pátio dos sacerdotes, onde o sacerdote que levava o cântaro de água juntava-se com outro que
levava o vinho para a oferenda da bebida. Esses dois sacerdotes, então, dirigiam-se aos funis de prata que conduziam
à base do altar e, ali, deixavam jorrar os conteúdos dos cântaros. O cumprimento desse ritual, de fazer jorrar o
vinho e a água, era o sinal para que os peregrinos reunidos começassem a cantar os salmos, desde o 113 até o 118,
inclusive, alternando-se com os levitas. E, enquanto repetiam esses versos, eles faziam ondular os seus ramos no
altar. Então vinham os sacrifícios do dia, relacionados com o repetir do salmo da data, sendo o octogésimo segundo o
salmo do último dia da festa, começando pelo quinto verso.
5. O SERMÃO SOBRE LUZ DO MUNDO
Da noite do dia seguinte até a última noite da festa, quando a cena era brilhantemente iluminada pelas luzes dos
candelabros e dos tocheiros, Jesus permaneceu em meio da multidão reunida e disse:“Eu sou a luz do mundo. Aquele que me segue não andará na escuridão, mas terá a luz da vida. Presumindo colocar-me
em julgamento e assumindo serem os meus juízes, vós declarais que, se eu der o testemunho de mim mesmo, o meu
testemunho não poderá ser verdadeiro. Mas a criatura nunca pode julgar o Criador. E se eu der testemunho de mim
mesmo, o meu testemunho é verdadeiro para a eternidade, pois sei de onde vim, sei quem sou, e para onde vou. Vós,
que mataríeis o Filho do Homem, não sabeis de onde eu vim, quem sou eu, nem para onde vou. Vós julgais apenas pelas
aparências da carne; não percebeis as realidades do espírito. Eu não julgo os homens, nem mesmo o meu arquiinimigo.
Mas se eu devesse escolher julgar, o meu julgamento seria verdadeiro e justo, pois eu não julgaria a sós, mas em
associação com o meu Pai, que me enviou ao mundo, e que é a fonte de todo o julgamento verdadeiro. Se vós podeis
aceitar o testemunho de duas pessoas confiáveis – bem, então, eu testemunho essas verdades, e também o faz o meu Pai
no céu. E quando eu vos disse isso, ontem, na vossa escuridão, vós perguntastes a mim: ‘Onde está o teu Pai?’
Verdadeiramente, não conheceis, nem a mim, nem ao meu Pai, pois se tivésseis conhecido a mim, vós teríeis também
conhecido o Pai.“Eu já vos disse que eu vou embora, e que vós buscareis por mim e não me encontrareis, pois, para onde eu vou, não
podeis ir. Vós, que rejeitastes essa luz, vindes debaixo; eu venho de cima. Vós, que preferistes ficar na escuridão,
sois deste mundo; eu não sou deste mundo, e vivo na luz eterna do Pai das luzes. Todos vós tivestes oportunidades
abundantes de saber quem eu sou, mas vós tereis ainda outras evidências confirmando a identidade do Filho do Homem.
Eu sou a luz da vida, e todo aquele que, deliberadamente, e com a compreensão disso, rejeitar essa luz salvadora
morrerá dos próprios pecados. Muito tenho eu para vos contar, mas sois incapazes de receber as minhas palavras.
Contudo, Aquele que me enviou é verdadeiro e fiel; o meu Pai ama até mesmo os seus filhos no erro. E tudo que o meu
Pai disse eu também proclamo ao mundo.
“Quando o Filho do Homem elevar-se, então todos vós sabereis que eu sou ele e que eu nada fiz por mim mesmo, mas
apenas como o Pai ensinou-me. Eu digo essas palavras a vós e aos vossos filhos. E Aquele que me enviou agora mesmo
está comigo; Ele não me deixou sozinho, pois eu faço sempre aquilo que é agradável à vista Dele”.
E, quando Jesus ensinava assim aos peregrinos nos pátios dos templos, muitos acreditaram. E ninguém ousou colocar as
mãos nele.
6. O DISCURSO SOBRE A ÁGUA DA VIDA
No último dia, o grande dia da festa, quando a procissão vinda da piscina de Siloé passou pelos pátios dos templos
e, imediatamente depois que a água e o vinho haviam sido derramados no alta,r pelos sacerdotes, Jesus, entre os
peregrinos, disse: “Se alguém tiver sede, que venha a mim e beba. Do Pai que está no alto, eu trago para este mundo
a água da vida. Aquele que acreditar em mim será preenchido com o espírito que essa água representa, pois até mesmo
as escrituras declaram: ‘Dele fluirão rios de água da vida’. Quando o Filho do Homem tiver terminado a sua obra na
Terra, o Espírito vivo da Verdade será vertido sobre toda a carne. Aqueles que recebem esse espírito nunca conhecem
a sede espiritual”.
Jesus não interrompeu o serviço para dizer essas palavras. Ele dirigiu a resposta aos adoradores, imediatamente
depois do canto de Hallel, na forma de leitura dos salmos, acompanhada da ondulação dos ramos, diante do altar. E
exatamente então houve uma pausa, enquanto os sacrifícios estavam sendo preparados, e foi nesse momento que os
peregrinos ouviram a voz fascinante do Mestre, declarando que ele era o doador da água da vida a toda alma com sede
espiritual.
Na conclusão desse serviço matinal, Jesus continuou a ensinar à multidão, dizendo: “Não lestes nas escrituras:
‘Vede, do mesmo modo que as águas são derramadas no chão seco e aspergidas sobre o solo ressecado, eu irei dar o
espírito da santidade para que seja vertido como uma bênção sobre os vossos filhos e mesmo sobre os filhos dos
vossos filhos?’ Por que ireis ter sede da ministração do espírito, se buscais banhar as vossas almas com a água das
tradições dos homens vinda dos cântaros quebrados pelo serviço cerimonial? O que vede acontecendo nesse templo é o
modo pelo qual os vossos pais buscavam simbolizar a dádiva do espírito divino aos filhos da fé, e fizestes bem em
perpetuar esses símbolos até os dias atuais. Mas, agora, a revelação do Pai dos espíritos chegou a essa geração, por
meio da outorga do seu Filho, e tudo isso irá certamente ser seguido da dádiva do espírito do Pai e do Filho aos
filhos dos homens. Para todo aquele que tem fé, essa dádiva do espírito tornar-se-á o verdadeiro mestre do caminho
que leva à vida eterna, que leva às águas verdadeiras da vida, ao Reino do céu sobre a Terra, e ao Paraíso do Pai lá
em cima”.
E Jesus continuou a responder às perguntas da multidão e às dos fariseus. Alguns julgavam que ele fosse um profeta;
alguns acreditavam que ele fosse o Messias; outros diziam que ele não podia ser o Cristo, sabendo que tinha vindo da
Galiléia, e que o Messias deveria restaurar o trono de Davi. Mas não ousaram prendê-lo, ainda.
7. O DISCURSO SOBRE A LIBERDADE ESPIRITUAL
Na tarde do último dia da festa, e depois que os apóstolos viram frustrados os seus esforços para persuadi-lo a
partir de Jerusalém, Jesus novamente foi ao templo para ensinar. Encontrando um grande grupo de crentes reunidos no
Portão de Salomão, ele dirigiu-se a eles, dizendo:
“Se as minhas palavras encontram residência em vós e se vós estais dispostos a fazer a vontade do meu Pai, então,
sois verdadeiramente discípulos meus. Vós conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á homens livres. Eu sei como
vós ireis responder-me: Nós somos os filhos de Abraão, e não somos escravos de ninguém; como então seremos
libertados? Ainda assim, eu não falo da submissão exterior a leis de outrem; eu me refiro às liberdades da alma. Em
verdade, em verdade, eu vos digo que todo aquele que comete pecados é escravo do pecado. E vós sabeis que o escravo
não está destinado a habitar, para sempre, na casa do senhor. Vós sabeis também que o filho permanece na casa do seu
pai. Se, portanto, o Filho vos libertar e vos transformar em filhos, então, vós sereis de fato livres.
“Eu sei que vós sois a semente de Abraão e, ainda assim, os vossos líderes buscam matar-me, porque à minha palavra
ainda não foi permitido que tivesse a influência transformadora em seus corações. As suas almas estão lacradas pelo
preconceito e cegas pelo orgulho da vingança. Eu vos declaro a verdade, que o Pai eterno me mostra, enquanto esses
instrutores iludidos buscam fazer as coisas que aprenderam apenas dos seus pais temporais. E, quando responderdes
que Abraão é o vosso pai então, eu vos direi que, se fôsseis os filhos de Abraão, vós faríeis as obras de Abraão.
Alguns dentre vós acreditais no meu ensinamento, mas outros procuram destruir-me porque eu vos disse a verdade que
recebi de Deus. Mas Abraão não tratou assim a verdade de Deus. Eu percebo que alguns dentre vós estais determinadosa fazer as obras do maligno. Se Deus fosse o vosso pai, vós conhecer-me-íeis e amaríeis a verdade que eu revelo. Não
podeis ver que eu venho do Pai, que eu sou enviado por Deus, que eu não estou fazendo esse trabalho apenas por mim
próprio? Por que não compreendeis as minhas palavras? Será porque escolhestes tornar-vos os filhos do mal? Se vós
sois os filhos das trevas, dificilmente caminhareis à luz da verdade que eu revelo. Os filhos do maligno seguem
apenas os caminhos do seu pai, que era um enganador e não permaneceu com a verdade porque não havia nenhuma verdade
nele. Mas agora vem o Filho do Homem falando e vivendo a verdade, e muitos de vós vos negais a crer.
“Qual de vós me condenais como pecador? Se eu, então, vivo e proclamo a verdade mostrada a mim pelo Pai, por que não
acreditais? Aquele que é de Deus ouve contente as palavras de Deus; esse é o motivo pelo qual muitos de vós não
ouvis as minhas palavras, porque não sois de Deus. Os vossos instrutores presumiram até mesmo dizer que eu faço a
minha obra com o poder do príncipe dos demônios. Alguém aqui acabou de dizer que eu tenho comigo um demônio, que eu
sou um filho do demônio. Mas todos vós, que lidais honestamente com as vossas próprias almas, sabeis perfeitamente
bem que eu não sou um demônio. Vós sabeis que eu honro o Pai até mesmo quando vós me desonrais. Eu não busco a minha
própria glória, apenas a glória do meu Pai do Paraíso. E eu não vos julgo, pois há Um que julga por mim.
“Em verdade, em verdade, eu digo, a vós que acreditais no evangelho, que, se um homem mantiver viva essa palavra de
verdade no seu coração, ele nunca sentirá o gosto da morte. E agora, bem ao meu lado, um escriba diz que essa
afirmação prova que eu tenho comigo um demônio, vendo que Abraão está morto, e também os profetas. E ele pergunta:
‘Tu és assim tão maior do que Abraão e os profetas, a ponto de ousar ficar aqui dizendo que aquele que mantiver a
tua palavra não provará da morte? Quem reivindicas ser a ponto de ousar fazer tais blasfêmias?’ E a tudo isso eu
digo que, se eu glorifico a mim próprio, a minha glória é como nada. Mas é o Pai que me glorificará, o mesmo Pai a
quem chamais de Deus. Mas vós não chegastes a conhecer esse vosso Deus e meu Pai, e eu vim para unir-vos; para
mostrar-vos como vos tornar verdadeiramente os filhos de Deus. Embora não conheçais o Pai, eu O conheço
verdadeiramente. E mesmo Abraão rejubilou-se de ver o meu dia e, pela fé, ele viu esse dia e ficou contente”.
Quando os judeus descrentes e os agentes do sinédrio, que então já se tinham reunido por ali, ouviram essas
palavras, eles iniciaram um tumulto, berrando: “Tu não tens nem cinqüenta anos de idade e ainda falas em ter visto
Abraão; tu és um filho do demônio!” Jesus ficou incapacitado de continuar o seu discurso. Ele apenas disse quando
partia: “Em verdade, em verdade, eu vos digo, antes que Abraão fosse, eu sou”. Muitos dos descrentes procuraram
pedras para atirar nele, e os agentes do sinédrio tentaram prendê-lo, mas o Mestre rapidamente tomou o seu caminho
através dos corredores do templo e escapou, indo para um local secreto de encontro, perto da Betânia, onde Marta,
Maria e Lázaro esperavam por ele.
8. A CONVERSA COM MARTA E MARIA
Tinha sido arranjado para que Jesus se alojasse com Lázaro e as suas irmãs na casa de um amigo, enquanto os
apóstolos ficaram espalhados aqui e ali, em pequenos grupos. Essas precauções foram tomadas porque as autoridades
judias, de novo, estavam ficando audaciosas nos seus planos de prendê-lo.
Durante anos, tinha sido costume desses três deixar tudo de lado e ouvir aos ensinamentos de Jesus sempre que ele os
visitava. Com a perda dos seus pais, Marta tinha assumido as responsabilidades da vida doméstica e, sendo assim,
nessa ocasião, enquanto Lázaro e Maria ficavam assentados aos pés de Jesus, bebendo do seu ensinamento restaurador,
Marta cuidava de servir a refeição da noite. Deveria ser explicado que Marta se distraía, desnecessariamente, com
inúmeras tarefas pouco úteis, e que ficava sobrecarregada com muitos cuidados triviais; tal era a sua tendência.
Ao mesmo tempo em que Marta ocupava-se com todos esses supostos deveres, ela ficava perturbada porque Maria nada
fazia para ajudar. E, sendo assim, ela foi a Jesus e disse: “Mestre, tu não te importas que a minha irmã me tenha
deixado sozinha, fazendo todo o serviço? Tu não pedirias a ela para vir ajudar-me?” Jesus respondeu: “Marta, Marta,
por que tu ficas sempre ansiosa por causa de tantas coisas e por que te preocupas com tantos detalhes? Uma coisa
apenas realmente vale a pena e, desde que Maria escolheu essa parte boa e necessária, eu não a tirarei dela. Mas
quando ireis ambas aprender a viver como eu vos ensinei: ambas servindo em cooperação e ambas refrescando as almas
em uníssono? Não conseguistes aprender que há um momento para tudo – que as questões menos importantes da vida
deveriam receber menos atenção diante das coisas maiores do Reino celeste?”
9. EM BELÉM COM ABNER
Durante a semana seguinte à da Festa de Tabernáculos, dezenas de crentes reuniram-se na Betânia e receberam os
ensinamentos dos doze apóstolos. O sinédrio não fez nenhum esforço para perturbar esses encontros, já que Jesus não
estava presente; ele estava, durante esse período, trabalhando com Abner e os seus condiscípulos, em Belém. No dia
seguinte ao fechamento da festa, Jesus tinha já partido para a Betânia, e não mais ensinou no templo durante essa
visita a Jerusalém.
Nessa época, Abner mantinha o seu centro de ações em Belém, e daquele centro muitos discípulos haviam sido enviados
às cidades da Judéia e do sul da Samaria e até mesmo da Alexandria. Poucos dias depois da sua chegada, Jesus e Abner
completaram os arranjos para a consolidação das obras dos dois grupos de apóstolos.
Durante essa visita à Festa de Tabernáculos, Jesus tinha dividido o seu tempo igualmente entre a Betânia e Belém. Na
Betânia ele passou um tempo considerável com os seus apóstolos; em Belém deu bastante instrução a Abner e aos outros
antigos apóstolos de João. E foi esse contato íntimo que, afinal, os levou a crerem nele. Esses antigos apóstolos de
João Batista foram influenciados pela coragem que Jesus demonstrara no seu ensinamento público, em Jerusalém, bem
como pela compreensão solidária que eles experimentaram no ensinamento particular dado a eles em Belém. Essas
influências conquistaram, completa e finalmente, de todos condiscípulos de Abner, uma aceitação, de todo coração,
para o Reino e para todas as coisas que um tal passo implicava.
Antes de deixar Belém pela última vez, o Mestre fez arranjos para que todos eles se reunissem com ele no esforço
unificado que devia preceder ao término da sua carreira terrena na carne. Ficou acertado que Abner e os seus
companheiros deviam juntar-se a Jesus e aos doze no parque de Magadam, em um futuro próximo.
De acordo com o que ficara marcado, no princípio de novembro, Abner e os seus onze companheiros lançaram a sua sorte
juntando-se a Jesus e aos doze e trabalharam com eles, em uma única organização, até o momento mesmo da
crucificação.
No final de outubro, Jesus e os doze retiraram-se da vizinhança imediata de Jerusalém. No domingo, 30 de outubro,
Jesus e os seus companheiros deixaram a cidade de Efraim, onde ele estivera descansando, em reclusão, por uns poucos
dias,e, indo pela parte oeste da estrada do Jordão, diretamente para o parque de Magadam, chegaram lá, na tarde da
quarta-feira, 2 de novembro.
Os apóstolos ficaram bastante aliviados de terem o Mestre de volta em um solo amistoso; e não mais eles o
pressionaram para que fosse a Jerusalém com a finalidade de proclamar o evangelho do Reino.
Quando Jesus partiu para Jerusalém com os dez apóstolos, ele havia planejado ir pelo caminho de Samaria, sendo esse
o caminho mais curto. E, desse modo, eles passaram pela costa leste do lago e, indo pelo caminho de Citópolis,
entraram nas fronteiras de Samaria. Quase ao cair da noite, Jesus enviou Filipe e Mateus até uma aldeia nos declives
do monte Gilboa, a fim de assegurar alojamento para todo o grupo. E aconteceu que esses aldeões tinham fortes
preconceitos contra os judeus, bem mais do que em geral possuíam os samaritanos, e tais sentimentos estavam
exacerbados nesse momento em particular, quando tantos deles estavam a caminho da Festa de Tabernáculos. Essa gente
sabia pouco sobre Jesus, e eles negaram-lhe alojamentos porque Jesus e os do seu grupo eram judeus. Quando Mateus e
Filipe manifestaram a sua indignação e informaram a esses samaritanos que eles estavam negando hospitalidade ao
Santo Homem de Israel, os aldeões enfurecidos expulsaram-nos da pequena cidade com bastões e pedras.
Depois que Filipe e Mateus retornaram para junto dos companheiros e relataram como tinham sido expulsos da aldeia,
Tiago e João foram até Jesus e disseram: “Mestre, oramos para que nos dê permissão de chamar o fogo dos céus para
devorar esses samaritanos insolentes e impenitentes”. Mas, quando Jesus ouviu essas palavras de vingança, ele
voltou-se para os filhos de Zebedeu e os repreendeu severamente: “Vós não estais conscientes do tipo de atitude que
manifestais. A vingança nada tem em comum com o Reino do céu. E, pois, em vez de discutir, vamos para a pequena
aldeia à beira do vau do Jordão”. E assim, por causa dos preconceitos sectários, esses samaritanos negaram a si
próprios a honra de mostrar hospitalidade ao Filho Criador de um universo.
Jesus e os dez pararam para passar a noite na aldeia, perto do vau do Jordão. E, no dia seguinte, bem cedo,
atravessaram o rio e continuaram a caminho de Jerusalém, pela estrada do leste do Jordão, chegando à Betânia na
quarta-feira à noite. Tomé e Natanael vieram na sexta-feira, tendo sido retardados por causa das suas conversas com
Rodam.
Jesus e os doze permaneceram na vizinhança de Jerusalém até o fim do mês seguinte (outubro), cerca de quatro semanas
e meia depois. Jesus foi à cidade apenas umas poucas vezes, e essas visitas breves foram feitas durante os dias da
Festa de Tabernáculos. Ele passou uma parte considerável de outubro com Abner e os condiscípulos em Belém.
1. OS PERIGOS DA VISITA A JERUSALÉM
Muito antes de partirem da Galiléia, os seguidores de Jesus haviam implorado a ele para ir a Jerusalém e proclamar o
evangelho do Reino, com o objetivo de que a sua mensagem pudesse contar com o prestígio de ter sido pregada no
centro da cultura e do ensino judaico; mas agora que ele de fato viera a Jerusalém para ensinar,eles estavam temerosos pela sua vida. Sabendo que o sinédrio tinha tentado trazer Jesus a Jerusalém para julgá-lo e,
relembrando-se das recentes declarações reiteradas do Mestre de que ele iria sujeitar-se à morte, os apóstolos
estavam literalmente atordoados com a sua súbita decisão de comparecer à Festa de Tabernáculos. A todas as
solicitações anteriores deles, para que fosse a Jerusalém ele havia respondido: “Ainda não chegou a hora”. E, quanto
aos protestos de temor deles, agora ele apenas respondia: “Mas a hora chegou”.
Durante a Festa de Tabernáculos, Jesus, ousadamente, esteve em Jerusalém por várias ocasiões e ensinou publicamente
no templo. Ele fez isso a despeito dos esforços dos seus apóstolos para dissuadi-lo dessa idéia. Embora eles
tivessem, durante um bom tempo, instado-o a proclamar a sua mensagem em Jerusalém, agora temiam vê-lo entrar na
cidade, sabendo muito bem que os escribas e os fariseus estavam dispostos a levá-lo à morte.
A ousada presença de Jesus em Jerusalém, mais do que nunca, confundiu os seus seguidores. Muitos dos seus discípulos
e, até mesmo Judas Iscariotes, ainda apóstolo, chegaram a pensar que Jesus tinha fugido apressadamente para a
Fenícia porque temia os líderes judeus e Herodes Antipas. Eles não conseguiam compreender o significado dos
movimentos do Mestre. A sua presença em Jerusalém para a Festa de Tabernáculos, até mesmo contra os conselhos dos
seus seguidores, foi o suficiente para colocar, definitivamente, um fim em todos os murmúrios sobre medo e covardia.
Durante a Festa de Tabernáculos, milhares de crentes de todas as partes do império romano viram Jesus, ouviram-no
ensinando, e muitos até viajaram à Betânia para conversar com ele a respeito do progresso do Reino nos seus próprios
distritos.
Várias razões havia para que tivesse sido permitido a Jesus pregar publicamente nos pátios do templo durante os dias
da festa, e a principal delas era o temor que surgira, entre os oficiais do sinédrio, em resultado da divisão
secreta de sentimentos nas suas próprias fileiras. Era um fato, que muitos dos membros do sinédrio, ou secretamente
criam em Jesus ou, então, eram decididamente contra prendê-lo durante a festa, enquanto uma quantidade tão grande de
pessoas estava presente em Jerusalém, muitas das quais ou acreditavam nele ou ao menos eram amistosas para com o
movimento espiritual que ele promovia.
Os esforços de Abner e seus companheiros, em toda a Judéia, haviam também feito bastante para consolidar os
sentimentos favoráveis ao Reino, e tanto foi assim que os inimigos de Jesus não ousaram ser muito francos na
oposição. Essa foi uma das razões por que Jesus pôde visitar Jerusalém publicamente e sair dali ainda vivo. Um ou
dois meses antes disso, ele teria certamente sido levado à morte.
Contudo, a intrepidez ousada que teve Jesus de aparecer publicamente em Jerusalém apavorou os seus inimigos; eles
não estavam preparados para um desafio tão arrojado. Várias vezes, durante esse mês, o sinédrio fez tentativas
ineficazes de prender o Mestre, mas tais esforços deram em nada. Os seus inimigos ficaram tão surpreendidos com o
comparecimento inesperado de Jesus em público, em Jerusalém, que chegaram a pensar que deveria ter sido prometida a
ele a proteção das autoridades romanas. Sabendo que Filipe (o irmão de Herodes Antipas) era quase um seguidor de
Jesus, os membros do sinédrio especularam que talvez Filipe tivesse dado a Jesus a promessa de proteção contra os
seus inimigos. E antes que eles despertassem e entendessem que estiveram enganados, ao fazerem a suposição de que
essa presença súbita e ousada dele, em Jerusalém, fosse devido a um acordo secreto com os oficiais romanos, Jesus
havia já deixado a jurisdição deles.
Apenas os doze apóstolos, ao partirem de Magadam, sabiam que Jesus tinha a intenção de comparecer à Festa de
Tabernáculos. Os outros seguidores doMestre ficaram bastante surpresos quando ele apareceu nos pátios do templo e começou a ensinar publicamente, e as
autoridades judias ficaram pasmadas, para mais além de qualquer expressão, quando lhes foi relatado que ele estava
ensinando no templo.
Embora os seus discípulos não esperassem que Jesus comparecesse à festa, a grande maioria dos peregrinos, vinda de
longe, que tinha ouvido falar dele, alimentava a esperança de poder vê-lo em Jerusalém. E eles não se desapontaram,
pois, por várias ocasiões, ele ensinou no Portão de Salomão e em outros locais, como nos pátios dos templos. Esses
ensinamentos foram, na realidade, o anúncio oficial, ou formal, da divindade de Jesus para o povo judeu e para todo
o mundo.
As multidões, que ouviram os ensinamentos do Mestre, estavam divididas nas suas opiniões. Alguns diziam que ele era
um bom homem; alguns, que era um profeta; alguns, que ele era verdadeiramente o Messias; outros diziam que era um
intrometido pernicioso, que estava desencaminhando o povo com as suas doutrinas estranhas. Os seus inimigos
hesitaram em denunciá-lo abertamente, por medo dos crentes amistosos, enquanto os seus amigos temiam reconhecê-lo
abertamente, por medo dos líderes judeus, informados de que o sinédrio estava determinado a mandá-lo para a morte.
Entretanto, mesmo os seus inimigos maravilharam-se com o seu ensinamento, sabendo que ele não tinha sido instruído
nas escolas dos rabinos.
Toda vez que Jesus ia a Jerusalém, os seus apóstolos ficavam tomados pelo terror. E eles sentiam mais medo porque,
dia a dia, escutavam os seus pronunciamentos cada vez mais corajosos a respeito da natureza da sua missão na Terra.
Eles não estavam acostumados a ouvir Jesus fazer asserções tão peremptórias; e afirmações tão espantosas, mesmo
quando pregando entre amigos.
2. A PRIMEIRA PALESTRA NO TEMPLO
Na primeira tarde que Jesus ensinou no templo, um grupo considerável sentou-se para ouvir as suas palavras, que
descreviam a liberdade do novo evangelho; e havia júbilo naqueles que creram nas boas-novas. Foi então que um
ouvinte curioso interrompeu-o para perguntar: “Mestre, como é que tu podes citar as escrituras e ensinar tão
fluentemente ao povo, sendo que fui informado de que não aprendeste segundo os ensinamentos dos rabinos?” Jesus
respondeu: “Nenhum homem ensinou-me as verdades que eu vos declaro. E esse ensinamento não é meu e sim Dele, que me
enviou. Se qualquer homem deseja realmente fazer a vontade do meu Pai, ele deve certamente conhecer o meu
ensinamento, seja ele vindo de Deus ou sejam palavras vindas de mim. Aquele que fala por si próprio busca a sua
própria glória, mas, quando eu falo as palavras do Pai, com isso eu busco a glória Dele, que me enviou. Mas antes de
tentardes entrar na nova luz, não devíeis antes seguir a luz que vós já tendes? Moisés vos deu a lei, mas quantos de
vós tentais honestamente atender às exigências dele? Moisés, nessa lei, ordena-vos, dizendo: ‘Não matareis’; e,
apesar dessa ordem, alguns de vós tentais matar o Filho do Homem”.
Ao ouvir essas palavras, o povo começou a discutir entre si. Alguns disseram que ele estava louco; alguns que era um
demônio. Outros disseram ser esse de fato o profeta da Galiléia, a quem escribas e fariseus há muito vinham tentando
matar. Alguns disseram que as autoridades religiosas estavam com medo de molestá-lo; outros achavam que ainda não se
tinha colocado as mãos nele porque tinham tornado-se crentes dele. Após um debate considerável, alguém, na multidão,
deu um passo à frente e perguntou a Jesus: “Por que os dirigentes tentam matá-lo?” E ele respondeu: “Os dirigentes
buscam matar-me porque eles se ressentem do meu ensinamento sobre as boas-novas do Reino,um evangelho que liberta os homens das tradições pesadas de uma religião formal de cerimônias que esses instrutores
estão determinados a manter a qualquer custo. Eles circuncisam de acordo com a lei, no dia de sábado, mas seriam
capazes de matar-me porque uma vez, no dia de sábado, eu libertei um homem da servidão da aflição. Eles me seguem no
dia de sábado para espionar-me; e matar-me-iam porque, em uma outra ocasião, eu escolhi curar completamente a um
homem acometido de dores, no dia de sábado. Eles buscam matar-me porque sabem muito bem que, se vós crerdes
honestamente e se ousardes aceitar os meus ensinamentos, o sistema da religião tradicional deles ficará arruinado,
destruído para sempre. E assim ficarão privados da autoridade sobre aquilo a que eles devotaram as suas vidas, já
que eles se recusam firmemente a aceitar esse evangelho novo e mais glorioso do Reino de Deus. E agora eu faço um
apelo a cada um de vós: julgai, não de acordo com as aparências exteriores, mas julgai, sim, segundo o verdadeiro
espírito desses ensinamentos; julgai com retidão”.
Então um outro inquiridor disse: “Sim, Mestre, nós buscamos o Messias, mas, quando ele vier, sabemos que ele
aparecerá em mistério. Nós sabemos de onde tu és. Tens estado entre os teus irmãos desde o começo. O libertador virá
em poder, para restaurar o trono do reino de Davi. Tu realmente reivindicas ser o Messias?” E Jesus respondeu: “Vós
pretendeis conhecer-me e saber de onde eu venho. Eu gostaria de que essas pretensões fossem verdadeiras, pois se de
fato assim fosse, vós acharíeis vida abundante nesse conhecimento. Mas eu declaro que eu não vim a vós por minha
própria causa; eu vim enviado pelo Pai, e Aquele que me enviou é verdadeiro e é fiel. Ao recusardes ouvir-me, estais
recusando receber Aquele que me enviou. Vós, se receberdes esse evangelho, chegareis a conhecer a Ele que me enviou.
Eu conheço o Pai, pois eu vim do Pai, para declará-Lo e revelá-Lo para vós”.
Os agentes dos escribas queriam colocar as mãos nele, mas temiam a multidão, pois eram muitos os que criam nele. O
trabalho de Jesus, desde o seu batismo, tinha tornado-se bem conhecido de todo o mundo judeu e, quando muitos deles
contavam sobre essas coisas, eles diziam entre si: “Mesmo que esse instrutor seja da Galiléia, e ainda que não
satisfaça a todas as nossas expectativas de um Messias, nós nos perguntamos, quando vier o libertador, se ele fará
alguma coisa mais bela do que esse Jesus de Nazaré já fez”.
Quando os fariseus e os seus agentes ouviram o povo falando desse modo, eles foram aconselhar-se com os seus líderes
e decidiram que alguma coisa deveria ser feita, sem demora, para colocar um fim nessas apresentações públicas de
Jesus, nos pátios dos templos. Os líderes dos judeus, em geral, estavam dispostos a evitar um confronto com Jesus,
acreditando que as autoridades romanas tivessem prometido imunidade a ele. Eles não conseguiam explicar de outro
modo a sua coragem de vir a Jerusalém naquele momento; mas os oficiais do sinédrio não acreditaram totalmente nesse
rumor. Eles ponderaram que os governantes romanos não fariam uma tal coisa secretamente e sem o conhecimento do
corpo mais alto do governo da nação judaica.
E desse modo, Eber, o agente qualificado do sinédrio, com dois assistentes, foi despachado para prender Jesus. E,
quando Eber aproximava-se de Jesus, o Mestre disse: “Não temais aproximar-vos de mim. Chegai mais perto para ouvir o
meu ensinamento. Eu sei que fostes enviados para prender-me, mas devíeis entender que nada sucederá ao Filho do
Homem antes que chegue a sua hora. Não estejais contra mim; viestes apenas para cumprir as ordens dos vossos patrões
e, até mesmo esses dirigentes dos judeus, em verdade, pensam estar fazendo o serviço de Deus ao buscar secretamente
a minha destruição.“Não tenho nenhum rancor contra vós. O Pai vos ama e, portanto, eu quero a vossa libertação das cadeias do
preconceito e das trevas da tradição. Eu ofereço a vós a liberdade da vida e o júbilo da salvação. Eu proclamo o
caminho novo e vivo, a libertação do mal e a ruptura das cadeias do pecado. Eu vim para que vós pudésseis ter a
vida, e tê-la eternamente. Se vós buscais livrar-vos de mim e dos meus ensinamentos inquietantes; deveríeis
compreender que eu devo estar convosco apenas um pouco mais! Em pouquíssimo tempo eu irei para Ele, que me enviou a
este mundo. E, então, muitos de vós ireis diligentemente procurar por mim, mas não tereis a minha presença, pois até
onde eu devo ir vós não podeis chegar. Porém todos aqueles que verdadeiramente tentarem encontrar-me, em algum
momento, irão alcançar a vida que conduz à presença do meu Pai”.
Alguns daqueles que zombavam, entre si, disseram: “Para onde vai este homem, que não poderemos encontrá-lo? Será que
ele irá viver entre os gregos? Será que irá destruir-se a si próprio? O que poderá estar querendo dizer, quando
declara que logo partirá de perto de nós, e que não poderemos ir até onde ele vai?”
Eber e os seus assistentes negaram-se a prender Jesus e retornaram sem ele. Entretanto, quando o dirigente dos
sacerdotes e fariseus repreendeu Eber e os seus assistentes, porque eles não haviam trazido Jesus, Eber apenas
respondeu: “Tememos prendê-lo no meio da multidão, porque muitos são os que crêem nele. Além do mais, nunca ouvimos
um homem falando como ele. Há algo de fora do comum com esse instrutor. Vós todos faríeis bem de ir até lá para
escutá-lo”. E, quando os principais dirigentes ouviram essas palavras, ficaram surpresos e disseram insultuosamente
a Eber: “Tu também já te desgarraste? Acaso estás à beira de crer nesse enganador? Já ouviste falar de algum dos
nossos homens cultos ou de algum dos dirigentes que acreditaram nele? Alguém dentre os escribas ou dentre os
fariseus já foi enganado por esses ensinamentos astutos? Como podes tu estar influenciado pelo comportamento dessa
multidão ignorante, que não conhece a lei nem os profetas? Acaso não sabes que esse povo inculto está amaldiçoado?”
E Eber então respondeu: “Mesmo assim, meus mestres, esse homem diz palavras de misericórdia e de esperança à
multidão. Ele encoraja os desalentados, e as suas palavras foram confortantes até mesmo para as nossas almas. O que
pode haver de errado nesses ensinamentos, mesmo que ele não seja o Messias das escrituras? E ainda assim a nossa lei
não exige justiça? Condenamos um homem antes de ouvi-lo?” E o dirigente do sinédrio estava irado com Eber e,
voltando-se para ele, disse: “Ficaste louco? Acaso também és da Galiléia? Busca nas escrituras, e descobrirás que,
da Galiléia, não sai nenhum profeta, muito menos o Messias”.
O sinédrio dispersou-se em confusão e Jesus recolheu-se na Betânia para passar a noite.
3. A MULHER SURPREENDIDA EM ADULTÉRIO
Foi durante essa visita a Jerusalém que Jesus esteve com uma certa mulher de má reputação. Ela foi trazida à
presença de Jesus pelos que a acusavam e pelos inimigos dele. A narrativa distorcida, que vós conheceis, desse
episódio sugere que tal mulher tenha sido trazida diante de Jesus pelos escribas e fariseus, e que Jesus lidou,
assim, com eles, como que para indicar que esses líderes religiosos dos judeus pudessem, eles próprios, ser culpados
de imoralidade. Jesus sabia muito bem que, conquanto esses escribas e fariseus fossem cegos espiritualmente e
preconceituosos intelectualmente, por causa da sua lealdade à tradição, eles deviam estar entre os homens mais
íntegros moralmente daqueles dias e daquela geração.Eis o que realmente aconteceu: Cedo, na terceira manhã da festa, quando Jesus aproximava-se do templo, um grupo de
agentes contratados pelo sinédrio veio ao seu encontro. Eles traziam consigo, à força, uma mulher. Ao aproximar-se,
o porta-voz deles disse: “Mestre, esta mulher foi encontrada em adultério – no ato mesmo. Ora, a lei de Moisés manda
que apedrejemos esta mulher. O que dizes sobre o que deve ser feito com ela?”
O plano dos inimigos de Jesus, se ele sustentasse a lei de Moisés, exigindo que a transgressora confessa fosse
apedrejada, era envolvê-lo em dificuldades com os governantes romanos, que tinham negado aos judeus o direito de
infringir a pena de morte sem a aprovação de um tribunal romano. Se ele proibisse o apedrejamento da mulher, eles
iriam acusá-lo diante do sinédrio, por colocar-se acima de Moisés e da lei judaica. Se ele permanecesse em silêncio,
eles o acusariam de covardia. O Mestre, todavia, manobrou a situação de um modo tal que toda a armadilha caiu com o
peso da própria sordidez.
Essa mulher, outrora decente, era esposa de um cidadão inferior de Nazaré, um homem que tinha causado dificuldades a
Jesus durante os seus dias de juventude. O homem, tendo casado com essa mulher, vergonhosamente forçava-a a ganhar a
vida fazendo comércio do próprio corpo. Ele tinha vindo à festa, em Jerusalém, para que a sua mulher pudesse
prostituir-se por ganhos financeiros. Ele tinha aceito uma barganha com os mercenários dos dirigentes judeus,
traindo, assim, a sua própria mulher no seu vício comercializado. E, pois, eles vinham com a mulher e o companheiro
de transgressão, com o propósito de surpreender Jesus fazendo alguma declaração que pudesse ser usada contra ele
próprio, para a sua prisão.
Jesus, procurando na multidão, viu o marido dela, detrás de outras pessoas. Ele sabia que espécie de homem era esse
marido e percebeu que fazia parte da transação desprezível. Jesus andou até perto de onde esse marido degenerado
estava e escreveu na areia algumas palavras que o fizeram ir embora às pressas. Então Jesus veio diante da mulher e
escreveu de novo no chão algo para os seus possíveis acusadores; e, quando eles leram essas palavras, também foram
embora, um a um. E quando o Mestre escreveu pela terceira vez na areia, o companheiro, de pecado, da mulher, por sua
vez partiu e, assim, quando o Mestre levantou-se, depois de escrever, contemplou a mulher que ficara sozinha diante
dele. Jesus disse: “Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém ficou para apedrejar-te?” E a mulher, levantando
os olhos, respondeu: “Ninguém, Senhor”. E então Jesus disse: “Eu sei sobre você; mas nem eu te condeno. Tome o teu
caminho em paz”. E essa mulher, Hildana, renunciou ao seu marido perverso e juntou-se aos discípulos do Reino.
4. A FESTA DE TABERNÁCULOS
A presença de pessoas de todo o mundo conhecido, da Espanha à Índia, fazia da Festa de Tabernáculos uma ocasião
ideal para que Jesus, pela primeira vez, proclamasse publicamente em Jerusalém todo o seu evangelho. Nessa festa, o
povo ficava, boa parte do tempo, ao ar livre, em cabanas feitas de folhagens. Era uma festa das colheitas e, estando
assim como era, no frescor dos meses de outono, os judeus do mundo inteiro freqüentavam a essa festa em maior número
do que à da Páscoa ao final do inverno, ou à de Pentecostes no começo do verão. Os apóstolos contemplavam o seu
Mestre, afinal, fazendo o anúncio corajoso da sua missão na Terra, por assim dizer, perante todo o mundo.Essa era a festa das festas, pois nenhum sacrifício que não tivesse sido realizado nas outras festas podia ser feito
nessa época. Era a ocasião para a recepção das oferendas ao templo; era uma combinação de prazeres das férias com os
ritos solenes da adoração religiosa. E era uma época de júbilo racial, mesclado a sacrifícios, a cantos levíticos e
a toques solenes das trombetas prateadas dos sacerdotes. À noite, em um espetáculo impressionante, o templo e as
multidões de peregrinos eram brilhantemente iluminados pelos grandes candelabros, que queimavam, com muito brilho,
nos pátios das mulheres, e também pelo resplendor de dezenas de tocheiros nos pátios do templo. Toda a cidade estava
alegremente decorada, exceto o castelo romano de Antônia, que dominava, em um contraste sinistro, essa cena festiva
e adoradora. E como os judeus odiavam essa lembrança, sempre presente, do jugo romano!
Setenta touros eram sacrificados durante a festa, simbolizando as setenta nações do paganismo. A cerimônia do
derramamento da água simbolizava o espargimento do espírito divino. Essa cerimônia da água era precedida da
procissão dos sacerdotes e dos levitas, ao nascer do sol. Os adoradores caminhavam pelos degraus que iam do pátio de
Israel ao pátio das mulheres, enquanto ouvia-se o soar sucessivo das trombetas prateadas. E então os fiéis marchavam
até o belo portão, que se abria para o pátio dos gentios. E aí eles davam uma meia-volta para retomar pelo oeste,
repetindo os seus cânticos, e continuando a sua marcha simbólica da água.
Quase quatrocentos e cinqüenta sacerdotes, aproximadamente, junto com um número correspondente de levitas oficiaram
no último dia da festa. Ao alvorecer, os peregrinos reuniam-se, de todas as partes da cidade, cada um deles
carregando na mão direita um ramalhete feito de murta, de salgueiro e de ramos de palma, enquanto na mão esquerda
eles carregavam um ramo da maçã do paraíso – a cidra, ou a “fruta proibida”. Esses peregrinos dividiam-se em três
grupos para a cerimônia do alvorecer. Uma parte permanecia no templo, a fim de presenciar os sacrifícios da manhã.
Outro grupo marchava de Jerusalém até perto de Maza, com o fito de cortar os ramos de salgueiro para adornar o altar
dos sacrifícios. Já o terceiro grupo formava uma procissão que seguia de perto o sacerdote com a água; este, ao som
das trombetas prateadas, levava o cântaro dourado que iria conter a água simbólica, de Ofel, partindo do templo e
seguindo até a proximidade de Siloé, onde estava localizado o portão da fonte. Depois de enchido o cântaro dourado,
na piscina da fonte de Siloé, a procissão marchava de volta para o templo, entrando pelo caminho do portão da água e
indo diretamente até o pátio dos sacerdotes, onde o sacerdote que levava o cântaro de água juntava-se com outro que
levava o vinho para a oferenda da bebida. Esses dois sacerdotes, então, dirigiam-se aos funis de prata que conduziam
à base do altar e, ali, deixavam jorrar os conteúdos dos cântaros. O cumprimento desse ritual, de fazer jorrar o
vinho e a água, era o sinal para que os peregrinos reunidos começassem a cantar os salmos, desde o 113 até o 118,
inclusive, alternando-se com os levitas. E, enquanto repetiam esses versos, eles faziam ondular os seus ramos no
altar. Então vinham os sacrifícios do dia, relacionados com o repetir do salmo da data, sendo o octogésimo segundo o
salmo do último dia da festa, começando pelo quinto verso.
5. O SERMÃO SOBRE LUZ DO MUNDO
Da noite do dia seguinte até a última noite da festa, quando a cena era brilhantemente iluminada pelas luzes dos
candelabros e dos tocheiros, Jesus permaneceu em meio da multidão reunida e disse:“Eu sou a luz do mundo. Aquele que me segue não andará na escuridão, mas terá a luz da vida. Presumindo colocar-me
em julgamento e assumindo serem os meus juízes, vós declarais que, se eu der o testemunho de mim mesmo, o meu
testemunho não poderá ser verdadeiro. Mas a criatura nunca pode julgar o Criador. E se eu der testemunho de mim
mesmo, o meu testemunho é verdadeiro para a eternidade, pois sei de onde vim, sei quem sou, e para onde vou. Vós,
que mataríeis o Filho do Homem, não sabeis de onde eu vim, quem sou eu, nem para onde vou. Vós julgais apenas pelas
aparências da carne; não percebeis as realidades do espírito. Eu não julgo os homens, nem mesmo o meu arquiinimigo.
Mas se eu devesse escolher julgar, o meu julgamento seria verdadeiro e justo, pois eu não julgaria a sós, mas em
associação com o meu Pai, que me enviou ao mundo, e que é a fonte de todo o julgamento verdadeiro. Se vós podeis
aceitar o testemunho de duas pessoas confiáveis – bem, então, eu testemunho essas verdades, e também o faz o meu Pai
no céu. E quando eu vos disse isso, ontem, na vossa escuridão, vós perguntastes a mim: ‘Onde está o teu Pai?’
Verdadeiramente, não conheceis, nem a mim, nem ao meu Pai, pois se tivésseis conhecido a mim, vós teríeis também
conhecido o Pai.“Eu já vos disse que eu vou embora, e que vós buscareis por mim e não me encontrareis, pois, para onde eu vou, não
podeis ir. Vós, que rejeitastes essa luz, vindes debaixo; eu venho de cima. Vós, que preferistes ficar na escuridão,
sois deste mundo; eu não sou deste mundo, e vivo na luz eterna do Pai das luzes. Todos vós tivestes oportunidades
abundantes de saber quem eu sou, mas vós tereis ainda outras evidências confirmando a identidade do Filho do Homem.
Eu sou a luz da vida, e todo aquele que, deliberadamente, e com a compreensão disso, rejeitar essa luz salvadora
morrerá dos próprios pecados. Muito tenho eu para vos contar, mas sois incapazes de receber as minhas palavras.
Contudo, Aquele que me enviou é verdadeiro e fiel; o meu Pai ama até mesmo os seus filhos no erro. E tudo que o meu
Pai disse eu também proclamo ao mundo.
“Quando o Filho do Homem elevar-se, então todos vós sabereis que eu sou ele e que eu nada fiz por mim mesmo, mas
apenas como o Pai ensinou-me. Eu digo essas palavras a vós e aos vossos filhos. E Aquele que me enviou agora mesmo
está comigo; Ele não me deixou sozinho, pois eu faço sempre aquilo que é agradável à vista Dele”.
E, quando Jesus ensinava assim aos peregrinos nos pátios dos templos, muitos acreditaram. E ninguém ousou colocar as
mãos nele.
6. O DISCURSO SOBRE A ÁGUA DA VIDA
No último dia, o grande dia da festa, quando a procissão vinda da piscina de Siloé passou pelos pátios dos templos
e, imediatamente depois que a água e o vinho haviam sido derramados no alta,r pelos sacerdotes, Jesus, entre os
peregrinos, disse: “Se alguém tiver sede, que venha a mim e beba. Do Pai que está no alto, eu trago para este mundo
a água da vida. Aquele que acreditar em mim será preenchido com o espírito que essa água representa, pois até mesmo
as escrituras declaram: ‘Dele fluirão rios de água da vida’. Quando o Filho do Homem tiver terminado a sua obra na
Terra, o Espírito vivo da Verdade será vertido sobre toda a carne. Aqueles que recebem esse espírito nunca conhecem
a sede espiritual”.
Jesus não interrompeu o serviço para dizer essas palavras. Ele dirigiu a resposta aos adoradores, imediatamente
depois do canto de Hallel, na forma de leitura dos salmos, acompanhada da ondulação dos ramos, diante do altar. E
exatamente então houve uma pausa, enquanto os sacrifícios estavam sendo preparados, e foi nesse momento que os
peregrinos ouviram a voz fascinante do Mestre, declarando que ele era o doador da água da vida a toda alma com sede
espiritual.
Na conclusão desse serviço matinal, Jesus continuou a ensinar à multidão, dizendo: “Não lestes nas escrituras:
‘Vede, do mesmo modo que as águas são derramadas no chão seco e aspergidas sobre o solo ressecado, eu irei dar o
espírito da santidade para que seja vertido como uma bênção sobre os vossos filhos e mesmo sobre os filhos dos
vossos filhos?’ Por que ireis ter sede da ministração do espírito, se buscais banhar as vossas almas com a água das
tradições dos homens vinda dos cântaros quebrados pelo serviço cerimonial? O que vede acontecendo nesse templo é o
modo pelo qual os vossos pais buscavam simbolizar a dádiva do espírito divino aos filhos da fé, e fizestes bem em
perpetuar esses símbolos até os dias atuais. Mas, agora, a revelação do Pai dos espíritos chegou a essa geração, por
meio da outorga do seu Filho, e tudo isso irá certamente ser seguido da dádiva do espírito do Pai e do Filho aos
filhos dos homens. Para todo aquele que tem fé, essa dádiva do espírito tornar-se-á o verdadeiro mestre do caminho
que leva à vida eterna, que leva às águas verdadeiras da vida, ao Reino do céu sobre a Terra, e ao Paraíso do Pai lá
em cima”.
E Jesus continuou a responder às perguntas da multidão e às dos fariseus. Alguns julgavam que ele fosse um profeta;
alguns acreditavam que ele fosse o Messias; outros diziam que ele não podia ser o Cristo, sabendo que tinha vindo da
Galiléia, e que o Messias deveria restaurar o trono de Davi. Mas não ousaram prendê-lo, ainda.
7. O DISCURSO SOBRE A LIBERDADE ESPIRITUAL
Na tarde do último dia da festa, e depois que os apóstolos viram frustrados os seus esforços para persuadi-lo a
partir de Jerusalém, Jesus novamente foi ao templo para ensinar. Encontrando um grande grupo de crentes reunidos no
Portão de Salomão, ele dirigiu-se a eles, dizendo:
“Se as minhas palavras encontram residência em vós e se vós estais dispostos a fazer a vontade do meu Pai, então,
sois verdadeiramente discípulos meus. Vós conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á homens livres. Eu sei como
vós ireis responder-me: Nós somos os filhos de Abraão, e não somos escravos de ninguém; como então seremos
libertados? Ainda assim, eu não falo da submissão exterior a leis de outrem; eu me refiro às liberdades da alma. Em
verdade, em verdade, eu vos digo que todo aquele que comete pecados é escravo do pecado. E vós sabeis que o escravo
não está destinado a habitar, para sempre, na casa do senhor. Vós sabeis também que o filho permanece na casa do seu
pai. Se, portanto, o Filho vos libertar e vos transformar em filhos, então, vós sereis de fato livres.
“Eu sei que vós sois a semente de Abraão e, ainda assim, os vossos líderes buscam matar-me, porque à minha palavra
ainda não foi permitido que tivesse a influência transformadora em seus corações. As suas almas estão lacradas pelo
preconceito e cegas pelo orgulho da vingança. Eu vos declaro a verdade, que o Pai eterno me mostra, enquanto esses
instrutores iludidos buscam fazer as coisas que aprenderam apenas dos seus pais temporais. E, quando responderdes
que Abraão é o vosso pai então, eu vos direi que, se fôsseis os filhos de Abraão, vós faríeis as obras de Abraão.
Alguns dentre vós acreditais no meu ensinamento, mas outros procuram destruir-me porque eu vos disse a verdade que
recebi de Deus. Mas Abraão não tratou assim a verdade de Deus. Eu percebo que alguns dentre vós estais determinadosa fazer as obras do maligno. Se Deus fosse o vosso pai, vós conhecer-me-íeis e amaríeis a verdade que eu revelo. Não
podeis ver que eu venho do Pai, que eu sou enviado por Deus, que eu não estou fazendo esse trabalho apenas por mim
próprio? Por que não compreendeis as minhas palavras? Será porque escolhestes tornar-vos os filhos do mal? Se vós
sois os filhos das trevas, dificilmente caminhareis à luz da verdade que eu revelo. Os filhos do maligno seguem
apenas os caminhos do seu pai, que era um enganador e não permaneceu com a verdade porque não havia nenhuma verdade
nele. Mas agora vem o Filho do Homem falando e vivendo a verdade, e muitos de vós vos negais a crer.
“Qual de vós me condenais como pecador? Se eu, então, vivo e proclamo a verdade mostrada a mim pelo Pai, por que não
acreditais? Aquele que é de Deus ouve contente as palavras de Deus; esse é o motivo pelo qual muitos de vós não
ouvis as minhas palavras, porque não sois de Deus. Os vossos instrutores presumiram até mesmo dizer que eu faço a
minha obra com o poder do príncipe dos demônios. Alguém aqui acabou de dizer que eu tenho comigo um demônio, que eu
sou um filho do demônio. Mas todos vós, que lidais honestamente com as vossas próprias almas, sabeis perfeitamente
bem que eu não sou um demônio. Vós sabeis que eu honro o Pai até mesmo quando vós me desonrais. Eu não busco a minha
própria glória, apenas a glória do meu Pai do Paraíso. E eu não vos julgo, pois há Um que julga por mim.
“Em verdade, em verdade, eu digo, a vós que acreditais no evangelho, que, se um homem mantiver viva essa palavra de
verdade no seu coração, ele nunca sentirá o gosto da morte. E agora, bem ao meu lado, um escriba diz que essa
afirmação prova que eu tenho comigo um demônio, vendo que Abraão está morto, e também os profetas. E ele pergunta:
‘Tu és assim tão maior do que Abraão e os profetas, a ponto de ousar ficar aqui dizendo que aquele que mantiver a
tua palavra não provará da morte? Quem reivindicas ser a ponto de ousar fazer tais blasfêmias?’ E a tudo isso eu
digo que, se eu glorifico a mim próprio, a minha glória é como nada. Mas é o Pai que me glorificará, o mesmo Pai a
quem chamais de Deus. Mas vós não chegastes a conhecer esse vosso Deus e meu Pai, e eu vim para unir-vos; para
mostrar-vos como vos tornar verdadeiramente os filhos de Deus. Embora não conheçais o Pai, eu O conheço
verdadeiramente. E mesmo Abraão rejubilou-se de ver o meu dia e, pela fé, ele viu esse dia e ficou contente”.
Quando os judeus descrentes e os agentes do sinédrio, que então já se tinham reunido por ali, ouviram essas
palavras, eles iniciaram um tumulto, berrando: “Tu não tens nem cinqüenta anos de idade e ainda falas em ter visto
Abraão; tu és um filho do demônio!” Jesus ficou incapacitado de continuar o seu discurso. Ele apenas disse quando
partia: “Em verdade, em verdade, eu vos digo, antes que Abraão fosse, eu sou”. Muitos dos descrentes procuraram
pedras para atirar nele, e os agentes do sinédrio tentaram prendê-lo, mas o Mestre rapidamente tomou o seu caminho
através dos corredores do templo e escapou, indo para um local secreto de encontro, perto da Betânia, onde Marta,
Maria e Lázaro esperavam por ele.
8. A CONVERSA COM MARTA E MARIA
Tinha sido arranjado para que Jesus se alojasse com Lázaro e as suas irmãs na casa de um amigo, enquanto os
apóstolos ficaram espalhados aqui e ali, em pequenos grupos. Essas precauções foram tomadas porque as autoridades
judias, de novo, estavam ficando audaciosas nos seus planos de prendê-lo.
Durante anos, tinha sido costume desses três deixar tudo de lado e ouvir aos ensinamentos de Jesus sempre que ele os
visitava. Com a perda dos seus pais, Marta tinha assumido as responsabilidades da vida doméstica e, sendo assim,
nessa ocasião, enquanto Lázaro e Maria ficavam assentados aos pés de Jesus, bebendo do seu ensinamento restaurador,
Marta cuidava de servir a refeição da noite. Deveria ser explicado que Marta se distraía, desnecessariamente, com
inúmeras tarefas pouco úteis, e que ficava sobrecarregada com muitos cuidados triviais; tal era a sua tendência.
Ao mesmo tempo em que Marta ocupava-se com todos esses supostos deveres, ela ficava perturbada porque Maria nada
fazia para ajudar. E, sendo assim, ela foi a Jesus e disse: “Mestre, tu não te importas que a minha irmã me tenha
deixado sozinha, fazendo todo o serviço? Tu não pedirias a ela para vir ajudar-me?” Jesus respondeu: “Marta, Marta,
por que tu ficas sempre ansiosa por causa de tantas coisas e por que te preocupas com tantos detalhes? Uma coisa
apenas realmente vale a pena e, desde que Maria escolheu essa parte boa e necessária, eu não a tirarei dela. Mas
quando ireis ambas aprender a viver como eu vos ensinei: ambas servindo em cooperação e ambas refrescando as almas
em uníssono? Não conseguistes aprender que há um momento para tudo – que as questões menos importantes da vida
deveriam receber menos atenção diante das coisas maiores do Reino celeste?”
9. EM BELÉM COM ABNER
Durante a semana seguinte à da Festa de Tabernáculos, dezenas de crentes reuniram-se na Betânia e receberam os
ensinamentos dos doze apóstolos. O sinédrio não fez nenhum esforço para perturbar esses encontros, já que Jesus não
estava presente; ele estava, durante esse período, trabalhando com Abner e os seus condiscípulos, em Belém. No dia
seguinte ao fechamento da festa, Jesus tinha já partido para a Betânia, e não mais ensinou no templo durante essa
visita a Jerusalém.
Nessa época, Abner mantinha o seu centro de ações em Belém, e daquele centro muitos discípulos haviam sido enviados
às cidades da Judéia e do sul da Samaria e até mesmo da Alexandria. Poucos dias depois da sua chegada, Jesus e Abner
completaram os arranjos para a consolidação das obras dos dois grupos de apóstolos.
Durante essa visita à Festa de Tabernáculos, Jesus tinha dividido o seu tempo igualmente entre a Betânia e Belém. Na
Betânia ele passou um tempo considerável com os seus apóstolos; em Belém deu bastante instrução a Abner e aos outros
antigos apóstolos de João. E foi esse contato íntimo que, afinal, os levou a crerem nele. Esses antigos apóstolos de
João Batista foram influenciados pela coragem que Jesus demonstrara no seu ensinamento público, em Jerusalém, bem
como pela compreensão solidária que eles experimentaram no ensinamento particular dado a eles em Belém. Essas
influências conquistaram, completa e finalmente, de todos condiscípulos de Abner, uma aceitação, de todo coração,
para o Reino e para todas as coisas que um tal passo implicava.
Antes de deixar Belém pela última vez, o Mestre fez arranjos para que todos eles se reunissem com ele no esforço
unificado que devia preceder ao término da sua carreira terrena na carne. Ficou acertado que Abner e os seus
companheiros deviam juntar-se a Jesus e aos doze no parque de Magadam, em um futuro próximo.
De acordo com o que ficara marcado, no princípio de novembro, Abner e os seus onze companheiros lançaram a sua sorte
juntando-se a Jesus e aos doze e trabalharam com eles, em uma única organização, até o momento mesmo da
crucificação.
No final de outubro, Jesus e os doze retiraram-se da vizinhança imediata de Jerusalém. No domingo, 30 de outubro,
Jesus e os seus companheiros deixaram a cidade de Efraim, onde ele estivera descansando, em reclusão, por uns poucos
dias,e, indo pela parte oeste da estrada do Jordão, diretamente para o parque de Magadam, chegaram lá, na tarde da
quarta-feira, 2 de novembro.
Os apóstolos ficaram bastante aliviados de terem o Mestre de volta em um solo amistoso; e não mais eles o
pressionaram para que fosse a Jerusalém com a finalidade de proclamar o evangelho do Reino.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
AS PERSONALIDADES SUPREMAS DA TRINDADE
O LIVRO DE URANTIA
DOCUMENTO 18
AS PERSONALIDADES SUPREMAS DA TRINDADE
As Personalidades Supremas da Trindade são todas criadas para um serviço específico. São concebidas pela Trindade divina para o cumprimento de alguns deveres específicos; e são qualificadas para servir com perfeição de técnica e finalidade de devoção. Há sete ordens de Personalidades Supremas da Trindade:
1. Os Segredos Trinitarizados da Supremacia.
2. Os Eternos dos Dias.
3. Os Anciães dos Dias.
4. Os Perfeições dos Dias.
5. Os Recentes dos Dias.
6. Os Uniões dos Dias.
7. Os Fiéis dos Dias.
Esses seres de perfeição administrativa existem em número definido e final. A sua criação é um evento passado; já não se personaliza mais nenhum.
Em todo o grande universo, essas Personalidades Supremas da Trindade representam as diretrizes administrativas da Trindade do Paraíso, representam a justiça e são o julgamento executivo da Trindade do Paraíso. Elas formam uma linha inter-relacionada de perfeição administrativa que se estende desde as esferas do Pai, no Paraíso, aos mundos-sedes dos universos locais, até às capitais das constelações que os compõem.
Todos os seres com origem na Trindade são criados na perfeição do Paraíso, em todos os seus atributos divinos. Apenas no domínio da experiência, o passar do tempo terá acrescentado algo ao seu preparo para o serviço cósmico. Não há nunca qualquer perigo de não-cumprimento, ou de risco de rebelião, entre os seres originários da Trindade. Eles são de essência divina e nunca se teve notícia de que se hajam desviado do caminho divino e perfeito de conduta da personalidade.
1. OS SEGREDOS TRINITARIZADOS DA SUPREMACIA
Existem sete mundos, no circuito mais interno dos satélites do Paraíso, e um corpo de dez Segredos Trinitarizados da Supremacia preside a cada um desses mundos excelsos. Eles não são criadores, mas são administradores supremos e últimos. A condução dos assuntos dessas sete esferas fraternais é totalmente entregue a esse corpo de setenta diretores supremos. Embora a progênie da Trindade supervisione essas sete esferas sagradas mais próximas do Paraíso, esse grupo de mundos é universalmente conhecido como o circuito pessoal do Pai Universal.
Os Segredos Trinitarizados da Supremacia funcionam em grupos de dez, como diretores coordenados e conjuntos das suas respectivas esferas, mas eles também funcionam individualmente, em campos de responsabilidades específicas. O trabalho de cada um desses mundos especiais é dividido em sete departamentos principais, e um desses governantes coordenados preside a cada uma dessas divisões de atividades especializadas. Os três restantes atuam como representantes pessoais da Deidade trina em relação aos outros sete; um representando o Pai; outro, o Filho; e o terceiro, o Espírito.
Embora haja uma semelhança definida de classe que tipifica os Segredos Trinitarizados da Supremacia, eles também apresentam sete características distintas de grupo. Os dez diretores supremos dos assuntos de Divinington são um reflexo do caráter pessoal e natureza do Pai Universal; e assim é com cada uma dessas sete esferas: cada grupo de dez assemelha-se àquela Deidade, ou associação de Deidades, que é característica do seu domínio. Os dez diretores que governam Ascendington são um reflexo da natureza combinada do Pai, Filho e Espírito.
O que eu posso revelar sobre o trabalho dessas altas personalidades nos sete mundos sagrados do Pai é pouquíssimo, pois elas são verdadeiramente os Segredos da Supremacia. Não há segredos arbitrários ligados com o acesso ao Pai Universal, ao Filho Eterno ou ao Espírito Infinito. As Deidades são um livro aberto a todos aqueles que alcançam a perfeição divina, mas nunca se pode alcançar plenamente todos os Segredos da Supremacia. Seremos sempre incapazes de penetrar plenamente nos domínios que contêm os segredos da personalidade da associação da Deidade com os agrupamentos sétuplos de seres criados.
Já que o trabalho desses diretores supremos tem a ver com o contato estreito e pessoal das Deidades com esses sete agrupamentos básicos de seres do universo, quando domiciliados nesses sete mundos especiais, ou funcionando em todo o grande universo, torna-se adequado que tais relações, bastantes pessoais, e tais contatos extraordinários devam ser sagradamente mantidos em segredo. Os Criadores do Paraíso respeitam a privacidade e a santidade da personalidade, mesmo a das suas criaturas mais inferiores. E isso é verdadeiro, tanto para os indivíduos quanto para as várias ordens independentes de personalidades.
Mesmo para os seres que já alcançaram uma realização elevada no universo, esses mundos secretos permanecem sempre como um teste de lealdade. É-nos dado, inteira e pessoalmente, conhecer os Deuses eternos, conhecer livremente os seus caracteres de divindade e perfeição; mas não nos é concedido penetrar totalmente em todas as relações pessoais dos Governantes do Paraíso com todos os seus seres criados.
2. OS ETERNOS DOS DIAS
Cada um dentre os mundos de Havona, num total de um bilhão, é dirigido por uma Personalidade Suprema da Trindade. Esses governantes são conhecidos como os Eternos dos Dias; e o número deles é, exatamente, de um bilhão, um para cada uma das esferas de Havona. Eles são uma progênie da Trindade do Paraíso, mas, como para os Segredos da Supremacia, não há nenhum registro da sua origem. Desde sempre esses dois grupos de pais oniscientes governaram os seus maravilhosos mundos do sistema Paraíso-Havona; e eles funcionam sem revezamento e sem mudanças de posto.
Os Eternos dos Dias são visíveis a todas as criaturas volitivas que habitam os seus domínios. Eles presidem aos conclaves planetários regulares. Periodicamente, e por revezamento, eles visitam as esferas-sedes dos sete superuniversos. Eles são muito semelhantes e são os iguais divinos dos Anciães dos Dias, os quais presidem aos destinos dos sete supergovernos. Quando um Eterno dos Dias está ausente da sua esfera, o seu mundo é dirigido por um Filho Instrutor da Trindade.
Exceto para as ordens estabelecidas de vida, tais como os nativos de Havona e outras criaturas viventes do universo central, os Eternos dos Dias residentes desenvolveram as suas respectivas esferas inteiramente de acordo com as suas próprias idéias e ideais. Eles visitam os planetas uns dos outros, mas não copiam ou imitam; são sempre e totalmente originais.
A arquitetura, a ornamentação natural, as estruturas moronciais e as criações espirituais são exclusivas e únicas, em cada esfera. Cada um dos mundos é um lugar de beleza sempiterna e é completamente diferente de qualquer outro mundo no universo central. E vós ireis permanecer um tempo mais longo, ou mais curto, em cada uma dessas esferas únicas e estimulantes, no vosso caminho interior, através de Havona, até o Paraíso. É natural, no vosso mundo, falar do Paraíso, como estando em cima; mas seria mais correto, quando vos referirdes à meta divina de ascensão, dizer ir para dentro.
3. OS ANCIÃES DOS DIAS
Quando os mortais do tempo graduam-se, nos mundos de educação e aperfeiçoamento, que existem em torno de um universo local, e avançam até as esferas educacionais dos seus superuniversos, significa que eles progrediram, no seu desenvolvimento espiritual, até aquele ponto em que se tornam capazes de reconhecer e de comunicar-se com os altos governantes espirituais e diretores dos reinos avançados, incluindo os Anciães dos Dias.
Basicamente, os Anciães dos Dias são idênticos; eles revelam o caráter e a natureza unificada da Trindade. Eles possuem individualidade e têm personalidade diferenciada, mas não diferem entre si como os Sete Espíritos Mestres. Eles proporcionam uma direção uniforme aos sete superuniversos, os quais, afora esse aspecto, são diferentes entre si, cada um sendo uma criação distinta, separada e única. Os Sete Espíritos Mestres são diferentes em natureza e atributos; mas os Anciães dos Dias, os governantes pessoais dos superuniversos, são todos uma progênie uniforme e superperfeita da Trindade do Paraíso.
Os Sete Espíritos Mestres, nas alturas, determinam a natureza dos seus respectivos superuniversos; ao passo que os Anciães dos Dias ditam a administração desses mesmos superuniversos. Eles sobrepõem a uniformidade administrativa à diversidade criadora e asseguram a harmonia do todo, em face das diferenças criativas subjacentes aos sete segmentos agrupados do grande universo.
Os Anciães dos Dias foram todos trinitarizados ao mesmo tempo. Eles representam o começo dos registros das personalidades do universo dos universos, daí o seu nome ? Anciães dos Dias. Quando vós alcançardes o Paraíso e procurardes os registros escritos do começo das coisas, vereis que a primeira entrada que aparece, na seção das personalidades, é o relato da trinitarização desses vinte e um Anciães dos Dias.
Esses seres elevados governam sempre em grupos de três. Há muitas fases de atividades nas quais eles trabalham individualmente, e em outras, ainda, quaisquer dois podem funcionar; entretanto, para as esferas mais elevadas da sua administração, os três devem atuar em conjunto. Eles nunca deixam pessoalmente os seus mundos de residência, e também não têm de fazê-lo, pois esses mundos são os pontos focais, no superuniverso, do amplo sistema de refletividade.
As moradas pessoais de cada trio de Anciães dos Dias estão localizadas no ponto de polaridade espiritual da esfera da sua sede central de governo. Essa esfera está dividida em setenta setores administrativos e tem setenta capitais divisionais nas quais os Anciães dos Dias residem de tempos em tempos.
Em termos de poder, âmbito de autoridade e extensão de jurisdição, os Anciães dos Dias são os mais potentes e poderosos dos governantes diretos das criações do espaço-tempo. Em todo o vasto universo dos universos, apenas eles estão investidos dos altos poderes de julgamento executivo final, no que concerne à extinção eterna das criaturas mortais volitivas. E todos os três Anciães dos Dias devem participar da decretação final do tribunal supremo de um superuniverso.
À parte as Deidades e os Seus associados do Paraíso, os Anciães dos Dias são os governantes mais perfeitos, mais versáteis e mais divinamente dotados de toda a existência no espaço-tempo. Aparentemente, são os governantes supremos dos superuniversos; mas eles não ganharam experiencialmente esse direito de governar e, portanto, estão destinados, em algum tempo, a serem sobrepujados pelo Ser Supremo, um soberano experiencial, de quem eles se tornarão, sem a menor dúvida, os vice-regentes.
O Ser Supremo está alcançando a soberania dos sete superuniversos por meio do serviço experiencial, do mesmo modo que um Filho Criador experiencialmente conquista a soberania do seu universo local. Contudo, durante a idade atual de evolução incompleta do Supremo, os Anciães dos Dias proporcionam um supracontrole administrativo coordenado e perfeito dos universos em evolução do tempo e do espaço. E a sabedoria da originalidade e a iniciativa da individualidade caracterizam todos os decretos e ditames dos Anciães dos Dias.
4. OS PERFEIÇÕES DOS DIAS
Há exatamente duzentos e dez Perfeições dos Dias; e eles presidem aos governos dos dez setores maiores de cada superuniverso. Eles foram trinitarizados para o trabalho especial de assistir os diretores dos superuniversos, e governam como vice-regentes pessoais imediatos dos Anciães dos Dias.
Três Perfeições dos Dias estão designados para cada capital do setor maior, mas, diferentemente dos Anciães dos Dias, não se faz necessário que todos os três estejam presentes o tempo inteiro. De tempos em tempos, um dos três pode ausentar-se para conferências pessoais com os Anciães dos Dias, a respeito do bem-estar do seu reino.
Esses seres, governantes trinos dos setores maiores, são peculiarmente perfeitos na mestria sobre detalhes administrativos, daí o seu nome ? Perfeições dos Dias. Ao efetuarmos, nestes documentos, o registro dos nomes desses seres do mundo espiritual, nós deparamos com o problema de traduzi-los para a vossa língua e, freqüentemente, torna-se excessivamente difícil encontrar uma tradução satisfatória. Não apreciamos usar designações arbitrárias, que poderiam não ter nenhum significado para vós; por isso, freqüentemente achamos difícil escolher um nome adequado que seja claro para vós e, ao mesmo tempo, representativo, de um certo modo, do original.
Os Perfeições dos Dias têm um corpo de Conselheiros Divinos, de Perfeccionadores da Sabedoria e de Censores Universais, de porte moderado, ligado ao seu governo. E, em número um pouco maior, eles têm: Mensageiros Poderosos, Aqueles Elevados Em Autoridade e Aqueles Sem Nome Nem Número. Todavia, grande parte do trabalho de rotina dos assuntos do setor maior é tratada pelos Guardiães Celestes e pelos Assistentes do Filho Elevado. Esses dois grupos são provenientes de descendência trinitarizada, seja de alguma das personalidades de Havona-Paraíso, seja dos finalitores mortais glorificados. Algumas dentre essas duas ordens de seres trinitarizados-por-criaturas, são re-trinitarizadas pelas Deidades do Paraíso e, então, são enviadas para prestar assistência na administração dos governos dos superuniversos.
A maior parte dos Guardiães Celestes e dos Assistentes do Filho Elevado está destinada ao serviço dos setores maior e menor, mas os Custódios Trinitarizados (serafins e seres intermediários abraçados pela Trindade) são os funcionários das cortes de todas as três divisões, atuando nos tribunais dos Anciães dos Dias, dos Perfeições dos Dias e dos Recentes dos Dias. Os Embaixadores Trinitarizados (mortais ascendentes, abraçados pela Trindade, da natureza de fusionamento com o Filho, ou com o Espírito) podem ser encontrados em qualquer local, em um superuniverso, mas a maioria está a serviço dos setores menores.
Antes dos tempos do pleno desdobramento do esquema de governo dos sete superuniversos, praticamente todos os administradores das várias divisões desses governos, à exceção dos Anciães dos Dias, serviram como aprendizes, por períodos de durações variadas, junto aos Eternos dos Dias, nos vários mundos do universo perfeito de Havona. Os seres trinitarizados posteriormente, do mesmo modo, passaram por um período de instrução com os Eternos dos Dias, antes que se engajassem no serviço dos Anciães dos Dias, dos Perfeições dos Dias e dos Recentes dos Dias. Todos eles são administradores maduros, provados e experientes.
Muito cedo vereis os Perfeições dos Dias, quando avançardes até a sede central de Esplândon, depois da vossa estada nos mundos do vosso setor menor, pois esses seres, excelsos governantes, estão estreitamente ligados aos setenta mundos dos setores maiores no aprendizado mais elevado dado às criaturas ascendentes do tempo. Os Perfeições dos Dias administram, pessoalmente, os juramentos grupais dos graduados ascendentes das escolas dos setores maiores.
O trabalho dos peregrinos do tempo, nos mundos que rodeiam a sede central de um setor maior, é principalmente de natureza intelectual, ao contrário do cunho mais físico e material do aprendizado nas sete esferas educacionais de um setor menor e, também, ao contrário dos exercícios espirituais nos quatrocentos e noventa mundos universitários da sede central de um superuniverso.
Ainda que vós sejais registrados apenas no setor maior de Esplândon, que abrange o universo local da vossa origem, tereis de passar por todas as dez divisões maiores do nosso superuniverso. E vós vereis todos os trinta Perfeições dos Dias de Orvonton, antes de chegardes a Uversa.
5. OS RECENTES DOS DIAS
Os Recentes dos Dias são os mais jovens dos diretores supremos dos superuniversos; em grupos de três, eles presidem aos assuntos dos setores menores. Pela sua natureza, eles estão coordenados com os Perfeições dos Dias, mas, em autoridade administrativa, são subordinados deles. Há apenas vinte e uma mil dessas personalidades individualmente gloriosas e divinamente eficientes da Trindade. Elas foram criadas simultaneamente e, junto com os Eternos dos Dias, realizaram o seu aprendizado em Havona.
Os Recentes dos Dias têm um corpo de colaboradores e assistentes semelhante ao dos Perfeições dos Dias. E têm designados para eles, ainda, um número enorme de várias ordens subordinadas de seres celestes. Na administração dos setores menores, eles utilizam grandes números de mortais ascendentes residentes, o pessoal das várias colônias de cortesia e vários grupos que se originam do Espírito Infinito.
Os governos dos setores menores estão ocupados, em boa medida, embora não exclusivamente, com os grandes problemas físicos dos superuniversos. As
esferas dos setores menores são as sedes centrais dos Mestres Controladores Físicos. Nesses mundos, os mortais ascendentes fazem os seus estudos e as suas experiências, concernentes a uma análise das atividades da terceira ordem dos Centros Supremos de Potência e de todas as sete ordens de Mestres Controladores Físicos.
Já que o regime de um setor menor está tão extensamente ocupado com problemas físicos, os seus três Recentes dos Dias só muito raramente ficam juntos na esfera da capital. A maior parte do tempo um deles está afastado, para alguma conferência com os Perfeições dos Dias, do setor maior de supervisão, ou ausente para representar os Anciães dos Dias, nos conclaves dos altos seres originários da Trindade, no Paraíso. Eles alternam-se, com os Perfeições dos Dias, na representação dos Anciães dos Dias, nos conselhos supremos do Paraíso. Nesse meio tempo, um outro Recente dos Dias pode estar afastado, em uma viagem de inspeção, pelos mundos-sedes de universos locais pertencentes à sua jurisdição. Mas pelo menos um desses governantes permanece sempre na sua função nas sedes centrais de um setor menor.
Todos vós ireis, em algum momento, conhecer os três Recentes dos Dias encarregados de Ensa, o vosso setor menor, pois deveis passar pelas suas mãos, no vosso caminho para dentro, para os mundos de aprendizado dos setores maiores. Ao ascender até Uversa, vós ireis passar apenas por um grupo de esferas de instrução do setor menor.
6. OS UNIÕES DOS DIAS
As personalidades da Trindade da ordem dos “Dias” não desempenham funções administrativas em um nível abaixo dos governos dos superuniversos. Nos universos locais em evolução, eles atuam apenas como conselheiros e assessores. Os Uniões dos Dias são um grupo de personalidades de ligação, credenciadas pela Trindade do Paraíso, perante os governantes duais dos universos locais. Cada universo local, organizado e habitado, tem, designado para o seu âmbito, um desses conselheiros do Paraíso, que atua como o representante da Trindade e, apenas para alguns fins, do Pai Universal, para a criação local.
Há setecentos mil desses seres em existência, embora ainda nem todos tenham recebido missões. O corpo de reserva dos Uniões dos Dias funciona no Paraíso como o Conselho Supremo de Ajustamentos no Universo.
De uma maneira especial, esses observadores da Trindade coordenam as atividades administrativas de todas as ramificações do governo universal, desde as do universo local e as dos governos dos setores, até as do superuniverso, daí o seu nome ? Uniões dos Dias. Eles apresentam um informe tríplice aos seus superiores: relatam os dados pertinentes de natureza física e semi-intelectual aos Recentes dos Dias do seu setor menor; reportam os acontecimentos intelectuais e quase espirituais aos Perfeições dos Dias dos seus setores maiores; e mostram sobre as questões espirituais e semiparadisíacas aos Anciães dos Dias, na capital do seu superuniverso.
Como são seres originários da Trindade, eles contam com a disponibilidade de todos os circuitos do Paraíso, para intercomunicações, e assim eles estão sempre em contato uns com os outros e com todas as outras personalidades que se fizerem necessárias, até com os conselhos supremos do Paraíso.
Um União dos Dias não se encontra organicamente conectado ao governo do universo local para o qual está designado. À parte os seus deveres como observador, ele atua junto às autoridades locais apenas a pedido. Ele é um membro ex-officio de todos os conselhos primários e de todos os conclaves importantes da criação local, mas não participa da consideração técnica dos problemas administrativos.
Quando um universo local é estabelecido em luz e em vida, os seus seres glorificados associam-se livremente com o União dos Dias, que então atua em uma função mais amplificada em tal reino de perfeição evolucionária. Todavia ele é, primordialmente, um embaixador da Trindade e um conselheiro do Paraíso.
Um universo local é governado diretamente por um Filho divino, que tem origem dual na Deidade, mas tem, constantemente, a seu lado, um irmão do Paraíso, uma personalidade originária da Trindade. No caso da ausência temporária de um Filho Criador da sede central do seu universo local, os governantes em exercício, nas suas decisões principais, são guiados, em grande parte, pelo aconselhamento do seu União dos Dias.
7. OS FIÉIS DOS DIAS
Essas altas personalidades, originárias da Trindade, são os conselheiros do Paraíso para os governantes de uma centena de constelações, em cada universo local. Há setenta milhões de Fiéis dos Dias e, como os Uniões dos Dias, nem todos permanecem a serviço. O corpo de reserva dos Fiéis dos Dias, no Paraíso, forma a Comissão de Aconselhamento de Ética Interuniversal e Autogoverno. Os Fiéis dos Dias revezam-se no serviço, conforme as decisões dos governos dos conselhos supremos do seu corpo de reserva.
Tudo o que um União dos Dias é para um Filho Criador de um universo local, os Fiéis dos Dias são para os Filhos Vorondadeques que governam as constelações de uma criação local. Eles são supremamente devotados e divinamente fiéis ao bem-estar das constelações da sua designação, daí o seu nome ? Fiéis dos Dias. Eles atuam apenas como conselheiros; nunca participam das atividades administrativas, exceto a convite das autoridades da constelação. E também não estão eles diretamente ocupados em ministrações educacionais aos peregrinos em ascensão, nas esferas arquitetônicas de estudos que rodeiam as sedes centrais de uma constelação. Todos esses empreendimentos estão sob a supervisão dos Filhos Vorondadeques.
Todos os Fiéis dos Dias que funcionam nas constelações de um universo local estão sob jurisdição dos Uniões dos Dias, aos quais se reportam diretamente. Eles não têm um sistema amplo de intercomunicação, sendo ordinariamente autolimitados a interassociações dentro dos limites de um universo local. Qualquer Fiel dos Dias, a serviço em Nebadon, pode comunicar-se, e comunica-se, com todos os outros membros da sua ordem a serviço nesse universo local.
Como os Uniões dos Dias, em uma sede central de um universo, os Fiéis dos Dias mantêm as suas residências pessoais nas capitais da constelação, separadas das dos diretores administrativos desses reinos. As suas moradias são de fato modestas, se comparadas com as dos governantes Vorondadeques das constelações.
Os Fiéis dos Dias são o último vínculo, na longa corrente administrativo-conciliar, que se estende desde as esferas sagradas do Pai Universal, próximas do centro de todas as coisas, até as divisões primárias dos universos locais. O regime originário da Trindade tem o seu fim nas constelações; nenhum desses conselheiros do Paraíso fica permanentemente fixado nos sistemas componentes de uma constelação, nem nos seus mundos habitados. Essas últimas unidades administrativas estão completamente sob a jurisdição dos seres nativos dos universos locais.
[Apresentado por um Conselheiro divino de Uversa.]
DOCUMENTO 18
AS PERSONALIDADES SUPREMAS DA TRINDADE
As Personalidades Supremas da Trindade são todas criadas para um serviço específico. São concebidas pela Trindade divina para o cumprimento de alguns deveres específicos; e são qualificadas para servir com perfeição de técnica e finalidade de devoção. Há sete ordens de Personalidades Supremas da Trindade:
1. Os Segredos Trinitarizados da Supremacia.
2. Os Eternos dos Dias.
3. Os Anciães dos Dias.
4. Os Perfeições dos Dias.
5. Os Recentes dos Dias.
6. Os Uniões dos Dias.
7. Os Fiéis dos Dias.
Esses seres de perfeição administrativa existem em número definido e final. A sua criação é um evento passado; já não se personaliza mais nenhum.
Em todo o grande universo, essas Personalidades Supremas da Trindade representam as diretrizes administrativas da Trindade do Paraíso, representam a justiça e são o julgamento executivo da Trindade do Paraíso. Elas formam uma linha inter-relacionada de perfeição administrativa que se estende desde as esferas do Pai, no Paraíso, aos mundos-sedes dos universos locais, até às capitais das constelações que os compõem.
Todos os seres com origem na Trindade são criados na perfeição do Paraíso, em todos os seus atributos divinos. Apenas no domínio da experiência, o passar do tempo terá acrescentado algo ao seu preparo para o serviço cósmico. Não há nunca qualquer perigo de não-cumprimento, ou de risco de rebelião, entre os seres originários da Trindade. Eles são de essência divina e nunca se teve notícia de que se hajam desviado do caminho divino e perfeito de conduta da personalidade.
1. OS SEGREDOS TRINITARIZADOS DA SUPREMACIA
Existem sete mundos, no circuito mais interno dos satélites do Paraíso, e um corpo de dez Segredos Trinitarizados da Supremacia preside a cada um desses mundos excelsos. Eles não são criadores, mas são administradores supremos e últimos. A condução dos assuntos dessas sete esferas fraternais é totalmente entregue a esse corpo de setenta diretores supremos. Embora a progênie da Trindade supervisione essas sete esferas sagradas mais próximas do Paraíso, esse grupo de mundos é universalmente conhecido como o circuito pessoal do Pai Universal.
Os Segredos Trinitarizados da Supremacia funcionam em grupos de dez, como diretores coordenados e conjuntos das suas respectivas esferas, mas eles também funcionam individualmente, em campos de responsabilidades específicas. O trabalho de cada um desses mundos especiais é dividido em sete departamentos principais, e um desses governantes coordenados preside a cada uma dessas divisões de atividades especializadas. Os três restantes atuam como representantes pessoais da Deidade trina em relação aos outros sete; um representando o Pai; outro, o Filho; e o terceiro, o Espírito.
Embora haja uma semelhança definida de classe que tipifica os Segredos Trinitarizados da Supremacia, eles também apresentam sete características distintas de grupo. Os dez diretores supremos dos assuntos de Divinington são um reflexo do caráter pessoal e natureza do Pai Universal; e assim é com cada uma dessas sete esferas: cada grupo de dez assemelha-se àquela Deidade, ou associação de Deidades, que é característica do seu domínio. Os dez diretores que governam Ascendington são um reflexo da natureza combinada do Pai, Filho e Espírito.
O que eu posso revelar sobre o trabalho dessas altas personalidades nos sete mundos sagrados do Pai é pouquíssimo, pois elas são verdadeiramente os Segredos da Supremacia. Não há segredos arbitrários ligados com o acesso ao Pai Universal, ao Filho Eterno ou ao Espírito Infinito. As Deidades são um livro aberto a todos aqueles que alcançam a perfeição divina, mas nunca se pode alcançar plenamente todos os Segredos da Supremacia. Seremos sempre incapazes de penetrar plenamente nos domínios que contêm os segredos da personalidade da associação da Deidade com os agrupamentos sétuplos de seres criados.
Já que o trabalho desses diretores supremos tem a ver com o contato estreito e pessoal das Deidades com esses sete agrupamentos básicos de seres do universo, quando domiciliados nesses sete mundos especiais, ou funcionando em todo o grande universo, torna-se adequado que tais relações, bastantes pessoais, e tais contatos extraordinários devam ser sagradamente mantidos em segredo. Os Criadores do Paraíso respeitam a privacidade e a santidade da personalidade, mesmo a das suas criaturas mais inferiores. E isso é verdadeiro, tanto para os indivíduos quanto para as várias ordens independentes de personalidades.
Mesmo para os seres que já alcançaram uma realização elevada no universo, esses mundos secretos permanecem sempre como um teste de lealdade. É-nos dado, inteira e pessoalmente, conhecer os Deuses eternos, conhecer livremente os seus caracteres de divindade e perfeição; mas não nos é concedido penetrar totalmente em todas as relações pessoais dos Governantes do Paraíso com todos os seus seres criados.
2. OS ETERNOS DOS DIAS
Cada um dentre os mundos de Havona, num total de um bilhão, é dirigido por uma Personalidade Suprema da Trindade. Esses governantes são conhecidos como os Eternos dos Dias; e o número deles é, exatamente, de um bilhão, um para cada uma das esferas de Havona. Eles são uma progênie da Trindade do Paraíso, mas, como para os Segredos da Supremacia, não há nenhum registro da sua origem. Desde sempre esses dois grupos de pais oniscientes governaram os seus maravilhosos mundos do sistema Paraíso-Havona; e eles funcionam sem revezamento e sem mudanças de posto.
Os Eternos dos Dias são visíveis a todas as criaturas volitivas que habitam os seus domínios. Eles presidem aos conclaves planetários regulares. Periodicamente, e por revezamento, eles visitam as esferas-sedes dos sete superuniversos. Eles são muito semelhantes e são os iguais divinos dos Anciães dos Dias, os quais presidem aos destinos dos sete supergovernos. Quando um Eterno dos Dias está ausente da sua esfera, o seu mundo é dirigido por um Filho Instrutor da Trindade.
Exceto para as ordens estabelecidas de vida, tais como os nativos de Havona e outras criaturas viventes do universo central, os Eternos dos Dias residentes desenvolveram as suas respectivas esferas inteiramente de acordo com as suas próprias idéias e ideais. Eles visitam os planetas uns dos outros, mas não copiam ou imitam; são sempre e totalmente originais.
A arquitetura, a ornamentação natural, as estruturas moronciais e as criações espirituais são exclusivas e únicas, em cada esfera. Cada um dos mundos é um lugar de beleza sempiterna e é completamente diferente de qualquer outro mundo no universo central. E vós ireis permanecer um tempo mais longo, ou mais curto, em cada uma dessas esferas únicas e estimulantes, no vosso caminho interior, através de Havona, até o Paraíso. É natural, no vosso mundo, falar do Paraíso, como estando em cima; mas seria mais correto, quando vos referirdes à meta divina de ascensão, dizer ir para dentro.
3. OS ANCIÃES DOS DIAS
Quando os mortais do tempo graduam-se, nos mundos de educação e aperfeiçoamento, que existem em torno de um universo local, e avançam até as esferas educacionais dos seus superuniversos, significa que eles progrediram, no seu desenvolvimento espiritual, até aquele ponto em que se tornam capazes de reconhecer e de comunicar-se com os altos governantes espirituais e diretores dos reinos avançados, incluindo os Anciães dos Dias.
Basicamente, os Anciães dos Dias são idênticos; eles revelam o caráter e a natureza unificada da Trindade. Eles possuem individualidade e têm personalidade diferenciada, mas não diferem entre si como os Sete Espíritos Mestres. Eles proporcionam uma direção uniforme aos sete superuniversos, os quais, afora esse aspecto, são diferentes entre si, cada um sendo uma criação distinta, separada e única. Os Sete Espíritos Mestres são diferentes em natureza e atributos; mas os Anciães dos Dias, os governantes pessoais dos superuniversos, são todos uma progênie uniforme e superperfeita da Trindade do Paraíso.
Os Sete Espíritos Mestres, nas alturas, determinam a natureza dos seus respectivos superuniversos; ao passo que os Anciães dos Dias ditam a administração desses mesmos superuniversos. Eles sobrepõem a uniformidade administrativa à diversidade criadora e asseguram a harmonia do todo, em face das diferenças criativas subjacentes aos sete segmentos agrupados do grande universo.
Os Anciães dos Dias foram todos trinitarizados ao mesmo tempo. Eles representam o começo dos registros das personalidades do universo dos universos, daí o seu nome ? Anciães dos Dias. Quando vós alcançardes o Paraíso e procurardes os registros escritos do começo das coisas, vereis que a primeira entrada que aparece, na seção das personalidades, é o relato da trinitarização desses vinte e um Anciães dos Dias.
Esses seres elevados governam sempre em grupos de três. Há muitas fases de atividades nas quais eles trabalham individualmente, e em outras, ainda, quaisquer dois podem funcionar; entretanto, para as esferas mais elevadas da sua administração, os três devem atuar em conjunto. Eles nunca deixam pessoalmente os seus mundos de residência, e também não têm de fazê-lo, pois esses mundos são os pontos focais, no superuniverso, do amplo sistema de refletividade.
As moradas pessoais de cada trio de Anciães dos Dias estão localizadas no ponto de polaridade espiritual da esfera da sua sede central de governo. Essa esfera está dividida em setenta setores administrativos e tem setenta capitais divisionais nas quais os Anciães dos Dias residem de tempos em tempos.
Em termos de poder, âmbito de autoridade e extensão de jurisdição, os Anciães dos Dias são os mais potentes e poderosos dos governantes diretos das criações do espaço-tempo. Em todo o vasto universo dos universos, apenas eles estão investidos dos altos poderes de julgamento executivo final, no que concerne à extinção eterna das criaturas mortais volitivas. E todos os três Anciães dos Dias devem participar da decretação final do tribunal supremo de um superuniverso.
À parte as Deidades e os Seus associados do Paraíso, os Anciães dos Dias são os governantes mais perfeitos, mais versáteis e mais divinamente dotados de toda a existência no espaço-tempo. Aparentemente, são os governantes supremos dos superuniversos; mas eles não ganharam experiencialmente esse direito de governar e, portanto, estão destinados, em algum tempo, a serem sobrepujados pelo Ser Supremo, um soberano experiencial, de quem eles se tornarão, sem a menor dúvida, os vice-regentes.
O Ser Supremo está alcançando a soberania dos sete superuniversos por meio do serviço experiencial, do mesmo modo que um Filho Criador experiencialmente conquista a soberania do seu universo local. Contudo, durante a idade atual de evolução incompleta do Supremo, os Anciães dos Dias proporcionam um supracontrole administrativo coordenado e perfeito dos universos em evolução do tempo e do espaço. E a sabedoria da originalidade e a iniciativa da individualidade caracterizam todos os decretos e ditames dos Anciães dos Dias.
4. OS PERFEIÇÕES DOS DIAS
Há exatamente duzentos e dez Perfeições dos Dias; e eles presidem aos governos dos dez setores maiores de cada superuniverso. Eles foram trinitarizados para o trabalho especial de assistir os diretores dos superuniversos, e governam como vice-regentes pessoais imediatos dos Anciães dos Dias.
Três Perfeições dos Dias estão designados para cada capital do setor maior, mas, diferentemente dos Anciães dos Dias, não se faz necessário que todos os três estejam presentes o tempo inteiro. De tempos em tempos, um dos três pode ausentar-se para conferências pessoais com os Anciães dos Dias, a respeito do bem-estar do seu reino.
Esses seres, governantes trinos dos setores maiores, são peculiarmente perfeitos na mestria sobre detalhes administrativos, daí o seu nome ? Perfeições dos Dias. Ao efetuarmos, nestes documentos, o registro dos nomes desses seres do mundo espiritual, nós deparamos com o problema de traduzi-los para a vossa língua e, freqüentemente, torna-se excessivamente difícil encontrar uma tradução satisfatória. Não apreciamos usar designações arbitrárias, que poderiam não ter nenhum significado para vós; por isso, freqüentemente achamos difícil escolher um nome adequado que seja claro para vós e, ao mesmo tempo, representativo, de um certo modo, do original.
Os Perfeições dos Dias têm um corpo de Conselheiros Divinos, de Perfeccionadores da Sabedoria e de Censores Universais, de porte moderado, ligado ao seu governo. E, em número um pouco maior, eles têm: Mensageiros Poderosos, Aqueles Elevados Em Autoridade e Aqueles Sem Nome Nem Número. Todavia, grande parte do trabalho de rotina dos assuntos do setor maior é tratada pelos Guardiães Celestes e pelos Assistentes do Filho Elevado. Esses dois grupos são provenientes de descendência trinitarizada, seja de alguma das personalidades de Havona-Paraíso, seja dos finalitores mortais glorificados. Algumas dentre essas duas ordens de seres trinitarizados-por-criaturas, são re-trinitarizadas pelas Deidades do Paraíso e, então, são enviadas para prestar assistência na administração dos governos dos superuniversos.
A maior parte dos Guardiães Celestes e dos Assistentes do Filho Elevado está destinada ao serviço dos setores maior e menor, mas os Custódios Trinitarizados (serafins e seres intermediários abraçados pela Trindade) são os funcionários das cortes de todas as três divisões, atuando nos tribunais dos Anciães dos Dias, dos Perfeições dos Dias e dos Recentes dos Dias. Os Embaixadores Trinitarizados (mortais ascendentes, abraçados pela Trindade, da natureza de fusionamento com o Filho, ou com o Espírito) podem ser encontrados em qualquer local, em um superuniverso, mas a maioria está a serviço dos setores menores.
Antes dos tempos do pleno desdobramento do esquema de governo dos sete superuniversos, praticamente todos os administradores das várias divisões desses governos, à exceção dos Anciães dos Dias, serviram como aprendizes, por períodos de durações variadas, junto aos Eternos dos Dias, nos vários mundos do universo perfeito de Havona. Os seres trinitarizados posteriormente, do mesmo modo, passaram por um período de instrução com os Eternos dos Dias, antes que se engajassem no serviço dos Anciães dos Dias, dos Perfeições dos Dias e dos Recentes dos Dias. Todos eles são administradores maduros, provados e experientes.
Muito cedo vereis os Perfeições dos Dias, quando avançardes até a sede central de Esplândon, depois da vossa estada nos mundos do vosso setor menor, pois esses seres, excelsos governantes, estão estreitamente ligados aos setenta mundos dos setores maiores no aprendizado mais elevado dado às criaturas ascendentes do tempo. Os Perfeições dos Dias administram, pessoalmente, os juramentos grupais dos graduados ascendentes das escolas dos setores maiores.
O trabalho dos peregrinos do tempo, nos mundos que rodeiam a sede central de um setor maior, é principalmente de natureza intelectual, ao contrário do cunho mais físico e material do aprendizado nas sete esferas educacionais de um setor menor e, também, ao contrário dos exercícios espirituais nos quatrocentos e noventa mundos universitários da sede central de um superuniverso.
Ainda que vós sejais registrados apenas no setor maior de Esplândon, que abrange o universo local da vossa origem, tereis de passar por todas as dez divisões maiores do nosso superuniverso. E vós vereis todos os trinta Perfeições dos Dias de Orvonton, antes de chegardes a Uversa.
5. OS RECENTES DOS DIAS
Os Recentes dos Dias são os mais jovens dos diretores supremos dos superuniversos; em grupos de três, eles presidem aos assuntos dos setores menores. Pela sua natureza, eles estão coordenados com os Perfeições dos Dias, mas, em autoridade administrativa, são subordinados deles. Há apenas vinte e uma mil dessas personalidades individualmente gloriosas e divinamente eficientes da Trindade. Elas foram criadas simultaneamente e, junto com os Eternos dos Dias, realizaram o seu aprendizado em Havona.
Os Recentes dos Dias têm um corpo de colaboradores e assistentes semelhante ao dos Perfeições dos Dias. E têm designados para eles, ainda, um número enorme de várias ordens subordinadas de seres celestes. Na administração dos setores menores, eles utilizam grandes números de mortais ascendentes residentes, o pessoal das várias colônias de cortesia e vários grupos que se originam do Espírito Infinito.
Os governos dos setores menores estão ocupados, em boa medida, embora não exclusivamente, com os grandes problemas físicos dos superuniversos. As
esferas dos setores menores são as sedes centrais dos Mestres Controladores Físicos. Nesses mundos, os mortais ascendentes fazem os seus estudos e as suas experiências, concernentes a uma análise das atividades da terceira ordem dos Centros Supremos de Potência e de todas as sete ordens de Mestres Controladores Físicos.
Já que o regime de um setor menor está tão extensamente ocupado com problemas físicos, os seus três Recentes dos Dias só muito raramente ficam juntos na esfera da capital. A maior parte do tempo um deles está afastado, para alguma conferência com os Perfeições dos Dias, do setor maior de supervisão, ou ausente para representar os Anciães dos Dias, nos conclaves dos altos seres originários da Trindade, no Paraíso. Eles alternam-se, com os Perfeições dos Dias, na representação dos Anciães dos Dias, nos conselhos supremos do Paraíso. Nesse meio tempo, um outro Recente dos Dias pode estar afastado, em uma viagem de inspeção, pelos mundos-sedes de universos locais pertencentes à sua jurisdição. Mas pelo menos um desses governantes permanece sempre na sua função nas sedes centrais de um setor menor.
Todos vós ireis, em algum momento, conhecer os três Recentes dos Dias encarregados de Ensa, o vosso setor menor, pois deveis passar pelas suas mãos, no vosso caminho para dentro, para os mundos de aprendizado dos setores maiores. Ao ascender até Uversa, vós ireis passar apenas por um grupo de esferas de instrução do setor menor.
6. OS UNIÕES DOS DIAS
As personalidades da Trindade da ordem dos “Dias” não desempenham funções administrativas em um nível abaixo dos governos dos superuniversos. Nos universos locais em evolução, eles atuam apenas como conselheiros e assessores. Os Uniões dos Dias são um grupo de personalidades de ligação, credenciadas pela Trindade do Paraíso, perante os governantes duais dos universos locais. Cada universo local, organizado e habitado, tem, designado para o seu âmbito, um desses conselheiros do Paraíso, que atua como o representante da Trindade e, apenas para alguns fins, do Pai Universal, para a criação local.
Há setecentos mil desses seres em existência, embora ainda nem todos tenham recebido missões. O corpo de reserva dos Uniões dos Dias funciona no Paraíso como o Conselho Supremo de Ajustamentos no Universo.
De uma maneira especial, esses observadores da Trindade coordenam as atividades administrativas de todas as ramificações do governo universal, desde as do universo local e as dos governos dos setores, até as do superuniverso, daí o seu nome ? Uniões dos Dias. Eles apresentam um informe tríplice aos seus superiores: relatam os dados pertinentes de natureza física e semi-intelectual aos Recentes dos Dias do seu setor menor; reportam os acontecimentos intelectuais e quase espirituais aos Perfeições dos Dias dos seus setores maiores; e mostram sobre as questões espirituais e semiparadisíacas aos Anciães dos Dias, na capital do seu superuniverso.
Como são seres originários da Trindade, eles contam com a disponibilidade de todos os circuitos do Paraíso, para intercomunicações, e assim eles estão sempre em contato uns com os outros e com todas as outras personalidades que se fizerem necessárias, até com os conselhos supremos do Paraíso.
Um União dos Dias não se encontra organicamente conectado ao governo do universo local para o qual está designado. À parte os seus deveres como observador, ele atua junto às autoridades locais apenas a pedido. Ele é um membro ex-officio de todos os conselhos primários e de todos os conclaves importantes da criação local, mas não participa da consideração técnica dos problemas administrativos.
Quando um universo local é estabelecido em luz e em vida, os seus seres glorificados associam-se livremente com o União dos Dias, que então atua em uma função mais amplificada em tal reino de perfeição evolucionária. Todavia ele é, primordialmente, um embaixador da Trindade e um conselheiro do Paraíso.
Um universo local é governado diretamente por um Filho divino, que tem origem dual na Deidade, mas tem, constantemente, a seu lado, um irmão do Paraíso, uma personalidade originária da Trindade. No caso da ausência temporária de um Filho Criador da sede central do seu universo local, os governantes em exercício, nas suas decisões principais, são guiados, em grande parte, pelo aconselhamento do seu União dos Dias.
7. OS FIÉIS DOS DIAS
Essas altas personalidades, originárias da Trindade, são os conselheiros do Paraíso para os governantes de uma centena de constelações, em cada universo local. Há setenta milhões de Fiéis dos Dias e, como os Uniões dos Dias, nem todos permanecem a serviço. O corpo de reserva dos Fiéis dos Dias, no Paraíso, forma a Comissão de Aconselhamento de Ética Interuniversal e Autogoverno. Os Fiéis dos Dias revezam-se no serviço, conforme as decisões dos governos dos conselhos supremos do seu corpo de reserva.
Tudo o que um União dos Dias é para um Filho Criador de um universo local, os Fiéis dos Dias são para os Filhos Vorondadeques que governam as constelações de uma criação local. Eles são supremamente devotados e divinamente fiéis ao bem-estar das constelações da sua designação, daí o seu nome ? Fiéis dos Dias. Eles atuam apenas como conselheiros; nunca participam das atividades administrativas, exceto a convite das autoridades da constelação. E também não estão eles diretamente ocupados em ministrações educacionais aos peregrinos em ascensão, nas esferas arquitetônicas de estudos que rodeiam as sedes centrais de uma constelação. Todos esses empreendimentos estão sob a supervisão dos Filhos Vorondadeques.
Todos os Fiéis dos Dias que funcionam nas constelações de um universo local estão sob jurisdição dos Uniões dos Dias, aos quais se reportam diretamente. Eles não têm um sistema amplo de intercomunicação, sendo ordinariamente autolimitados a interassociações dentro dos limites de um universo local. Qualquer Fiel dos Dias, a serviço em Nebadon, pode comunicar-se, e comunica-se, com todos os outros membros da sua ordem a serviço nesse universo local.
Como os Uniões dos Dias, em uma sede central de um universo, os Fiéis dos Dias mantêm as suas residências pessoais nas capitais da constelação, separadas das dos diretores administrativos desses reinos. As suas moradias são de fato modestas, se comparadas com as dos governantes Vorondadeques das constelações.
Os Fiéis dos Dias são o último vínculo, na longa corrente administrativo-conciliar, que se estende desde as esferas sagradas do Pai Universal, próximas do centro de todas as coisas, até as divisões primárias dos universos locais. O regime originário da Trindade tem o seu fim nas constelações; nenhum desses conselheiros do Paraíso fica permanentemente fixado nos sistemas componentes de uma constelação, nem nos seus mundos habitados. Essas últimas unidades administrativas estão completamente sob a jurisdição dos seres nativos dos universos locais.
[Apresentado por um Conselheiro divino de Uversa.]
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